O Verdadeiro Lar escrita por Yui


Capítulo 24
Mìngyùn de Hóng Shéng - A Ligação dos Guerreiros


Notas iniciais do capítulo

Ao som de Wish You Were Here do Pink Floyd, é linda e me inspira kkk... aqui vai mais um capítulo *-*

O título está em mandarim e significa: corda vermelha do destino.

Boa leitura.



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Já haviam passado algumas horas desde o almoço.

Em uma colina do vilarejo dos pandas, eram trocados chutes e socos em um treino entre os Cinco Furiosos e o Dragão Guerreiro. Seus últimos treinos com seus amigos. Eram dois contra ele, depois ele e mais um contra o outro e assim por diante, para treinar o combate em desvantagem, assim era provável que não fossem pegos de surpresa ou que vencessem em situação semelhante. O treinamento era detalhadamente observado por seu mestre e por alguns pandas que passavam por perto e os que estavam na plantação de arroz próxima.

No momento era Po se defendendo de Víbora e Macaco, que faziam combinações com seus golpes. O panda estava sério e esquivando-se de todos os ataques, o que só acontecia quando eram lutas sérias, contra inimigos.

Sentados longe dali estavam Tigresa, Louva-a-Deus no chapéu de Garça e todos observavam, logo seria a vez de um deles.

Algo distraiu o panda gigante por um segundo e ele recebeu um golpe de Víbora no rosto, o que o fez rolar colina a baixo para cair em uma parte da plantação de arroz, derrubando alguns dos trabalhadores. Outros pararam suas tarefas para começar a rir da queda de seus colegas de trabalho.

– Ah, me desculpem - disse ele sem graça e se levantando - eu não queria fazer isso.

– Está tudo bem - respondeu um panda fêmea sendo ajudada por outra.

– É, não tem com que se preocupar - disse Ho estendendo a pata para Po se levantar - além disso, já soubemos que você será nosso líder.

– É... espera, você não trabalha na casa do meu pai?

– Ah, eu sempre vou ajudar. Até seu pai trabalha conosco quando não tem que resolver algumas coisas.

– Po, você está bem? - Perguntou Víbora chegando perto.

– É cara, você tá legal? - Perguntou Macaco segurando o riso assim como os demais.

– Tô bem sim pessoal. Valeu aí, Ho - Po sorriu para o panda.

– Tudo bem - respondeu ele com um sorriso e virou-se para continuar seus afazeres

Nesse meio tempo em que Víbora, Macaco e Garça com Louva-a-Deus em seu chapéu desceram a colina de onde Po caiu para ver se estava bem e eram observados por Tigresa e Shifu. A felina não demonstrava preocupação ou que achou graça no que aconteceu, mas sentiu. O mestre a encarou analisando o rosto inexpressivo dela e esperando que ela esboçasse algo.

Sabia o que estava acontecendo com ela, mas não havia mais nada a ser falado, ela deveria prestar atenção ao que seu mestre lhe disse e decidir. Se prestasse bem atenção, ele conseguia notar suas emoções apesar de ela não se permitir mostrá-las.

Ela saiu de onde estava e então Shifu virou o rosto para ver seus alunos subindo.

– Po, o que aconteceu? - Víbora perguntou em um sussurro aproveitando que seus amigos ainda faziam graça com a queda do panda.

– Só me distraí.

– Com... ?

– Você sabe com o que.

– Não fique pensando nisso, tente pelo menos.

– Como não vou pensar nisso? Tô perto de me casar e não é com quem eu quero, não que eu me arrependa de ajudar meu pai, mas... não queria que as coisas fossem assim. Mestre Oogway me disse pra não me enganar com palavras, mas como assim? Até as atitudes dela não mostram nada...

– Confie em Oogway, tudo vai se acertar - Víbora piscou o olho em cumplicidade com ele.

Po havia contado sobre o que seu pai lhe disse para que a serpente o ajudasse a escolher outro pra ficar em seu lugar, mas nenhum deles sabia se iria conseguir, afinal, não conheciam bem os pandas de lá.

– Acho que está tudo bem com você, não é, panda? - Perguntou Shifu quando os alunos chegaram ao topo da colina.

– Ha ha, sim, mestre.

