O Verdadeiro Lar escrita por Yui


Capítulo 16
Amor que Cura, Amor que Une


Notas iniciais do capítulo

Acho que vai ter quem adore esse capítulo kk
O título tem mais a ver com o flash back aí no meio e também um pouco com o fim do capítulo.

Boa leitura.



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Num corredor do que agora é uma casa, a casa do governante dos pandas, pai de Po, os mestre de kung fu e Song entraram guiados por Jing-Quo. Esse corredor ficava aos fundos, atras da sala de jantar.

"Como é estranho estar longe de casa", ou "quanto tempo vamos ficar?", eram alguns dos pensamentos que passavam pela mente dos seis guerreiros.

Enquanto caminhavam, Jing encontrou seu amigo e a filha dele.

Ambos apenas se cumprimentaram rapidamente porque o panda parecia apressado e notou como sua filha olhou para Po. O mesmo vale para os guerreiros, especialmente Tigresa que conteve um grunhido. Po não pôde esconder o nervosismo incômodo que se fez presente.

Ali estavam os quartos de hóspedes, cada um teria o seu como no palácio, já que os cômodos da casa eram bem distribuídos. Cada um ficou com um quarto com as disposições de sempre, exceto pelo fato de Po escolher o quarto colado ao de Tigresa, não queria Dishi muito perto dela.

Tigresa se surpreendeu sem demonstrar, não imaginava porque ele escolheu um quarto diferente do que dormia, mas deu de ombros, uma vez que o quarto de Song não ficaria ao lado do dele.

Todos estavam receosos em entrar nos quartos e assim, o líder resolveu falar para passar segurança a eles.

- Bem, espero que essas acomodações estejam confortáveis. Qualquer coisa a mais que desejem, peçam a mim ou a um dos trabalhadores daqui, não vou deixar que necessitem de nada, especialmente você, filho - disse Jing-Quo com um sorriso simpático. Todos se limitaram a assentir com o mesmo sorriso.

- Alunos, prestem atenção - disse Shifu à frente de todos -, acomodem-se para que possam ajudar os pandas a reconstruírem seu lar...

- Isso não será necessário - interrompeu o panda mais velho - já estamos quase terminando, deixe-os andar por Gongmen.

Shifu pôs-se em pose pensativa e não sabia se isso seria uma boa ideia agora, mas talvez eles precisassem de descanso para terem suas mentes relaxadas antes da batalha contra Hui Nuan.

- Ah, está bem. Podem ter esse dia de folga, mas só peço que avisem caso forem jantar fora e que voltem antes do horário de dormir - Shifu parecia mais um pai instruindo o filho que sairia sozinho por primeira vez, do que o mestre daqueles sete guerreiros.

- Sim, mestre - disseram em uníssono.

- E esta noite, haverá uma festa em homenagem à vocês, em especial, meu filho. Assim vão conhecer aqui e vão sentir-se bem mais à vontade. Aqui vocês tem um lar

Todos sorriram, inclusive Shifu. O líder panda satisfeito, se virou para sair do corredor, os guerreiros entraram cada qual em seu quarto para se acomodar e depois sair.

Terminando de desfazer sua mala, Po ouviu alguém bater à porta e atendeu. Era Song.

- Po, eu preciso falar com você e não posso demorar mais – disse ela num tom que preocupou o pobre panda.

- Claro, Song. Entra.

Ela entrou e sentou-se na beirada da cama, Po a imitou e apenas a encarou esperando que dissesse algo.

- O que eu quero falar é... eu estou com medo.

- Do que tem medo?

- De tudo que está acontecendo, de estar longe de casa... você não se sente assim?

- Claro que sim, eu queria tá ajudando meu pai na cozinha, ou fazendo uma visita, mas agora é complicado. Tenho dois pais, um deles não cozinha, até onde eu sei... é cedo, mas não sei como vou contar ao meu pai sobre o outro pai.

- Sua situação é complicada. Você ficaria aqui com Jing-Quo?

- Acho que não porque eu sou o Dragão Guerreiro, moro no Palácio de Jade e tenho que proteger o vale. Acho que não tem como eu ficar aqui mesmo que quisesse. E tem outra coisa que me prende lá - ao dizer as últimas palavras abriu um terno sorriso.

