O Verdadeiro Lar escrita por Yui


Capítulo 21
Armadilhas


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez postei de madrugada >
Capítulo bem, bem longo, ein gente?

Enfim, espero que gostem e, boa leitura.



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- O que quer falar comigo, mestre?

- É algo muito delicado Tigresa – disse ele sentando-se em uma pedra – é melhor você se sentar.

Ela obedeceu sentando-se em posição de lótus a menos de um metro de Shifu e tinha um olhar indecifrável, aqueles frios que há alguns dias não mostrou mais. Esperava pacientemente que ele falasse, afinal, era de sua conta e não queria parecer desesperada embora a curiosidade a estivesse incomodando.

- Tigresa... existe a possibilidade de, nesta missão, termos esbarrado em parte de seu passado – disse pausadamente e esperou reação da felina, mas nada – o que eu quero dizer é, que... houve uma tragédia há mais de vinte anos com seu povo, os tigres-do-sul-da-china e... foi iniciada por Hui Nuan.

- O que aconteceu? – Perguntou sem dar importância. O que ela sabia dele já era o suficiente para ficar com raiva.

- A profecia do Guerreiro Prometido reza que, o tigre que vingaria a maldade de seu povo, viria assim que fosse necessitado. E quando o tio de Dishi tomou o trono, ele se aproveitou dos ataques de outros clãs para acabar com os tigres recém-nascidos.

Com isso, a felina sentia um calafrio, acaso ele queria dizer que foi por isso que foi deixada no orfanato Bao Gu? Franziu o cenho. Sua respiração começaria a se alterar, então respirou fundo, procurando não se descontrolar. Se isso for verdade, não era Shifu seu alvo, e sim Hui Nuan.

- E eu acredito que esse massacre que ele ordenou contra os filhotes, foi o que te levou ao orfanato. Você pode ter sido deixada lá para fugir da crueldade de Hui Nuan.

- É só uma possibilidade?

- Para mim é mais que uma certeza, você é desse povo, da mesma raça de Dishi, então, creio que não podemos ter essa dúvida. Tem a idade próxima a da tragédia. Você veio de lá.

Shifu explicou a ela o que Jing-Quo lhe disse na sala de reuniões e esperava que ela não se descontrolasse por saber o que aconteceu. Mas sabia que ela era sensata e disciplinada o suficiente para não se atirar em uma vingança sem sentido, uma vez que estavam próximos enfrentar o causador de tudo isso.

Tigresa não sabia o que responder, olhou para o chão. Havia uma mistura de sensações em seu interior. Será que então, poderia encontrar sua família como Po encontrou? O que teria acontecido a eles, seus pais? Ela não deveria busca-los porque seria uma desfeita com Shifu, que lhe deu um lar, uma função nessa terra e a ensinou tudo o que poderia sobre ela, embora não tenha chego perto de ser um bom pai. Ainda assim, o respeitava como mestre e não queria desapontá-lo, cuspir no prato em que comeu.

Alguns segundos de silêncio depois, o Grão-Mestre esperava alguma reação de sua aluna e filha.

Não queria dizer a ela sobre seu destino, tinha medo que acontecesse algo ruim a ela, que ela se machucasse. Primeiro queria resgatar seu laço com ela para depois explicar-lhe seus motivos, os quais ela já conhecia e muito bem.

- Era apenas isso, mestre?

- Só... gostaria que você me perdoasse – abaixou a cabeça, deixando-a surpreendida.

- O quê? – Perguntou num sussurro sem mudar sua expressão.

- Peço seu perdão por não ter agido como um pai que se importasse, por não ter demonstrado o quanto me importei e... e o quão orgulhoso eu sou de você.

Ela sentiu que seu coração se acelerava, não sabia o que dizer a ele.

- Não é necessário, mestre – finalmente respondeu depois do que pareceu uma eternidade.

