O Verdadeiro Lar escrita por Yui


Capítulo 27
Utakata Hanabi


Notas iniciais do capítulo

Olá, bem-vindos ao último capítulo de O Verdadeiro Lar.
Desculpe a demora, não sabia como desenvolver esse capítulo.
O título é o nome de uma música que é ending de Naruto e significa "fogos de artifício".
Escrevi ao som dela, de outras ending e openings desse anime que eu adoro e também de Amie de Damien Rice e Someday My Prince Will Come de Jim Brickman (versão original da música do filme Branca de Neve e os Sete Anões: "o meu eterno amor, um dia encontrarei..." ♪).
Ao final, agradecimentos e surpresa.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/334436/chapter/27

Po ainda olhava o grupo se afastando rumo à prisão. Era mais perto e seu caminho não tinha vilas ou cidades, ou seja, teriam o tempo necessário para que Dishi partisse e avisasse os outros felinos da caída de Hui Nuan. O panda segurava seu impulso de ir com eles de volta ao Palácio de Jade, ver seu pai. No fim das contas, deveria ajudar seu pai, começando agora.

Uma pata em seu ombro o tirou de seus pensamentos. Ao virar-se, viu seu pai e deu-lhe um sorriso, triste.

– Filho, não é necessário... - parou de falar quando Po levantou uma pata.

– Não fala mais nada, pai. Vou ficar e ajudar.

– Pode demorar muito.

– Não tem problema. O Dragão Guerreiro sempre ajuda os que precisam - sorriu triunfante.

– Se você diz... - Jing-Quo sorriu também.

Ambos se viraram para encarar o novo imperador tigre e Song que havia ficado. Ela iria a procura de suas amigas e pediria desculpas por não acreditar no que disseram sobre Hui Nuan. Vendo Po tentando disfarçar a tristeza, Song se aproximou e o abraçou, abraço que foi correspondido.

A leopardo, desde seu reencontro no Vale da Paz, imaginava se o que ela sentia pelo panda era ou não algo mais forte que a amizade, e pelo jeito, era apenas uma forte amizade, coisa que descobriu aos poucos, quando o ajudou.

– Po, você vai voltar pra lá, não é? - Perguntou ela ao soltá-lo.

– Vamos ver como vão as coisas aqui.

Foram tomar o café da manhã. Dishi e Song, junto aos soldados, partiriam logo depois. Assim que terminaram, o jovem imperador pediu para falar sozinho com o Dragão Guerreiro e se dirigiram ao quarto do tigre, para ele terminar de arrumar suas coisas enquanto conversavam.

Po entrou e sentou-se na cama o encarando e esperando que ele falasse alguma coisa. Já Dishi não estava assim com tanta pressa e depois de guardas algumas de suas roupas na bolsa que levaria, sentou-se ao lado do panda.

– Po, eu quero agradecer tudo o que você me ensinou... eu sei que fui muito teimoso em não ver isso antes, mas, obrigado.

– Não precisa agradecer, Dishi, só fiz a minha parte - sorriu Po.

– Você fez muito mais, e eu também queria te pedir desculpas...

– Por... ?

– Por ter traído você e os outros que cuidaram de mim quando eu cheguei no Palácio de Jade e aqui, e me ajudaram ainda, eu não merecia.

– A gente merece o que a gente encontra, se tá no nosso caminho, é porque merecemos, como uma recompensa por tudo.

– E tem mais - olhou para Po que estava sério e apenas assentiu para que continuasse - desculpa por tentar tirar Tigresa de você.

Po levantou ambas as sobrancelhas, ele percebeu que Dishi planejava algo referente à Tigresa, mas não pensou que ele iria pedir desculpas por aquela noite na floresta.

– Nah, tá tudo bem, você apareceu com Shifu e me assustou - essa última parte disse em sussurro -, só que tá tudo bem...

– Não, não está - interrompeu o tigre - eu sabia que Tigresa ia terminar com você se eu contasse de quem era filha e contei, porque eu queria estar com ela. Pedi desculpas e ela já sabe que foi por isso, mas é tarde demais agora, ela foi embora e você ficou aqui. Eu... gosto dela e fui muito egoísta - abaixou a cabeça para evitar olhar o mestre nos olhos -, mas eu não quero mais causar tristeza, vocês se pertencem.

