O Mistério Da Estrela escrita por Syrinx


Capítulo 3
Capítulo 3:A fuga do acampamento(Arthur's Bane P2)


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta... Apesar de me desiludir um pouco com essa fic, resolvi continuar. Espero q gostem do capítulo :)



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Sem pensar, Mordred a tomou nos braços cuidadosamente. O frio era intenso e ele duvidava que pudesse voltar a caminhar se permanecesse mais um segundo parado ali; suas pernas já começavam a adormecer. Também havia Geillis que, ele entendia, apesar do efeito revigorante de sua magia sobre ela, ainda estava fraca demais para ficar naquela nevasca.

Ele mal havia dado o primeiro passo quando a sentiu se mexer em seus braços, desconfortável:

–Acho que posso caminhar sozinha, obrigada. – Geillis disse tímida e suavemente, o cenho franzido. Seu corpo todo doía e o frio era intenso, mas ela precisava permanecer forte. Precisava provar de uma vez por todas que era capaz de fazer aquilo sozinha. Não queria mais nenhuma ajuda.

–Tem certeza? – ele desceu o olhar para ela, relutante.

A um aceno positivo dela, ele a pôs no chão:

–Além do mais, - ela argumentou, dando as costas para ele e caminhando precariamente em frente – é melhor que eu não pareça fraca e indefesa quando chegarmos ao acampamento. Não com todos aqueles homens por perto. – ela parou e olhou por cima do ombro, um pequeno sorriso ligeiramente distorcido pela dor em seus lábios – Não se preocupe, Mordred, vou ficar bem.

Ele estreitou perigosamente os olhos ante a menção de seu nome. Não se lembrava de tê-lo dito a ela. E como ela sabia que estavam voltando ao acampamento? Por tudo o que Mordred havia dito a ela, ele podia muito bem estar viajando sozinho. Comprimindo os lábios, o druida venceu o espaço entre os dois com longos e rápidos passos, pousando as mãos firmemente nos ombros dela e girando-a de modo a encará-lo:

–Como sabe o meu nome e sobre o acampamento? – ele exigiu, estreitando involuntariamente seu aperto nos ombros dela.

Ela se sentiu enrijecer sob o olhar intenso e azul de Mordred. Fechando os olhos e censurando-se mentalmente, Geilis logo entendeu que havia falado demais. Precisava tomar cuidado com a própria língua, um descuido e poderia ser tarde demais. Nervosa e confusa, ela abriu e fechou a boca várias vezes, esperando que dela saísse algo que não a comprometesse mais, mas que a ajudasse a aplacar Mordred:

–Ora, Mordred, eu... – ela começou de forma exasperada, mas hesitante.

–Não minta para mim. – ele sibilou baixinho, mas de forma ameaçadora.

Mentir? Ela o olhou incrédula, sentindo uma pontada de aborrecimento e indignação lhe fisgar o peito. A possibilidade nem havia passado por sua cabeça. Se tinha algo que não entendia e terminantemente desaprovava sobre os humanos era sua constante capacidade e quase necessidade de contar mentiras. Ofendida, ela se desvencilhou dele com um ligeiro safanão:

–Eu venho do céu, Mordred, eu observo coisas, eu sei coisas. O que esperava? – ela rebateu, seu tom muito mais magoado do que gostaria.

Ela girou nos calcanhares, pisando duro e caminhando em frente mais uma vez, sem dar atenção a ele. Mordred a olhou por alguns segundos, envergonhado por sua explosão. Afinal, desconfiança não era algo que ele pudesse controlar. Precisava de seus instintos e de sua inteligência se quisesse sobreviver. Quando se possuía magia, qualquer descuido poderia significar a morte.

