O Mistério Da Estrela escrita por Syrinx


Capítulo 4
Capítulo 4: Na fortaleza de Ismere Arthur’s Bane Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que eu demorei muito p atualizar, e não vou mentir dando desculpas, mas dizer q entre bloqueio criativo e preguiça foi esse tempo todo sem postar. Mas não vou desistir desta história, é isso que tenho a dizer em minha defesa. Além do mais, para compensar o capítulo de hoje é bem grandinho, então espero q gostem.
Ah, e eu quero dedicar este capítulo para a NathaliaLopezlobo que recomendou a fic. Muito obrigada! Vc não sabe o quanto me fez feliz e me motivou a continuar escrevendo :)



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Durante todo o percurso restante até Ismere, Geillis permaneceu em silêncio. Absorta em pensamentos, remoendo o que acontecera e o que viria a acontecer, a estrela nem viu a estrada diante de si. Somente se deu conta de que haviam chegado ao destino quando viu a grande fortaleza pairar ameaçadoramente sobre a caravana. O sol já havia se posto há algumas horas, e Mordred não havia falado uma só palavra provavelmente há muito mais tempo que isso. Estava quieto, e o único contato que ele permitia trocar com Geillis era a mão pousada protetoramente em seu ombro. Aquele gesto tinha mantido o interesse do restante dos homens da caravana longe dela, algo pelo qual ela estava eternamente grata. Talvez a ameaça de Mordred ao líder saxão tenha servido para intimidá-los, no final das contas.

Atravessaram o portão principal do forte e logo Mordred tratou de puxá-la para longe da caravana, que seguiu em frente sem aparentemente notar a ausência de ambos. Olhando para os lados e certificando-se de que ninguém prestava atenção nos dois, ele a guiou para uma área mais reservada. Pôs as mãos levemente nos ombros dela e sussurrou de forma baixa mas urgente:

–Geillis, eu sei que deve estar confusa e nervosa, mas eu preciso que se concentre e confie em mim agora. Nos encontraremos com Morgana e preciso que confirme tudo o que eu disser. Direi a ela que é uma amiga próxima, então preciso que me ajude a fazê-la acreditar na história que dissermos.

–Você quer dizer mentir. – ela disse cuidadosamente, assimilando o que ele pretendia.

–Escute. - ele olhou em volta, antes de voltar a sussurrar – Sendo a feiticeira poderosa que é, Morgana provavelmente já deve desconfiar que há uma estrela cadente por aí. Ora, se até Merlin já sabe... – ele murmurou para si.

–Como você...? – ela franziu o cenho, pega de surpresa.

–Eu não sou estúpido, percebi a pequena interação de vocês no acampamento. – ele estreitou os olhos, depois os fechou, tocando a ponte do nariz com os dedos e soltando um grande suspiro – Isso não é importante agora. O que importa é que se Morgana desconfiar que você é a estrela, ela não vai hesitar em prendê-la e usá-la em seu propósito. Por isso precisa me ajudar a convencê-la. Se isso a deixa mais confortável apenas confirme o que eu disser, não precisa falar, deixe isso comigo. – ele a assegurou.

–E quanto aos saxões? Eles sabem que não somos próximos. – ela observou.

–Ela provavelmente não vai se incomodar em perguntá-los sobre isso. – ele respondeu meio incerto.

Respirando fundo uma vez, Geillis tentou enterrar sua repulsa a mentiras bem fundo em sua mente. Ela era um ser divino, afinal, e pecados humanos como a mentira a desgostavam levemente. Mas, como daquilo dependia sua segurança e, pior, sua missão, ela abriria uma exceção. Deus, tão cedo e ela já começava a agir como os humanos.

Lançando um olhar apologético em sua direção, Mordred pôs novamente uma mão protetora sobre um dos ombros de Geillis e começou a guiá-la de volta à caravana, parada no que parecia ser um pátio interno.

