Annabeth estava sentada sobre os degraus de pedra da escada que ligava o resto do acampamento com o estábulo e o arsenal.Ela observava os campistas treinando esgrima sobre os cuidados e ensinamentos de Percy.Ela queria falar com ele depois de sua aula.

Ela esperou e esperou,e ele sabia que ela estava lá.Varias vezes Percy já lhe lançava olhares do tipo “Vá para seu chalé,depois conversamos” ou “Não insista,vou ter uma conversinha com esse cara”.Mas ela queria-e precisava- falar com ele antes que  tomasse uma medida desesperada e desnecessária.

Ela não se sentiu mal ao esperar,não estava fazendo nada de errado,além de que ela nunca assistira nenhuma de suas aulas.Ela sempre tivera aulas de esgrima logo após o almoço e Percy dava suas aulas no fim da tarde.

Então o treino acabou,os campistas  se despediram dos parceiros e do professor.Annabeth correu até eles e se encostou ao lado de Percy,pronta para puxa-lo de lado.

-Até mais pessoal!Excelente Miguel,está indo muito bem!Sheron,adorei seu último golpe,tem que me ensinar mais tarde,tudo bem?- exclamava Percy quando seus alunos passavam por ele.

Assim que todos os campistas já haviam voltado para seus chalés,Annabeth se virou para Percy e disse:

-Quero contar tudo desde o começo.Há muitos detalhes,mas você terá que ser paciente e ouvir.

Percy e Annabeth caminharam enquanto ela contava os detalhes do caso apelidado de “Caso Patty Jehfferson”.Os dois andaram em direção ao grande U de chalés,onde adentraram no chalé três.

Ela não ia muito lá,apenas quando era a vez do chalé de Atena fazer as inspeções,ou quando era convidada.Mas sempre eram passadas rápidas.

Eles precisavam de um lugar onde não houvessem milhares de ouvidos enxeridos e pudessem conversar em paz.

Ao entrar no chalé de Poseidon, Annabeth pediu licença ao deus.Ele estava do mesmo jeito que vira antes;os papeis de balas e doces estavam no mesmo lugar na pequena sala,e ao lado da fonte uma camiseta jogada no chão.

Percy tentou disfarçar escondendo a camisa sob as almofadas e chutando os papeis de bala para debaixo do sofá.

-Você já sabe.A casa é sua- sorriu ele,sentando-se ao lado da garota.

Annabeth terminou de contar os detalhes,por menor que fossem ela devia isso há ele.

-Então havia uma pedra suja de sangue...e com fios de cabelos louros?

-Sim- concordou ela- os meus fios de cabelo

Percy passou a fitar as mãos.

-E... você desconfia desse tal de Richard.O garoto de cabelos castanhos que ficou alojado ao seu lado enquanto você esteve na ala hospitalar.

-Tenho quase certeza.

Percy riu secamente,dava para sentir a frieza em suas palavras.

-E o maldito teve a cara de pau de ficar ao lado de vocês duas.Fingir que estava tudo bem...ele não se tocou quando conversávamos sobre o covarde que fez isso com vocês?

-Na verdade acho que era por isso que ele saía tanto.Agora eu entendo.-Annabeth estava corada.Ela não gostada do modo de como Percy falava,mas achava fofo,até mesmo romântico.Ele havia ficado tão preocupado com ela que não conseguia pensar em outra coisa.Agora ele estava com raiva da pessoa que a machucara.

-Acho que ele está precisando que o lembrem como é que trata uma garota.

Eles ficaram em silêncio.Então ela percebeu que ele também estava corado.Ambos sorriram.

-Desculpe-disse ele- Meu ex-padrasto não era bem um cavalheiro.Cresci repugnando isso.

-Tudo bem -respondeu ela,sem jeito- achei isso...lindo.

Antes que eles pudessem voltar a trocar palavras, o estomago de Percy roncou.

-Minha nossa!Acho que engoli algum monstro!-brincou ele

-Então está na hora de alimenta-lo,não acha?

O estomago de Annabeth também roncou.

-Acho que deviam nos prevenir de monstros no acampamento,não servi-los no jantar.-disse ele,rindo.

-Muito bom,Cabeça de Alga- Annabeth se levantou e estendeu a mão para que ele pegasse- Vamos comer alguma coisa.

 Eles voltaram para o caminho de ladrilhos coloridos que levavam até o pavilhão,mas Annabeth evitou o assunto de seu acidente,ela queria poupa-lo do tormento pelo menos na hora do jantar-e evitar que ele fosse ao encontro de Richard.

Ao entrar,Annabeth procurou evitar o caminho entre as mesas que levassem de encontro com a mesa de Nemesis.Todos os campistas desta deusa eram mau encarados,além de entre eles estar seu culpado.

Annabeth se sentou na mesa de Poseidon,embora pertencesse a mesa de número seis,ela não deixaria seu namorado sozinho.

Já fazia algum tempo desde que ela praticamente abandonada a mesa da Atena.Ela já não sabia como era o mosaico de coruja na mesa de mármore.Mas da mesma forma,ela sentia por Percy ser o único campista no chalé de Poseidon.

-Filas desse tamanho deviam ser crime- disse Percy ao se sentar ao lado de Annabeth.Ele havia buscado pratos  e copos para eles.

-Felizmente a comida não é como as dos refeitórios das escolas- disse ela,rindo-se- Seria prisão perpétua!

