Entre O Sol E A Lua escrita por Lola


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Bom, este cap. mostra um pouco do lado escuro da protagonista. Espero que gostem.



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Eu pisquei, sem saber o que fazer por um segundo. Por apenas um segundo. Eu queria arrancar sua cabeça fora. Mas como todos dizem, damos a outra face. Deixei minha raiva se dispersar. Me virei e coloquei a massa da panqueca na forma, sorrindo para ela como se não tivesse ouvido o que ela havia falado. Então a linda professora saiu andando, seu cabelo esvoaçando ao seu redor. Um vento soprou e pude ver que ela não sentia medo. Ah, iria sentir. 

Lucas olhava para suas costas, paralisado. Eu o cutuquei, sorrindo. Ele sabia que eu estava muito relaxada e falou:

-Não faça nada que irá se arrepender.

Eu estava morrendo de ódio. Aquela humana não era o bastante para me prejudicar. Eu sabia disso. Mas isso não me impedia de morrer de ódio daquela mortalzinha de merda. Eu iria esperar.

Passei a aula toda dando mole para Lucas e fazendo os garotos babarem. Por fora, eu parecia calma e serena, por dentro, eu era literalmente um demônio. 

Quando o sinal tocou, não me importei com a próxima aula, o próximo professor nem nada deste tipo. Eu iria acabar com aquela coisa a minha frente. Todos saíram fazendo barulho, e começei a limpar o resto das coisas da bancada. Lucas também não saiu da sala. Ele sabia que apesar de ser um anjo e não tolerar violênica, ninguém podia me falar o que fazer. Quando a última aluna saiu, ele foia até a porta calmamente e a fechou com um pequeno barulho. A professora nos percebeu sobressaltada.

Eu pulei para cima da bancada, cruzando as pernas delicadamente. A professora falou, o cheiro de medo se intensificando:

-O que você está fazendo?

-Um jogo. Você me conta quem você é e eu não te mato. Para falar a verdade, não importa, você vai morrer de qualquer jeito. - respondi, dando de ombros. 

Eu era mais forte, mais rápida e mais cruel. E sabia que Lucas não iria me impedir.Ele também queria saber quem era aquela idiota que havia ousado em mecher comigo. Ele se encostou em uma mini-cozinha, cruzando seus braços e nos observando. 

-Ele não vai permitir. Não é? Ele é um anjo. - a professora guinchou, apontando para Lucas.

Lucas deu de ombros e falou, quase se desculpando:

-Acontece que até anjos abrem exceções. Você não devia ter falado aquilo.

E assim, era a minha deixa. Pulei da bancada e andei até a mulher, tão rápido que tudo que poderia ver de mim era meu vulto. Segurei sua garganta e a apertei contra a parede. Abri minha boca e fazendo meu melhor, soprei uma fumaça preta e ecura em seu rosto. A professora se contraiu e começou a ficar sem ar, seu rosto tomando uma tonalidade azulada. 

-Quem é você? - sibilei em seu ouvido.

Eu a observava, perdendo o ar em seus pulmões enquanto meu veneno a penetrava. Eu continuei a vendo se debater, gostando mais e mais de sua agonia. Quando sua vida já estava se esvaindo, senti uma mão em meu ombro. Me virei e vi Lucas, ele disse:

-Ela aprendeu sua lição.

Eu a soltei, e ela começou a tossir, deslizando pela parede. Afinal, eu queria respostas, e aprendi que gente morta não fala. Lucas se agachou e fez o que anjos fazem de melhor, a curou. Ele encostou seus lábios nos dela, sugando seu ar.  Se virou de lado a praticamente cuspiu a fumaça preta para o ar. A cor da mulher voltou, enquanto ela agarrava sua garganta com as mãos e olhava para mim apavorada.

Eu me sentei em uma das bancadas, olhando para Lucas como se ele tivesse estragado a diversão. Ele se sentou ao lado da professora e a ajudou, transferindo energia para ela como só os anjos sabem fazer. Sua aura se tornou mais brilhante a pude ver a tatuagem em seu pulso. Era São Jorge. 

-Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. - ele sussurrou, a tranquilizando.

-Não adianta você me matar. - a professora falou. 

-Sério? Porque para mim parece uma solução perfeita. - respondi, fazendo cara de desentendida. Continuei: E juro que se você não me falar quem é, nunca mais vai dizer seu nome pra ninguém, lindinha. E acredite, eu não faço ameaças vãs. 