Passados alguns minutos, Morgana emergiu das sombras da fortaleza, atravessando o pátio em longos e decididos passos. Ao vê-la de longe, Mordred deu um discreto passo para o lado, colocando Geillis atrás de si, protegendo-a da figura de Morgana. Por trás do ombro do druida, a estrela viu quando a aproximação da feiticeira foi interrompida pelo líder saxão. Ela contudo lhe deu pouca atenção, os olhos deixando Mordred por apenas um segundo, cortando completamente a fala do saxão. Ao tocar a face do druida com as pontas dos dedos, Geillis percebeu que as íris de Morgana brilhavam com algo parecido com reverência maternal, sorrindo de forma saudosa. O sorriso, porém, parecia retorcido em seu rosto belo, sombrio. Internamente, a estrela teve pena da feiticeira.

Parecendo notá-la pela primeira vez, os olhos de Morgana desviaram para além do rosto de Mordred, pousando em Geillis. A estrela imediatamente ficou tensa sob o olhar analítico da alta sacerdotisa:

–E o que temos aqui? Quem é ela? – ela voltou-se para Geillis com um sorriso falsamente dice.

–Morgana, esta é Geillis, uma amiga. Ela é filha de Alvarr. – Geillis franziu o cenho à menção do vil feiticeiro, afinal, assistira, anos atrás, quando ele manipulara Morgana e Mordred segundo seu propósito.

–Minha Senhora. – ela fez uma pequena reverência, tentando manter o rosto confiante.

O sorriso da feiticeira se desfez e ela estreitou os olhos, desviando-os de Geillis para Mordred:

–Alvarr tinha uma filha?

Percebendo a leve surpresa e desconfiança da feiticeira, o druida se apressou em acrescentar:

–Quando o acampamento foi atacado pelos homens de Uther atrás do cristal de Neathid, Alvarr ordenou que eu a levasse e fugisse comigo. Ele não mencionou uma filha porque queria proteger Geillis. Escondeu sua identidade, porque, se fosse capturado, o ligariam à ela.

Geillis procurou não olhar para Mordred, pois temeu que, se assim fizesse, os entregaria, tão admirada que estava com nota de verdade das mentiras que saíam de sua boca. Morgana apenas precisou considerar aquilo por alguns segundos e, com um aceno de cabeça, pareceu aceitar sua palavra. Sorrindo para os dois, ela os guiou para dentro da fortaleza:

–Vamos, vocês devem estar famintos e cansados da longa viagem.

Foram levados até um aposento amplo que, Geillis deduziu, eram os de Morgana. Comida foi trazida e Mordred se pôs a comer vorazmente, sem aparentemente se importar com as duas mulheres presentes. Morgana apanhou uma maçã e passou a cortá-la com uma adaga, observando Mordred de perto. Geillis estava faminta, mas contentou-se em sorver uma sopa quente que lhe foi servida. Nunca tinha comido nada, mas as centenas de anos observando os humanos a tinham lhe dado conhecimento teórico suficiente de como manusear talheres e comida.

A feiticeira, ainda observando o druida com uma espécie de reverência maternal, confessou quietamente:

–Temia que estivesse morto. É perigoso para os que têm magia.

–Não tem sido fácil. – Mordred respondeu curtamente, pousando a comida.

–Para nenhum de nós. – ela sorriu tristemente.

–Magia assusta as pessoas. – o druida declarou amargamente – Até mesmo aqueles que se dizem a favor.

Ele desviou um olhar gélido para a estrela, e Geillis logo entendeu que ele se referia a Merlin. Ela pousou a colher devagar, de súbito perdendo todo o apetite. Queria defender o mago, argumentar que sua posição como servo do rei era perigosa, mas não podia, parte porque seria perigoso e não queria aborrecer Mordred, parte porque, no fundo, ela concordava parcialmente com ele. Havia momentos em que ela desejava que o feiticeiro tivesse contado seu segredo, especialmente a Morgana.

A feiticeira, sem perceber a pequena troca de olhares, continuou, sorrindo:

–Você vê bastante. – elogiou.

–Aprendi a ver. Tive de aprender. – ele rebateu no mesmo tom amargo – Para não ser queimado ou explorado para o ganho alheio – ele continuou, os olhos ferozes, e Geillis teve pena dele.

–Essas atitudes mudarão logo. – Morgana o assegurou – A Antiga Religião logo voltará a reinar, assim que Arthur e seus seguidores forem eliminados. – ela e Mordred sorriram conspirativamente.