- Entendo - disse Song com simpatia fingida.

- E... ah, o que você queria dizer?

- Ah, é sobre o Dishi.

- Ele fez alguma coisa com você?

- Não, comigo não. Mas ele é um mentiroso, não está aqui para salvar a mãe dele. Ele quer derrubar você, tirar tudo e aí, vai tomar a China.

- De onde você tirou isso? – Perguntou Po, confuso.

Contou tudo à Po. Tudo o que Hui Nuan lhe disse, até mesmo as partes em que Hui dizia sobre os pandas terem retirado seu único filho de seus braços.

- Não é possível.

- Foi o que eu soube – de repente, Song lembrou-se de jogar algumas palavras que Hui Nuan assegurou que não falhariam em convencê-lo – você notou que Dishi está agindo estranho ultimamente?

Os olhos do panda passeavam pelo quarto, ele hesitava em responder, será mesmo que ela estaria falando a verdade sobre tudo? Não queria nem imaginar que seu pai, que conheceu há tão pouco tempo, tinha algo a ver com a morte que era o motivo de dor de um pai já que ele mesmo havia sofrido por trinta anos pelo mesmo motivo.

Não sabia se acreditava em sua amiga, se falava com seu pai, se conversaria com Dishi para tentar esclarecer as coisas, até porque esse tigre estava passando dos limites nos últimos dias.

- Bem, mais alguma coisa?

- Era só isso – disse ela triste por ver a expressão do amigo, não queria vê-lo sofrer e nasceu uma angústia em seu peito – não fique assim, por favor. Imagino que é difícil ouvir uma coisa dessas, mas não queria ver você sofrer depois. Me importo muito com você.

Antes de se levantar, aproveitando que Po estava inerte, deu-lhe um beijo no canto direito dos lábios, o que piorou a confusão do panda. Song saiu fechando a porta atrás de si para ir a seu quarto.

Ao entrar, se trancou e sentou-se na cama pensativa. Não estava segura do que estava fazendo, no fundo de si, sentia algo que lhe dizia pra tomar cuidado, mas sem prestar atenção a isso, se jogou na cama. Queria ficar ali, deitada pra recuperar o sono perdido correndo atrás dos guerreiros, mas os pensamentos a impediam.

“Agora, ela não pode ser aquele tigre que Hui Nuan me disse... bom, pela cara do Po, Dishi já está mais do que encrencado pelo que fez. Bom, então é esperar e ver o que há no pergaminho daquele pirralho.”

Ela já tinha todo um plano arquitetado para ter certeza de quem era realmente o dono do pergaminho lendário. E mesmo não se sentindo muito bem com tais coisas, faria para ajudar seu novo amigo e Po.

O panda terminou seus afazeres e queria sair para se distrair e meditar sobre o que Song disse a ele. Em seu caminho, encontrou Macaco, Garça e Louva-a-Deus assistindo alguma coisa, e contendo risadas. Ele chegou ali ao fim de uma cena que não o agradou nem um pouco.

-

Algum tempo antes...

Depois de arrumar suas coisas, Víbora saiu de seu quarto rumo ao salão principal e encontrou Dishi andando a passo lento na mesma direção e o alcançou.

- Oi.

- Ah, oi Víbora – retribuiu o cumprimento um pouco surpreso, ela o retirou de seus pensamentos.

- Eu não costumo enrolar, então, posso tirar uma dúvida? – Perguntou ela ainda seguindo o caminho junto ao tigre.

- Claro – respondeu sem entender onde a réptil queria chegar.

- Por que você está agindo assim? Quero dizer, está atormentando Po e Tigresa.

- Do que você está...

- Não ache que nasci ontem – ela o interrompeu, inclusive agarrou sua perna com a calda para que parasse de andar e não pudesse fugir – você sabe do que estou falando, inclusive Tigresa me contou que você foi o primeiro a saber o que ela sente.

- O que foi, está com ciúme porque não soube primeiro? – Sorriu cinicamente para mudar de assunto.

- Não leve isso para o outro lado, eu sou amiga dela, não mãe... mas mesmo assim, me importo com a felicidade dela e se por algum acaso tentar interromper de novo, tenha certeza de que vai se arrepender dessa ideia.