Ele não esperava que ela o perdoasse tão cedo, mas ainda tinha esperanças que ela o chamasse de pai como nunca fez. Esperanças que foram liquidadas com essa última frase.

- Sim, mas, eu não posso manter meu controle, manter minha paz, sabendo que provavelmente te machuquei por ficar ligado ao passado por tantos anos e não vou exigir seu perdão – Shifu olhou nos olhos âmbar da tigresa à sua frente – e eu não costumo admitir relacionamentos entre alunos, uma vez que vocês estão no Palácio de Jade para treinar e lutar para defender a China, mas acho que ficará feliz em saber que abençoo sua união com o panda – em verdade, queria dizer que tinha medo de perdê-la, mas também tinha medo de como Tigresa tomaria isso, só conseguiu dar a ela a boa notícia que tinha. Olhou para ela e viu quando se levantou, não mais tensa só que ainda séria.

- Está tudo bem, mestre e obrigada – sorriu um pouco e depois retomou a postura séria –. Se não há mais nada a dizer, eu preciso ir, treinar e... meditar – fez uma reverência e foi andando para voltar à casa, deixando Shifu ainda sentado na pedra próxima à um córrego.

Ao se afastar o suficiente, a felina repassou em sua mente algumas palavras de seu mestre. Teria sido cruel demais com ele em não responder se o perdoou ou em não chama-lo de pai? Seria difícil fazer isso agora porque quando pequena, se sentia desamparada e cresceu contando apenas consigo mesma, com seu talento de kung fu e sua consciência para avaliar a si mesma. Antes de saber sobre a tragédia dos tigres, ainda pensava que fora abandonada por ser um monstro, ou por qualquer outro motivo que não foi por proteção.

-

Song e Dishi estavam sentados em uma colina da aldeia e ali, leram a carta.

Song e Dishi, não tenho nada mais a dizer além de que estou orgulhoso dos serviços de vocês. O pedido de Dishi será atentido, vamos atraí-los e assim que nos apoderarmos do Dragão Guerreiro, a tigresa será sua. Quanto ao panda, vamos deixa-lo em um lugar que ele não poderá interferir em nossos planos.

Será amanhã num vilarejo a oeste de Gongmen. Um isca será enviada.

Por via das dúvidas, peço à Dishi que traga os pergaminhos para que ninguém os roube de você.

Atenciosamente, Hui Nuan.

Nos rostos de ambos, não podiam evitar de formar um sorriso.

- Estamos quase lá. Amanhã eu serei o único que poderá estar com Tigresa.

- Pois é... - disse ela de má vontade.

- O que foi, Song? - Perguntou ele preocupado.

- Achei que você quisesse tomar o poder de Hui Nuan, achei que você era o tigre que tinha feito mal a ele.

- Que mal?

- Ele me disse que um tigre tinha tirado filhote, esposa, reino... quer dizer que não foi você?

- Não, claro que não... - "ainda não", pensou Dishi - eu e ele tivemos desentendimentos, mas agora ele vai me ajudar, vou ficar devendo a ele. Ele devia estar falando do meu pai que era o imperador dos tigres e não vingou a tragédia.

- Que tragédia?

Dishi contou à Song a história de seu tio, como perdeu Yi Jie, seu cunhado Yun e sua filha Lin. Ele sabia de tudo, sempre soube e nunca disse nada à ninguém, nem mesmo à própria prima, à filha de Hui Nuan.

- Jing-Quo mandou matá-los! Agora sim que temos que ajudar seu tio - disse Song e Dishi concordou com a cabeça - mas como você sabe tanto? Espera... por que não disse nada pra Shifu? - Perguntou Song atônita por tanta informação. Como isso era possível? Como ele escondera tão bem a verdade?

- Sei tanto por ouvir Hui conversando com minha mãe desde que me lembro. Ele se lamentava... e não disse, simplesmente porque isso pode atrapalhar tudo.

- Tudo o que?

- Sabe por que eu quero afastar os dois, além de querer que Tigresa fique comigo?