– Muito bem, vamos retomar o treino - disse e esperou - o que? Nem um pedido de lanche? - O panda vermelho se surpreendeu.

– Na verdade, sim. Tô com fome.

– No fim do treino você come.

– Ah, tá bem.

O resto da tarde foi de exercícios e lutas corpo-a-corpo com apenas um atacante. Agora que as coisas haviam se acertado, pelo que eles soubessem, retomariam sua rotina até que um dos amigos tomasse um caminho bem diferente e tudo para o bem de um povo que mal conhecia. Nem se quer sabia da armação da qual se tornou vítima.

Dishi abriu o pergaminho e depois de ler, sua respiração se tornou irregular. Estava com dúvida se realmente havia entendido de primeira e releu até ter certeza.

"Há nevoeiro na estrada, o que quer dizer que deve tomar cuidado por onde vai. Está andando distraído em círculos por não prestar atenção nos raios de sol que te iluminam. Se os seguir, desencadeará um bem maior do que pode imaginar.

O trecho caminhado já não importa mais, já passou por ele e não há como voltar. As únicas coisas a serem lembradas são a direção tomada porque isso deixou sua marca, e também as lições aprendidas para que possa usá-las no seu futuro de luz.

Cuidado, pois o tempo nos faz esquecer o que nos trouxe até aqui."

Por dentro se sentia um pouco mal. Queria se vingar de seu tio por conta do que fez à sua mãe, mas ali estava escrito o mesmo que Po lhe dizia: que perdoasse e deixasse pra trás.

Se sentiu estremecer. Se esse era seu futuro, um caminho de luz, e bom... o caminho dourado de seu antecessor, provavelmente, o de seu pai. Era um líder adorado e não precisava se valer de tantas artimanhas e maldades como seu tio.

O jovem príncipe ainda poderia mudar seu caminho, mas... o ataque seria ao amanhecer. E agora, o que faria? Largou o próprio pergaminho aberto em cima da cama. Decidiu correr para encontrar seu tio e o procurou no primeiro lugar que imaginou: a sala de reuniões. Abriu a porta com um golpe.

– Tio!

Lá estava Hui Nuan com os comandantes de seus pelotões. Todos o olharam, inclusive o líder tigres com a mais pura expressão de raiva pelo susto que levou.

– Dishi! Até parece que eu não ensinei nada à você... cadê suas maneiras, garoto?

– Desculpe... mas eu pensei um pouco e seria melhor deixarmos para atacar depois, tentar trazer Lin pro nosso lado antes - "na verdade, ganhar tempo", pensou Dishi.

– Ahn, não. E está decidido - acrescentou Hui já percebendo que seu sobrinho iria retrucar - Traremos Lin de volta, então, vá descansar agora - sorriu.

O tigre não disse nada e saiu. Voltou para o próprio quarto pensativo, imaginando uma maneira de impedir o ataque, atrasar ou mesmo... avisar. Isso, avisaria Tigresa. Pensando nisso, abaixou-se para encontrar uma caixa debaixo de sua cama, a mesma que continha o segundo pergaminho que ele carregou consigo o tempo todo. Sentou-se na cama com a caixa nas patas ea abriu vendo o pergaminho com padrões de videira dourada.

"Tenho que entregar isso a ela", pensou e se colocou a escrever uma nota.

Algum tempo depois saiu correndo de seu quarto para procurar alguém que pudesse levar sua mensagem e seu pergaminho. Justo no momento em que saiu, seu tio andava pelos corredores para ir descansar também depois da reunião de horas e viu quando Dishi saiu pelo outro caminho correndo. Aproveitou, era a oportunidade que precisava, apesar de achar essas últimas atitudes de seu sobrinho muito suspeitas.

Entrou no quarto do príncipe e a primeira coisa que viu foi seu pergaminho aberto e o leu.

Abriu os olhos até o quanto pôde, sabia quase tudo o que estava escrito porque obrigou Fala Macia a contar, mas havia mais. Jogou o pergaminho no chão com raiva para sair e ir ao seu murmurando:

– Droga. Se ele não é o guerreiro prometido, quem é? E... será que ele se rebelou de novo contra mim?