Víbora o soltou com um olhar ameaçador e um silvo que fez um arrepio correr a espinha do príncipe. Claro que não seria ela quem o faria se arrepender, certamente, a primeira pessoa seria Tigresa, depois Po. Por mais calmo que ele fosse, com certeza não deixaria que esse tigre de meia tigela interferisse na felicidade de quem ama. Ela reptou satisfeita com a cara de espanto de Dishi e ao se afasta, não pode conter uma risadinha e um sorriso. “Acho que estou passando tempo demais com a Tigresa”, pensou ela, divertindo-se.

Dishi permaneceu em seu lugar naquele estado, olhando para o fim do corredor do qual a serpente desapareceu. O que foi aquilo? Ela sabe de tudo, mas, precisava ameaçar? Apenas estava indo atrás do que queria. Isso é errado?

Uns passos atrás de si o tiraram desse choque e ele se virou para ver a quem queria.

-

O barco de Hui já havia aportado. Ele permaneceria ali até ter notícias sobre seu plano. Tudo foi pensado com cuidado, independente de quem fosse o tal guerreiro predestinado a derrotá-lo. Não sabia se era seu sobrinho, e pouco lhe importava quem seria ele. Tentaria trazê-lo para o seu lado para facilitar sua vingança e se negasse, acabaria com tudo e todos que esse guerreiro amasse.

Ele encarava a conquista da China como um jogo, como uma peça a mais para que ninguém interferisse no fim que ele daria aos pandas.

"Graças àquele idiota protegido por Jing-Quo, agora estou sozinho, completamente sozinho", emanava raiva por seus olhos toda vez que as lembranças invadiam sua mente. "Eu sei que vão tentar impedir que eu o mate, então vou destruir todos aqueles ursos".

Ele se lembrou do dia antes de Lin ser retirada de seus braços. Não tinha uma semana de vida, mas era uma felina bastante ativa e forte, por ser um apenas filhote.

Ela estava num berço com colchas e travesseiros brancos, apenas alguns detalhes em rosa. Hui Nuan não conseguia parar de olhar para a pequena, era uma mistura dos pais. Tinha as mesmas marcas que ele na testa e os olhos da mãe, de uma cor diferente. Apesar de recém-nascida, quando parecia incomodada ou irritada, tinha um olhar profundo que poderia chegar a intimidar se não fosse apenas um bebê.

Lin esticou seus bracinhos para o pai e ele não pôde negar pegá-la no colo. Com um doce sorriso, o mesmo de sua filha, a segurou de forma firme e segura enquanto ela brincava com seus bigodes.

- Que cena mais linda - uma firme voz feminina o assustou, porém, sem descuidar da bebê que carregava.

Ele virou-se para encarar a dona da voz que ele facilmente reconheceu, a viu encostada contra um batente da porta com os braços cruzados sobre o peito e um olhar carinhoso. Hui abriu a boca quase babando por ver sua esposa ali, naquele kimono vermelho com detalhes em dourado que ele tanto gostava. Estava pronta para a reunião de líderes daquela noite. Zhen De estava voltando para casa, demorou a resolver alguns assuntos e então sobrou pra Hui sair em socorro do irmão desorganizado, de novo.

A bela tigresa se aproximou lentamente dos dois amores de sua vida e quando perto o suficiente, acariciou o rosto da bebê que sorriu para a mãe. Depois, dedicou um ligeiro beijo ao seu amado marido.

- Yi, não me assuste assim. Eu poderia ter derrubado nossa filha - rebateu ele em tom brincalhão.

- Sei que não vai derrubá-la, confio em você.

Ele sorriu. No fundo a amava, embora custasse a admitir isso e encarar que Akame foi apenas uma paixão, distração, ou algo assim. Seja o que for, com Yi Jie por perto, ele já não tinha mais olhos para outra.

Depois de fazer Lin dormir, à todo custo porque não parava quieta um só minuto, a colocaram no berço e deram um carinhoso beijo de boa noite, cada um em um lado do rosto da pequena. Então Yi reparou que Lin segurava seu kimono e soltou-se de seu agarre com cuidado para não acordá-la, se surpreendendo com a força dela.

- Quanta energia, não? -  Disse Hui ainda olhando a tigresinha.

