Era incrível como o acampamento parecia vazio na hora do jantar.

Os campistas famintos devoravam seus pratos enormes cheios de uma deliciosa comida enquanto a noite caía.

O estomago de Annabeth gemia enquanto ela se esforçava para prestar atenção em Rachel.

-Se não conseguir ver nada sobre Jake, se vai voltar logo ou coisa parecida...

Rachel respirou fundo.

-Sou um oráculo. Não uma vidente que pede sua mão e prevê seu futuro.- Ela encarou Annabeth em silêncio por alguns segundos- Tudo bem. Vou consultar por um instante, quem sabe não consigo nenhuma informação...

Nesta tarde ela havia chamado Percy e Annabeth para se despedir, já que ela voltaria um dia antes para a faculdade. Então Annabeth teve a brilhante ideia de pedir um favor. Mas ela não sabia se Rachel daria conta, ela conseguia ver profecias com excelência, mas ver por onde anda um dos campistas não era sua área.

-E então? –apressou Percy

-Xiu!- exclamou Rachel fechando o cenho- Não é tão fácil. Tenho que me concentrar, uma coisa nada fácil de se fazer... As parcas. Elas sim são ótimas nisso.

Percy e Annabeth esperaram em silêncio. Rachel parecia parada no tempo com seus cabelos ruivos sobre o rosto branco e as sardas salientes. Seus olhos fechados tremiam e rodavam vagarosa e cansativamente nas orbitas.

Então ela abriu os olhos, se levantou e disse:

-Acho que consegui. Não tenho certeza mas pelo menos ele não está morto. Eu acho. Tenho a impressão de que ele estará aqui em breve.

-Em breve quando?- perguntou Annabeth

-Não sei ao certo, mas dentro de um ou dois dias.

-Não temos todo esse tempo. A festa de despedida é amanhã- Respondeu Percy, tirando as palavras da boca de Annabeth.

-Como Percy disse não temos um ou dois dias. Não há nada que possamos fazer?

Rachel atravessou o hall da casa grande e pegou suas malas de cima da mesa.

-Ele está no Arizona. A menos que queiram viajar para o deserto não há nada que possamos fazer além de esperar. Mas por que a presa? Não sabia que eram tão amigos do líder do chalé de Hefesto.

-Não somos. Só precisamos de ...hum... um favor.

-Estão pedindo muitos favores ultimamente.- Sorriu Rachel. Ela arrastou suas malas até a porta e a abriu- Preciso ir, o motorista do meu pai vai chegar logo e não quero que pergunte o que há atrás da colina.

Annabeth e Percy a ajudaram com as malas. Juntos eles subiram a colina e a acompanharam até a estrada, onde esperaram pelo luxuoso carro que buscaria Rachel e a levaria até a faculdade de Artes de Nova Jersey.

-Posso pedir um favor? Para ficarmos quites

O céu estava como os quadros de Rachel, cheios de cores vivas e bagunçadas, mas ainda assim foi possível per suas bochechas corarem.

-ah...claro- respondeu Percy

-Queria que vocês não reparassem no carro que virá me buscar. Pedi que viesse um mais simples mas meu pai insistiu.

O tom de voz de Rachel era suplicante. Como se fosse algum crime ser rica e andar de carros luxuosos.

-Não vamos ligar, na verdade não vamos nem olhar- Annabeth se virou de costas e puxou Percy para que fizessem o mesmo.

Rachel riu, claramente mais calma.

-Vocês são dois idiotas- riu ela

O som dos pistões de freio apitaram e uma limusine de cor branca e vidros blindados parou em frente á futura passageira. Rachel se virou para pegar suas malas.

-Podem virar, e obrigada pela ajuda.

Percy e Annabeth se viraram. Eles evitaram olhar para maravilhosa limusine polida em sua frente enquanto um motorista uniformizado como se pertencesse há marinha americana abaixava os vidros e destravava as portas.

Percy sorriu- Só não esqueça de nos chamar para dar umas voltas.

O motorista desceu da limusine e abriu a porta traseira no final do automóvel.

-Senhorita Dare? Estamos atrasados.

-Só um minuto Johnson.

Rachel pulou sobre os amigos e sorriu pelo canto da boca.

-Qualquer dia. Se não tiverem muito ocupados para os velhos amigos.

-Do que está falando?- exaltou Annabeth- Nunca estaremos ocupados demais para os amigos.

Rachel torceu os lábios- As coisas podem mudar,daqui alguns anos talvez... Mas agora eu preciso ir, até o próximo verão.

Ela arrastou suas malas para mais perto da limusine até que seu motorista as pegasse e as colocasse no porta malas.

Rachel deu uma última olhada ao redor do acampamento, e estreitou os olhos para o horizonte, as fendas de seus olhos claros estavam fixos em algo mais a distante.

-Aquele não é o Jake? O garoto que vocês procuram?

Annabeth correu mais a frente, fixou os olhos no ponto laranja ao lado do ponto de ônibus mais próximo e gritou:

-Jake!

O garoto parou e procurou o lugar de onde vinha a voz.

Ela fez sinal para que viesse até eles, mas não se sabia se ele tinha entendido.

-Johson, busque-o e o traga até aqui por favor –Pediu Rachel, apesar dela ter total autoridade sobre o motorista da família.

-Como quiser senhorita Dare.

O motorista ligou o motor, torceu o volante até que o carro estivesse na faixa ao lado e percorreu o caminho até o garoto de camiseta laranja.

Percy, Annabeth e Rachel assistiram tudo á distância. Eles viram o vidro do motorista abaixar e Johnson explicar porque um carro de luxo que sem dúvidas custou milhões queria levá-lo até o outro lado da pista onde três jovens desesperados o aguardavam.

Enfim Jake aceitou o convite. Abriu a porta de trás da limusine e empurrou uma mala e uma caixa de papelão para dentro do carro.

A limusine estava de volta em poucos segundos, Jake pulou para fora como se libertasse de uma prisão.

Seu rosto estava marcado com alguns pequenos cortes ao lado da boca. Seus cabelos estavam queimados e sua camisa do acampamento molhada de suor.

-Esperava ser recebido por qualquer outra pessoa, mas vocês dois? Isso sim é estranho.

Jake chutou sua mala para fora da limusine, enquanto o motorista aguardava á porta para que Rachel entrasse.

- Ficamos esperando por você durante três dias! Por onde esteve? –perguntou Annabeth

Os olhos de Jake saltaram. Obviamente não entendendo o porquê o líder do acampamento e sua namorada estavam tão desesperado para o ver se nem eram amigos próximos.

-Estive trabalhando em um projeto nesse verão e precisei buscar mais bronze celestial no deserto- Respondeu ele desconfiado- Mas por que o motivo?

Annabeth explicou o acontecido á Jake, que fazia caretas na maior parte do tempo.

-É só isso que tenho que fazer? Dar minha parte?

-É só colaborar com algumas palavras, cara. Nenhum trabalho braçal- disse Percy

Jake ficou sério.

-Estou acostumado com “trabalho braçal”. Sou filho de Hefesto. E mesmo que tenham me chamado de gago-rosinha não quer dizer que não saiba trabalhar nas forjas.

-Gago-Rosinha?

-Longa História.

A porta do carro bateu.

-Fico feliz que tenham o encontrado. Sei que dará tudo certo- disse Rachel pelo vidro preto e grosso de seu carro de luxo- Até mais pessoal.

Ela acenou e se despediu, enquanto o carro se afastava da colina meio-sangue.

-E ai? Pronto para dar seu depoimento?