Dishi caminhou por entre as ruas da cidade onde estavam se esgueirando pelos becos para evitar perguntas dos soldados de Hui Nuan. Chegou até onde viu um ganso que estava arrumando as coisas em sua venda. Sabia que ele iria bem mais rápido do que qualquer outro felino e decidiu puxá-lo pela camisa.

Tapou o bico do ganso ao ver que ele gritaria e esperou que ele parasse de tremer.

– Não me machuque! - Pediu o ganso quando o príncipe tigre soltou seu bico.

– Sh! Preciso de um favor, leve esta mensagem e esta nota à mestre Tigresa. Ela está na vila dos pandas ao lado de Gongmen City. Leve e eu juro que isso vai livrar todos da maldade de Hui Nuan.

O ganso pareceu pensar um pouco. Olhava para o que deveria levar e depois para Dishi, continuando com isso por algumas vezes até que tomou o pergaminho com a asa e o colocou em seu cinto junto à nota para que não caíssem e os apertou.

– Sim, senhor. Se isso vai ajudar, eu faço.

– Então vai.

Dishi o viu voar o mais rápido que podia e ser perseguido pelos guardas felinos que pulavam pelos telhados lançando tudo o que podiam para pegá-lo. Felizmente o ganso conseguiu escapar e Dishi voltou ao palácio onde estava com seu tio.

Ao chegar, ninguém parecia ter notado nada e já em seu quarto, recolheu o pergaminho que, estranhamente estava no chão. "Não me lembro de ter deixado você aí", pensou ele recolhendo-o.

Ficou na janela de seu quarto observando a tarde cair, sem saber o que aconteceria na manhã seguinte e esperando que tudo desse certo.

No mundo espiritual, Akame estava sentada sobre uma pedra olhando seu filho pelo lago ao lado. A tigresa sorria feliz, sabia que seu filho tinha feito a escolha certa.

– Eu disse, minha amiga heheh - disse Oogway se aproximando dela.

– Sim, mestre. Ele escolheu o certo, ele vai encontrar a paz.

– Claro que vai - ele sorriu colocando sua pata no ombro esquerdo de Akame - assim como você vai ganhar a sua.

– O quê?

– Seu filho está impedindo que o destino mudasse os caminhos para deixá-los mais longos, ele está fazendo o que deveria desde o princípio - disse Yin - se ele continuasse, além de sofrer e levar tristeza aos outros, nosso pai deveria se encarregar de alongar o caminho, reescrever as coisas para chegar onde deveriam. Ao equilíbrio e aprendizado de todos - explicou.

– E você o ajudou, por isso, logo você estará junto à Zhen De - disse Yang - você não teve paz desde que ele se foi e agora voltará a ter, ele sente sua falta.

– Ele está aqui?

– Sim e virá logo - responderam ambos irmãos.

– Bem, vamos olhar o que vai acontecer, porque agora que as coisas estão clareando para Dishi, vão clarear para os outros também - disse a sábia tartaruga passando as garras pela água à beira do lago, deixando ver a imagem dentro da casa de JIng-Quo.

Nela estavam Ju e Fa Huo jogando mahjong no quarto da jovem panda até que o jantar estivesse pronto.

– Papai?

– O que, filha? - Perguntou ele fazendo sua jogada.

– Estou preocupada...

– Com... ?

– Bem, com o casamento. Não sei porque, sinto que ele pode mudar de ideia, arranjar um meio de acabar com o casamento - respondeu ela levando as patas ao tabuleiro e tocando em uma peça para mudá-la de lugar - eu ainda acho que aquela tigresa meio-macho pode tirá-lo de mim.

Fa colocou-se em pose pensativa, deixou de prestar atenção no jogo e virou seu olhara para o fundo do quarto. A jovem Ju o olhava com expectativa.

– Posso resolver adiantando o casamento.

– Como? Será que Po vai concordar?

– Tenho minhas maneiras. Assim, você terá o companheiro que deseja, terá poderes como a esposa do Dragão Guerreiro. O universo escolheu, ninguém substitui, mesmo que ele apenas participe do conselho dos mestres e do conselho de Ônix, ele ainda será o maior guerreiro da China. E também, você poderá influenciá-lo a seguir minhas ordens sem saber. Voltarei ao poder e terei mais do que queria, já que meu genro é quem é.

