Universo Em Desequilíbrio escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 43
O início da queda




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/334247/chapter/43

Por que Paradoxo insistia em mostrar aqueles dois? Será que era para torturá-lo? Ou então para lhe jogar na cara o quanto o Cebola alternativo era melhor que ele, não tinha medo da Mônica e a tratava bem? Ele não sabia. Seu corpo estava cansado e ele se sentia mentalmente exausto de tanto gritar, brigar e espernear.

Cebola se sentia oco por dentro, como se tudo tivesse perdido o sentido. Durante tantos anos ele sempre teve um objetivo: derrotar a Mônica. Essa sempre foi sua meta, sua certeza e seu norte. Só que esse objetivo, que antes parecia tão sólido, agora estava desmoronando como um castelo de cartas.

O que ele ia fazer caso derrotasse mesmo a Mônica? Como seria sua vida depois? Será que essa vitória ia ser tão saborosa quanto ele esperava? E se não fosse?

Ele voltou a olhar para o monitor, onde o seu duplo segurava a mão dela enquanto lhe ensinava a resolver um exercício de matemática. Apesar da proximidade dos dois, ele não encontrou forças para gritar. Não depois de ver como ela estava feliz, como seus olhos brilhavam. Por que ela não ficava assim quando estava com ele?

A resposta era óbvia. Ainda que ele não quisesse aceitar, que tentasse negar, a verdade saltava aos olhos. O outro Cebola não tinha nenhum bloqueio, nenhuma neura em derrotá-la. Certo, ele queria derrotar a Magali, mas não era uma questão de ego ou de orgulho. Era apenas para acertar sua vida, poder viver livremente sem ter aquela valentona lhe surrando todos os dias. Assim ele seria mais livre para ser ele mesmo. Então poderia namorar a Mônica sem nenhum problema.

E ele estava realmente trabalhando naquilo, se esforçando para atingir esse objetivo. Seu duplo traçou planos, definiu metas e sabia muito bem o que queria, diferente dele que não fazia nada para derrotar a Mônica e reatar o namoro.

– Por que você tá tão quieto? Não liga mais de ver seu duplo se engraçando com a Mônica? – Cascão perguntou tirando-o dos seus pensamentos.
– E adianta ligar? Parece que ela tá muito feliz com ele.
– Vai ver ela quer deixar o duplo dela namorando com ele. – Magali também falou, tentando apaziguar as coisas entre os dois.
– Acha mesmo? É, faz sentido...
– Claro que faz, careca! Vai ver ela nem gosta dele assim de verdade e só quer deixar as coisas resolvidas pro duplo dela!

Paradoxo levantou uma sobrancelha, mas não falou nada. As coisas não eram tão simples quanto aqueles jovens pensavam. Mesmo assim ele resolveu não falar mais nada, já que Cebola estava mais calmo.

Cebola também voltou a assistir a transmissão pensando no que Cascão tinha falado. E se fosse verdade? E se ela não gostasse do duplo dele realmente? Ele lembrou-se de quando Paradoxo falou que no momento Mônica e seu duplo eram uma só. Talvez era o duplo dela quem estava gostando do outro Cebola, não ela mesma. Aquilo até o deixou mais animado e pensando se valia mesmo a pena brigar com ela por causa do que tinha acontecido na outra dimensão.

Se bem que aproveitar um pouco da situação não ia fazer mal a ninguém. De repente, ele poderia se fazer de magoado e assim ganhar mais tempo, até conseguindo carta branca para sair com a Irene de vez em quando. Por que brigar e terminar tudo de vez se tirar proveito era mais lucrativo?

__________________________________________________________

Bem cedo, Titi estava ajudando os capangas do Ricardão a embalar as drogas para a venda. Era um trabalho meio chato e tedioso, mas ele não reclamava. Aquilo ia lhe render uma bela grana. Ricardão entrou na sala, colocou o revólver sobre a mesa e perguntou.

– Escuta, não é hoje que a magrela sai do castigo?
– É sim. Ela já deve estar indo pra escola.
– Beleza, era só o que eu queria saber!
– Você vai botar o plano em ação? Ela nem terminou de vender a droga!
– Fala pra ela que eu quero tudo de volta, a droga e o dinheiro do que ela conseguiu vender. Leva ela pro local marcado que meus chapas fazem o resto.
– Se é assim... mas vai ter que ser depois da aula.
– Pode ser. Só não vai amarelar, heim? Você sabe que eu não gosto de gente covarde!
– Eu não vou amarelar, pode ficar tranqüilo.