A professora ficou me encarando. Me ajeitei na bancada, até que ela se virou e falou, com a voz rouca:

-Meu nome é Paige. Sou parte de um grupo chamado Venatores. Significa caçadores em latim. Caçamos demônios e anjos. Apesar dos anjos serem bons, ainda sim são criaturas sobrenaturais. Não pertencem a esta terra. Eu suspeitava que haviam demônios aqui, então vim. Não tinha certeza, mas hoje uma aluna disse que uma garota enfeitiçou seu namorado. Eu sabia que havia achado. E você, Lucas, é muito óbvio. 

Eu fiquei a encarando. Venatores. Uma linhagem inteira de caçadores de seres sobrenaturais. Fiquei encarando Paige, procurando algum sinal de uma caçadora. Ela parecia somente uma mulher bonita. Me movimentei rápido e levantei a barra da sua calça. Ali estava, as cinco estrelas tatuadas no seu tornozelo, a marca dos Venatores. 

-Droga. - murmurei. - Alguem sabe que você está aqui? 

Paige me olhou, ainda segurando sua garganta. Seus olhos cheios de lágrimas me observavam, vendo se eu iria fazer outro movimento. Ela movimentou seus lábios secos, respondendo:

-Não. Eles acham que não há ninguém aqui. 

-Se você estiver mentindo, arranco sua cabeça. - eu falo, com ódio transparecendo em minha voz. - E é bom você não contar a ninguém sobre sua nova descoberta. 

Saio da sala, batendo a porta. Não vejo Lucas nem Paige. Odeio-me por ter cedido a Lucas e não ter a matado. Não importava, eu tinha outras coisas a fazer. Ninguém podia saber sobre nós, sobre eu e minha família.  Estava com tanto ódio que me sentia queimando por dentro.

Eu virei vários corredores. Sabia o que procurava e não ia desistir até achar. Senti o cheiro de vários alunos. Eu tinha virado uma caçadora. Um verdadeiro demônio. Respirei fundo e detectei o cheiro que havia sentido mais cedo. Começei a andar mais rápido. Parei quando avistei as líderes de torcida encerrando seu treino. As meninas vestiam aquelas roupas curtas e acenavam umas para as outras, sorrindo. Esperei nas arquibancadas, sentada ao lado de uma bolsa rosa. 

A garota loira que eu havia visto mais cedo estava lá, subindo as arquibancadas feitas de ferro. Ela olhou para mim, surpresa, e pegou a bolsa rosa. Seu uniforme vermelho voava ao vento. Eu estava com raiva.

Ela não seria um problema se não houvesse aberto a boca. Se houvesse contado para a caçadora sobre mim. Se ela não fosse uma idiota. Se não tivesse ficado tão incomodado por eu ter mechido com seu namorado. Mas ela tinha aberto a boca. E por isso agora eu tinha uma caçadora no meu pé. E em cidades pequenas, as coisas não param por aí. Ela iria contar a todos, até que o prefeito anunciasse uma caça a bruxas na cidade. 

Eu a segui. Ela nem percebeu. Estava começando a ficar escuro no céu, como se uma enorme chuva pudesse cair a qualquer momento. Era de manhã, mas parecia uma noite negra e pesada. Eu a observei passar pelo corredor estreito ao lado da arquibancada. Era a hora.

Não sei se ela me viu. Não sei se eu último olhar foi destinado a mim. E se tivesse sido, não sei se eu teria hesitado. Ela foi muito hipócrita ao acreditar que eu iria tolerar uma coisa dessas. O objetivo era proteger minha família, e tudo que eu pensava era nosso lema, Damnasse. Lealdade. Minha tatuagem queimou nas minhas costelas, junto com meus olhos.

Um relâmpago caiu do céu. 

Me aproximei por trás. Segurei seu maxilar dos dois lados e quebrei seu pescoço.

O corpo da menina caiu inerte aos meus pés. Olhei seu rosto. Ela parecia uma garota normal. Sabia que ela teria filhos, seria mãe. Não mais. 

-Nahemah? - olhei para trás.

Lucas.

Ele estava olhando para mim, as duas mãos em sua cabeça, penduradas. Seus olhos estavam brancos. Ele olhava para mim como se tivesse visto o que eu realmente era. Um demônio. Ele correu para o corpo da menina, se ajoelhando no chão. Segurou sua cabeça em seu colo e olhou para o céu, jogando sua cabeça para trás.

-Vamos embora. - me virei e vi Bileth me encarando. Ela nem havia observado a garota no chão. Ela não ligava.

Eu olhei para Lucas mais um segundo e me virei. Pude ouvir a sola do meu sapato batendo no chão, enquanto eu ia embora. Assim que dei as costas para o anjo, uma chuva violenta e raios desabaram sobre o mundo. 

Me virei e pude ver Lucas chorando.


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Notas finais do capítulo

E aí? Aprovado? :)



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