O panda desviou o olhar do tigre, já não podia fazer mais nada. Ele iria ficar para ajudar seu pai e não sabia quando voltaria a ver seus amigos, seu mestre, seu pai e a felina. Colocou uma pata no ombro do imperador que o encarou confuso.

– Pelo menos você se arrependeu, foi bom você escolher o que vai ser agora - sorriu novamente tentando deixar de lado os pensamentos ruins - e também, eu vou ajudar meu pai aqui, vou ensinar a lutar kung fu pra se defenderem e às vezes um tempo longe é bom, dá saudade e a saudade faz a gente ver como é bom estar com aquelas pessoas, quando a gente chega e vê elas de novo.

Era isso que sempre arrebentava os outros, era por isso que ele foi proclamado o Dragão Guerreiro. Ele tinha a luz dentro de si e parecia saber como usá-la bem. Nada o fazia ficar totalmente triste, sempre via um lado bom, uma solução, por mais rápido que tivesse que tomá-la, por mais improvisada que fosse.

Dishi se levantou e ficou de frente para o panda que ainda estava sentado sorrindo. Fez o cumprimento dos guerreiros (kin lai) e sorriu para o mestre.

– Só espero que não demore muito pra voltar a vê-los, Dragão Guerreiro.

– Não vou, majestade.

Ambos saíram, agora seria a hora de Dishi e Song partirem junto ao restante dos felinos para encontrar as amigas da leopardo e para que ele desse por encerrada a ocupação da China. Os guerreiros da Academia Lee Da ficariam mais algum tempo para descansar.

Se despediram e Po foi com seu pai ajudar a terminar a reconstrução da vila dos pandas e decidir um nome para ela. Tinha que conversar com mestre Crocodilo e Boi Toró para manter Ju na prisão de Gongmen e permitir que os pandas estudassem kung fu na academia da cidade, onde Po seria um dos mestres, pelo menos enquanto estivesse lá.

Eram muitas coisas a ser feitas e ele queria fazer tudo com calma, para sair direito. Levaria tempo, mas quanto mais bem feito, menos erros e mais cedo ele retornaria ao Vale da Paz.

Três dias se passaram para que os Cinco Furiosos, Mestre Shifu e Hui Nuan chegassem à prisão de Chor Gum. Os rinocerontes abriram as portas e pediram que aguardassem para que eles abrissem uma das celas vazias para o tigre, não queriam que ele ficasse com ninguém ali.

Esperaram próximos à entrada, com as portas fechadas para evitar que Hui Nuan fugisse. Ele estava seguro pelos braços de Tigresa e não se opunha a isso. Sabia que ficaria lá por um bom tempo e já nem se importava, estava feliz porque Lin estava ali e viria visitá-lo toda semana. Quando a felina abraçava seu pai, ele ronronava, deixando todos ao lado em choque. Ainda era estranho para eles que Tigresa tivesse um pai biológico e que ele ronronasse na frente deles, já que nem ela fazia isso.

– Será que ela também faz isso? - Perguntou Louva-a-Deus com dúvida.

– Ela é um tigre, provavelmente faz - respondeu Garça com tom de obviedade.

– Acho que ela só devia fazer com Po - brincou Macaco fazendo-os rir baixinho, sem saber que a felina e seu pai estavam escutando tudo.

– Não, nem com ele ela deve fazer isso, acho que ela não sabe - o inseto seguiu a brincadeira.

– Acho melhor vocês calarem a boca.

– Que é isso, Garça? Deixa de ser chato, vai me dizer que você não pensa isso? - Perguntou o primata dando uma leve cotovelada no amigo para que concordasse com eles.

Garça apenas revirou os olhos com um suspiro. "Até quando eles vão brincar sabendo que ela escuta tudo?", pensou a ave, o mais sensato dos machos.

– Deixa ele pra lá, pelo menos a gente sabe que ela não sabe - continuou Louva-a-Deus.

E foi aí que um grunhido foi ouvido. Ambos primata e inseto pensaram que poderia ser as portas das celas, mas perceberam que era mais perto e olharam para a felina que estava bem à frente deles de costas junto ao pai. Tigresa os olhava por cima do ombro, grunhindo mostrando seus dentes afiados, os que fez todos engolirem em seco, enquanto Hui Nuan apenas segurava o riso por ver a filha sem paciência alguma.