__________________________________________________________

– Tem certeza de que a Denise vai mesmo deixar a gangue da Magali? – Marina perguntou ainda bem desconfiada.
– Vai sim, e a gente precisa dar apoio pra ela!
– Por que? – Cascuda perguntou com a cara não muito boa.
(Keika) – É mesmo, na hora de andar com aqueles delinqüentes, ela não pensou em nós!
– Meninas, por favor! Vocês não querem ficar livres da Magali? Pra isso acontecer, o grupo dela tem que acabar! A Denise só tá com medo de deixar eles porque pensa que ninguém vai querer conversar com ela.

Elas pensaram um pouco, ponderando se valia ou não a pena tentar.

– Se deixarmos ela andar com a gente... – Dorinha completou.
(Aninha) - Ela vai parar de andar com a Magali. Ta, e os rapazes?
– Parece que eles vão deixar a gangue também.

Elas ficaram surpresas.

(Marina) - Todos eles? Inclusive o Franja?
(Cascuda) – Até o Cascão?
– Isso mesmo, todos eles! Então nós temos que dar uma forcinha aqui, né?
(Keika) – Pode até ser, só que a Magali ainda vai ficar incomodando todo mundo.
– Sozinha ela não vai poder fazer muita coisa. Antes ela só era valentona porque tinha o grupinho dela. Vamos, gente! Coragem! Tudo vai dar certo no final!

Por fim elas concordaram, achando que aceitar a aproximação da Denise era um pequeno preço a se pagar para ficarem livres da Magali. De qualquer forma, Denise não parecia ser tão ruim quanto a outra.

__________________________________________________________

Eles conversavam na esquina da rua da escola, esperando por Magali.

– E o Titi? Será que ele amarelou? – Franja perguntou meio receoso.
– Não. – Denise respondeu. – Ele falou que tá com um problema com não sei o quê e não vai poder vir pra escola hoje. Mas ele ainda tá firme e vai sair de qualquer jeito. Acho até que já saiu. Agora é nossa vez.
(Cascão) – Sei não... e se ela partir pra cima da gente?
(Franja) – Ela é forte, mas é uma só. Acho que nós três damos conta.
(Denise) – Tomara que não seja preciso, cruzes!
(Franja) – Conhecendo aquela ali como eu conheço, tudo pode acontecer.
(Cascão) – Falando no diabo...

Magali apareceu com aquela cara ruim costumeira e logo reparou que alguma coisa estava errada.

– Denise, que porra é essa? Você tá parecendo uma dessas patricinhas fedorentas que eu odeio!
– Pode ir se acostumando, gatz. De hoje em diante, eu vou me vestir assim.
– Como é? Ficou doida? Tá querendo apanhar logo cedo?

A ruiva encolheu um pouco, mas não recuou.

– Você não vai encostar nem um dedo em mim, ouviu? Senão vou falar pra diretora e você vai ver só!
– Sua vagabunda! Eu faço o que me dá na telha!

Antes que ela avançasse, Franja se colocou na sua frente.

– Deixa ela em paz, Magali. Já chega.
– Sai da minha frente! Foi só eu ficar fora um tempo pra vocês aprontarem!

Cascão também a encarou.

– Eu tô de saco cheio de você ficar abusando da gente, cansei!
– Isso mesmo! – Franja também apoiou. – Você só sabe ficar dando ordens, não deixa a gente fazer o que gosta!
– Vocês estão ficando muito abusados, isso sim! – Ela falou cerrando os punhos com raiva.

Os três cruzaram os braços e Franja falou.

– Vai fazer o que, então? Bater em nós de uma vez? Já era, tá legal? A gente tá fora e pronto!
– Vocês vão me pagar, ah se vão! Quando o Titi chegar...

Denise deu risada.

– Ué, você não consegue resolver as coisas sozinha? Vai esconder atrás do Titi agora, é? Esquece, fófis. Ele também tá fora.
– O que você disse?
– Isso mesmo que você ouviu! Ele tá fora e eu também!
– Sua desgraçada, como você pode fazer isso comigo?
– E Como VOCÊ pode ficar me maltratando esses anos todos? – Denise falou mais alto e com o rosto vermelho de raiva. – Eu fui a sua única amiga depois que as meninas te deixaram e mesmo assim você me tratava que nem cachorro!

Magali fechou a cara mais ainda e ameaçou tirar a corrente da cintura.

