Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 4
Capítulo III - Do I really see what's in her mind?


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas. Aqui está mais um capítulo ♥ gostei bastante de escrever esse, haha. Re-escrevi umas quatro vezes, porque sempre "fugia" do Leo, entende? Não parecia ele.Ok, isso foi estranho e pareceu uma desculpa esfarrapada. Mas o que eu posso fazer?OBRIGADA PELO COMENTÁRIOS! Sintam-se abraçados, todos vocês. ♥Bem, vou para de falar/escrever/atormentar vocês. Boa leitura. PS: Desculpe por qualquer errinho.



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Sexta feira à tarde. Chove, mas isso não estraga meu dia.

Tiro o dia pra ficar no meu cantinho, a parte de cima da beliche, dormindo como um bebê. Não consigo, claro. A hiperatividade só me deixa dormir quando estou esgotado (e, também, nas aulas de física).

Bem, a aula foi um tédio, como sempre. Os mesmos professores chatos, a mesma dislexia, os mesmos murmúrios maldosos. Sorrio. As palavras de Reyna não saem de minha cabeça. "Adorei o desenho, obrigada! Gostaria de saber desenhar assim, só sei fazer bonequinhos de palito". E, então, antes de seguir seu caminho pelo corredor, ela sorriu. Do jeito que eu gosto.

Reyna não usa jóias, apenas um bracelete delicado no pulso esquerdo. Nunca havia reparado nisso. Talvez eu tenha passado tempo demais observando seu rosto e seu jeito de prender o cabelo atrás da orelha quando sorri.

Acho que o sorriso das pessoas é a jóia mais bonita que elas tem.

Fez calor até a chuva chegar. Ela estava usando uma camiseta larguinha, cinza, e shorts-nem-tão-curto-nem-tão-comprido, bege. E aquelas sapatilhas da Toms que você encontra em lojas "de surfista".

E então, ouço um pato. Um pato grasnando absurdamente alto.

– O que? - exclamo, me sentando na cama. - que droga é essa?

– Argh, Valdez. - alguém grita, do andar de cima. - desliga essa merda!

– Mas, eu... - reviro as cobertas, procurando meu celular. - Ah, fala sério. Fala. Sério.

Boa tarde, bela adormecida! Dormiu bem?

– Stolls. - resmungo. - nunca mais deixo meu celular com vocês. Nunca. Mais.

Nunca mais deixo meu celular com vocês. Nunca. Mais.– ouço Connor rir ao fundo quando Travis faz uma imitação ridícula da minha voz. - e aí, cara, estamos planejando ir pra casa do lago nesse fim de semana. Topa?

– Ahn, eu tenho... Que trabalhar... ? - é a minha melhor desculpa.

Detesto a casa do lago. Detesto, detesto, detesto... Ok, detesto a viagem. São quatro horas de carro. Ou melhor, de van. Uma van, que tem cheiro de pum, cheia de gente que não para de falar. E também tem cheiro de meia velha, afinal, é o que se espera de uma van laranja, caindo aos pedaços e comprada por 900 dólares.

Mentiroso! Sei muito bem que você só trabalha na Barnes & Noble às segundas e quartas. E eu também sei quanto você ganha, mocinho, e aposto que flertou com a gerente só pra a coitada aumentar seu salário de merda. Ou, então, você ainda faz bico naquele restaurante mexicano. Está no seu sangue, afinal. Arriba!

– Se eu fosse uma garota - digo. - teria medo de você descobrir meu ciclo menstrual. E, por favor, não quero saber se você descobriu o de alguma garota que conhecemos. Seria constrangedor.

Me sinto ofendido! – ele funga. - e não mude de assunto. Você vem, ou não? Qual é, podemos comprar algo no Taco Bell, são apenas dois quilômetros!

– Ah... Ok. Eu vou.

Ótimo! Coloque algumas roupas na mochila, toalha e não se esqueça da sunguinha e do xampu pra caspa. Estamos te esperando aqui no portão.

– EU NÃO TENHO CAS... - ele desliga na minha cara. Muito gentil, não?