Respirando fundo uma vez, ele a seguiu, pegando seu grosso casaco que havia sido esquecido na neve. Tomou o devido cuidado de não chegar muito perto dela. Ele entendia que ela ainda estava chateada, e com certa razão, então achou melhor não aborrecê-la ainda mais. Ao invés, concentrou-se nas perguntas que fervilhavam em sua mente. De fato, ele entendia o que ela era. Mas que motivo a trazia à Terra? E por que estava ali especificamente? De acordo com o que seu pai havia lhe contado havia muitos anos, as estrelas eram criaturas cheias de magia e era muito raro e especial o fato de vagarem entre os humanos. E por que havia lhe contado sobre quem ela era? Não que ele sequer pensasse em traí-la, mas aquela dúvida o corroía por dentro. Teria sido por que ele a tinha salvado? Ele não sabia.

Mordred se sobressaltou quando sentiu a aura dela vacilar e diminuir por um segundo. Ele levantou o olhar para ela, preocupado, a tempo de vê-la desabar de joelhos na neve, tremendo de frio. Ele correu para ela, justo quando a estrela, com muito esforço, tentava se pôr de pé.

Ele se aproximou, amparando seu corpo quando ela desabou mais uma vez. Retirando o casaco, ele fez menção de colocá-lo novamente sobre ela. Ela balançou a cabeça rapidamente e levantou-se, mas ele a impediu, impaciente:

–Geillis. – ele pediu, e ela lentamente voltou o olhar em sua direção.

Aproveitando-se do momento de distração, ele enrolou o casaco ao redor do corpo gelado dela, nunca desviando o olhar:

–Se não quer me ver te levar nos braços, pelo menos aceite o casaco. – ele tentou ser razoável.

Com uma leve careta de desaprovação, ela assentiu, e continuou a liderar o caminho.

Cruzando os braços ao redor do corpo e contente pela nova camada protetora, ela mergulhou em pensamentos. Havia prós e contras naquela situação. A parte boa era que, por tudo o que ela sabia, Mordred ainda era leal a Arthur, o que era um bom sinal; por outro lado, ela entendia que chegar ao acampamento ao lado do jovem druida não passaria uma boa impressão para Merlin. Geillis sabia que Merlin não confiava nele. Ela sabia do destino do jovem druida e do que ele faria no futuro. Entretanto, apesar de tudo, não conseguia culpá-lo. Afinal, Mordred era um de seus humanos preferidos. Algo nele a atraía, intrigava-a, pois, no fundo, queria acreditar que havia algo de bom nele.

Ela balançou a cabeça, procurando concentrar-se no problema original. Sim, era uma situação complicada. Se Merlin a visse com Mordred, não confiaria nela também, antes que ela pudesse explicar tudo. E Geillis precisava ganhar sua confiança e se aliar ao mago. No final das contas, ela acreditava que era seu destino ajudá-lo a reverter a história de Camelot e fora por aquele motivo que ela havia caído.

Guiada por estes pensamentos e sentindo o olhar de Mordred perfurando suas costas, impeliu o corpo a caminhar mais rápido na direção da, só agora ela podia sentir, magia de Merlin, involuntariamente procurando pôr uma maior distância entre ela e o homem atrás de si.

Então lembrou de outro detalhe: a princípio, não havia maneira de Merlin saber o que ela era. Havia até ensaiado um modo de contar-lhe a verdade sobre si. Claro, Mordred agora sabia, mas porque ele havia entendido o que, involuntariamente, e em sua fraqueza, ela lhe contara.

Parou e censurou-se mentalmente quando percebeu o que fizera. Ao pedir para vir à Terra ela havia prometido a Deneb e Albireo – as estrelas mais brilhantes da constelação e hierarquicamente superiores a ela – que não iria revelar sua identidade a ninguém a não ser a Merlin. E agora deixara escapar seu segredo logo a Mordred, quem ele menos confiava. Geillis não queria nem imaginar as consequências deste deslize. Ela levou a mão à testa, suspirando. Definitivamente, estava dando tudo errado para ela.

Ao chegarem à base do morro de neve que protegia o acampamento, Geillis parou, virando-se para a forma de Mordred, que se aproximava com dificuldade. Quando ele parou ao seu lado, ela lhe estendeu o grosso casaco de couro, apesar dos protestos dele:

–Obrigada. – ela disse curtamente e girou nos calcanhares, começando a escalar o monte de neve com dificuldade.