- Será que eu quero saber a resposta? - Contra atacou Song começando a duvidar se foi boa ideia confiar nesse príncipe.

- Porque só preciso afastar Tigresa do Dragão Guerreiro. Se meu tio souber que ela é o Guerreiro Prometido, vai matá-la - disse Dishi observando o espanto de Song -, ou não... se souber também que ela é sua filha.

- Por que não diz a ele que ela é Lin?

- Preciso estar perto dele pra dizer isso e provar.

- É... como você pode saber que é ela? Que é a filha de Hui e que é ela tem esse título? Como vai provar?

- Simples, já sei como provar... e a explicação é: como com a família de Po, ninguém encontrou os corpos dela ou de sua mãe e seu tio. Então, eu sabendo da perda da menina, sabia que ela tinha escapado da perseguição do povo da China, independente se foi meu  tio Hui Nuan quem começou com isso ou não. E o guerreiro prometido sobreviveria, não é? Caso contrário, o universo escolheria outro. O pergaminho dela ficou guardado com Hui Nuan e quando há o pergaminho de alguém que não está mais vivo, ele é queimado para que possa passar para outro que vai nascer. Eu não sabia se ele queria guardar por esperar notícias de Lin ou por querer apenas uma lembrança de sua filhote.

Song ouvia tudo com a boca aberta e os olhos arregalados, prestando atenção à cada palavra. Como era dissimulado... e ainda não queria nem saber o porque começou o desentendimento entre tigres e as demais espécies. "Não se preocupa com nada e nem ninguém, é um verme egoísta. Não é como Hui... mas pelo menos vai me ajudar a ajudá-lo", pensava ela.

- Quando conheci a adivinha que escrevia os pergaminhos, alguns anos antes de vir pra cá e enquanto ela morava próximo a onde eu cresci, ela me explicou isso que acontecia com o pergaminho dos mortos que não chegaram à seu destino. Quando trabalhei com Hui nas estratégias de dominação e ele me explicou que enfrentaríamos um guerreiro lendário que era alguém de nosso povo, embora achássemos impossível já que todos são fieis a ele. Mas soubemos da profecia do Dragão Guerreiro e eu sou muito contente por ter aprendido mais kung fu com ele, mas eu sabia também que se ele surgisse, o guerreiro que nos derrotaria, surgiria também. Ela já estava lá, estava o tempo todo e quando eu ouvi sobre a líder dos Cinco Furiosos enquanto viajava até o Vale da Paz, as peças foram se juntando. Ela foi a única além de mim que pôde escapar do massacre e eu não duvido que ele mataria até a própria filha para ter poder!

Dishi já havia alterado o tom de voz, essas descobertas o perturbavam e muito. Porque precisava protegê-la e pensava em fazer isso contando sua descoberta à seu tio, mas não tinha certeza de que o imperador iria poupá-la, mesmo sendo sangue de seu sangue.

- Como você sabe que nenhum outro tigre escapou? Você poderia ser o tal guerreiro.

- Já expliquei, corpos. Vimos quem morreu e quem conseguiu escapar, estava conosco. Só a família dela foi embora! E eu sei que não sou porque um tigre só recebe o seu próprio pergaminho. Hui Nuan pensava e ainda deve pensar o mesmo que você, que eu posso ser esse guerreiro, mas não sou. Minha mãe me entregou esse do Guerreiro Prometido para que eu entregasse a ela.

- Nossa, como pode... ? Sabendo tudo isso e nunca, nunca falhou... - murmurava a leopardo ainda surpresa com a quantidade de informação que possuía o jovem tigre a seu lado.

- Bem, vamos... guarde isso pra que ninguém leia. Sei que Víbora vive nos espiando, ela pensa que não notei. Vai tentar ler a mensagem, mas não deixe.

- Está bem.

- E não conte nada à ninguém, pra ajudarmos meu tio, eu recuperar meu lugar e você e eu termos como companheiros os maiores guerreiros da China, ninguém mais pode saber os motivos da conquista de Hui Nuan - disse ele, sério, e a leopardo apenas assentiu.