"Ha ha, ela realmente parece com Yi Jie, até no comportamento", pensou ele divertindo-se, sem conseguir disfarçar um pequeno sorriso.

– Venham por aqui - disse um dos guardas - encontramos uma cela vazia e já está limpa.

"Obrigado, deuses", pensaram os mestres que seriam o próximo alvo da felina, e todos caminharam para dentro do corredor de celas.

Todos seguiram o rinoceronte até a cela de Hui Nuan.

– Quer que um de nós o solte pra que vocês vão embora? - Perguntou o guarda que abriu a cela.

– Não, pode deixar - e dirigindo-se aos outros - vamos deixá-los sozinhos, estaremos na entrada - disse o Grão-Mestre.

Eles apenas assentiram e deixaram Tigresa com seu pai. Ela soltou suas algemas e ele torceu os pulsos para relaxar.

– Nossa, elas são realmente apertadas - riu o tigre e a felina fez o mesmo.

– Eu sei.

– Como você pode saber? Nunca foi presa - disse ele se sentando em um banco de madeira comprido que havia na cela.

– Capturada já - acrescentou ela sentando-se ao lado dele.

Hui Nuan quis saber como isso aconteceu e foi lembrado por ela da batalha contra Lord Shen, onde foram capturados e levados á ele em seu palácio e como escaparam da caída do edifício.

E apesar de se sentir bem e segura junto à ele, deveria ir para o Vale da Paz.

– Eu volto daqui a alguns dias - disse ela se levantando.

– Tá, então... eu não sei bem o que dizer, porque só agora estamos juntos, mas... que os deuses abençoem sua viagem e eu te amo filha - se levantou e a abriu os braços.

– Eu te amo, pai - ela nem soube dizer como isso saiu assim tão cedo pra ele.

"Deve ser coisa do sangue, ligação pai-filha", pensou ela para justificar o que disse, e deu de ombros. Tigresa corou, mas sua pelagem laranja encobriu a vermelhidão e ela o aproveitou o caloroso abraço que seu pai ofereceu. Recebeu um beijo na marca central de sua testa, já que seu pai era quase uma cabeça mais alto que ela.

A felina saiu da cela dando uma última olhada para trás e sorrindo para Hui Nuan. Enquanto voltava para seus amigos, veio à sua mente que nesses últimos três dias no qual ficaram juntos, ela se conectou cada vez mais a ele. Foi percebendo características nele que ela tinha, tal como ser um líder nato, saber falar e convencer, seu talento para estratégias, embora ele houvesse usado para o mal. Havia também sua postura firme diante dos demais, já que com ela, afastados do grupo, ele demonstrava muito mais o carinho, devoção e a atenção por Lin.

Por seu lado, Hui foi sentar em sua cama que era encostada na parede pensando que admirava sua filha à cada dia mais, à cada coisa que ela contava sobre sua vida. Ele estava em paz tendo encontrado Lin crescida e bem amparada. Se perguntava com curiosidade como ela conseguia ser essa mestre tão talentosa e ousada e como conseguiu se abrir depois de tudo que soube que aconteceu entre ela e Shifu, depois de Tai Lung passar na vida do panda vermelho.

Sentia uma certa raiva por sua filha ter sido criada com frieza, construindo um muro em torno de si mesma, mas ao mesmo tempo lhe agradecia por tudo que fez por ela, coisas que ele sabia que nenhum outro faria. Sentia-se grato também ao panda por aquecer o coração da felina.

No caminho à Chor Gum, ele conversava com Lin e entraram no assunto sobre o panda. Hui Nuan pediu desculpas à ela e pediu que conversasse com ele para ter a chance de se desculpar.

Ela sorriu e fez o melhor que pode para manter sua postura firme, já que não veria Po por algum ou muito tempo e ela não se sentia bem. Algo dentro dela a incomodava com essa ausência dele.

– Tudo bem, pai. Sei que Po vai te perdoar.

– Mas quero falar com ele e pedir isso.

– Quando ele puder, se ele voltar...

Aquele "se" a incomodava e muito, mas estava disposta a deixar isso de lado para treinar como antes e proteger a China onde quer que estivesse o perigo.

Foi de encontro a seu mestre e pai, e de seus amigos que a esperavam na entrada.

– Vamos? - Perguntou Shifu.