–Sabia que tínhamos Arthur? – ele perguntou casualmente – Ele escapou.

Com isso a expressão de Morgana mudou, seus olhos se arregalaram com um brilho assassino:

–Você o deixou ir? – ela questionou friamente.

–Ele fugiu.

–Como? – ela perguntou de forma quieta, mas ameaçadora, a irritação crescente – Quem o deixou ir?

–Foi um acidente. – Mordred tentou explicar.

Num jorro de explosão, ela atirou para um lado uma travessa com frutas:

–Matá-lo, era só tê-lo matado! – ela berrou.

Geillis sobressaltou-se e se encolheu ante à fúria da feiticeira. Mordred, contudo, permaneceu inabalado. Morgana inclinou-se para ele, os olhos brilhando de ódio:

–Eu sou uma Alta Sacerdotisa! Eu tenho o poder dos céus em minhas mãos e ele continua a me desafiar! Eu o quero aniquilado, Mordred! – a feiticeira vociferou.

–Morgana. Acalme-se. – Mordred chamou calma, mas autoritariamente, numa tentativa de aplacá-la.

Ela parou de súbito, os olhos muito claros em brasa. Depois fechou os olhos, respirando fundo. Após alguns segundos, a raiva já contida, ela disse quieta, mas friamente:

–Tem razão. Ele virá atrás dos outros cavaleiros de Camelot e aí eu mesma poderei destruí-lo.

E abriu os olhos. Percebendo o rosto lívido de Geillis, Morgana abriu um sorriso falsamente doce:

–Ora, mas que má anfitriã eu tenho sido. Peço que me perdoe. – e desceu o olhar para as roupas que a estrela vestia, escrutinando-as – Ah, temo que estas roupas não vão dar. Apesar do frio, uma mulher não deveria estar usando roupas tão masculinas, não acha Mordred? – e seus olhos brilharam maliciosamente como se soubessem que eram dele – Acho que posso encontrar para você algo confortável e digno de uma dama.

Geillis estava a ponto de recusar a oferta, ainda meio abalada pela explosão, mas ao ver o sorriso genuíno e conspiratório que agora pintava a face da feiticeira, ela vislumbrou por um instante a velha Morgana. Assim, a estrela levantou-se devagar, mas decididamente.

–Siga-me. – Morgana insistiu, guiando-a até um aposento separado por cortinas verdes.

A bruxa abriu um velho baú de madeira, contendo, o que a estrela deduziu, serem vários vestidos:

–Estes são meus antigos vestidos. Eu não os uso mais, e, honestamente, não sei porque os mantenho aqui. São todos presentes de Uther, afinal. – ela explicou secamente – Vamos, pode escolher um, devem servir em você.

Timidamente Geillis alcançou o baú. Tocando os tecidos caros e delicados, ela rapidamente descartou a possibilidade. Não achava que pudesse usar tal luxo. Finalmente decidindo por um violeta, simples e confortável, mas bonito o suficiente, ela o retirou do baú.

Morgana sorriu:

–Boa escolha. – elogiou – Vou deixar que se troque.

Demorou mais do que Geillis esperava para pôr o vestido, afinal, apenas conhecimento teórico por vezes não era o bastante, porém ela enfim conseguiu. Afastando as cortinas esmeralda para um lado, ela deu um passo incerto à frente, passando as mãos pelo tecido, tentando alisá-lo, ainda que não houvesse nenhum amassado. Suas bochechas por algum motivo arderam sob o olhar analítico de Mordred.

–Eu não estou tão acostumada a usar este tipo de roupa... – ela começou insegura. – Ou roupa nenhuma, ela completou mentalmente.

–Você está adorável. – Morgana afirmou agradavelmente.

Um segundo depois os sinos de alarme soaram, e a expressão da feiticeira, quase bondosa, um sorriso quase parecido com o de seu antigo eu, transformou-se subitamente. Era uma visão a ser contemplada ver sua expressão gentil desaparecer, consumida pelo sorriso grotesco e o brilho de loucura em seus olhos que surgia.

