Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 16
Capítulo XV - She likes making a scene everywhere she goes


Notas iniciais do capítulo

Hey, amores platônicos da minha vida.
Ok, tô muito fofinha esses dias. Sabem por que?
PORQUE POURING RAIN TEM NOVAS RECOMENDAÇÕES!!!
Meu Deus, eu gritei. Talvez tenha gritado mentalmente, pra não assustar ninguém aqui das redondezas, mas gritei.
Mirella, Time Lady e Miss Herondale (gostaria de acrescentar que eu leio as suas fics, e amo muito, mas tenho vergonha de comentar porque lá no fundo eu sou bem tímida), eu não tenho palavras pra descrever o quão feliz fiquei lendo aquilo. Vocês fizeram o meu dia. MUITO OBRIGADA! Suas lindas. *joga cookies pra todo mundo*
Eu preciso terminar isso aqui antes que fique emotiva. Vocês me deixam muito chorosa, sabiam? Todas vocês. Suas danadas! *seca as lágrimas*
Anyway, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/333501/chapter/16

Se quiserem, apertem o play.

–x–

Eu aposto que você ainda se lembra do meu universo alternativo, aquele onde eu viria de uma grande e poderosa família de reis e rainhas e príncipes e princesas e cavaleiros e todo tipo de gente importante assim e tudo o mais, mas na verdade seria somente um sapo que nunca viria a ser príncipe. Certo?

Mesmo que eu não seja nenhum cavaleiro valente numa armadura reluzente (e isso rimou), sorrio. Reyna é como uma princesa. Tão delicada, mas ao mesmo tempo tão forte. E decidida. E me confunde bastante, para falar a verdade.

O ônibus chega. Nós nos sentamos juntos, nossos joelhos se tocando. Sua pele tocando o tecido do meu jeans. Ela veste um shorts.

Eu tenho vontade de perguntá-la sobre várias coisas. Se eu interpretei errado o que ela disse sobre nós sermos somente amigos, ou se eu respondera errado. E qual sua cor preferida, porque eu realmente não sei.

Opto pela última opção.

– Reyna… ?

– Hm? – ela desvia os olhos da janela.

– Eu… – coço a cabeça, meio sem graça. Acho que ninguém faz essa pergunta hoje em dia. – qual é… Qual é a sua cor preferida?

Ela ergue as sobrancelhas, claramente surpresa. E, então, dá um pequeno sorriso.

– Roxo. – responde. – como aquelas jujubas roxas, e não outro tom mais claro ou escuro. E nem ameixa! Eu detesto ameixas.

Eu dou risada. Nunca tinha reparado que ela tem essa obsessão por jujubas cristalizadas.

– E a sua? – pergunta Reyna, coçando o queixo. – aposto que é verde. Não. Azul!

– Laranja. – eu indico o pôr do sol do outro lado da janela. – aquele mais puxado para o vermelho, como esse aí. Eu gosto de cores quentes em geral.

Talvez, em outro universo alternativo, eu fosse algum tipo de pintor famoso. Daqueles meio malucos, super-hiper-mega apreciados e respeitados por todos. Eu seria convidado para imortalizar personalidades da época em minhas pinturas, vendendo quadros por fortunas e dando aulas na Itália ou na França. Casaria com alguma filha de um lorde poderoso, mantendo uma ardente paixão por uma musa secreta, a qual retrataria na maioria das obras. Reyna.

Nós permanecemos em silêncio o resto do percurso. Ela distraída, olhando o pôr do sol pela janela e eu, matutando sobre universos alternativos e o quão legal seria comprar algumas telas e tinta à óleo da próxima vez que passasse naquela loja de tintas perto da casa de Piper.

A loja dos Summers fica do outro lado da cidade, um pouco longe de onde o orfanato está localizado. São trinta minutos naqueles bancos de plástico do ônibus, e eu os caracterizaria como os trinta minutos mais torturantes da história dos trinta minutos, mas a presença de Reyna ameniza a tortura e torna o momento até agradável. Ou agradável demais. Bem agradável.

Formidável.

– Eu amo Outubro. – diz ela, em determinado momento. O ônibus parece silencioso, de repente. – amo o Halloween.