Concluiu que pareceria melhor se chegasse por conta própria do que aparecer vestindo o enorme casaco de couro de Mordred, que a fazia parecer mais frágil e pequena do que era na verdade. Não, ela definitivamente não precisava daquele bônus. Pareceria tanto presa fácil para os saxões, quanto aquilo seria muito difícil de explicar para Merlin. Sentiu uma pontada de culpa por agir e pensar assim a respeito do jovem druida, mas ela repetiu em sua cabeça que antes de consertar as coisas entre ele e Merlin, era preciso agir de acordo com plano. E conseguir a confiança do feiticeiro era o que precisava ser feito o quanto antes.

Chegando no topo, ela apurou os olhos na direção do acampamento, avidamente procurando pelo jovem mago. Encontrou-o amarrado na parte mais afastada do acampamento. Ao lado dele, conversando discretamente, estava Arthur. Procurando uma maneira de chamar-lhe a atenção, mas sem atrair suspeitas, ela fez a única coisa que lhe veio à cabeça:

Merlin. – ela sussurrou em sua mente.

Ela viu quando a cabeça do mago levantou-se rapidamente, surpreso. Ignorando totalmente Arthur, que tentava lhe chamar a atenção, Merlin procurava freneticamente com os olhos a fonte da voz. Quando seus olhos encontraram, finalmente, os dela, ela viu os olhos dele se arregalarem em um mudo choque:

Você é a estrela da profecia? – ele sussurrou de volta na mente dela, após alguns segundos procurando recompor-se.

Foi a vez de Geillis se surpreender. Profecia? Sobre ela? Como isso era possível? Sua mente girava em um turbilhão confuso.

Contudo, não teve a chance de exigir uma resposta, pois, no segundo seguinte, ela notou o jovem mago enrijecer quando Mordred surgiu ao lado dela, meio resfolegante, meio contrariado, e pôs o grosso casaco sobre os ombros dela, murmurando algo ininteligível. Viu também quando os olhos de Merlin se estreitaram e passaram a oscilar rapidamente entre ela e o druida ao seu lado, analiticamente.

Sentindo as mãos de Mordred sobre o casaco apertarem ligeiramente seus ombros e a dirigir para longe dos prisioneiros, Geillis sabia que ele havia percebido o pequeno reconhecimento entre ela e Merlin. Receosa de começar algum conflito desnecessário e prometendo a si mesma que falaria com Merlin assim que tivesse uma chance, ela não teve outra escolha a não ser se deixar ser guiada.

No caminho em direção à única carroça da caravana, onde Mordred guardava seus pertences e lhe providenciaria roupas quentes, como havia prometido, Geillis podia sentir os olhares e murmúrios dos homens direcionados em sua direção. Tudo bem, o mundo era mais difícil do que ela calculara – ela concordou silenciosamente, tentando não ponderar muito sobre o quanto aqueles olhares a intimidavam. Instintivamente desviando o olhar, ela sentiu Mordred a puxar para si de forma protetora e, apesar de nunca o admitir em voz alta, ela o agradeceu mentalmente por aquilo.

Ao se aproximarem do veículo, o saxão líder os avistou, um sorriso perverso se espalhando por seu rosto:

–Ora, o que temos aqui? Eu deixo o sair do acampamento por uns minutos, Mordred, e você consegue voltar com uma mulher a tiracolo mesmo nesse fim de mundo? – ele exclamou satisfeito, os olhos nunca deixando Geillis, que tentava bravamente ignorar o quanto aquele sorriso a incomodava - Se importa de compartilhar?

O homem gargalhou e deu um passo na direção dela, tocando-lhe de leve os cabelos. Geillis enrijeceu sob seu toque, mas conseguiu manter uma postura ao menos digna. Como se atingido por uma onda de raiva, Mordred empurrou a mão do saxão, sibilando perigosamente:

–Ela é minha.

–Seu...