Os dois riram,mas suas risadas foram abafadas por gritos.Eles si viraram para ver de onde vinha os gritos,assim como todos os campistas.

-Meu vestido!-exclamava uma das campistas de Afrodite

-Foi sem querer!- desculpava-se uma garota loura e com sardas.Ela era do chalé de Atena.-Não tive intenção de...

-Teve sim!-berrou a garota-Eu sei o que vocês querem!Vocês campistas de Atena,todos certinhos e pomposos,os melhores em tudo o que fazem!Querem se vingar pela a irmãsinha?Então venham!Amanhã seus cabelos estarão tão oleosos que terão que lava-los com água ardente e sabão em pedra!

Alguns dos campistas se levantaram.

-Nos vingar?Por causa da Annabeth?

-Então quer dizer que vocês assumem o caso?

O tumulto começou,os murmúrios e cochichos já eram nítidos.

Então senhor D. entrou.Ele trazia nos braços uma grande pasta cinzenta com o número seis na frente.

-AnnaBella Cheff,queira me acompanhar por favor- disse ele,olhando para Annabeth

-Annabeth Chase,senhor.-Corrigiu ela,de testa franzida.O que Dionísio queria com ela?

-Tanto faz-disse ele,zangado- Seu nome não importa.Queira me acompanhar.

Annabeth se levantou,seguida por olhares curiosos de todos os presentes,num repentino silêncio.

-Annabeth- chamou Percy- O que está acontecendo?

Ela negou com a cabeça- Já vou descobrir.

Annabeth seguiu o diretor do acampamento até a casa grande,que neste horário era iluminada pelas luzes de dentro,cuja a vista do céu escurecendo as suas costas poderiam ser retratadas com uma bela pintura.

A porta da varanda estava aberta,as cortinas eram empurradas para dentro pela brisa e trazidas de volta num movimento simples e solene.

Eles entraram.Senhor D. apontou para o escritório de Quiron e Annabeth teve a leve sensação de que já sabia qual era o motivo.

Senhor D. se sentou na poltrona de couro de Quiron e começou com uma pergunta normalmente feita por diretores de escolas.

-Sabe por que está aqui?-perguntou ele,feliz por ter a garota em maus lençóis.

-Provavelmente foi por ter colocado tarraxinhas na cadeira da professora.-respondeu ela brincalhona,mas certa de que ouviria uma bronca.

-Não brinque comigo.-Senhor D. fechou o cenho carrancudo para Annabeth.Seus olhos contraídos eram de apavorar até os mais fortes dos heróis gregos.

Annabeth parou,quieta.

-Vou lhe perguntar mais uma vez.-disse ele,sério- Sabe por que está aqui?

-Não- mentiu ela- Não sei exatamente...mas imagino que seja por causa do acidente.Descobriram alguma coisa.

Senhor D. girou a cadeira.

-Não encontramos nada.Mas imagino que a senhorita tenha muitas informações,não é mesmo?-acusou ele.

-Não sei do que o senhor está falando.

-Não minta,Annabella,todos sabemos que a senhorita esteve revirando as gavetas desta sala.

-Não revirei coisa alguma,eu somente abri as pastas e li um arquivo.Foi apenas isso.

Senhor D. sorriu como se tivesse ganho na loteria

-Então admite que andou por esta sala mexendo nas coisas do diretor de atividades sem autorização.

-Sim.Mas foi para um bem maior.

-Ótimo.Duas semanas de quarentena em seu chalé.Seu almoço e jantar será servido lá mesmo.

Annabeth bufou,confusa e injustiçada.

-Que tipo de medidas são essas?Normalmente ficamos restritos de atividades...agora,nos trancar em nossos chalés é totalmente errado!Zeus sabe que o senhor...

-Não são medidas de longa duração,serão apenas para você.E Zeus não precisa saber,é apenas uma filha de Atena,não o acampamento todo.

Ele se levantou e caminhou até as costas da cadeira de Annabeth.

-Achou mesmo que não descobriríamos?-Senhor D. abriu uma das gavetas da cômoda e pegou a pasta que Annabeth encontrara.-Reconhece isto?

A garota fez que sim

-É a pasta que a senhorita andou fuxicando.

Senhor D. passou sua mão enrugada sobre a pasta de couro,nela havia pequenas manchas que o tempo deixavam no couro,mas haviam alguns nomes espalhados.Alguns Annabeth reconhecera, como: Connor Stoll,Travis Stoll,Will Solace e Terência Albuquerque.

Outros ela não se recordava.Talvez fossem o nome de antigos campistas do acampamento.

-Reconheço alguns nomes- disse ela-Mas esses...

-São mais antigos- respondeu Senhor D.- Antigos campistas...Mas você reconhece este?

O diretor tirou as mãos da frente da pasta,e no local onde estivera sua mão estava escrito o nome da garota.

-Annabeth Chase- leu ela

-Viu só?Medidas contra bisbilhoteiros.Quando você não recebe permissão seu nome aparece automaticamente ao seu toque.E assim ficará para sempre.

Annabeth não respondeu.Ela continuou a fitar seu nome escrito em dourado no couro trincado da pasta.

Senhor D. abriu a porta com um estalo do trinco,fazendo Annabeth acordar da transe.

-Volto a repetir,duas semanas em quarentena até que aprenda a não meter o nariz onde não é chamada.

Annabeth saiu,e a porta bateu em suas costas.