Eu sei que você provavelmente não está interessado, mas vou me apresentar. Meu nome é Sophie Lewis, de dezesseis anos, que mora em Nova Iorque. Não é à toa que você não está incrivelmente interessado na minha vida. Ela é tão interessante quanto uma uva passa. E também é surpreendente como uma ameixa seca. Quer ver? O que tem de surpreendente em uma ameixa seca? Sempre é pior do que você pensava na última vez que provou. Comigo é assim. Todo dia fico surpresa ao perceber que meu dia na escola conseguiu ser pior que o anterior. Tudo começou quando eu tinha seis anos, entrando no colégio, primeira série.

Flashback on

A garotinha se despediu dos pais e entrou confiante (ou fingia estar). Seus cabelos loiros e cacheados estavam amarrados com uma fita rosa em duas colinhas e balançavam enquanto ela caminhava. Seus olhos azuis estavam olhando tudo com interesse. Usava um vestido vermelho e sapatilhas brancas. Sophie estava muito nervosa, mas tentava não demonstrar.

Ela avistou dois garotinhos que pareciam ter sua idade. Um era muito fofo, tinha cabelos negros com franja e olhos azuis claros, quase um anjinho. O outro também era fofo, mas tinha os olhos e cabelos castanhos. Eles olhavam para ela e cochichavam. Os dois riram baixinho e de repente o de olhos castanhos saiu de vista enquanto o outro vinha em direção à Sophie.

– Oi.

– Oi – Respondeu ela tímida. – Qual é seu nome?

– Nick. E o seu?

– Sophie.

Na mesma hora em que ela disse isso, um jato de água caiu por cima dela. Nick estava rindo até cair no chão e ela olhou para trás e viu o outro garotinho, que a propósito, tinha virado um balde em cima dela.

– Bem vinda a St. Davis, Sophie – Disse Nick ainda rindo.

A garotinha, muito irritada (além de encharcada), empurrou os dois, que escorregaram na água que eles mesmo jogaram (viu? Tudo que vai, volta, pensou Sophie), e caíram de bunda no chão, enquanto a menina entrou na escola pisando duro (se perguntar para Sophie, ela vai negar, mas ela chutou Nick ao passar).

Flashback off

Viram? Viram? Foi nesse dia que eu conheci o meu karma, Nicholas Carter.

Ele é insuportável. Sério, não tem ninguém no mundo mais insuportável que ele!

Só pra dar uma explicadinha: o garoto de olhos castanhos é o comparsa dele. Dizem que são melhores amigos, mas é mentira. Erik Smith é tipo aqueles ajudantes de vilão da Disney, que sempre são idiotas e causam a derrota do mal. MAS NO FIM, O BEM SEMPRE TRIUNFARÁ. Eu espero.

Eu não sou mais popular do eu era na primeira série. Menos, na verdade. Nicholas e Erik, eles sim são populares. Sabe os macacos bombados cheios de hormônios do time de basquete e futebol? Bom, eles são assim, tirando o macacos “bombados cheios de hormônios”. Todas as garotas os querem, menos as com cérebro (até algumas com cérebro, admito, mas não eu, pelo menos).

Lembra o que eu disse sobre minha impopularidade? O caso é mais grave do que você deve imaginar. Eu sou aquela típica nerd que gosta de Senhor dos Anéis e sempre tira de nove para cima. Aquele tipo que não usa abreviações no MSN (se alguém falasse comigo nele) e checa o Google para entender a maioria dos emotions. Sou zoada por todo o colégio, até pelos outros zoados, que querem descontar a raiva em alguém. Bom, você já deve ter percebido que meus dias na escola não são os melhores, né?

Mas o pior é ele, Nicholas Carter. Acho que eu fui Hitler na outra vida (e tinha um péssimo gosto “bigodial”), e por isso Nicholas veio parar na minha vida. Ou alguém fez alguma macumba forte pra mim (deve ter sido a Ana, eu roubei a Barbie dela no jardim de infância e a decapitei, depois enterrei a cabeça e coloquei o corpo na bosta do cachorro que morava na frente da escola. Não me julguem, ela derrubou meu Toddynho!). Enfim, esse azar não é natural. É sobrenatural. O que quer dizer que está em cima do natural. O que quer dizer que o sobrenatural e a natural podem estar tran... Opa, tô pirando.

Sabe o pior de tudo? Ele é meu vizinho. A gente se mudou a uns três anos, e só depois da mudança descobri. Minha mãe não quis se re-mudar (af, que mãe, heim), e pra piorar, a janela do meu quarto dá direto para o quarto dele, e visse versa.

Legal, né? Tenho só uma palavra pra isso: não.