Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 5
Capítulo IV - It's the sun in your eyes, in your eyes


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece, certo?



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Num universo alternativo, eu viria de uma grande e poderosa família de reis e rainhas e príncipes e princesas e cavaleiros e todo tipo de gente importante assim.

Nós moraríamos num castelo enorme, construído na beira de um penhasco e acima do mar. Seria imenso a ponto de nuvens rodearem a torre mais alta. O castelo não teria muros porque todos do reino nos respeitariam, e caso houvesse algum tipo de invasão, os melhores arqueiros estariam dispostos a dar suas vidas pela família real.

Mas estamos falando de Leo Valdez, então, eu seria um cavaleiro qualquer de prestígio algum. Talvez um príncipe perdido, mas isso seria pedir demais. E em minha maior fantasia, desposaria a bela princesa do reino vizinho. Vestida em linho e ouro, Reyna seria o tipo de garota que todos gostariam de ter.

É isso que imagino quando a vejo correr em volta da fogueira com as outras garotas. Com seu vestido claro, um pouco acima dos joelhos, e o cabelo trançado, ela parece mesmo uma princesa.

No meio de tantas garotas, eu só tenho olhos para ela.

– Leo, você tá babando. - Jason murmura, me acotovelando nas costelas. Ele dá um sorriso maroto.

– Cala a boca, superman. - retruco, tentando parecer irritado, mas eu dou risada de suas sobrancelhas erguidas. - ah, qual é. Você não se lembra disso? Tínhamos uns treze anos, corríamos por aí com os lençóis da sua mãe amarrados nas costas e você era o superman loiro. E uma vez você disse "Eu consigo voar!" e pulou da caixa d'água. E quebrou a perna.

– Eu não lembro disso aí, não. - ele revira os olhos, contendo o riso. Eu sei que ele se lembra.

Estamos todos na beira do lago. Acendemos uma fogueira e decidimos assar alguns marshmallows e observar as estrelas.

Mas não é exatamente isso o que acontece. Todos tentam ignorar Percy e Annabeth se agarrando num cantinho mais reservado. Travis acabara por dormir todo encolhido no chão e Connor rabiscara seu rosto com uma caneta. Todos riram e o Stoll mais velho acordou e... Bem, Connor está um pouco machucado. Mas não é nada que gelo não resolva. E alguns curativos.

Nota mental: não irritar Travis.

– Então, como ficou... Sabe, o negócio da torre? - Jason me entrega um graveto com um marshmallow fumegante na ponta. - tipo... Você não deu piti?

– Eu não sou de dar piti! - protesto. - você já me viu dando piti, Jason Grace?

Ele dá risada.

– Não, mas seria engraçado.

– Babaca. - resmungo. - bem... Er, eu não podia simplesmente chegar e falar "Oi, você pegou o meu quarto. Por favor, saia". Até porque eu não teria coragem. E ela me acertaria um sapato no meio da testa.

Jason dá um sorrisinho de lado e sei que ele está imaginando a situação. Eu volto minha atenção para as chamas, mas o riso de Reyna é simplesmente impossível de ignorar. Ela e Rachel se sentam num dos troncos, conversando sobre algo que não consigo entender.

– Além do mais, como você sabe sobre a torre? - murmuro para Jason. Ele dá de ombros.

– Vi Reyna subindo as escadas e você desceu com a maior cara de enterro. - responde. - só liguei os fatos.

– Ah, espero que não se importe, mas coloquei minhas coisas no seu quarto. - minto, tentando parecer sério. - seremos irmãos por dois dias, Jason!

– O que? - ele arregala os olhos para mim. - mas só tem uma cama, Leo.

– Ué, então dividiremos. - ergo os ombros, já não conseguindo mais conter o riso. - eu sou fofo como um ursinho de pelúcia, você sabe.

– Eu vou te despejar. - Jason resmunga, cruzando os braços. - ou você quer que eu te jogue ali na fogueir...

Meu sorriso desaparece. Ele congela ao perceber o que disse.

– Desculpe. Eu não...

– Esquece. - suspiro. - não me importo.

Não gosto do fogo. Ninguém nunca questionou o fato de eu sempre manter uma certa distância de fogueiras e coisa do tipo. Eu sei que eles sabem o motivo. E agradeço por saberem. Há alguns anos era possível afirmar que eu tinha um trauma sério, do tipo que você não pode nem olhar sem ter algum tipo de reação. Uma vez tivemos que usar um maçarico nas aulas de economia doméstica, e eu entrei em pânico. Teria desmaiado se Piper não tivesse me arrastado para fora da sala.