– Eu gosto dos doces. – digo, bem sério. Reyna segura o riso.

– Ah, Leo, não diga isso! – exclama. Ela sacode meu ombro, como se estivesse me dando uma bronca, antes de começar a falar. – Halloween não é só doces. Quer dizer, o Halloween é incrível. Você nunca parou para pensar nas origens dele?

Ela arregala os olhos para mim, aquelas obsidianas perfurando minha alma em busca de respostas. Eu suspiro.

– Se fantasiar e pedir por doces?

– Valdez! – Reyna revira os olhos. – será que você só pensa em doces? Eu vou ter que te dar um saquinho de balas de caramelo toda vez que a gente se encontrar?

– Eu prefiro as de café.

Ela me ignora.

– O Halloween, ao contrário do que todo mundo pensa, não tem lá muito a ver com bruxas. – explica. Reyna brinca com a manga do casaco antes de continuar. – basicamente, tem duas origens. A pagã e a católica. A pagã tem a ver com uma celebração celta chamada Samhain, que é a passagem de ano dos celtas. Eles acreditavam que durante o Samhain as almas dos mortos retornavam as suas casas para visitar familiares, buscar comida e se aquecerem próximos a lareira. Mas a invasão das Ilhas Britânicas pelos romanos acabou mesclando a cultura celta e a latina, e a pobre Samhain acabou minguando.

Reyna me diz que a outra origem, a católica, tinha alguma coisa a ver com o Dia de Todos os Santos e sobre como o Papa Gregório IV criou uma celebração anterior a essa, o Halloween. Ela diz, com um tom um pouco irritado, que a tradição mudou bastante ao decorrer dos tempos. Não entendi muito bem essa parte, mas fiquei com vergonha de pedir para que ela repetisse.

– Só restou uma alusão aos mortos – diz. – mas, mesmo assim, com uma ideia completamente diferente da original.

– E foi quando todo mundo começou a se fantasiar? – pergunto.

– É. – Reyna sorri. – mas eu gosto. Gosto de ver as crianças se divertindo.

– E os doces? – arrisco, segurando o riso.

Ela sacode a cabeça, revirando os olhos.

– Surgiu na Inglaterra. – responde. – muitos protestantes usavam máscaras e visitavam as casas dos católicos para exigir deles cerveja e pastéis, dizendo trick or treat? E aí pegou. A tradição chegou aos Estados Unidos por meio dos colonos, e acho que doces são muito mais gostosos que cerveja e pastel.

– Você é uma Wikipédia humana. – murmuro, erguendo as sobrancelhas.

Isso faz Reyna soltar uma gargalhada altíssima, daquelas de inclinar a cabeça para trás e depois cobrir a boca com as mãos, se inclinando para frente e tentando parar de rir.

– Sério, como consegue guardar tudo isso dentro da cabeça? – indago, tentando usar um tom sério, mas acabo rindo também. – eu não consigo nem ler uma página do livro de História sem querer bater com aquilo na minha cabeça! E o livro é bem grossinho, tá?

Ela ergue uma sobrancelha para mim, o rosto vermelho por ter rido tanto.

– Ok, eu tenho dislexia, mas é só um detalhe. – acrescento, bufando. – e, já que você não é contra esse negócio de se fantasiar... Vai ser o que?

Reyna ergue outra sobrancelhas, franzindo-as em seguida. Ela coça o queixo, os lábios formando uma linha fina.

– Não faço ideia. – responde, derrotada. – é muito tarde para construir um dos vestidos da Maria Antonieta?

– Sim. – rio. – ela era aquela... Aquela dos vestidos enormes, certo?

– Eram divinos. – seus olhos parecem brilhar por alguns segundos.

Reyna, afinal, é apaixonada por História. Em algum momento, ela revela que gostaria de cursar isso. Ou, quem sabe, Letras. Quando o assunto vai na direção de futuro, faculdades, outras cidades, eu comento qualquer coisa sobre suas meias. Faculdade me lembra Percy, e isso me deixa um pouco deprimido.

