– Não é nada! – disse, tentando puxar o braço, em vão.

– Ah, não. Não me vem com essa história, Guadalupe. Tá acontecendo alguma coisa e você vai me contar agora! Isso são cortes feitos por uma faca ou aldo do estilo, não ainda tentar mentir pra mim! – afirmou, seguranço o braço da filha.

Lupita deixou uma lágrima cair dos olhos, e chamou a mãe pro quarto.

– Tá legal, você venceu! Eu me cortei. Mas foi só uma vez, pode ter certeza! Tá tudo bem, mãe! – mentiu

– Não tá não! – cruzou os braços, brava.

Lupita abaixou a cabeça.

Paulina se sentou na cama, e puxou a filha paciêntemente, fazendo com que ela se deitasse no seu colo, e acariciou seus cabelos.

– Anda, meu amor. Pode confiar em mim. O que tá acontecendo? Porque fez isso? – perguntou, sendo carinhosa.

– Lembra do Paulo? – perguntou, entre lágrimas.

– Lembro sim, meu amor. O que tem ele? – perguntou, passando a mão sobre o rosto dela.

– Então... ele disse que não queria nada comigo porque eu era gorda. E agora tá namorando a Bianca... e o papai ficou pior que antes comigo pelo que aconteceu com a Paulinha! – omitiu

– Foi por isso? – perguntou, a levantando e fazendo com que ela olhasse em seus olhos.

– Sim! – mentiu novamente

– Meu amor, não precisava se machucar por tão pouco. Se esse garoto te disse isso, é porque não te merece. E o seu pai... eu sei que é difícil, até eu sinto isso, mas tente não se importar. Eu te amo por mim e por ele. Vamos, não fique triste! Não quero te ver fazendo isso! –  a abraçou

– Eu também te amo! – respondeu

– E quem é Bianca? – perguntou

– Ah, é só uma menina da minha sala. Ninguém importante! – tornou a mentir

– Mesmo? 

– Mesmo!

– Então, está bem. Eu vou descer pra ver como está tudo e vou voltar para a fábrica. Espero que isso não se repita... posso confiar em você? – perguntou

– Pode! – sorriu, e abraçou a mãe.

Ela deu um beijo na testa dela e saiu.

Lupita verificou se a porta estava bem fechada e correu pro espelho, pra ver como estava. Apesar de estar bem magra, via-se gorda. Muito gorda.

– Droga! Não emagreci nada! Mamãe estava tão bonita hoje... eu preciso ser assim! Me perdoa mãe... – disse a sí mesma, e correu pro banheiro vomitar novamente.

Apesar das respostas da filha, Paulina ainda estava com o pé atrás da orelha com o que havia visto. Passou o dia inteiro destraida, pensando nos cortes da filha.

– Algum problema, meu amor? – perguntou Carlos Daniel, a despertando de seus pensamentos com um caloroso beijo.

– Nenhum! – respondeu, ainda sem folêgo.

– Verdade? Parecia tão distante! – disse, a segurando pela cintura.

– Na verdade, sim... mas nada em que você possa ajudar, a não ser que queira, claro! 

– Não me diga que é sobre... – perguntou, impaciente

– Sobre Lupita, sim... é sobre ela! – completou

– Ah, você adivinhou certo. Não posso mesmo! Me deixe fora dos problemas dela! – esfriou

– Já imaginava... vou ter de resolver isso sozinha! – observou

Mais tarde, na hora do jantar...

Paulina puxou Roberta pra um canto longe de todos.

– Algo em que eu possa ajudar, tia? – perguntou Roberta

– Sei que é a melhor amiga de Roberta, e se alguém souber de algo, esse alguém é você! – afirmou

– Credo, tia... tá me assustando. O que aconteceu? – perguntou Roberta

– É o seguinte:  Acho que você reparou que a Lupita anda triste, e até deu uma boa emagrecida... mas estava tudo normal, até eu ver cortes nos pulsos dela hoje a tarde. Eu perguntei pra ela o que havia acontecido e ela disse que é porque esse tal de Pedro não queria nada com ela por ser gorda, e pela indiferença do pai, além de me jurar que foi uma única vez. É verdade o que ela disse ou ela me escondeu alguma coisa? Por favor, me conte a verdade. Mesmo que ela tenha pedido segredo. Isso é muito sério, Roberta! – explicou Paulina

Roberta ficou perplexa.

– Tia... eu te juro. Eu não sabia desses cortes. Te juro pela virgenzinha de Guadalupe, que é a santa protetora da Lupi. Eu não sabia de nada! Ela nunca me disse nada sobre isso! – contou, ainda espantada

– Então, ela deve ter mantido em segredo... mas me diz uma coisa, é verdade isso que aconteceu? Ou ela tá me escondendo mais alguma coisa? – perguntou

Roberta suspirou. Teria que contar a verdade.