–Arthur... – ela sussurrou para Mordred numa satisfação macabra.

Dito isso, ela passou pela porta apressadamente, como um predador impaciente por atingir sua presa. Mordred, no entanto, hesitou, lançando um olhar preocupado e apreensivo na direção da estrela:

–Mordred, precisamos ajudá-los. – Geillis assinalou, caminhando até ele e tocando de leve seu braço, os olhos suplicantes.

–Tudo bem, mas preciso que fique aqui, não posso arriscar que se machuque. Quando estiver terminado, venho buscá-la. – ele assegurou, retirou a mão dela de seu braço, e a empurrou-a levemente para o lado.

–Não! – ela contrariou, agarrando novamente seu braço, impedindo-o.

Ele se virou, fitando-a duramente. Ela comprimiu os lábios, impaciente:

–Escute, Mordred, eu sei que talvez pense que me arrependi por ter escolhido continuar ao seu lado e peço que me perdoe, mas tomei minha decisão e não irei mudar de ideia sobre isso. – ela sibilou - Quanto à parte de me machucar, bem, vir até aqui foi uma decisão minha e penso que por este motivo quem deve decidir me arriscar ou não sou eu. Esta missão é minha, no fim das contas. – retrucou.

Os olhos do druida se alarmaram:

–Missão? Do que está falando?

–Não temos tempo para isso! – ela rebateu indignadamente.

Percebendo o protesto que ele começava a formular, ela rolou os olhos, e o guiou até a porta pela mão.

Encontraram Morgana no final do corredor, conversando rápida e nervosamente com um homem saxão, aparentemente seu segundo em comando:

–Encontramos alguns de nossos homens feridos nas escavações, minha senhora. Os prisioneiros estão se organizando.

Morgana sorriu maldosamente:

–Arthur está aqui, eu sei. Agora que seu rei veio salvá-los, eles, enfim, resolveram agir. Sua lealdade chega a ser nauseante. – ela concluiu com uma risadinha desdenhosa.

–Como devo ordenar que os homens procedam? – o saxão perguntou cautelosamente.

–Reúnam todos os homens no pátio. Vamos enviar a maior quantidade que pudermos ao subsolo. Quero que contenham os prisioneiros o máximo que puderem, estamos muito perto de conseguir o Diamair para parar agora. Ah, - e acrescentou, levantando um dedo enfaticamente – e quero que me tragam Arthur vivo. Eu cuidarei dele.

Inclinando ligeiramente a cabeça, numa reverência rápida, o homem desceu uma escadaria, desaparecendo na escuridão da fortaleza.

Morgana voltou-se para Mordred:

–Parece que conseguiremos nos livrar de Arthur e trazer a magia de volta mais cedo do que pensávamos, meu caro Mordred. – ela sorriu confiante.

Não se eu puder evitar, Geillis pensou nervosamente. Precisava descobrir um jeito de ajudar Arthur e os outros cavaleiros a escaparem antes que Morgana chegasse a eles.

–Sigam-me – a feiticeira chamou, descendo pelo mesmo lance de escadas que o saxão havia tomado apenas segundos antes.

De uma abertura de pedra no pátio, Morgana, seguida de Mordred, Geillis e do segundo em comando, lideraram os homens por um túnel rochoso sempre descendente. O ar era úmido e quente devido às várias tochas e às respirações excitadas. Geillis sentiu o coração acelerar. Então era aqui que sua missão começava. Ela sabia que Morgana tentaria matar o irmão naquela noite. Precisava ficar perto da feiticeira e se certificar de que ela falhasse.

Após alguns minutos, o túnel finalmente desembocou em um enorme salão de pedra, onde os homens rapidamente se organizaram. Morgana apenas assentiu uma vez para o líder:

–Você sabe o que fazer. – e girando nos calcanhares, adentrou um dos muitos corredores da caverna - Mordred, venha comigo, se puder, quero encontrar Arthur eu mesma.

Caminharam por vários minutos por um labirinto de corredores e salões de pedra iluminados por tochas e apinhados de pedaços caídos de pedra, picaretas e vagões de metal. Homens trabalhavam arduamente na parede de rocha, e, ao verem o trio com Morgana à frente, paravam momentaneamente, trocando olhares nervosos, depois voltavam, tensos, ao trabalho.