Tigresa apenas assentiu e todos foram de regresso ao Palácio de Jade.

Já estava tarde, então, pararam para jantar e dormir. Quem cozinhava agora era Víbora, que depois do panda, era a melhor cozinheira do palácio e estava se esforçando para não jogar a panela na cara dos amigos que faziam brincadeiras com a sua comida.

Terminaram de jantar e tentaram dormir, ao menos a maioria deles, já que a felina se dispôs a meditar para manter sua postura.

Dishi e Song estavam passando de cidade em cidade que foi tomada para avisar aos remanescentes do exército que o jovem seria o novo imperador. Chegaram ao Vale da Paz e lá, o tigre libertou os aldeões e conversou com Chao para ajuda-lo.

Libertou inclusive as amigas de Song que haviam sido levadas para a reeducação no vale. Estavam trancadas nas masmorras do Palácio de Jade e então, ao saírem, Song correu para elas e as abraçou.

– Me desculpem, me desculpem – dizia a leopardo às lágrimas para as amigas – eu deveria ter acreditado em vocês, deveria ter ficado com vocês.

– Não precisa.

– O importante é que tá tudo bem agora.

Rompendo o abraço, as leopardos foram se recuperar de todas as coisas que haviam passado e Song iria cuidar delas, inclusive, pediu abrigo no palácio até que elas estivessem em condições de seguir viagem para então voltarem ao norte da China.

Os trabalhadores do palácio, um pouco temerosos, cederam. Não poderiam deixar os feridos e os cansados ao relento. Elas ficaram lá e o imperador e seu bando seguiram viagem dois dias depois de passar por lá.

E no período em que o grupo de dançarinas estava lá, Mestre Shifu e os Cinco Furiosos voltaram para casa. Enquanto andavam pelas ruas, já perceberam a vista livre de soldados, ou seja, o líder dos tigre já passou por aqui. Mas em seu lugar, deixaram alguns muros destruídos, árvores destroçadas e casas estragadas, tudo devido à violência excessiva para assustar e manter os aldeões sob controle.

A vida ali não parecia tão fervorosa como antes, alguns ainda estavam com medo e o comércio se mantinha fechado. Seria assim até que os guerreiros assegurassem que estava tudo bem e eles sabiam disso.

“Ainda bem que tudo acabou”, pensou o Grão-Mestre aliviado de chegar em casa e não ter que enfrentar ninguém.

Ao entrar pela arena do palácio, um porco chegou informando o que aconteceu. Já estava tudo em ordem graças aos trabalhadores dali e as seis leopardo fêmeas descansavam nos quartos que não eram ocupados por eles.

– Bem, alunos. Vão desfazer suas malas, os que levaram alguma coisa e descansar. Amanhã não vamos treinar, mas temos que ajudar a arrumar a bagunça que está no Vale da Paz.

– Sim, mestre – disseram em uníssono ao reverenciar o panda vermelho e se foram pelas escadas até a ala dos estudantes.

Shifu foi até o Salão dos Heróis. Ficou em posição de lótus e resolveu tentar contato com Oogway para resolver o que fazer. Po era ainda e sempre seria o Dragão Guerreiro, mas estava longe. Pensou em colocar um guerreiro na dianteira das situações caso o panda fosse necessário, ou seja, substituí-lo temporariamente, porém não sabia exatamente se poderia.

Tentou, tentou e tentou até que uma voz conhecida sussurrava em sua mente insistentemente “nada tira o que o destino deu”. Pronto, essa foi sua única resposta pelo dia todo, por todas as horas que ficou meditando. A única coisa que poderia fazer era deixar como estava.

Os estudantes fizeram o que seu mestre ordenou. Depois foram todos à cozinha se alimentar e ficaram em um silêncio incômodo. O primata tomou seu pote de biscoito e se sentou entre Víbora e Garça. O único lugar que estava vazio à mesa, era o correspondente ao panda.

– É, eu vou sentir falta do Po roubando meus biscoitos – disse Macaco cabisbaixo.

– Vou sentir falta de ter que fazer sessões de acupuntura de quando vocês batem nele – resmungou Louva-a-Deus.

– Gente, ele prometeu não nos deixar, então vamos esperar.