Uma risada nada agradável partiu da boca de Fa Huo junto à de sua filha.

Ho e Tao Li estavam ouvindo a conversa e o perceber que eles estavam andando até a porta, saíram correndo para não ser pegos.

Enquanto isso, os guerreiros que passaram o dia treinando, foram se lavar para a janta. Ao descerem, se sentaram numa mesa farta e esperaram que Jing-Quo se juntasse a eles. Tanto Shifu quanto Tigresa lançaram olhares de raiva a ele, que não percebeu.

Começaram todos a comer, uns mais como Po, outros menos.

– Calma, Po, a comida não vai fugir de você - disse Macaco observando o amigo comer com pressa como se tivesse compromisso.

– Você está bem, panda? - Perguntou Shifu.

O Grão-Mestre sabia que seu discípulo só comia tanto desse jeito quando estava chateado e também sabia o motivo.

– Eu... eu to bem - respondeu com a boca cheia tentando não soar como mentira.

– Eu tenho um pedido a fazer.

– Diga, Fa. O que é? - Perguntou Jing-Quo voltando a atenção para o amigo, que se levantou.

– Eu, gostaria de celebrar o casamento amanhã.

Pronto, a bomba foi solta sobre a cabeça de todos. Song, Louva-a-Deus e Garça abriram a boca mais do que podiam olhando para o panda de pé na sala de jantar. Po e Víbora engasgaram com a própria comida, Shifu apenas levantou uma sobrancelha suspeitando disso e Tigresa... ela sentiu uma raiva sem igual e não pode conter um grunhido ameaçador, embora não olhasse para Fa Huo.

– Eu não estou tão certo que aquele tigre vá ficar em paz conosco, não se pode confiar nesses felinos, sem ofensa Mestre Tigresa - acrescentou Fa Huo olhando para ela - há algum problema?

Além da expressão de raiva dela e de Po, ele recebeu como resposta um rugido por parte da felina.

– Olhe, eu gostaria de esperar mais, só que se meu filho não ver problemas nisso, eu concordo, porque eu também não estou tão certo disso, mas porque ele é sobrinho de Hui Nuan e foi criado por ele, não porque ele é um tigre. Isso de espécies não serem confiáveis não tem nada a ver.

O silêncio se fez na sala de jantar e todos olhavam com expectativa par ao panda, uns querendo que recusasse e outros que aceitasse.

– Bem - disse Po olhando para seu prato -, eu... ah, já que é pra ajudar meu pai, eu aceito.

– Está bem, vou avisar os outros depois - disse Fa Huo sorrindo e se sentando para terminar de comer.

Nesse exato momento, Tigresa se levantou alegando não estar mais com fome e foi direto para seu quarto. Passou algum tempo andando pelo quarto como se estivesse enjaulada. Definitivamente não suportava a ideia de que isso estivesse acontecendo.

A noite, que já se fazia presente, deixava a vista uma boa quantidade de nuvens que escondiam a maioria das estrelas e às vezes a lua, como se elas não quisessem brilhar agora. A felina estava na janela observando o movimento do restante do vilarejo quando algo no céu chamou sua atenção.

Havia alguém voando de um lado a outro que ficou assim por alguns minutos. Sobrevoou por cima da casa e voltou rapidamente até que pareceu encontrar o que queria e foi se aproximando da janela da mestre do estilo tigre. Ela se colocou em pose de batalha e ao ver isso, o estranho quis fugir, mas foi pego pela pata e atirado no chão do quarto de Tigresa.

– Quem é você e o que quer aqui?

– Me-mestre Tigresa? - Perguntou ele se levantando, a felina assentiu e ele continuou - sou um humilde mensageiro. Isso é pra você - inclinou-se a ela para entregar o pergaminho e a nota.

Tigresa relaxou e tomou-os do ganso. Ficou observando os detalhes. Era o pergaminho que Dishi carregava. Quer dizer que o tempo todo ele esteve com o pergaminho dela?

– Mestre? - Chamou o ganso, tirando-a do transe - há algum lugar onde eu possa dormir?