À medida que prosseguiam pelo subterrâneo, ocasionalmente encontravam um confronto entre os homens de Morgana e os prisioneiros. A feiticeira, claramente mais interessada em encontrar Arthur que conter a rebelião, apenas avançava, lançando um ou outro prisioneiro fora de seu caminho com sua magia. Mordred, não querendo ferir nenhum cavaleiro que chegasse perto demais deles, mas querendo evitar que ele ou Geillis fossem feridos, somente os afastava com sua espada, tempo o suficiente para que Morgana os lançasse contra a parede de pedra.

Geillis, sentindo-se inútil e ligeiramente assustada, tentava freneticamente localizar Arthur ou algum dos cavaleiros mais próximos à ele, e distrair Morgana para longe, dando-lhes a chance de escapar.

Ela, então, viu quando Gwaine, Percival e alguns dos cavaleiros desciam em silêncio por um corredor escuro, na direção do amplo salão subterrâneo em que eles se encontravam. Sendo a última dos três, ela viu quando os cavaleiros pararam no final do corredor e na entrada do salão, mas ainda protegidos pela escuridão do túnel.

–Geillis, por que está parada aí? Viu algo? – Mordred exigiu, vencendo os vários metros entre eles, já que Geillis havia parado de acompanhá-los ao perceber a aproximação dos cavaleiros.

A estrela abriu a boca para articular uma resposta, mas tudo o que ela conseguiu foi voltar o olhar nervosamente para a entrada do corredor. Os olhos de Percival, que liderava o grupo, encontraram os dela e ele congelou, esperando que ela entregasse sua posição. Mas a estrela somente sacudiu quase que de forma imperceptível a cabeça, assegurando-lhes que não faria tal coisa.

–O que foi? – ela ouviu Mordred perguntar desconfiado, já quase perto o suficiente para enxergar Percival e os outros.

–Nada. – disse rapidamente.

Ela viu quando Morgana se virou para os dois, interessada, e estreitou os olhos perigosamente, às costas de Mordred. Este, seguindo o olhar de Geillis e encontrando os cavaleiros, parou de andar. Geillis se censurou internamente. Então tentou outra vez, agora de forma mais firme:

–Apenas pensei ter vistos sombras passarem pelo corredor, é só. – ela explicou em um tom inocente, mas o olhar intenso em Mordred, implorando.

–Vamos, Morgana, não podemos perder tempo. Eles irão fugir. – Mordred interveio tensamente, virando-se para a feiticeira, desviando o assunto.

Morgana pareceu considerar aquilo por alguns segundos, e, finalmente decidindo-se por seguir em frente, adentrou um novo corredor.

Geillis sentiu quando Mordred tocou seu braço, parou um segundo para assentir curtamente para os cavaleiros, e a puxou pelo mesmo corredor que Morgana havia entrado.

Contudo, o alívio teve pouca duração, porque, minutos depois, ouviram quando uma voz urgente cortou o ar úmido e pesado da caverna:

–Merlin!

Era Arthur ali perto. Geillis e Mordred enrijeceram. Morgana, porém, intensificou os passos até avistar Arthur dobrar um corredor:

–Que bom que não preciso mais procurá-lo. – Morgana sorriu satisfeita atrás de Arthur, saindo das sombras.

Assim que ela e Mordred se juntaram à Morgana, Geillis viu Arthur se virar e alcançar instintivamente sua espada, para descobrir que não havia nenhuma:

–Que negligência a sua. Sua coragem equivale à sua estupidez. – Morgana zombou – O que achou que conseguiria vindo aqui?

–Tinha que libertar meus homens. – Arthur explicou, como se a resposta fosse algo natural.

Apesar de já ter visto o que aconteceria, Geillis se sobressaltou quando viu Morgana lançar magicamente uma adaga na direção de Arthur, acertando-o no tórax e o enviando ao chão.

–Desta vez parece que não há saída. – Morgana disse caminhando na direção de Arthur, que respirava com dificuldade.