- Mas sou apenas amiga dele, seu idiota.

- Sei... - respondeu ele em tom de brincadeira.

Agora, ela estava começando a duvidar de que lado deveria ficar. Haviam muitos. Que caminho escolher? Por que isso teve que acontecer com ela? Por que havia sido tão ingênua, tão tonta? Já não sabia em quem acreditar e o único ali que a aceitava e acreditava nela, ela enganou, embora Po ainda não soubesse.

-

Voltando ao jardim, a Tigresa pôde observar o panda gigante fazendo movimentos de Tai Chi. Estava de olhos fechados se movimentando de forma leve e lenta, nem parecia aquele panda que tropeçava escada abaixo e fazia barulhos para tudo.

Segurou um sorriso. Ainda estava abalada por sua última conversa e queria meditar.

Po abriu os olhos e, vendo que ela estava próxima, apenas lhe deu um sorriso parando o que fazia. Aproximou-se dela para levá-la a um canto mais afastado do jardim para que pudessem conversar em paz. Se sentaram e ao perguntar o que aconteceu, seu rosto mudou de expressão conforme ela contava sobre sua conversa com Shifu.

- Esta tudo bem, Ti, ele pelo menos pediu perdão - disse Po, abraçando-a.

- Eu não sei se vou poder dar isso a ele, é... difícil.

- Não tenha pressa, você vai conseguir. É forte em todos os sentidos e vai conseguir superar isso.

- Obrigada Po - colocando seu rosto entre o ombro e o pescoço do panda.

- Tudo pra você, Ti. Eu te amo - ele disse enquanto erguia o rosto dela com sua pata para dar-lhe um beijo.

- Eu também - respondeu Tigresa retribuindo os carinhos do companheiro.

Permaneceram algum tempo abraçados ali mesmo, aproveitando o tempo que tinham um com o outro. O coração de Tigresa se encheu de um sentimento, o qual ela ainda não sabia dizer o nome, e pensava que fosse medo ou talvez... angústia, como se algo estivesse por vir.

E assim, o dia se foi, com mais treinos depois desse momento juntos. Estavam com o restante dos Cinco Furiosos e também Dishi e Song quando treinaram num prado próximo ao centro.

Nenhum dos amigos conseguiu descobrir mais sobre o que a leopardo e o príncipe estavam tramando, mas não deixariam isso assim. Na hora do jantar, todos haviam tomado banho e depois de guardar seus pertences, se dirigiam à cozinha. Dishi saía do seu quarto quando foi jogado de volta por um golpe e bateu contra a parede.

Ao olhar para frente, viu ninguém menos que Víbora, com um perigoso silvo e os olhos quase em chamas.

- Por que fez isso?! Tá louca?

- Escuta aqui, tigre - ela segurou a gola da camiseta de Dishi com sua cauda e se aproximou dele semicerrando os olhos - faça mais uma vez algo contra meu amigo Po ou contra a felicidade de Tigresa, e eu juro que não vai ser mais ela quem vai dar medo por aqui.

- E o que eu fiz dessa vez? - Perguntou ele com um sorriso debochado.

- Eu vi você dando voltas com Song, eu vi você tentando agarrar Tigresa todas as vezes e eu ouvi o que você disse sobre separar os dois. É melhor me ouvir.

Ela o largou e foi para a cozinha. Dishi esperou que a serpente estivesse longe o suficiente para então ir também.

Ao irem para seus quartos, Po deu um terno beijo na testa de Tigresa, desejando boa noite e ela desejou o mesmo, claro, sendo vigiados por seu mestre que teimosamente esperava que ela dissesse algo. Mas não foi assim. O rosto da felina tornou-se sério mais uma vez quando ela se afastou de Po e se virou para entrar e dormir.

A noite passou normalmente na China, a não ser por uma centena de soldados felinos em direção a uma vila à algumas horas de Gongmen.