– Saia aqui pela janela e vá até a porta principal da casa pra pedir abrigo. Mas não diga a ninguém o que trouxe aqui - disse ela firme.

O ganso assentiu e saiu novamente, foi quando ela observou o lacre do pergaminho que dizia "Lin". Não tinha certeza se esse era seu nome verdadeiro. Será que isso era mesmo para ela? Deixou ambas as entregas na mesinha ao lado da cama e se dispôs a dormir.

Não conseguiu ficar mais de duas horas, despertou novamente e desistiu de tentar ter uma boa noite de sono.

Já era madrugada, e estava há horas acordada pensando e se arrependendo de ter deixado Po, pensando se lia ou não o que seu primo mandou. Sentou-se na cama para ler. Abriu a nota e nela, Dishi pedia perdão novamente por ter escondido o fato de saber de quem ela era filha. Alertava sobre o ataque que planejou Hui Nuan e contava também que este pergaminho era dela, que ela foi a única que conseguiu escapar com vida, tanto dos ataques de outros povos quanto dos ataques de seu próprio pai, ocasionados pela vingança de Hui por acreditar na morte de Lin. Ficou sabendo de seu nome de nascimento.

Um sorriso involuntário apareceu em seu rosto, agora sabia que aquele pergaminho era para ela. Tigresa era de fato a guerreira lendária, a Guerreira Prometida.

Respirou fundo e rompeu o lacre. O pergaminho rezava:

"Há uma linha vermelha que os antigos dizem que é ligada em nossos tornozelos e dizem ser a linha que une dois seres destinados a ser um só. Essa é a linha que ligou seus pais para que você viesse ao mundo. É a união legítima desses dois seres abençoados no amor que tem um pelo outro e por você.

O amor é a forma que o destino e a morte inventaram para equilibrar as coisas, fazer com que existisse o equilíbrio, o meio termo. O seu caminho reforça um laço que vem de vidas atrás para no decorrer das coisas equilibrar o que você traz consigo, que é tudo o que você se tornou, foi, é e será. Amor une e permite enfrentar medos, enfrentar qualquer coisa e permite perdoar.Jamais desista de encontrar o que quer por caprichos alheios. Já encontrou a outra ponta do fio e ele une à você aquele de que precisa para chegar aonde deve.

A linha pode ser emaranhada, esticada, mas jamais será rompida.

Nunca se esqueça quem você escolheu ser, aquilo ou aqueles pelos quais você escolheu lutar e o laço que você permitiu que os deuses firmassem, com aquilo que seu coração decidiu amar."

Tigresa pensou não ter entendido. Passou algum tempo refletindo sobre o que leu. A união que ela tinha nesse sentido era apenas com Po, tá. Isso queria dizer que ele a perdoaria? E o mais importante: queria dizer que se unindo com ele, enfrentaria e venceria seu pai?

– Talvez seja isso mesmo - dizia ela para si mesma abrindo um largo sorriso - mas não sei como fazer isso. Hoje, isso vai acabar. Essa vingança sem sentido, esse casamento arranjado, tudo vai acabar. Jing-Quo e Hui Nuan vão receber o que merecem...

Tigresa saiu de seu quarto com tudo que tinha como prova, em suas patas e foi tão silenciosa como sempre. Encontrou com Tao Li e Ho dirigindo-se ao quarto de Shifu e questionou sobre seus motivos.

– Temos algo importante para contar à Mestre Shifu - disse Ho.

– E é muito sério... é sobre o casamento - disse Tao Li.

Bateram à porta do mestre e ele a abriu, ainda sonolento, deixando que entrassem.

– O que querem a essa hora? Nem se quer amanheceu. Há algo errado?

– Sim, mes-, digo, pai.

Tigresa leu a nota de Dishi e os dois pandas contaram tudo o que ouviram entre Ju e seu pai. O panda vermelho se exaltou.

– Hm, pode ser que estejam tramando algo...

– Eu sei o que é - disse Ho.

– O que? - Perguntaram as duas fêmeas e o mestre.

– Ouvi hoje ele dizendo à Ju que eles teriam o que desejam: ele teria o poder de volta e ela, status como esposa de um herói. Ele quer controlar nosso povo através da própria filha e ela diz gostar do Po.