Soco algumas roupas, xampu e sabonete no fundo da mochila, tentando deixar algum espaço para o caderno de desenhos e o estojo de aquarelas. Uma das únicas coisas boas da casa do lado é a vista. Em qualquer quarto, você consegue uma vista incrível da copa das árvores ou de algumas montanhas e, claro, do lago. Calmo, gigantesco e que assume cores incríveis ao pôr-do-sol.

Talvez não seja tão ruim assim passar o fim de semana lá.

Olhando pela janela, vejo Travis no telefone. Ele provavelmente está falando com mais alguém. Connor olha para mim e acena, e então se vira para outras três pessoas dentro da van. Saio do quarto e desço as escadas, em direção ao escritório da coordenadora. A Sra. Smith não tira os olhos de sua papelada.

– Boa tarde, Valdez. - diz ela, ainda sem olhar para mim. - está tudo bem?

– Tudo ótimo. - digo, me sentando em uma das poltronas. Ela dá um risinho, finalmente voltando sua atenção para mim. - e com você?

– Estou bem, obrigada. - diz, entrelaçando os dedos frágeis em cima da mesa. - está com uma mochila. Veio pegar a autorização?

Não sei como isso funciona em outros orfanatos, e nem sei se existe esse tipo de coisa nos outros orfanatos, mas aqui, se você tem 16 anos ou mais, pode assinar uma autorização e sair em excursões, viajar e tudo mais. Algo assim. Foi o que me disseram.

Com 13 anos eu quis inventar uma máquina do tempo para ter 16 anos e poder sair numa viagem e nunca mais voltar. Até hoje não me perdôo por não ter pensado em voltar no tempo e salvar a minha mãe.

Gostaria, mais que tudo, que isso fosse possível.

Demoro um tempo para perceber os papéis na minha frente. A Sra. Smith sorri, divertida. Ela é uma senhora simpática, coordena o orfanato desde que cheguei e sempre foi legal com todo mundo. Sempre que me meto em encrenca, ela está lá para me ajudar.

Ela é o mais próximo possível de uma avó para mim.

Não gosto de sair assinando coisas sem ler tudo primeiro, mesmo que já tenha lido essas normas umas três vezes. Enquanto leio, explico para a coordenadora o convite dos Stoll, falo sobre a casa do lago e sobre não curtir muito esse programa. Ela diz que é bom que eu esteja saindo com meus amigos, e até comenta sobre um restaurante de café da manhã bem legal que certamente deve existir por ali. Sorrio e rabisco minha assinatura nos lugares certos e devolvo os papéis para ela, que sorri para mim e diz que já posso ir. Ela me deseja um bom fim de semana. Eu digo o mesmo, mesmo sabendo que ela irá ficar por aqui, como sempre.

Percebo que a chuva parou assim que saio do prédio. Travis acena.

– Finalmente conseguimos te tirar daquele quarto. - diz ele, passando o braço pela janela aberta e dando um tapinha na lateral da van. - a Petúnia sentiu sua falta.

– Você não deu o nome de Petúnia pra essa van. - murmuro, incrédulo.

Ele dá de ombros, indicando o lugar do passageiro. Aceno para Rachel Dare, sentada com um garoto e duas garotas que não conheço. Noto que Annabeth está adormecida no último banco, usando a bolsa como travesseiro. Rachel acena para mim também, sorrindo. Connor se senta no primeiro banco, tagarelando com Travis. O Stoll mais velho checa uma lista de pessoas e diz para o outro calar a boca. Connor volta para o terceiro banco, dizendo que gostou do novo corte de cabelo de Rachel. Me ajeito nos bancos de estofado, totalmente desconfortável, e encaixo a mochila entre as pernas. Travis tem carteira de habilitação, mas sua hiperatividade faz a ideia de deixá-lo dirigir algo parecer loucura. Tento prestar atenção no que Travis está dizendo e ao mesmo tempo tento abrir o vidro com aquelas manivelas terríveis.

E então a vejo atravessando a rua.

Ela entra na van e diz oi para todos. E eu quase me encolho no banco. Devo dizer algo? Ou só acenar com a cabeça? Devo conversar com ela? Puxar assunto? E se ela me ignorar?

Não digo nada.

Reyna se senta no segundo banco, na janela. Discretamente ajusto o vidro retrovisor para ver o que está fazendo. Ela tira um livro da mochila e de repente nossos olhares se encontram. E é nessa hora que eu empurro o vidro de volta e começo mexer nas alças de minha mochila.