– Vai partir pra ignorância? A gente não tá com medo!
(Franja) – Isso mesmo!
– Pode vir que a gente encara! – Cascão falou pronto para sacar sua barra de ferro e Magali acabou não fazendo nada.
– Eu vou chegando, fófis. Beijomeliga! – Denise falou saindo dali, sendo imitada pelos outros dois. Magali não se deu por vencida.
– Seu bando de trouxa! Acham mesmo que vão conseguir alguma coisa sozinhos? Ninguém dessa escola vai querer saber de vocês! No fim vai todo mundo voltar com o rabo entre as pernas!

Mesmo sabendo que ela tinha certa dose de razão, ninguém quis voltar atrás e todos saíram dali, deixando-a esbravejar sozinha. Ao ver que eles não iam escutá-la, Magali encostou-se num muro tentando colocar as idéias no lugar. Por que tudo na sua vida estava dando errado? De repente, era como se as coisas estivessem desmoronando ao seu redor. Primeiro aparece aquele sujeito mascarado para lhe desafiar, depois Tonhão sai da gangue e agora aquela debandada geral? O que mais faltava acontecer?

E como voltar para a escola depois de ter sido traída pelo seu grupo? O sinal tocou e ela saiu correndo instintivamente antes que o portão fechasse. Fugir também não era opção. Se ela deixasse de ir a escola por causa daquele problema, todos iam pensar que ela estava com medo.

__________________________________________________________

Antes de sair do pátio, DC viu Denise, Franja e Cascão entrando sem Magali. Pouco depois ela veio sozinha.

“Parece que a bomba estourou. Beleza, agora é a minha vez! Se aquele cobaia pensa que vai passar na minha frente, tá muito enganado!”

Seu plano era derrotar Magali na frente de todos e ele só ia esperar até a hora do recreio. Era preciso agir antes do Cebola. Mesmo que o careca dissesse para todos que era o Herói Mascarado, não ia adiantar de nada sem ter derrotado a Magali. Em breve, ele ia ser popular de novo.

__________________________________________________________

Na sala de aula, Mônica e Cebola conversavam antes da professora chegar.

– Então a Denise deixou mesmo a gangue?
– Deixou. Ela e os outlos. Agola você plecisa conversar com suas amigas pla ajudar, senão ela pode acabar voltando a andar com Magali de novo.
– Tá bom. E você, o que vai fazer?
– Ainda não sei, confesso que fui pego de surplesa. Não espelava que eles fossem fazer isso logo hoje. Deixa eu pensar um pouco e amanhã dou um jeito.
– Não esquece que a gente quer ajudar a Magali também, viu?
– Pode ficar tranqüila.

__________________________________________________________

Em seu apartamento, Ricardão contava o dinheiro ganho com as drogas vendidas naquele mês quando o telefone tocou.

– O que foi? – ele falou rispidamente.
– A gente tá com problema no laboratório e não vai dar pra refinar a droga!
– Com é? Bando de imbecis! Isso vai atrasar todo meu esquema! Eu tenho compromissos, esqueceu?
– Cara, não dá mesmo! Eu fiz o que pude, mas o troço tá feio aqui!
– Porcaria! Olha, não faz nada que eu estou indo, entendeu? Devo chegar lá pelas três horas. Aí a gente resolve isso.
– Tá bom, chefe.

Ele desligou o telefone muito frustrado e foi até a sala, onde um dos seus capangas dava instruções ao Titi.

– A gente vai ter que colocar esse saco na cabeça dela, tá ligado? Assim ela não vê o caminho por onde passou.
– E se ela gritar?
– Com uma arma apontada na cabeça? Só se ela for doida!
– Seguinte, pessoal. – Ricardão falou, interrompendo a conversa deles. – Deu um problema lá no laboratório e eu vou ter que ir até lá resolver esse pepino, senão a produção vai atrasar.
– Que hora você volta? – Um capanga perguntou.
– Parece que o troço tá feio por lá, então eu não sei que hora volto. Nem sei se volto hoje. O laboratório fica em outra cidade.
– E o esquema com a magrela? – Outro capanga quis saber. – Tava marcado pra hoje...

O traficante passou a mão nos cabelos meio irritado e falou.

– Traz ela assim mesmo e deixa trancada lá no barraco. Amanhã à noite a gente faz a festinha. Mas tem uma coisa!

Todos prestaram atenção porque sabiam que quando ele falava naquele tom, era bom ouvir.

– Ninguém põe a mão nela enquanto eu não chegar, valeu? Eu vou querer ser o primeirão da fila!
– Pode deixar, chefe.
– Estou falando sério, cambada! Se alguém mexer com ela antes de mim, estouro os miolos!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!