O saxão, chocado e enraivecido pela insolência, fez menção de desembainhar a espada, contudo Mordred foi mais rápido em acrescentar:

–E acredito que não vá querer discutir comigo quando chegarmos à Morgana. - os olhos azuis emanando um misto de ódio e autoridade.

Os olhos do homem se estreitaram, avaliando o jovem. Após alguns segundos, e ainda com o rosto contraído de desgosto, o saxão achou por bem engolir sua derrota. Apesar disso, por dentro, revoltava-se de ódio. Não entendia o que o garoto queria dizer com a última frase, mas, se ele se referia à bruxa daquela forma, era melhor que ele não insistisse mais. Nada de bom aconteceria se ele desagradasse Morgana.

Sem dizer palavra, o druida subiu habilmente na carroça, retirou do meio de tantos embrulhos algo que parecia uma mochila desgastada de couro e arrastou Geillis até uma tenta próxima.

Uma vez sozinhos, ele a olhou nos olhos, sua expressão se suavizando:

–Você está bem? – ele perguntou, sua voz cheia de preocupação.

Ela assentiu uma vez, desconfortável com a intensidade do olhar dele:

–Estou, obrigada.

Para preencher o súbito silêncio que pairava sobre ambos, Mordred se ocupou em procurar algo dentro da mochila que trazia. Retirando de lá alguns tecidos dobrados, ele os estendeu para Geillis:

–Vista, irá chamar menos atenção com isso. Além do mais, são mais quentes e confortáveis que... – ele parou de falar sugestivamente, indicando com o olhar o vestido fino e prateado que ela usava.

Constrangida, ela franziu o cenho e desviou o olhar, abraçando-se.

–Bom, eu vou só... deixa-las aqui. – e depositou as roupas sobre uma mesa próxima – Vou ficar esperando lá fora.

Geillis ficou observando por alguns segundos a abertura por onde ele havia saído. Ela tinha de admitir, a intensidade de seu olhar e a aparente postura protetora de Mordred a surpreendiam levemente. Então ela se lembrou que ele ainda não havia se corrompido, que ainda havia algo de bom nele. Ela sorriu ante àquele pensamento.

As roupas que ele havia lhe dado eram definitivamente masculinas. Provavelmente as dele próprio. Tinham um cheiro característico de madeira. Era definitivamente um cheiro agradável, e que combinava perfeitamente com ele. Ele tinha razão, eram muito mais pesadas e confortáveis que seu vestido delicado.

Ao sair, ela o avistou a poucos metros de distância, trocando algumas palavras com outro membro da caravana, e ela não deixou de perceber que seus olhos vagavam de segundo em segundo na direção da tenda, até que relaxaram ao vê-la emergir. Ele escusou-se rapidamente e veio em sua direção:

–Vamos, estão levantando o acampamento, partimos em alguns minutos. – informou.


A caravana avançava lentamente pelo deserto gelado. Geillis e Mordred iam silenciosamente na frente, ao lado da carroça, o frio enregelante castigando a estrela apesar das novas roupas. Geillis estava preocupada, tentando encontrar uma forma de se comunicar com Merlin. Precisava explicar tudo antes que chegassem à Morgana e fosse tarde demais. Sem, contudo obter sucesso, uma vez que o feiticeiro e o rei iam atrás, amarrados à carroça, ela não tinha outra coisa a fazer a não ser caminhar e esperar pela primeira oportunidade que lhe fosse oferecida.

O que não demorou muito. Segundos depois, seus pensamentos foram interrompidos pela súbita parada da caravana. Ela levantou a cabeça, apesar do frio que soprava com força, fazendo seus olhos lacrimejarem, ainda a tempo de ouvir o líder saxão xingar, descer de seu cavalo e se dirigir com passos rápidos e irritados para a traseira da carroça. Aquilo lhe chamou a atenção e ela girou nos calcanhares, observando a cena que se passava à sua frente.

Arthur estava desmaiado na neve, os pulsos amarrados por fortes tiras de couro à carroça. Merlin estava ajoelhado ao seu lado, declarando que o rei precisava de água para continuar. O rosto do saxão se contorceu em uma careta:

–Levante. – ele rosnou, chutando Arthur nas costelas uma vez.