– Ah. – ela estica as pernas, revelando meias 5/8 da cor cinza, que combinam com a botinha de cadarços. Suspira. – eu não gostei. Quer dizer, eu gosto de usar as de cores diferentes. Mas é que isso não se aplica a 5/8 e... E fica tão fofinho com essas botas que eu não resisti.

Dios, as pernas. Reyna não é muito alta, a não ser quando usa saltos, o que ocorre com frequência. Com todo esse estilo único de se vestir, é normal vê-la com coturnos coloridos, saltos plataforma ou qualquer outro modelo que a faça parecer bem mais alta do que realmente é. As pernas a favorecem. Ela é toda pequenininha, fofa, miudinha, mas tem pernas longas. E, cara, vou te contar...

Valdez, tire esses pensamentos estúpidos da sua cabeça, ordeno.

O ônibus para com um solavanco, quase fazendo com que Reyna caísse em cima de mim. Nós rimos e eu a ajudo a se levantar, prevenindo que alguma tragédia acontecesse.

– Vem cá – digo, quando já estamos na calçada. – você não tem frio? Quer dizer, é inverno. E você usa saias e shorts frequentemente...

Sentindo falta do ar condicionado quentinho do ônibus, enfio as mãos no bolso do moletom. Reyna deve estar congelando.

Ela se inclina nos próprios calcanhares, observando o shorts que mal aparece, coberto por uma camiseta longa e o casaco de lã fina. E dá de ombros.

– Talvez – começa, um sorrisinho sapeca nos lábios. – esse seja o preço a se pagar para poder usar meias 5/8 sem que eu pareça uma nanica!

Quando já estou escondido debaixo dos cobertores, protegido do frio, penso em Reyna e em como nosso relacionamento (eu não tenho certeza se posso usar essa palavra) mudou desde a casa do lago. Eu raramente a via sorrir ou até mesmo gargalhar. Pra falar a verdade, eu raramente a via.

Sorrio. É como eu disse para Jason, naquele dia. Eu não desistiria tão fácil assim.

–x–

Depois de outro treino de futebol, no qual tivemos que nos habituar com o punter reserva, eu corro para o refeitório com um fôlego quase sobrenatural. Quer dizer, eu corri em volta do campo cinco vezes, de onde veio isso?

– Me dá tudo o que você tiver aí que mate a minha fome por quarenta anos. – imploro, tão rápido que quase embaralho as palavras.

A cozinheira ri, me servindo de salada verde e outras coisas que eu não consigo identificar.

– Você quer um cheeseburger também? – pergunta, já colocando o sanduíche em meu prato.

– E fritas. – murmuro, quase anestesiado pelo cheiro da comida.

Eu não pensei que futebol me deixasse com tanta fome assim. Ou talvez seja o fato de que acordei atrasado e tive que vir até aqui correndo, e sem o café da manhã.

Jason acena para mim, da mesa do time. Eu abro a boca, como se para dizer algo, mas dou a volta sem dizer nada e me dirijo até o jardim. Posso ouvir os urros irritados dos outros caras, e rio.

Ao contrário do que esperava, apenas encontro Piper sentada nas mesas de pedra do jardim. Ela remexe com um garfo, sem nenhum interesse na comida, o purê de batatas.

– Hey, Rainha da Beleza. – me sento à sua frente, fazendo-a pular de susto. – nossa, por que todo mundo tá na fossa hoje? O Jason não conseguia nem receber um passe sem que levasse uma bolada na cabeça...

Ela dá de ombros, pescando uma das minhas batatas fritas.

– Eu acho que me dei mal naquele teste de Ciências. – suspira Piper, cutucando o esmalte das unhas. – mas nada grave. Devo ter levado um C+ ou coisa assim.

– Ah, como se fosse horrível. – reviro os olhos. – não se esqueça de que você está falando com o Sr. Nota F.

Ela ri, e um sorriso surge em meus lábios. Nunca gostei de ver Piper desanimada com alguma coisa. Ela sempre foi enérgica, talvez um pouco revoltada demais com as coisas, sorridente e determinada. E um pouco falante demais, mas ok.

Como naquele dia, no primeiro dia de aula. Ela usava duas trancinhas bem feitas, uma de cada lado da cabeça, vestido amarelo e um sorriso banguela. Alguns garotos malvados gostavam de caçoar de suas tranças, e foi por isso que parou de usá-las.