–Sinto muito pelo que nosso pai fez a você. – ele conseguiu dizer entre arquejos.

Geillis observou Mordred mover-se para perto de Morgana.

–Uther nunca foi meu pai. – Morgana cortou com rispidez.

–Mas nós somos irmãos. – Arthur rebateu, procurando levantar-se.

–Engraçado você lembrar disso com minha adaga nas suas costas. – Morgana apontou.

–O que aconteceu com você, Morgana? – Arthur questionou, finalmente virando-se – Quando criança você era tão gentil, amorosa...

–Eu cresci. – ela respondeu de forma ácida, e novamente o atacou no tórax, fazendo-o cair mais uma vez.

Geillis teve vontade de interferir, mas sabia que aquele era um momento que ela deveria deixar acontecer, que aquilo não mudaria o curso dos acontecimentos de forma drástica. Além do mais, se o fizesse, Morgana provavelmente descobriria sua natureza, e ela não estava tão empolgada com a ideia de ser perseguida pela feiticeira.

–Está certo em se acovardar na minha frente. Sou mais poderosa que imagina. – Morgana se vangloriou, os olhos brilhando com orgulho.

–E, mesmo assim, você escolhe ter apenas ódio. – Arthur rebateu.

Morgana, contudo, riu:

–Uther me ensinou bem. Adeus, Arthur Pendragon. – ela se despediu, lançando um feitiço que desacordou o rei.

Geillis, no fundo, viu Merlin antes que ele gritasse o nome de Arthur e saísse apressadamente das sombras. Ela queria gritar para que ele ficasse escondido, que Arthur não seria assassinado, mas era tarde demais, Morgana já o havia lançado bruscamente contra a parede da caverna, quase o desacordando também.

A estrela ficou tensa ao observar Mordred se aproximar perigosamente das costas de Morgana, punhal em mãos. Olhando freneticamente de Morgana, preparando com os lábios o encantamento que acabaria com a vida do rei, para Mordred, ela freneticamente repetia para si mesma que não deveria interferir, por mais que lhe doesse ver as tentativas desesperadas de Merlin em lançar algum feitiço que defendesse Arthur. Ninguém vai morrer, o pensamento girava em sua mente, seu coração galopando no peito.

Ela fechou os olhos quando escutou a adaga de Mordred perfurar as costas de Morgana, estremecendo ao ouvir seu tom de voz carregado de traição e descrença:

–Mordred...?

Ao ouvir a feiticeira cair, Geillis entrou em ação, precipitando-se para Morgana. Já desacordada, Morgana não viu quando Geillis tocou seu abdômen, uma luz branca envolvendo sua mão, curando a ferida aberta:

–O que está fazendo? – Mordred perguntou.

–Esta ainda não é a hora dela. – a estrela respondeu simplesmente, voltando-se para um desacordado Arthur e repetindo o mesmo processo de cura – Leve Arthur para os outros cavaleiros, eu cuido de Merlin. – ela orientou e, uma vez Mordred tendo saído após hesitar alguns segundos, aproximou-se do mago.

Ela parou, entretanto, ao ver a criatura que também se aproximava de Merlin começar a pronunciar um encanto de cura, rapidamente trazendo Merlin de volta aos sentidos. Ele piscou, desorientado, virando-se para encarar a criatura, que porém voltava-se para Geillis:

–Você então é a estrela. – ele observou, um sorriso satisfeito no rosto.

Nada surpresa pelo reconhecimento, Geillis apenas assentiu uma vez:

–Diamair, é uma honra conhecê-lo.

–Emrys. – a criatura chamou, voltando a atenção para o mago, que tentava se levantar, ainda um pouco confuso – Fique deitado. Muito sangue foi derramado hoje, e tudo por uma coisa que poucos sábios iriam querer. – a criatura observou em um tom ao mesmo tempo cansado e desapontado.

–Quer dizer o Diamair? – Merlin indagou, não tendo ouvido o reconhecimento anterior entre a estrela e a criatura.

O ser assentiu.

–Morgana nunca o encontrou?

Com um sorriso mínimo, o ser acrescentou:

–E nunca encontrará.