Ela simplesmente me abraçou enquanto eu soluçava como se não houvesse amanhã.

Hoje em dia é bem mais tranquilo. Ainda tenho certo pavor do fogo, mas ok. É só ninguém me envolver em qualquer tipo de pirotecnia ou coisa do tipo. Ou botar um fósforo nas minhas mãos. E... É isso aí.

Eu me distraio olhando as estrelas enquanto os outros conversam, baixinho.

Sempre gostei delas. Esperanza dizia que as estrelas são pequenos buraquinhos no céu por onde as pessoas que amamos, mas que já se foram, ficam de olho em nós. E eu me pego imaginando-a olhando para mim lá de cima.

Sinto meus olhos arderem. Agora não, Valdez, agora não.

– Você tá bem, Leo? - Piper se senta ao meu lado e percebo que Jason já não está mais ali. Ela toca meu ombro. - parece que está...

– É a fumaça. - esfrego os olhos e viro o rosto. Piper sempre sabe quando estou mentindo. - odeio fumaça. É tão... Fumaça. E estou com sono. É isso.

Sei que ela está erguendo uma sobrancelha para mim. Finjo um bocejo e apoio o queixo nas mãos.

– Leo, não precisa mentir. - é o que diz. - eu sei que esse tipo de coisa... Sabe, o fogo e as estrelas e tal... Fazem você se lembrar da sua mãe. E chorar não vai te fazer fraco.

Eu olho de soslaio para ela.

– Não estava chorando, Piper.

– Mas queria.

– Pips, você não precisa ter essa conversa comigo. - meu tom é um pouco rude, mas não me importo. - ok? É problema meu. Eu sei que chorar não é fraqueza, mas prefiro não o fazer.

Ela cruza os braços, irritada.

– E acha que esconder a tristeza é certo? - diz, em tom de desafio.

– Prefiro escondê-la a ser o pobrezinho da história toda. - retruco.

– Você sabe que pode contar com a gente, Leo. - Piper suspira. - eu e Jason estamos aqui, tá? Nós nos importamos com você, e queremos o seu bem. Não devia esconder tud...

– Piper, não quero falar sobre isso. - olho em volta, esperando que ninguém esteja ouvindo nossa conversa. Todos parecem estar dentro de suas próprias bolhas. - você... Não é a minha mãe, ok? Não preciso que me diga o que fazer.

É quando ela se levanta.

– O que há com você, hein? - ela bate o pé, cruzando os braços. Seu tom é alto. Eu ergo a cabeça. - só estou tentando ajudar, Valdez.

– Não quero sua ajuda, McLean. - respondo, no mesmo tom. - posso sobreviver sozinho, sabia? Eu não posso ficar debaixo da sua asa pra sempre. E o que eu faço ou deixo de fazer não. É. Da. Sua. Conta.

Ela lança um olhar chateado para mim e noto o silêncio ao nosso redor.

Espero um tapa, mas ele não chega.

Todos olham para mim. Me levanto quando Piper começa a andar em direção a casa.

– Piper, espera... - digo, indo atrás dela.

Ela se vira, os punhos fechados. Me sinto péssimo ao ver pequenas lágrimas se formando nos cantos de seus olhos caleidoscópicos. Seu rosto está vermelho, mas não sei se é de raiva ou porque está prestes a chorar.

– Você é um imbecil, Leo. - Piper seca as lágrimas com as costas da mão.

– Pips...

– Se lembra de quando a gente se conheceu? Eu, você e o Jason? Prometemos que sempre íamos cuidar uns dos outros. É isso que estou tentando fazer. Você acha que eu gosto de ver você por aí, andando pelos cantos, se excluindo de tudo por conta daquele acidente?

– E-eu...

– Foi um acidente, Leo. Você não é o culpado. Eu só queria fazê-lo entender isso. Mas, como você mesmo disse, não é da minha conta.

Ela entra na casa e bate a porta com força. Sinto vários olhares pesarem em mim. Minha vontade é de morrer.

Passo por passo, chego até um dos quartos vazios onde deixei minha mochila. O silêncio da casa permite que eu ouça um choro baixo vindo do andar de baixo.

Não sou um cavaleiro, e nem mesmo um bobo da corte.

Sou um sapo que nunca viraria príncipe.


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Notas finais do capítulo

Bem, aí está. Não teve um pinguinho de leyna e ficou meio curtinho, mas acontece nas melhores famílias. (não me matem, por favor)E... Eu não sei mais o que falar. Espero que as coisas se acertem entre o Leo e a Piper. Ok, isso foi estúpido, estou com sono e falando qualquer coisa que apareça na minha mente. Até a próxima.