No dia seguinte, depois do café da manhã, todos estavam se aquecendo para treinar ali mesmo na casa de Jing-Quo. Tigresa seguia com uma sensação ruim em seu peito e Po notou.

- O que foi? Aconteceu alguma coisa, Ti? - Perguntou aproximando-se dela.

- Não foi nada Po - esforçou-se para ficar séria e não demonstrar a preocupação que sentia.

"Vai passar, seja o que for isso... hm, não é nada, estou ficando estranha", pensava ela.

- Tá bom...

Po estava desconfiado, conhecia-a bem e sabia que não era nada, mas não conseguiria fazer com que ela dissesse nada enquanto não sentisse vontade.

Ao iniciar o treinamento, chega um porco à entrada do vilarejo, pedindo por socorro. Um coelho chegou á Gongmen, muito cansado e ferido.

- Ele diz que felinos atacaram a vila e precisam da ajuda de vocês!

- Alunos, vamos, precisamos impedir que tomem mais essa vida - disse Shifu começando a correr junto com os sete guerreiros e Song. Dishi se atrasou um pouco para sair, tinha algo importante a fazer, algo que talvez salvasse Tigresa.

-

Na velocidade que correram, chegaram à vila em menos de duas horas. Aquela entrada estava tudo bem, como se nada estivesse acontecendo.

- Achava que... e-era mais longe... - dizia Po ao parar para respirar normalmente de novo.

- É mais longe, pelos caminhos que os mercadores vem - respondeu Garça voando próximo ao panda para responder - vamos, já achei onde eles estão.

Ouviram gritos.

- Eu também já encontrei, vamos! - Ordenou Tigresa puxando Po pelo braço.

Mais ao centro, estavam os soldados roubando, rindo maliciosamente e assustando aos animais que lá viviam. Todos eles pararam ao ouvir rugidos vindo de Tigresa, Song e Dishi, lógico que esses dois últimos o faziam apenas para aparentar agressividade.

- Hey! - Gritou Po - Por que vocês não pegam alguém do tamanho de vocês?

- Você é maior que a gente, seu panda balofo - disse um soldado rindo à gargalhadas.

- E ainda assim vamos ganhar - disse outro soldado.

- Já que é assim... tentem e preparem-se pra ter seus traseiros chutados - rebateu Po, fazendo um sinal com a mão mandando que viessem lutar.

Os felinos se entreolharam e largaram os animais que seguravam e as coisas de valor, só pra pegar suas armas e levantar contra o Dragão Guerreiro e os Cinco Furiosos que se encontravam em suas famosas poses de batalha e ao lado deles, Dishi e Song.

Correram para os Cinco gritando como se quisessem espantar os guerreiros assim, segurando suas espadas, seus bastões e nunchakus.

Cinco deles voaram com uma única barrigada de Po, abrindo um caminho para que Víbora passasse e se enroscasse ao corpo de um dos que estava no caminho para então articular seus braços e acertar aos outros com o bastão que levava.

Louva-a-Deus usava suas pinças para agarrar os inimigos, que nem percebiam de onde vinha aquele toque e eram arremessados ao ar, sendo agarrados por Garça que os rodopiava em pleno ar. Quando caiam no chão, estavam tontos demais para continuar lutando e eram facilmente derrubados por Song, que usava a sombrinha que pegou antes de sair, para golpeá-los e fazê-los cair.

Macaco combinava golpes com Dishi, inclusive no estilo em que ele e Po haviam ensinado ao novato, o estilo tonto. Miravam em um, acertavam dois, sejam chutes ou socos. O primata usava sua cauda para enganar os inimigos e acertar os que vinham por trás de si.

- Seu idiota, traidor... - dizia o soldado sendo bruscamente interrompido por soco potente do próprio príncipe ofendido.

- Não diga mais isso de mim.