Entendimento passou por um segundo pelos olhos azuis do jovem:

–Porque é você. Você é a chave para o conhecimento. – e no mesmo tom cansado que a criatura possuía antes, Merlin concluiu – Às vezes sinto o peso do meu destino me esmagando, mas não é nada comparado ao peso que você carrega.

–É ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição. – o Diamair confirmou, e após alguns momentos questionou – Tem algo que queira me perguntar?

–Não, acho que não seria bom. – Merlin respondeu, e Geillis viu traços de medo em seu olhar.

–A pergunta também se estende a você, estrela. – o Diamair se virou, os olhos intensos sobre ela.

A estrela engoliu em seco e pelo canto do olho viu Merlin, notando pela primeira vez sua presença, também prestar atenção nela. Claro que havia milhares de perguntas girando em sua mente, mas duvidava que o Diamair teria permissão para responder muitas delas. Ela queria perguntar algo, então teria que escolher com cuidado.

Finalmente, Geillis se decidiu por uma pergunta. Estava prestes a dar voz a ela, quando outra, relacionada a Mordred, apareceu em sua mente. Ela não entendia o porquê da súbita preocupação e a irritante e poderosa vontade de saber se ele ficaria a salvo depois de tudo. Sua vontade de saber quase a dominava, quando ela se lembrou de que não seria sábio perguntar algo como aquilo, especialmente na frente de Merlin, que claramente não aprovava Mordred. Se preocupava com ele, é claro, e queria ser capaz de redimi-lo no final, mas não podia deixar que seu desejo de salvá-lo atrapalhasse sua missão. Portanto, ao invés, a estrela se ateve à pergunta original:

–Será que o que estou fazendo não acabará em vão? Depois que desci à terra, sinto que tudo é tão mais difícil e complicado. – ela se perguntou mais para si que para os outros, deixando que parte de sua frustração e medo extravasassem.

–Se será em vão ou não, só o tempo dirá. Mas lembre-se de que nem sempre o que acha que é prioridade e o que realmente o é, na maioria das vezes, não são a mesma coisa. – o Diamair aconselhou, uma expressão misteriosa perpassando por seu rosto.

Assentindo uma vez, a criatura fez menção de ir embora, porém Merlin, muito quieto até aquele momento, o impediu:

–Espere. – ele estendeu a mão, tocando a criatura – Tenho uma pergunta. – e em seguida ele desviou o olhar para Geillis, sua expressão intensa a lhe encarar – Se Mordred não é a ruína de Arthur, então quem é?

–Ele mesmo. – o Diamair afirmou prontamente.

Apesar de já ter ouvido aquela conversa e aquela mesma resposta - que Mordred, aparentemente, não contribuiria para a queda de Arthur - aquilo não ajudou em nada a acalmar a dúvida e a preocupação de Geillis. Não depois de ter visto como aquilo acabaria.

O caminho de volta foi algo tenso. Mesmo enquanto ajudava Merlin a se pôr de pé e o carregava de volta aos outros, nenhum dos dois conseguia olhar nos olhos do outro. Ele ainda se sentia traído pelo fato de ela ter escolhido ir com Mordred ao invés de fugir - algo por que ela também se sentia mal - e envergonhado por ter proferido suas suspeitas em relação a Mordred em voz alta – suspeitas estas que, mesmo que o Diamair tenha desmentido, ele não conseguia apagar completamente.

A atmosfera incômoda entre os dois só piorou quando, assim que se juntaram aos outros cavaleiros, ambos puderam sentir o olhar intenso de Mordred sobre os dois.

***

Sentada no Grande Salão de Camelot, ao lado dos grandes nobres do reino, Geillis observou com satisfação quando Mordred ajoelhou-se diante do rei. Era um dia agradável, particularmente ensolarado, e ela se lembrava de ter pensado que ele parecia absolutamente magnífico em suas vestes carmim – a cor dos Pendragon – de cavaleiro.

Arthur pousou delicadamente sua espada sobre cada um dos ombros de Mordred e com orgulho, ordenou com um sorriso:

–Levante, Sir Mordred, cavaleiro de Camelot.

Aplausos explodiram.

