O Diário De Catherine escrita por Anna Beauchamp, Eline Guerra


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Cathy!!

Com o susto praticamente me joguei da cama como um saco de batatas. Meu corpo, que já estava afetado pelo completo desânimo, relutava em acordar.

— Cathy! - chamou minha mãe novamente - Levanta e vem me ajudar com essas caixas.

Levantei, contrariando meus braços e pernas que queriam continuar imóveis. Minha mãe segurava nas mãos uma caixa de papelão cheia de tralhas que faziam barulho enquanto ela andava.

Haviam mais umas seis espalhadas pelo meu quarto que se encontrava completamente vazio, com exceção da cama. Em todas estavam escrito "Cathy".

Levantei do chão e fui até o banheiro. Escovei os dentes e tomei banho - o que significa que fiquei parada debaixo do chuveiro vendo a água cair e escrevendo no boxe, que estava embaçado.

Coloquei meus jeans e uma camiseta, não penteei os cabelos e não me maquiei. Apenas desprezei o reflexo no espelho e comecei a ajudar a colocar as caixas no caminhão da mudança.

Depois de duas horas, entrei no carro do meu pai e dirigimos até a casa de minha avó por mais duas horas. Fiquei apenas com a cabeça encostada na janela vendo as casas serem trocadas por árvores.

Quando chegamos fiquei impressionada com o lugar. Era uma propriedade um pouco afastada, era rodeado de árvores e como estávamos no outono, as folhas amarelas caíam e cobriam todo o chão. A casa era a coisa mais linda, era de madeira, muito parecida com as que se vê no Canadá, era enorme e eu não via a hora de conhecê-la por dentro.

— Charlie, meu filho! - disse minha avó, que estava saindo da entrada da casa e vindo na nossa direção.

— Oi, mãe.

Ela lhe deu aquele abraço de quem não vê alguém há mil anos.

— Maggie! - ela gritou quando viu minha mãe.

Eu, como sempre, me mantinha atrás dos dois.

— Olá, Garriet - respondeu minha mãe dando-lhe um abraço. Então ela me viu. Minha vez.

— Oi, Catherine - ela disse carinhosamente - Como você está, querida?

Eu balancei a cabeça em afirmativa.

— Oi, vovó - eu a cumprimentei.

Ela começou a fazer perguntas e pediu para que entrássemos.

Fui o mais evasiva possível e tentei me manter fora dos assuntos. Fiquei apenas observando a casa. Na entrada havia uma varanda e a porta da frente dava para a enorme sala. Tudo tinha um estilo colonial.

Depois de alguns minutos eu disse que iria me instalar e desceria para o jantar. Subi as escadas e parei no meio do caminho.

— Ela não sorri muito - comentou minha avó.

— Esse é um dos motivos da nossa viagem, mãe - disse meu pai.

— O terapeuta disse que essa viagem faria bem a ela, um outro lugar poderia ser melhor para ela, por causa da depressão - disse minha mãe, sussurando a última parte.

Subi as escadas pesadamente e fechei a porta do quarto. Eles não deviam ter tocado nesse assunto, me tratavam como se eu fosse uma fracote que chora por qualquer coisa.

Peguei a mala e comecei a guardar as roupas nas gavetas do armário.

Quando terminei olhei em volta, o quarto era realmente espaçoso e aconchegante. Havia uma enorme cama de casal, uma poltrona no canto e um banco na janela. Me aproximei da janela olhando para a vista que dava apenas para as árvores que cercavam o lugar e o espaço na frente da casa. Deitei na cama para descansar da viajem e dormir um pouco. Esperava que meus pais esquecessem um pouco a depressão e parassem de me tratar como se eu fosse louca. A vida inteira eles nunca me deram a devida atenção, me ignoravam completamente. Só depois que viram a carta na qual aquele terapeuta que me arranjaram me diagnosticava com depressão, eles começaram a prestar atenção em mim, mas parecia mais é que eu estava apenas sendo analisada a cada minuto do dia. Era como se eu fosse uma espécie de bilhete premiado no qual eles viam um número novo coincidênte com a doença a cada momento do dia. Começaram a me medicar, de modo que quando comecei a delirar com o uso dos remédios, eles encerraram o uso de medicação. Talvez essa viagem me fizesse bem, talvez não. De qualquer modo eu teria que me acostumar a ser tratada como uma doente.

Depois de algum tempo eu finalmente durmi. Sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

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