- Não sei de onde tira tudo isso.

- Realmente não sabe? Talvez do seu lado da família, porque vocês tem uma energia, fazem cinco coisas ao mesmo tempo quando eu e meu irmão não conseguimos fazer uma direito.

- É porque não prestam atenção - fingiu um tom de indignação - e essa força dela? É sua, quase que minha pequena rasga meu kimono.

- Se isso acontecesse, não teria problema, eu te daria vários outros - aproximou-se dela, segurando por sua cintura.

- Não me importa nada mais. Você já me deu o melhor presente que eu poderia querer e vou protegê-lo sempre - ambos olharam Lin, dormindo tão serena.

Se seguraram pelas patas e saíram em silêncio do quarto, para encontrar o líder dos pandas, que hoje não é mais nada.

Um soldado entrou em seu quarto após bater na porta.

- Senhor, o que faremos agora?

- Nós estamos onde mesmo?

- Estamos cerca de três dias à pé do Palácio de Jade, mas creio que pelos seus planos, a essa hora nenhum dos guerreiros está lá. O príncipe não ficaria para trás sozinho.

- Pois bem, por via das dúvidas, mande vinte soldados para lá e veja se não estão. Procure pelo Dragão Guerreiro e qualquer tigre que esteja lá. Se não houver ninguém, apenas reclame o local em meu nome e deixe alguns guardas lá para vigiar aquela gente. Assim, mais um pedacinho da China será meu.

- Senhor, há algum tempo, prenderam três dos nossos melhores soldados e por informantes, sei que estão ainda nas masmorras do palácio sendo vigiados por rinocerontes e estudantes deixados por um dos mestres que avalia o desempenho dos ensinamentos do kung fu.

Hui olhou pensativo para seu soldado e levantando, parou de frente a ele, colocando uma pata em seu ombro.

- Resgate-os, eles devem saber algo sobre a profecia ou mesmo sobre os mestres daquele lugar. Além do que ordenei, vasculhem tudo e me tragam informações sobre isso.

O tigre apenas assentiu com um sorriso malicioso e saiu para alertar aos demais.

Os escolhidos deveriam partir naquela noite. Surpreenderiam os guardas e funcionários do palácio, bem como os cidadãos do vale.

- Lá tem alguma coisa que nos traga vitória, não podemos deixar escapar se quer um detalhe - ordenava o tigre aos outros vinte soldados selecionados por ele para a varredura e tomada do Vale da Paz.

-

No corredor onde Dishi estava, alguém estava chegando perto dele sem expressão como antes de se conhecerem, não parecia ser a mesma felina com quem estava passando mais tempo ultimamente.

- O que foi?

- Nada, Tigresa – se incomodou com a forma seca de tratamento – senão que você está me tratando mal.

- Você buscou isso. Não sei o que há de errado. Depois de eu te contar tudo o que sinto, você tenta coisas que não deve várias vezes e ainda me aparece com Shifu, justo aquela hora?

- Tigresa, não queria te fazer passar por isso... eu só... - tentou explicar mas foi cortado pela felina, ela não terminou de falar.

- Por mais que eu esteja com medo, eu queria saber o que ia acontecer, saber se não é só um jogo e se não sou só um brinquedo pra ele, já que ele sabe que eu dediquei minha vida toda ao kung fu – seu tom de voz ia se tornando cada vez mais alto e cheio de raiva.

Ela seguia jogando na cara do tigre o que ele fez de errado, sem notar que eram espionados pelos outros três furiosos escondidos em um dos cantos dos corredores. Eles sussurravam se aproveitando do alto tom de voz que a felina usava para que suas vozes continuassem encobertas.

- Huhu! O Dishi tá frito – dizia Macaco segurando a gargalhada.

- Essa eu quero ver – disse Louva-a-Deus.

- Mas, o que ela quis dizer com “aquela hora”? – Perguntou Garça. Com isso, os três se entreolharam com sorrisos maliciosos crescendo em seus rostos.

- Ah, eu acho que estava acontecendo alguma coisa que ninguém quis nos contar – comentou o inseto com um tom de zombaria e Garça assentiu. Macaco não disse nada, ele sabia, mas não contaria para evitar que mais alguém apanhasse por fazer brincadeiras.