– Víbora, você sempre tenta ver o lado positivo das coisas, mas ele está muito longe. Tem coisas pra resolver já que vai herdar o lugar do pai e com isso ele não vai poder vir atrás da gente toda hora – disse a ave – falando em pai...

– O pergaminho para o senhor Ping! – Disseram ele e a serpente em uníssono e saíram disparados pela cozinha ao encontro de Shifu.

Ficando novamente em silêncio com Louva-a-Deus e Macaco, Tigresa os sentia observá-la enquanto comia seu tofu. Sentia seus olhares e isso a estava incomodando. “Espero que a Víbora cozinhe amanhã ou eu cozinho, não quero mais comer só tofu”, era o que passava na mente da mestre enquanto terminava sua janta.

Se levantou e se dirigiu até o pessegueiro para meditar e tentar, pela primeira vez, relaxar sozinha.

Descendo as escadarias para a loja de macarrão, estava o panda vermelho, com um pergaminho destinado ao ganso. Foi lembrado pelos alunos de entregar o que Po pediu.

Bateu na porta do estabelecimento e depois de um tempo Sr. Ping o atendeu.

– Ah, olá mestre Shifu – sorriu o ganso abrindo um pouco a porta – eu soube que acabou a guerra, mas achei estranho que o Po não tenha vindo me ver... ele não vai descer? – Perguntou o idoso ingênuo.

– Ele não está aqui, senhor Ping.

– Como assim, não está aqui? Aconteceu alguma coisa com meu filho? – Se exaltou empurrando a porta para o lado – Onde ele está?

– Se acalme, senhor.

– Como é que você acha que eu vou me acalmar se eu deixo meu filho salvar a China e você vem aqui me dizer que ele não está? – Perguntou o ganso bravo, com as asas em jarra na cintura – eu já não gosto que ele viaje e ainda me vem com essa.

– Ele lhe mandou isso – Shifu ofereceu o pergaminho ao senhor Ping – ele teve que ficar pra arcar com responsabilidades.

– Que responsabilidades? – Perguntou novamente o idoso tomando o pergaminho e olhando confuso.

– Provavelmente ele está explicando na carta. Meus alunos virão lhe ajudar quando precisar, não se incomode em pedir e não recuse – sorriu – boa noite – virou-se para mancar escada acima, rumo ao palácio.

Senhor Ping tomou o pergaminho e o levou para seu quarto. Ao ler, soube o motivo de seu filho ter ficado em Gongmen e seu coração se encolheu. Po havia encontrado seu pai verdadeiro. Não que não estivesse feliz, mas é que ele era pai de Po também, ele o criou e deu um amor ao filho que nunca pensou ser capaz de dar.

Na carta, Po ainda pedia perdão por não dizer isso pessoalmente e afirmou que logo o visitaria, que sempre escreveria e esperava resposta de seu pai. Desejava também que os dois machos se encontrassem algum dia, para que Jing-Quo agradecesse ao ganso pela criação do pequeno panda. Com esta parte o idoso sorriu apesar de estar com os olhos marejados.

“Então eu o criei bem mesmo, hein? Ha ha, espero poder conhecer logo esse panda e ver logo meu filho”, pensou enquanto guardava o pergaminho na primeira gaveta da mesinha de noite de seu quarto, e foi dormir com uma frase que ressoava em sua mente e que foi a última da carta.

“Te amo pai, com carinho, Po.”

Alguns dias mais tarde, Dishi e seus seguidores chegaram ao palácio no sul da China. “Antigamente costumava ser um lugar lindo”, pensou o jovem tigre olhando o local abandonado. Os poucos felinos que lá ficaram, faziam o seu melhor para cuidar de plantações e manter a terra bem cuidada. “Eu vou mudar isso, só preciso encontrar meu colar”.

Pararam em frente ao castelo de pedra que pertenceu à família real e ele estava intacto, apesar de cheio das plantas crescendo escoradas em suas laterais. As grandes portas de ferro foram abertas para revelar que estava do mesmo jeito que Dishi se lembrava: um tapete vermelho ligeiramente devorado por traças e agora coberto de poeira, os móveis e ornamentos de ouro e prata ainda estavam lá no saguão. Ao andar em frente para mais uma enorme porta dupla, entrou na sala do trono e ele estava lá, em sua magnificência com seu assento vermelho com o mesmo símbolo da família na parte superior do encosto dourado: o sol de âmbar.