Enquanto isso, Tigresa saltava e pulava nos ombros dos felinos, derrubando-os no chão. Os desarmava com palmadas e assim, usava o combate corpo-a-corpo, chutando e se esquivando com perfeição dos golpes. Às vezes combinava golpes com Po, subindo em suas costas para girar e afastar mais alguns inimigos ou segurava o panda pelo braço e girava para que ele chutasse alguns.

Outras vezes lançava Víbora que golpeava alguns e Tigresa os derrubava. Ou então ela chamava Macaco e Louva-a-Deus e juntos, chutavam e afastavam felinos que tentavam encurralá-los.

- Po! - Gritou a felina quando viu um tigre se aproximando pelas costas do panda que batia um soldado contra o outro. Ele levava uma espada.

- Ahn? - Respondeu ele olhando para ela.

Reparando para onde Tigresa olhava, Po virou-se para encarar um tigre.

- Olá, Dragão Guerreiro - disse o tigre com um sorriso desagradável.

Quando Po o encarou ainda virando seu corpo, ficou em choque com aqueles olhos âmbar que encontrou, os mesmo olhos âmbar de... Tigresa.

- Meu nome é Hui Nuan.

Antes que pudesse dizer alguma coisa, foi atingido pela espada do tigre, mas não foi suficientemente fundo para machucá-lo.

- Espero que não se esqueça de mim pra onde vai - disse ele soltando uma risada.

O golpe que Po recebeu não foi profundo porque justo no momento em que o atacou, Tigresa se lançou sobre ele de onde o imperador nem percebeu. Po caiu de joelhos com uma expressão de dor genuína, com uma pata em sua ferida e a outra apoiada no chão para não sucumbir. Olhava como sua companheira atacava o tigre com toda a força que tinha.

- Nunca mais se atreva a machucá-lo!! - Gritava ela enquanto enchia o tigre de socos e chutes, até que o lançou contra a parede de uma das casas da vila com um chute no estômago.

Ela parou encarando-o com seu olhar assassino e rugindo sem parar, esperando para ver se ele reagiria contra ela.

Ao se levantar ele olhou diretamente nos olhos da felina e teve seu corpo paralisado pela surpresa. Seus olhos de repente ficaram marejados.

Aproveitando que o viu parado, Tigresa se arremeteu contra ele com toda a fúria que tinha dentro de si pelo medo de perder quem amava.

"Não... não pode ser...", pensava Hui. "Parece Yi Jie, é..."

- Lin... - sussurrou enquanto sua respiração se alterava e abri um sorriso - Lin? Lin, minha filha?

- Lin? O que?! - Perguntou Tigresa sem entender. Ela parou seu caminho antes que pudesse acertá-lo.

De onde estava, não muito longe, Po pôde ouvir o que Hui dizia à ela e estava do mesmo jeito que a felina.

- É você, é você mesma? É minha filha. Está viva... - foi interrompido por um soldado que o puxou pelo braço.

- Vamos, senhor, os outros foram derrotados.

Ambos saíram correndo, mas Hui Nuan não desapareceu em meio aos escombros e bagunça sem olhar para trás e ver sua filha mais uma vez.

Tigresa ficou parada olhando para onde se foi o imperador tigre, e a seu lado, passou Dishi correndo à quatro patas. Ela foi rapidamente tirada de seu choque quando ouviu uma queixa de dor por parte do panda e correu para ele.

- Po, você está muito ferido?

- Está tudo bem, Ti... - dizia enquanto tentava se levantar - auch!

- Mentiroso, está machucado. Vamos, você precisa de curativo.

Ela apoiou Po pelo braço em seus ombros e assim, o carregava até que encontrou os outros perto dos limites da vila.

- Conseguimos, botamos eles pra correr - comemorava Macaco.

- Chutamos os traseiros de todos eles! - Dizia Louva-a-Deus no ombro do primata quando percebeu o estado do amigo - oh ou.

- O que foi? - Perguntou Shifu unindo-se a eles.

- Po está ferido!