- Hey, o que tá acontecendo? – Perguntou Po com um sorriso.

Os três se assustaram e contiveram gritos. Quando constataram ser o panda ali, relaxaram.

- Ah, olhe você mesmo – respondeu Macaco apontando para o corredor que era para a esquerda.

Po colocou a cabeça o suficiente para olhar e a cena não o agradou. O sorriso que trazia foi se transformando em uma careta de raiva. Mas isso intimida? Se tratando do Po, não, e isso arrancou ainda risadas dos seus amigos.

- Você com ciúmes... HA, hilário! - Dizia Louva-a-Deus entre risadas.

- Sh! Quero ouvir o que está acontecendo - Po quis mudar de assunto tentando ignorar que seu rosto estava quente e provavelmente  bem vermelho.

- Que feio, Po, você ouvindo conversa...

- Sh!! - o panda, a ave e o primata mandaram o inseto se calar e este, só cruzou suas pinças e revirou os olhos. Ia responder mal a eles, mas resolveu ouvir também.

-... depois de eu te contar tudo o que sinto, você tenta coisas que não deve várias vezes e ainda me aparece com Shifu, justo aquela hora? – Tigresa elevou seu tom de voz, fazendo-se mais ameaçadora do que podia.

- Tigresa, eu te amo! – Respondeu ele da forma que pôde, simplesmente saiu.

- Como amiga ou mãe, eu sei, mas não precisa se preocupar comigo, sei me virar.

Por dentro Tigresa rogava para que fosse isso, mas já foi dada a indireta de que eles não seriam nada a mais. Nunca pensou em ouvir isso, muito menos de quem ela queria apenas como amigo. Talvez se não estivesse apaixonada, quem sabe poderia dar uma chance, mas agora era tarde.

Para Dishi, era agora ou nunca. Então ele puxou Tigresa para si e sua intenção era roubar um beijo. Mal conseguiu abraçá-la porque quase no mesmo instante, Tigresa deu a ele o merecido. Um soco que o fez girar e perder o equilíbrio, caindo de costas no chão.

- O que você tá fazendo? Quem disse que poderia  se quer me abraçar, ainda to brava com você – Rugiu ela.

Foi inevitável de se ouvir risadas de Macaco, Garça e Louva-a-Deus, só que logo calaram ao ouvir um grunhido de Po e eles se viraram lentamente para o amigo, que nem se quer piscava e tinha em seu rosto, pura raiva.

Dishi e Tigresa olhavam para onde estavam os outros quatro amigos, ambos surpresos. Nenhum deles percebeu a aproximação.

O príncipe, rapidamente se levantou e saiu correndo a quatro patas. Precisava pensar, pensar naquela conversa que teve com Song. Ele deveria aceitar aquele tratado mais do que suspeito? Era isso que iria decidir, e a cada minuto, sua decisão era mais afirmativa. A raiva tomou conta de si.

Tigresa ignorou que o tigre saiu correndo e grunhiu para a ave, o primata e o inseto que correram afim de salvar suas peles e ossos. O único que ficou foi o panda, com a cara mais chateada do mundo olhando para o chão. Não sabia exatamente o que sentia, não queria ficar bravo com seu aluno, mas realmente detestou o que viu.

“Eu não vou poder ser injusto com ele durante os treinos, não posso misturar as coisas. Ah! Por que isso tem que acontecer? Por que eu sou só esse panda gordo e bobo? Será que ela não o quer mesmo ou só ficou assustada com isso?”, sem perceber, derramou uma lágrima. Mesmo depois das emoções de algum tempo atrás com o reencontro com seu pai, ainda podia chorar.

Foi sacado de seus pensamentos por uma pelagem laranja e negra e um par de olhos âmbar à sua frente.

Ambos se olhando, sem expressar nada. Ela tomou o queixo do panda para que ele a olhasse diretamente. Tirou sua patado rosto de Po e se aproximou mais dele, não se importava que seus amigos os espiavam do grande salão, depois se resolveria com eles. Até porque talvez não vissem direito o que aconteceria a seguir, estavam longe o suficiente.