Sem obter resposta, o homem puxou Arthur rudemente do chão, colocando uma mão de cada lado de seu rosto:

–Agora não é mais o grande guerreiro, é? – ele zombou.

Mas o que ele não viu, e o que Geillis brevemente percebeu, foi o brilho prateado da adaga que Arthur discretamente desembainhava da cintura do saxão. Completamente atenta aos dois, ela não percebeu quando a caravana começou a se mover lentamente, e só começou a caminhar quando sentiu o toque leve de Mordred em seu braço, a instigando a prosseguir.

Ali estava sua chance. Ela sabia que Merlin e Arthur tentariam fugir. Se ela ficasse vigilante o suficiente talvez tivesse a chance de escapar com eles.

Com os sentidos perfeitamente alertas, ela percebeu pela visão periférica quando Merlin deu um puxão em suas próprias amarras ligadas à carroça, fazendo com que vários barris e sacos despencassem. O saxão líder, com a paciência completamente drenada, dirigiu o cavalo na direção dos prisioneiros:

–Quem fez isso? – perguntou entre os dentes – Quem?!

–Nós precisamos descansar. – foi tudo o que Merlin respondeu.

–Claro. Vocês podem descansar para sempre! – ele exclamou, desembainhando a espada.

Contudo, antes que ela pudesse tocar Arthur, ele deu um passo à frente, golpeando com as mãos agora desamarradas – graças à adaga – o rosto do saxão. Com a adaga ainda em mãos, o rei a lançou no peito de um dos homens, enquanto Merlin lançava uma magia sobre um dos cavaleiros, assustando o cavalo e lançando seu homem ao chão. Então, prontamente Merlin e Arthur começaram a se armar: Merlin conseguiu um machado, enquanto o rei pescava da carroça uma espada e uma besta*.

Vendo aí sua deixa, e sem pensar em mais nada, Geillis correu até os dois sem olhar para trás, ignorando o protesto de Mordred, ao perceber o que ela pretendia.

Quando ele a viu, Merlin estendeu a mão para ela, gritando um apressado “Vamos!”.

Ela agarrou sua mão e ambos correram na direção de Arthur, que lutava para abrir caminho. Ao passar por ele, o rei teve tempo apenas de lançar a ela e a Merlin um olhar inquisitivo. A um balançar de cabeça de Merlin, ele assentiu, entendendo que haveria tempo para explicações mais tarde. Desceram os montes de neve, procurando pôr uma distância segura entre eles e os saxões. Contudo, pararam bruscamente ao chegarem a uma fenda profunda na neve, de alguns metros de largura. Comprimindo os lábios obstinadamente, Arthur jogou a besta do outro lado da fenda:

–Você só pode estar brincando. – murmurou Merlin.

–Tem uma solução melhor? – o rei rebateu, correndo para longe da fenda, para dar impulso ao pulo.

Desesperado, Merlin olhou para baixo, analisando a profundidade, antes de voltar-se para Geillis:

–Vamos pular antes e te apanhamos quando for sua vez. Não tenha medo. – ele a assegurou, tocando de maneira reconfortante o braço dela.

Porém, o conforto não durou muito tempo, e os olhos da estrela se arregalaram quando ela avistou os saxões descendo o monte de neve, a poucos metros.

–Não temos o dia todo! – Arthur exclamou, já do outro lado.

Merlin se desvencilhou dela e imitou o gesto de Arthur, tomando impulso. O pulo, entretanto, não foi tão gracioso e tão bem sucedido quanto o de Arthur, porque Merlin deslizou e escorregou em direção ao buraco da fenda, e teria caído caso ele não tivesse fincado a lâmina do machado na neve e Arthur não tivesse sido rápido em içá-lo para cima.

Geillis, por sua vez, pôs a mesma distância entre ela e a fenda, mas não teve tempo de pular, pois um saxão empunhando uma espada veio em sua direção. Paralisada, ela mal pôde se abaixar, evitando o golpe, e o saxão caiu, atingido no peito por uma das flechas da besta de Arthur. Um segundo homem seguiu o primeiro, e teve o mesmo destino que ele.