Devo estar vermelho.

O percurso até o prédio de Percy leva 15 minutos. Tento ligar o rádio, mas a coisa é tão velha que tenho medo de estragar algum botão. Connor cai no sono por alguns minutos e a van fica silenciosa. Ouço Reyna murmurar uma música, bem baixinho.

Slipping through my fingers all the time

I try to capture every minute

The feeling in it

Slipping through my fingers all the time

Do I really see what's in her mind?

Each time I think I'm close to knowing

She keeps on growing

Slipping through my fingers all the time

Não reconheço a música, mas gosto. E Reyna tem uma voz bonita. Ajeito o vidro, novamente, e noto que seus olhos estão fechados e ela está com fones de ouvido. É como se estivesse quase adormecendo.

Thalia e Jason estão com Percy, e de repente me perco em tantos assuntos diferentes. Jason cita meu nome alguma vezes e eu dou minha opinião sobre determinado assunto, mas é só. Annabeth acorda e começa a tagarelar com ele e Percy. Connor, como sempre, não para de falar. Me viro por um instante, só para observar a zona.

Uma das meninas cujo nome desconheço tem cabelos castanhos e encaracolados, olhos castanhos, beirando o sem graça. A outra é morena, a pele queimada de sol e tem aparelho nos dentes. O menino é loiro, forte, usa óculos. Eles conversam animadamente com Thalia. Rachel está falando ao telefone.

Reyna está encolhida no banco, dormindo profundamente. Quando paramos em frente a casa de Piper, o papo vai perdendo o rumo e eles começam a falar baixo.

Graças a Deus.

Piper bagunça meu cabelo ao entrar, e dá um sorrisinho ao ver Reyna dormindo, e então se senta ao lado de Percy, falando para Annabeth algo sobre fazer cachos com chapinha ou algo assim. Não entendo a língua das garotas.

Assim que Grover Underwood entra na van, partimos para a casa do lago.

– Dakota já está lá. Ele disse que ia arrumar tudo, mas não iria comprar comida. - não sei se Travis diz isso para mim ou para Grover, mas afirmo com a cabeça. - ah, cara, como eu amo os fins de semana na casa do lago!

– E temos o Valdez para fazer burritos para nós! - Grover bagunça meu cabelo e faço careta. Ele é dois anos mais velho que eu e é o melhor amigo de Percy e Annabeth. Eles se conhecem, tipo, desde sempre. Grover anda de um jeito engraçado, meio que mancando, mas sabe dançar melhor que muita gente. - e quesadillas!

– Ay, dios mio. - digo, rindo. - já disse, minhas quesadillas são um desastre! Posso fazer enchiladas, ok?

– Yeah! - todos exclamam, eu sorrio.

Trabalhei por um tempinho no Taco Bell. Os caras foram legais, e eu gosto de cozinhar. Na época, estava louco por um estojo de aquarelas da Caran d'Ache, que é, pra ser mais preciso, o Olimpo dos que gostam de desenhar. É uma fabricante suíça de materiais de escrita e artes de luxo. Simplesmente babei nas teclas do notebook quando entrei no e-bay e vi aquela maravilha por trezentos dólares.

O que era, tipo, MUITO mais que o meu salário na Barnes & Noble até o dia que a gerente me ofereceu o dobro se eu trabalhasse no lugar do Jeff nas quartas-feiras.

A B&N também é legal. Tem um Starbucks dentro, e eu tenho direito a um café. Claro que, se der sorte e a Allie estiver trabalhando no mesmo horário que eu, posso pedir dois. Bem irônico, não? Um disléxico trabalhando numa livraria. Mas, tudo o que eu faço é limpar, e nas quartas, ajudo a desencaixotar alguns volumes e subir e descer escadas carregando caixas. Livros novos chegam nesse dia da semana, e eu simplesmente amo cheiro de livro novo.

Certa vez, vi Reyna por lá. Ela estava procurando algum livro de Bukowski e o cd da trilha sonora de Mamma Mia!. Não falei com ela, é claro. Observei-a de longe, e quase tropecei no balde. Alguma criança infeliz tinha vomitado os muffins de chocolate do café, e eu era o único "cara da limpeza" por ali. Lindo.