– Bom... ela me pediu segredo, mas diante disso eu acho que devo contar. Não é a primeira vez que tiram onda com a cara da Lupi pela obesidade dela. Há exatamente 5 anos, ela sofre bullying na escola. Desde o primeiro dia em que pisou o pé naquela escola nunca a deixaram em paz. Bianca, a atual namorada do idiota do Paulo lidera. Já surgiu um abaixo assinado de todos odeiam a Guadalupe Bracho, que a escola inteira assinou. O caderninho de musicas dela já apareceu rasgada, já colaram uma faixa aqui em casa de odiamos a baleia da Lupita, toda vez que ela entra na escola todos dizem que está aberta a temporada de caça a baleias... já perdi a conta de quantas vezes jogaram a Lupi na lixeira, de quantas vezes estragaram o material dela... sabe o violão que a vovó deu pra Lupi? Então... não foi a Lupi quem quebrou, foram elas que quebraram. Enfim, já fizeram inumeras coisas com ela. Inclusive, o Paulo fingindo que ia beijar ela, colocou uma pedra na boca dela, e disse que não ficaria com uma menina feia, gorda e sem sal! E hoje anda se agarrando pelos corredores da escola com a Bianca! A Lupi nunca teve paz... aliás, acho que seu unico momento de paz é no palco, como Demi Lovato. Porque até aqui o pai, indiretamente, faz bullying com ela! – contou

Paulina ficou surpresa. Nunca pensara que a filha passava por tal coisa.

– Meu Deus! Eu não fazia idéia! Minha menina... – uma lágrima caiu de seus olhos

– Não chora, tia! – Roberta a abraçou

– Então é por isso que ela nunca gosta de falar da escola... agora eu entendo. Se ela me escondeu isso, com certeza ela se corta a muito mais tempo, já que não é a primeira vez que ela é machucada, ah meu Deus! – colocou as mãos sobre o rosto

– Eu também acho que não... ela tem emagrecido muito. Com certeza além de se cortar, deve fazer algo a mais. O que será que está acontecendo com ela?! – observou Roberta

– Roberta, você tem razão. Ela tá magra demais. Deve estar fazendo alguma coisa. Me promete que isso que acabamos de conversar, vai ficar em segredo. Vou dizer apenas a vovó, e amanhã mesmo vou marcar exames com o Dr. Varella. Preciso que ele me diga o que está acontecendo com a minha filha! – disse

Nesse instante, Lalinha vem chama-lá.

– Senhora, vai correndo pra sala de jantar. Aconteceu um acidente! – comunicou, ainda nervosa.

– Mas, Lalinha, o que houve? – perguntou Paulina, confusa.

– A senhorita Lupita, desmaiou, do nada. Está mais branca que lençol! –  contou

Paulina correu pra sala do jantar, e viu o que o seu coração temia. Sua menina, desfalecida no chão. 

– Lupita, minha filha! – se aproximo chorando – alguém chama uma ambulância! – gritou, nervosa.

– Já chamamos, Paulina, se acalma, minha filha! – disse Piedade, também nervosa.

Não demorou muito, e Lupita foi levada para o hospital. Pouco tempo depois, na sala de espera...

– Doutor, o que aconteceu? Como está a minha filha? – perguntou Paulina, aflita. Estava junto com Rodrigo, Patricia, Carlinhos e Piedade.

– Senhora, acho que precisamos conversar! – disse, se sentando em uma cadeira, próxima a ela.

– O que foi? – sentou-se perto dele

– Calma, mamãe! – disse Carlinhos, segurando a mão da mãe.

– A situação de Guadalupe não é boa. Fizemos vários exames, e constatamos que seu corpo está fraco. Parece que tudo que cai em seu estômago, é forçado a ser colocado pra fora. Ela está com uma forte anemia. Seu sangue está fraco, sem cor, e encontramos várias marcas em seu corpo, que podemos distinguir como cortes feitos por uma faca, ou algum objeto da mesma natureza. Ela já acordou, e se recusa a comer, dizendo já estar gorda o bastante pra isso. Aparenta ter fortes transtornos emocionais! Sei que sou apenas um médico, mas por ser conhecido da família há anos, aconselharia que a senhora procurasse uma boa clinica de reabilitação, provavelmente ela tem algum transtorno alimentar e emocional! – comunicou

Paulina ficou chocada. Seu tudo a sua volta sumiu, e as palavras do médico ficaram vibrando em sua mente e em seguida, ela desmaiou também.