Desorientada e estática, Geillis mal registrou um terceiro homem a se aproximar e os gritos frenéticos de Merlin:

–Vamos, pule! Rápido! – ele gritava para ela, estendendo uma mão, como se pudesse obrigar o membro a alcançá-la.

–Geillis! – ela escutou uma segunda voz chamando por ela.

Surpresa, ela girou bruscamente nos calcanhares, percebendo que o terceiro homem era na verdade Mordred, que estendia a mão para ela do mesmo modo que Merlin fazia:

–Você não tem que ir com ele. Volte comigo. Eu lhe protegerei. – ele prometeu.

E a intensidade nos olhos azuis e gelados dele estava de volta, surpreendendo-a, hipnotizando-a e a impedindo de pensar. Ela hesitou.

Você é a estrela da profecia. Camelot precisa de você! Vamos fazer isto juntos! Agora vamos, pule, por favor! – ela escutou a voz de Merlin implorar em sua mente.

Ela engoliu em seco e seus olhos vagaram do druida para o mago, este último gritando para que Arthur atirasse em Mordred. Arthur não o fez. Frustrado, os olhos do feiticeiro voltaram para os dela. Passaram a brilhar com algo parecido com traição, ao vê-la dar um passo para trás, para Mordred.

Na verdade, quando ela viu os olhos do druida a implorando para ficar, a intensidade do pedido nos olhos dele, ela sabia que não conseguiria deixá-lo sozinho. Afinal, ele tinha salvado sua vida. Tinha uma dívida com ele. Acreditava que ele ainda tinha algo de bom e cuidar para que ele não se corrompesse seria sua forma de pagá-lo.

No final das contas, teria de encontrar uma nova forma de mudar o curso dos acontecimentos - ela pensou ao decidir-se.

Perdoe-me, mas esta é a minha escolha. – ela sussurrou de volta, ignorando a voz em sua mente que gritava que aquilo era a coisa errada a se fazer.

As mãos de Mordred encontraram os ombros dela, trazendo-a para perto dele.

Engolindo a derrota e não ousando levantar o olhar para os dois à sua frente, Merlin correu para a borda do precipício e começou a golpear a borda da fenda em sua parte mais estreita, impedindo o resto dos saxões que se aproximavam de atravessar.

Geillis continuou a observar os dois homens se distanciando e quando, finalmente, não havia mais nenhum sinal deles, ela desabou na neve, resfolegante, agarrando o peito, em pânico e, apesar de sua firme escolha anterior, em remorso.

O que ela estava fazendo? Por que tinha decidido ficar? Aquilo ia contra tudo o que ela tinha planejado. Agora estava indo direito para o covil de Morgana, como uma presa voluntariamente apresentando-se ao caçador. E, apesar da promessa de Mordred e de seus melhores esforços, duvidava que ele pudesse protegê-la da feiticeira. Ela riu amargamente. Se antes as coisas estavam indo de mal a pior, agora estava tudo acabado. Graças a sua estupidez, ela seria morta antes que pudesse fazer qualquer coisa.

Mordred apenas a observou em sua agonia, não ousando tocá-la ou dizer nada. Após alguns minutos e após a ordem do líder saxão para prosseguirem viagem, Mordred ajoelhou-se ao seu lado, tocando seu ombro:

–Precisamos seguir em frente. – ele disse de forma suave.

Com um suspiro final, ela assentiu fracamente uma vez, levantando-se e caminhando na frente sem olhar para trás.

Involuntariamente e apesar de sua vontade, ela sentiu uma pontada de irritação pelo efeito que aqueles olhos dele causavam.



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Notas finais do capítulo

*besta:A besta, balestra ou balesta é uma arma com a aparência de uma espingarda, com um arco de flechas acoplado no lado oposto da coronha, acionada por gatilho, que projeta dardos similares a flechas, porém mais curtos.


Quero muitos comentários, sim? Me digam o que vcs acham da fic até agora, ok? :)



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