Daquela sala saíam corredores que levavam à cozinha, aos aposentos reais e dos serviçais e ao enorme jardim privado na parte de trás, que era gigantesco e tinha um enorme precipício que dava para um rio. Do alto daquele morro, se via a grande muralha.

O tigre-do-sul, depois de explorar o velho castelo e ir se lembrando aos poucos de seu breve tempo de vida ali, ficou na ponta do morro sentado olhando para além das pedras da muralha, admirando a vista que dava para o rio. Dali via outros felinos e outros animais que faziam a segurança da fronteira do país.

Abaixou a cabeça e cavou um buraco pequeno e não tão fundo na terra, ali colocou alguma coisa e depois enterrou. O tigre branco se aproximou.

– O que está fazendo, senhor? – Perguntou sentando-se e encarando o tigre alaranjado.

– Apenas plantando uma coisa que vai me lembrar do que vivi nesse último mês – respondeu sem tirar a vista das terras até a muralha longínqua.

– E o que é?

– Uma semente de pessegueiro – Dishi virou-se para o tigre branco e sorriu – assim, vou me lembrar do Vale da Paz, do meu mestre, o Dragão Guerreiro e dos guerreiros do Palácio de Jade. Especialmente dela.

– Hm, entendi – respondeu Chao olhando agora para a deslumbrante vista à sua frente, com sua majestade fazendo o mesmo – à propósito, majestade, feliz aniversário atrasado.

– Há ha, obrigado. Bem, vamos aos negócios. O que você sabe sobre o sol de âmbar?

Chao disse tudo o que sabia sobre a joia da família de Dishi, aquela que seria herdada por ele para que se tornasse oficialmente imperador e felizmente, a resposta foi sim.

A pedra era de âmbar talhada em forma de sol, com quatro pontas onduladas maiores formando uma cruz em torno de uma esfera e o tigre contou à Dishi sobre a história desse colar. Essas pontas significam as direções norte, sul, leste e oeste e entre elas haviam pontas menores significando as direções alternativas. Era o símbolo de quem tinha condições plenas de guiar, símbolo de um líder nato como era Zhen De e como agora seria Dishi.

O jovem foi guiado por ele até um corredor escondido no palácio de pedra e havia uma porta no final. Dentro dela, uma sala com uma cúpula de vidro no centro e nas paredes a árvore genealógica da família real.

“Então meu pai era assim”, pensou ele ao ver a pintura de seu pai numa parede ao lado da de Akame e uma fina linha vermelha pintada diretamente na parede os unia e do meio dela descia uma outra linha levando ao retrato do tigre quando era apenas um filhote.

– Senhor – Chao chamou a atenção dele.

Dishi se virou e viu que a cúpula estava aberta e viu então num pilar que sustentava o vidro, o colar pendurado. O jovem tigre sorriu ao ver que era exatamente como Chao descreveu e o colar que sustentava a pedra era um fino fio de outro.

– Como faremos a proclamação? – Perguntou olhando para Chao.

– Vou levar o colar conosco e reuniremos todos os felinos na frente do palácio. Quando todos estiverem lá, eu anuncio e coloco o colar em seu pescoço. À partir daí, será nosso novo imperador.

O jovem assentiu e foram para fora.

Ao anoitecer, todos os felinos que aceitaram continuar com Dishi, estavam reunidos na praça central das terras que, há muito tempo, receberam o nome de seu avô, Reino de Hu Yong, o lar dos tigres, outros felinos e quem não mais os temer.

– Hoje, recomeçaremos com um novo líder. O sol se põe uma vez para que possa nascer novamente e dar início a um novo dia. Aceitamos você, Dishi, filho de Zhen De e Akame, herdeiro legítimo e direto das terras de Hu Yong, como nosso novo imperador para nos guiar como sol e a lua guiam nossos dias e noites – disse Chao e alto e bom tom quando estava em cima de uma pedra com o novo imperador de Hu Yong colocando o colar em seu pescoço.

Os outros felinos aplaudiram e comemoraram. Apesar de tudo que deveria ser melhorado e arrumado ali, eles improvisaram uma festa. Agora estava tudo bem, tudo resolvido e a China logo já não temeria mais aos tigres.

Meses se passaram.

Já era o último dia do ano e apenas Sr. Ping recebia as cartas do panda que era o Dragão Guerreiro.