"Ainda bem que o corredor é comprido" pensou Tigresa rindo por dentro. Sorriu para Po, do modo mais natural e doce que pôde. Realmente estava feliz com a situação. Não havia mais como arranjar desculpas dizendo que ele não nunca a amaria.

Por seu lado o panda estava como há alguns minutos, com o rosto em brasa e certamente de um vermelho puro. Isso pela surpresa do comportamento da felina. Engoliu em seco.

No início do salão, três guerreiros esperavam e assistiam atentamente a cena tentando, repito, tentando ver exatamente o que acontecia.

- Ahh, não estou vendo nada - disse Garça inutilmente esticando o pescoço para ouvir, sem se dar conta de que foi notado.

- Nem eu com essas penas na minha cara - reclamava Macaco afastando uma das asas de Garça de seu rosto - Louva-a-Deus, vai mais perto pra ouvir ou ver, sei lá.

- Eu?! Você tá maluco?! Ela vai me ouvir chegar.

- Como você tem tanta certeza? - Perguntou o primata tentando olhar para o inseto que se encontrava no chapéu da ave.

- Porque ela já olhou pra gente no mínimo dez vezes.

Todos adquiriram expressões de espanto, só que mesmo assim, seguiram ali entre apostas de que Po levaria chutes e socos, ou que teria o braço torcido.

Voltando ao fundo daquele corredor, o panda apenas olhava para a felina à sua frente sem dizer uma palavra.

- Po, termina de dizer...

- O que? - Perguntou ele, nervoso sem tirar seus olhos dos dela.

- O que você ia dizer antes do Mestre Shifu e o Dishi aparecerem.

Po fechou os olhos e respirou fundo para abri-los quando Tigresa pronunciou o nome de seu aluno. Não queria sentir raiva, na verdade, era ciúmes e não queria ter nada contra o tigre. Tigresa apenas soltou uma leve risada.

- Então, Ti, eu queria te dizer que... - olhou para todos os lados para assegurar de que não seria interrompido outra vez e respirou fundo para acalmar seus nervos e o coração que quase o faziam desmaiar - você... sabe, não... eu não te falei, como você poderia saber? Ah... eu, eu amo você Tigresa.

Essa última parte saiu quase em um sussurro, mas felizmente ela ouviu. Conteve a risada por ver o panda se esconder entre os próprios patas e braços de olhos fechados e ficar equilibrado em um pé só, esperando um golpe que não veio.

Para surpresa do panda, ele sentiu alguma coisa abaixando seus braços, o mais delicadamente que poderia. Abriu os olhos e era Tigresa.

"Ela está mais perto do que eu me lembrava", pensou ele. Assim que ele "relaxou", foi a vez dela respirar fundo. Abriu a boca algumas vezes, sem dizer nada.

- Tudo bem, não faz mal que não sinta o mesmo... não sou bom o bastante - abaixou a cabeça - Ai! E isso por que? - Perguntou enquanto esfregava o ombro.

- Por dizer uma besteira dessas - respondeu ela com expressão brava, o soco que deu no ombro dele foi merecido por pensar uma coisa assim de si mesmo - Quem disse que eu não sinto o mesmo?

Inconscientemente ele abriu um sorriso tão grande quanto o dela e dado o momento, ele passou os braços pela cintura dela e ela cruzou os próprios na nuca do panda.

"Valeu esperar tanto por ela", pensava Po enquanto fechava os olhos. Ele já não pensava mais nas coisas ruins estando assim com ela.

"Agora mais nenhuma mágoa importa", pensava Tigresa também fechando os olhos, deixando de lado as mágoas e tristezas, assim como ele.

Sem interrupções dessa vez, eles se aproximaram devagar até  encostarem suas testas e seus lábios se tocaram levemente. Isso fez com quem ambos sentissem que poderiam estar longe do vale, longe de muitas coisas que conheciam, mas que tudo estaria bem se o outro estivesse ali.


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Notas finais do capítulo

O que será que Song disse à Dishi?
Como os outros guerreiros vão reagir ao que acabaram de presenciar (se é que eles enxergaram esse beijo)?

Espero que tenham gostado e, gostaram dos flash backs do Hui Nuan? É legal pra que entendam os sentimentos dele.
Me digam o que acharam, sinceridade ein...

PRÓXIMO: Festa e Fuga
Até mais. o/



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