– Você não devia ligar para isso. – dissera eu, oferecendo a outra metade do meu sanduíche de pasta de amendoim e geleia. – eu gosto das suas tranças. É bonitinho. É você.

E Piper não deixou de sorrir o resto do dia. Suas tranças passaram a ser sua marca registrada, assim como o cabelo repicado. E o sorriso, é claro.

De repente, ela endireita sua postura, mas se inclina para frente, como se fosse dizer algo importante.

– Ei – ergue uma sobrancelha. – o que tá rolando entre você e a Reyna?

Eu engasgo com o refrigerante, tossindo.

N-nada. – respondo. – nós somos só amigos. Por que?

– Oras – Piper dá de ombros, com um sorriso sapeca no rosto. – é que de uns tempos pra cá vocês estão tão... Amigos? Sabe, se falando. Não era assim. E Jason me disse que vocês foram tomar sorvete juntos, e você é quem tinha que me dizer isso!

Eu abro a boca para responder qualquer coisa, mas sua expressão se torna triste e as palavras somem antes mesmo que eu diga um A.

– Poxa, Leo. – e estende o braço, apertando minha mão. – nós somos melhores amigos. Você sabe que pode me contar qualquer coisa.

– E-eu...

– É claro que – e dá de ombros novamente, desviando o olhar. – se você quiser manter isso só para Jason, eu não vou me importar. Garotos...

– Piper. – murmuro, cutucando-a. Ela olha para mim novamente, a curiosidade praticamente transbordando de seus olhos. Rio.

Ela sempre soube como manipular alguém até que essa pessoa fizesse algo que ela quisesse.

– Reyna me perguntou se... – começo, baixinho. – se nós somos só amigos ou não... E eu disse que somos. Eu não quero estragar as co-

– Você é estúpido, Leo?! – Piper se ergue num salto, batendo as mãos na mesa.

– O que?!

Ela revira os olhos, erguendo as mãos ao céu. Eu permaneço em silêncio, temendo algum ataque de fúria que possa resultar em batata frita no meu cabelo e uma lata de coca cola derramada na minha roupa. Eu odiaria ter que me trocar no vestiário.

– Nenhum – diz Piper, num tom extremamente mandão. – repito, nenhum garoto deve dizer isso em hipótese alguma! Meu Deus, ela praticamente perguntou se você gosta dela, Valdez!

Eu ergo uma sobrancelha.

– Você tá falando sério? – indago.

– É lógico!

– E... E ela gosta de mim... ?

Piper se senta novamente, visto que já estava atraindo alguns olhares. Posso sentir meu rosto queimar de vergonha.

– Leo – ela se inclina, fazendo carinho na minha bochecha, como uma mãe que conforta o filho. – Leo, querido... Nenhuma garota faz essa pergunta se não sentir nada pelo cara. A menos que ela realmente queira distância de você.

– Eu voto pela última opção.

Piper balança a cabeça, visivelmente irritada comigo. Eu sou tão estúpido assim?

Antes que eu possa simplesmente pensar sobre o assunto, ela tira um saquinho do bolso do casaco.

– Falando em Reyna – diz, jogando-o para mim. – ela faltou, sabe? Deve estar doente. Ela me ligou e pediu pra te comprar isso aí.

Abro o saquinho prateado, espiando o interior.

Sorrio.

Balas de café.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Queria agradecer, também, a todo mundo que respondeu minha dúvida sobre o ensino nos Estados Unidos. Segundo fontes (eu sempre quis dizer isso), as pessoas terminam a high school com 18/19 anos. Viva o di Angelo, que mesmo assim vai continuar sendo um prodígio! Porque eu gostei dessa ideia. Queria bater um high five com ele, mas infelizmente... Não é possível.
Como sempre, ainda não respondi os reviews. Mas vou trabalhar nisso. Prometo de mindinho.
Agradecendo também ao Boys Like Girls por terem sido a trilha sonora desse capítulo (e da minha vida, por favor) e com um pouco de frio,
Bruna. x



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pouring Rain" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.