Toda semana, Zeng era enviado à vila dos pandas para levar e trazer as respostas entre pai e filho e alguma dessas vezes, ele mandava notícias aos Cinco Furiosos e Mestre Shifu. Porém, há tempos não enviava nada a eles, o que deixou seus amigos pensando que Po os esqueceu.

O Vale da Paz estava se preparando para festejar novamente o ano novo, o ano do Coelho. Os filhotes de coelho disputavam uns com os outros para qual coelho seria um ano bom, uma brincadeira boba entre eles e riam a gargalhadas enquanto seus pais estavam arrumando e cozinhando para aquela noite tão especial que seria celebrada no centro do vale com todos os aldeões unidos para assistir à queima de fogos de artifício e a dança do Dragão Chinês.

Os mestres do Palácio de Jade tinham o dia livre.

Víbora estava recolocando suas flores de lótus no lugar depois de um banho. Macaco, Garça e Louva-a-Deus já estavam trocados com as roupas que usaram na festa de Jng-Quo em honra à Po.

Os três estavam na cozinha da ala dos estudantes assando fornadas dos biscoitos do primata para que levassem ao vale e Tigresa, estava sentada ao lado do Pessegueiro Sagrado da Sabedoria Celestial, meditando como sempre fazia quando ficava sozinha.

Durante todos esses meses, esteve treinando mais e a cada duas semanas visitou seu pai sem faltar uma vez e se aproximava cada vez mais dele. Conheceu fatos sobre sua família, inclusive sobre sua mãe e tio que a mimavam quando filhote através do que Hui Nuan falava. Ele pediu que ela fosse até onde Dishi estava reinando agora buscar as roupas que eram de Yi Jie para que ela as usasse agora.

– São suas, você faz parte da família real e é imperatriz de direito de Hu Yong, mesmo sem se casar com Dishi – dizia ele.

Tigresa então pediu que Zeng fosse até lá e trouxesse ao menos algumas roupas da mãe da felina. Então um dos súditos de seu primo se ofereceu para levar, o ganso não poderia trazer todas sozinho.

Chegaram com duas bolsas grandes de q’pao de seda em várias cores. Entre dourados, brancos, verdes, azuis e violetas, e todos eles tinham o mesmo símbolo do colar de Tigresa, o Yin Yang, além dos padrões de videira que significava o crescimento natural para eles, e tudo isso em um bordado que fosse numa linha diferente da cor do q’pao, mas geralmente era em dourado, nas bordas das mangas e da parte inferior do traje. A faixas que traziam eram da mesma cor de todas as bainhas e eram diferente dos padrões bordados.

Porém, hoje, ela usava uma calça negra habitual junto a um colete verde com videiras em dourado.

Estava pronta para descer. O sol já havia se posto e a lua estava quase no alto. Em menos de uma hora, seria o ano novo.

Os portões do palácio estavam abertos, as luzes todas apagadas e ela estava passando pela arena. Parou olhando para todos os lados como quem pressentia alguma coisa, era uma sensação estranha, mas deu de ombros e continuou seu caminho. Todos já haviam descido para comemorar e ao chegar ao primeiro degrau da escadaria, olhou para o vale iluminado. Mesmo de longe, tudo parecia estar lindo, só faltava um certo alguém para comemorar junto a ela e os amigos.

De repente, suas orelhas se agitaram quando ela captou passos atrás de si e se virou já com a pata para agarrar quem quer que fosse que estivesse atrás dela e puxá-lo para frente. Se deteve quando viu olhos de jade assustados encarando os seu par de pedras âmbares, apenas segurando aquele braço com firmeza. A felina estava segura de que sua respiração e seu coração a abandonaram por um segundo e ficou com a boca entreaberta sem conseguir falar.

– Oi, Ti – sorriu a criatura a sua frente.

– Po, você... por que você tá aqui? – Perguntou ela surpresa sem soltá-lo.

– Achei que ia gostar de me ver – respondeu ele ainda sorrindo – você não acha que eu ia perder o ano novo com vocês, acha?

– Mas, como ninguém viu você chegar? – Ela começou a abrir um sorriso.

– Sou o Dragão Guerreiro – brincou ele arrancando uma leve risada dela – eu também quis voltar por outra coisa, senti sua falta – acrescentou a abraçando, abraço que foi correspondido.