Já é de noite. Alguns estão dormindo, outros continuam despertos, mas falando em tom baixo. Com uma olhadinha discreta, vejo que Reyna está acordada. Ela conversa, baixinho, com Grover. Eles falam sobre Roma antiga.

Caio no sono em poucos minutos. O barulho que o motor da van faz não permite que eu sonhe. E isso é bom.

Acordo depois de um tempo. As luzes da cidade já ficaram para trás e ainda estamos na estrada. Argh.

– Cara, achei que eram só cinco horas de viagem. - digo para Travis. Ele dá de ombros.

– Acidente na rodovia, meu amigo. - é o que ele diz, dando uma olhada no retrovisor. - todo mundo capotou. Acho que em uma hora ou duas já estaremos lá.

Horas depois, quando chegamos a uma cidade minúscula, Travis decide parar num mercado e comprar algumas coisas para o café. Pão, ovos, leite, frios, massa para panqueca, geléia, massa para biscoitos, garrafas de suco e um galão de água. E Kool-Aid para Dakota, porque eu sei que ele me espancaria se eu não comprasse essas coisas.

– Não acha que devíamos levar mais água? - pergunto ao pegar a carteira na mochila.

– A água de torneira da casa é potável, Leo. - ele revira os olhos. - odeio essas suas frescuras. Você não vai morrer se pegar uma gripe ou uma infecção no dedão do pé. Ou se deixar de tomar banho por um dia.

– Ah, eu posso morrer sim! - protesto, emburrado. A menina trabalhando como caixa sorri, divertida.

Levo as sacolas no colo, visto que o porta-malas está ocupado com dois violões, um saco gigante de marshmallows e algumas mochilas. Aos poucos, vejo árvores familiares surgirem, iluminada pelos faróis da van.

A casa do lago está iluminada. Travis dá um urro, resultando em alguns resmungos lá atrás.

Na primeira vez que viemos aqui, eu tinha quinze anos e só consegui vir porque Nico disse que tomaria conta de mim. E a coordenadora do orfanato simplesmente o ama, então…

Foi no Ano-Novo. Travis, Connor e mais alguns garotos compraram fogos de artifício e foram de barco até a ilha mais próxima. Lá, eles armaram tudo, e da varanda principal podíamos ver as luzes.

A casa do lago é grande e está na família dos Stoll há décadas. As paredes pintadas de azul-bebê estavam caindo aos pedaços naquela época. Nós reformamos tudo. Consertamos os canos, pintamos as paredes, limpamos os banheiros e tapamos os buracos no teto. No final, todo o esforço valera a pena.

Ela seria nossa por quanto tempo quiséssemos.

– Eu sei que você não detesta a casa, Leo. Quem chegar primeiro pega os melhores quartos! - Percy dá um tapinha nas minhas costas antes de sair correndo rumo a porta principal.

Eu corro escada acima, também, mas só depois de ajudar a trazer as coisas para a sala. O único quarto do último andar é meu, e ninguém vai tirá-lo de mim. A casa tem tantos cômodos que dá até certo medo de noite, mas Dakota acendeu todas as luzes e eu consigo ver as cortinas claras do quarto andar. A construção lembra uma pirâmide. A base é larga e vai ficando menor, e termina numa torre circular.

Era a minha torre.

Esbarro na garota de aparelho quando subo as escadas correndo. Me desculpo rapidamente, quase tropeçando no degrau seguinte. Ela diz que está tudo bem e sorri. A vejo abrir a porta de um dos quartos azuis. É um bom quarto.

Os pais do Travis e do Connor pintaram alguns quartos de azul, outros de amarelo e outros com papeis de parede legais. Eu subo mais um lance de escadas, e depois outro. E então, abro uma certa porta e subo as escadas circulares.

Abro a porta, dando de cara com uma mochila em cima da cama. Algumas roupas estão espalhadas pelo colchão, outras ainda dentro da mochila aberta. Um casaco pendurado na porta aberta do armário, sapatilhas no chão e um par de tênis largado no tapete. Ouço o barulho de um chuveiro.

Na cabeceira da cama, um livro de romance policial. Uma rajada de vento entra pela janela e faz as páginas virarem.

O desenho que fiz se liberta do livro e vem parar aos meus pés.


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