- Se acalme, Tigresa, vamos levá-lo para casa... - disse o panda vermelho enquanto começavam a correr - Macaco, ajude a Tigresa a levar Po, ele não pode fazer muito esforço ou a ferida vai piorar... onde está Dishi?

- Ele disse que iria acabar com Hui Nuan agora - respondeu Song aproximando-se de Tigresa e Po - Po, você vai melhorar.

- Vou sim, Song - respondeu ele com um sorriso amargo e depois mais uma queixa de dor.

Ao ver o panda machucado, soube imediatamente que não deveria mais acreditar em uma palavra que disse Hui e duvidava da palavra de Dishi. Se arrependeu de ter ajudado aquele tigre insano e vingativo porque agora seu amigo estava mal.

- Vamos logo! - Ordenou Tigresa com um grunhido pela aproximação da leopardo.

Correram de volta para a casa de Jing-Quo, que se desesperou em ver seu filho machucado.

Foi levado para seu quarto e soube que o que tinha não era grave, então sua ferida foi cuidada por Víbora e um javali da cidade de Gongmen que era um médico e aplicou com perfeição o balsamo sobre a dor do panda, aliviando-a. Disse que ele repousasse por dois dias para que a ferida pudesse realmente cicatrizar.

- Mestre? - Chamou Tigresa da porta do quarto de Po.

O panda vermelho estava no corredor, dirigindo-se a seu quarto, mas se virou para encará-la.

- Sim, Tigresa?

- Peço permissão para passar esses dois dias tomando conta dele.

Shifu pareceu pensar. Não achava boa ideia, mas o que podia fazer? O Dragão Guerreiro precisava se recuperar e agora, sua aluna e filha estava com ele, eram companheiros. Sendo assim, ela teria que aguentá-lo a vida inteira, ele estando bem ou não, poderia começar agora.

- Claro, Tigresa, se for apenas isso... - insinuou ele, recebendo como resposta uma sobrancelha levantada e um olhar incrédulo da felina - tome conta e se acontecer qualquer coisa com o Dragão Guerreiro, por favor, não hesite em pedir ajuda.

- Sim, mestre - fez reverência e entrou no quarto de Po, fechando a porta atrás de si.

Tigresa segurou o rosto de Po com suas patas e deu-lhe um beijo, depois se sentou numa cadeira confortável que estava ao lado direito da cama do panda segurando uma de suas patas. Ainda era de tarde e por ele ser obrigado a repousar, não tinham muito o que fazer a não ser conversar e dormir. Ele dormiu algum tempo depois de ter recebido o atendimento, pois além de cansado, recebeu um anestésico feito de ervas medicinais chinesas que o javali lhe deu e o deixaram sonolento.

Assim que ele dormiu, Tigresa seguia a seu lado e segurando a pata de Po. Começou a pensar pensava no que tinha dito Hui Nuan. Reconheceu seus olhos nos dele, mas ainda assim, não acreditava.  Poderia ter sido filha de outros tigres que a levaram para Bao Gu para salvá-la do massacre que Hui promoveu matando os filhotes de seu povo. Se recusava a pensar que poderia ser a filha de alguém tão cruel, alguém que machucou quem é querido para ela.

Mas, poderia sim ser verdade, por conta da perseguição dos outros clãs à Hui.E então, o que faria já que era quase uma certeza? Precisava de uma prova conclusiva. Mas se era, e agora?

"Se for assim, eu não sou digna de ser uma guerreira do Palácio de Jade e nem de... ter alguém como o Po", pensou ela olhando para o panda.

Deixou esses pensamentos de lado, porque não era o que realmente importava. A única coisa a pensar agora era a melhora de Po.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, creio que mais alguns capítulos e chegaremos ao final, mas ainda não sei quantos mais vão ser hehe
Tenho certeza que estão odiando o Dishi não é?

Bem, deixem seus comentários com críticas, dúvidas, palpites, etc...

Até mais.



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