– Achei que você não tinha me perdoado.

Ficaram algum tempo assim de olhos fechados, desfrutando o calor do abraço um do outro e matando a saudade impiedosa.

– Claro que perdoei – Po finalmente respondeu e se separou um pouco para olhá-la nos olhos, segurando-a pela cintura – só que eu não podia voltar a ter nada com você ainda porque eu não sabia se iria voltar ou quando.

– Não me importa, eu poderia esperar – contradisse a felina pousando as patas no peito do panda.

– Eu jamais te faria sofrer me esperando.

– E quem disse que seria sofrimento?

– Bom, ninguém, mas eu acho... que não poderia fazer isso, sem te dar certeza que nem eu tinha. Mas quando meditei, encontrei Mestre Oogway de novo e ele me disse que o destino é implacável, que não importa o que a gente faça, ele vai até onde tem que ir. E nossa ligação é assim, não dá pra separar – disse Po colocando um lírio-tigre atrás a orelha direita da felina, que ficou paralisada – eu só não quis fazer você esperar mas eu estaria pra sempre com você, mesmo que logo eu tenha que voltar pra Yu Qing.

– Hm, você deu o nome da sua mãe – assimilou ela e o panda assentiu – você vai mesmo ter que voltar? – O sorriso da felina desapareceu.

– Sim, mas não sem antes te perguntar uma coisa.

– O que? – “Será que eu quero saber?”, brincou ela em sua mente.

– Bem, a gente... se ama, bem eu te amo, muito. E quero saber se... se... você quer... – engoliu em seco olhando para os lados, estava nervoso com a resposta de Tigresa – você quer casar comigo? – Fechou os olhos apertado.

A guerreira ficou petrificada e sem fala, e por alguns minutos se limitou a encarar o panda à sua frente que permanecia com os olhos fechados, até que ele os abriu pra olhá-la, preocupado. E quando olhou para a felina, ela sorria e aproximou o próprio rosto do dele para sussurrar a resposta:

– Sim, quero sim.

– Demais! Eu sou o cara mais sortudo e feliz do mundo!

– Mas, espera... e quanto ao título de Dragão Guerreiro e meu serviço de guerreira? Vamos ter que deixar? – Perguntou ela – você vai mesmo fazer isso por mim?

– Não esquenta, Ti, a gente dá um jeito e não teremos que deixar de lutar nunca. A China e o kung fu precisam da gente e a gente deve muito a eles.

– E você vai voltar pra vila de Yu Qing... como vamos fazer?

– É como diz a lenda, você deve conhecer também... o Sol e a Lua sempre foram apaixonados um pelo outro mas nunca podiam ficar juntos, porque a Lua só nascia quando o Sol ia embora...

– Por isso, os deuses com sua bondade infinita criaram o eclipse como prova de que não existe no mundo um amor impossível ou algo impossível de se realizar – completou a felina conectando sua testa à dele.

Foi nesse momento que o beijo dos noivos aconteceu e enquanto um ainda dedicava carinhos ao outro, o céu escuro começou a se encher das cores dos fogos de artifício. Então, enquanto a queima de fogos acontecia, eles se separaram. Desceriam logo para que Po revesse os amigos, o mestre e o pai e para comemorar com o Vale da Paz mais um ano no qual teriam que lutar para manter o equilíbrio. Por agora, ficariam onde estavam para olhar do topo do Palácio de Jade a beleza daquele reinício, um novo ciclo para uma nova vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Q'pao: traje tradicional - acho que já falei isso antes hahaha
Imagem de Artisticistia, do DeviantArt.

Capitulo gigantesco, hein?
Bem, quero agradecer aos leitores da fic, que acompanham desde o início ou não e também à quem recomendou e/ou favoritou a minha fic. Espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever pra vocês. "Um artesão sempre fica feliz quando apreciam a sua obra" - William Turner - Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra.

Gostaria de convidar vocês à acompanhar a fic que a JSchiatti vai começar logo e da qual eu também vou participar como co-autora e a acompanhar... tam, tam, tam... a continuação de O Verdadeiro Lar que virá logo, logo! *0*
Bem, deixem seus comentários e nos vemos logo.
Até mais, gente e de novo, obrigada. o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Verdadeiro Lar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.