Tigresa rosnou com o comentário.

– Eu não vou deixar que isso aconteca - disse ela.

Shifu a olhou com surpresa e um sorriso estampado no rosto.

– Fico feliz e... estou curioso. O que te fez mudar de ideia, minha filha?

– Está tudo escrito no meu pergaminho - disse ela sorrino levemente entregando-o para o Grão-Mestre ler.

– Não posso ler só o guerreiro da lenda pode... - ele a olhou e Tigresa tinha a expressão cínica com uma sobrancelha levantada - ah, está bem - respondeu tomando o pergaminho.

– O senhor leu o do Po... - lembrou ela.

Ele apenas assentiu, sem jeito e se colocou a ler.

A única coisa que pôde concluir era o mesmo que ela já sabia, mas uma dúvida estava na cabeça de ambos:

– Como, com isso, você vai deter Hui Nuan?

– Não sei, mas eu vou descobrir com Po - disse Tigresa.

Ouviram o gongo do vilarejo soar. Era hora de despertar e estava se aproximando a da hora do casamento.

– Ai, temos pouco tempo! - Exclamou Tao Li.

– Calma, vamos conseguir impedir isso. Vamos pra cozinha. Já sei o que fazer - disse Ho com um sorriso malicioso o que preocupou a panda.

Ela foi puxada para fora do quarto de Shifu rumo à cozinha, deixando pai e filha sem entender o que pretendia aquele panda.

– Tigresa - chamou-a para que prestasse atenção -, sinto muito, mas terei que quebrar sua promessa.

– Não importa. Com um ataque chegando, isso realmente não importa mais. Temos só que fazer o que é certo.

O Grão-Mestre assentiu e estavam por sair do quanto quando ele perguntou:

– O que vai fazer, filha?

– Vou tentar conversar com Po, pedir desculpas.

– Vá e boa sorte.

Tigresa correu até o quarto de Po e chamou algumas vezes. Ele não respondeu.

Abriu a porta e ele não estava ali. Deveria estar se preparando ou comendo. Buscou por ele em todas as partes da casa, na cozinha, onde viu Tao e Ho fazendo uma massa estranha para o plano do panda. Correu procurando na praça e nas plantações e o encontrou no último lugar que se lembrou de procurar.

O panda estava entre as árvores, afastado do vilarejo, onde ele a tinha levado na noite da festa de boas-vindas em sua honra. Estava sentando em um tronco de costas para a aldeia, fazendo um ruído baixinho. Era choro? Junto a isso, estava resmungando.

– Eu tenho que fazer alguma coisa... não posso me casar, tenho que arranjar alguém pra ficar no meu lugar. Tigresa não me quer mais, mas eu sou amigo dela e ainda amo muito... não vou me casar - se levantou decidido - não importa o que aconteça, não me caso com Ju.

– Po?

O Dragão Guerreiro se virou com um grito e ofegante pelo susto. A primeira coisa que viu foram os olhos ambarinos que tanto amava e não pôde evitar o acelerar do coração.

– Tigresa? O que você... ?

Não pôde terminar. Foi cortado por um beijo da felina. Dizem que os melhores beijos são aqueles recebidos no meio das frases.

Ele correspondeu. Não entendia o que passava na cabeça da guerreira e averiguaria depois. A abraçou, não importava mais nada. Esse beijo lhe deu a confiança e a certeza que precisava pra cancelar o casamento.

Sentiu algo molhado chegando em seu focinho e não poderia ser chuva, estava um céu lindo e com pouquíssimas nuvens. Não era sua saliva. "Que eu saiba, saliva fica na boca", pensou ele se separando. Ao olhar Tigresa, se deu conta do que era aquilo molhado que sentiu, eras as únicas lágrimas que Tigresa deixou escapar.

– Me desculpa.


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Notas finais do capítulo

As frases:
"O tempo nos faz esquecer o que nos trouxe até aqui" é da música Armas Químicas e Poemas da banda Engenheiros do Hawaii;
"Dizem que os melhores beijos são aqueles recebidos no meio das frases", ou algo assim é do filme: O Céu Pode Esperar.

Espero que tenham gostado, espero seus comentários... se quiserem, claro. Bem, até mais. o/



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