Geillis soltou um suspiro de alívio ao ver o sorriso genuíno que Mordred direcionava ao rei. Tinha conseguido chegar até ali a salvo. Camelot estava a salvo, por enquanto. E Mordred estava ali, ao lado do rei, onde ela acreditava ser o seu lugar, ela pensou com um sorriso.

“Só espero conseguir que ele permaneça assim até o fim.” Seu sorriso se desfez ao pousar em Merlin, que, ao lado de Gauis, enviava um olhar apreensivo na direção do druida.

Minutos depois, ela procurou se afastar da corrente de pessoas que saíam do salão. A rainha veio ao encontro de Geillis, e, tomando uma de suas mãos, disse à estrela o quão feliz ela estava por ver Mordred novamente depois de tantos anos e por tê-lo junto à Arthur. Geillis sorriu ante às palavras gentis dela, momentaneamente se esquecendo de sua inquietação. Tinha decidido que gostava de Gwen – como a rainha firmemente pedia para ser chamada – uma vez que ela a havia ajudado a se sentir mais confortável desde que Geillis chegara cansada da viagem e de certa forma triste, apenas alguns dias antes. A estrela via na rainha uma amiga – não exatamente confidente, já que decidira que era suficiente que apenas Merlin e Mordred conhecessem seu segredo – mas uma boa aliada e alguém que ela podia verdadeiramente admirar e confiar.

Trocadas mais algumas palavras entre as duas, Geillis observou o rei se aproximar, carinhosamente tocar a cintura da rainha e com um educado pedido de permissão levá-la para longe. Geillis ficou no salão silencioso, apreciando o casal se afastar com sorrisos nos lábios. Geillis suspirou. Observar os casais apaixonados era algo que ela sempre gostara de fazer. Tinham um certo brilho em seus olhos e uma pureza no sorriso que a fascinava. E ver aquilo tão de perto era ainda mais incrível.

Mas seus pensamentos foram interrompidos quando viu Mordred passar apressadamente pelas portas do salão, rumo à alguns aposentos menores. Ela se adiantou em acompanhá-lo. Com toda a pressa e confusão dos preparativos para a homenagem naquela manhã, ela ainda não tivera tempo de cumprimentá-lo. Seguindo-o, ela o viu dobrar em um aposento lateral, e estava prestes a entrar também, quando ouviu a voz de Merlin:

–Aqui, eu ajudo com isso.

Aquilo a fez parar e se esconder atrás da porta para ouvir a conversa. O tom de voz de Merlin, apesar de cordial, transparecia um mínimo de hostilidade. Havia o tilintar do metal da armadura e o barulho de tecido se movendo. Geillis deduziu que, assim como Merlin fazia com Arthur, ele ajudava Mordred com sua armadura.

–Obrigado. – ela escutou Mordred agradecer no mesmo tom de fria cordialidade.

–Você sabe que se Arthur soubesse que tem magia, as coisas seriam diferentes. – Merlin observou de forma ligeiramente ameaçadora – Me diga uma coisa. – o mago pediu alguns segundos depois.

–É claro.

–Você salvou a vida do Arthur. Por quê? – e aquela pergunta soou como algo incompreensível para ele.

–Porque Arthur está certo. O amor que nos une é mais importante que nosso poder. Morgana esqueceu disso. – foi a resposta de Mordred, e Geillis não pôde deixar de se sentir movida pela confiança e certeza em sua voz. Talvez se mais tarde ela não o fizesse se esquecer daquelas mesmas palavras, ele não tivesse que mudar, afinal.

Sobressaltando-se, a estrela viu Merlin desaparecer por uma porta lateral, uma expressão de desconfiança em seu rosto. Geillis franziu o cenho, apesar da simpatia que sentia por Mordred, não podia deixar de sentir que Merlin por vezes tinha razão em desconfiar de Mordred. Afinal ela estava ali para mudar um futuro em que ele traía Camelot. A estrela fechou os olhos, soltando um grande suspiro. Só esperava que não ter que ver o destino trágico se desenrolar novamente, apesar de seus esforços.


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Notas finais do capítulo

Continuem me dizendo o que acham! É importante para que eu continue escrevendo :)