O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 33
Capítulo 32 - Uma Pessoa Solitária


Notas iniciais do capítulo

Queria dedicar esse capítulo, mesmo ele sendo triste (vai demorar um pouquinho pro capítulo feliz chegar ;n;), ao Oliver :3 Só quero dizer que simplesmente amei sua recomendação *u* Entonces obrigada de verdade :3 E desculpem a demora pra postar esse capítulo e pra terminar de responder os comentários que vocês enviaram... Eu ia responder tudo antes do ano novo, mas aí a chuva resolveu levar embora meu telhado e bem... Eu fiquei sem motivação pra qualquer coisa -n- O ano não terminou muito bem ç-ç Entonces, eu tava sem clima ;-; Peço perdão por isso. Vou parar de tagarelar aqui c_c Não se preocupem, irei responder todo mundo (incluindo você Meri Maid, seu comentário foi maravilhoso ç_ç E eu quero respondê-lo de forma digna, sei que deu trabalho escrever tudo aquilo). É, até



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O luto de uma pessoa normalmente deveria ser respeitado. Ninguém tem o direito de se intrometer em sua dor, nem de compartilhar seus pensamentos mais sombrios... mas aqui estou eu, exibindo o luto de Leharuin a vocês tal como um desenho em um quadro. Creio que eu não seja tão diferente de Lourdes, alguém que há essa altura vocês já não devem recordar. Eu me lembro... sou obrigado a lembrar.

E desviando o assunto para a pessoa que verdadeiramente importa, devo dizer que foi quase impossível fazer com que Leharuin soltasse Clara. Algo dentro do ladrão queria que o corpo dela continuasse ali. Queria que o pianista chegasse e a visse. E, em sua imaginação, ele o mataria. Porque havia a necessidade de se culpar alguém e, obviamente, o pianista era a melhor escolha.

Não irei dizer que ele estava errado. No entanto, essa informação eu mesmo darei ao ladrão, quando a ocasião chegar...

O quê? Olhe só, fazendo divagações como se essa história fosse sobre mim. Tão em breve irei aparecer... ansiedade? Deve ser.

Seus amigos conseguiram convencê-lo, por fim. Afinal, o pianista nunca voltou.

O próximo desafio foi fazer com que Leharuin participasse da reunião para decidir como enterrariam Clara. Nisso, não obtiveram sucesso. Nem ao menos conseguiram arrastá-lo. Eles acreditavam que o ladrão apenas não queria que a morte dela se tornasse definitiva. Passaram-se dois dias, mas ele ainda tinha esperanças de que, por algum milagre, ela voltasse. Da mesma forma como ocorria com Aubrey todo santo dia.

O problema, meus caros, estava em outro lugar… porque, se Clara ainda estivesse viva, estaria completando seus 19 anos de vida. Algo dentro de Leharuin não conseguia permitir que ela fosse enterrada no próprio aniversário.

Nem sempre fazemos sentido, eu ousaria dizer.

A questão foi resolvida por Liese, que sugeriu que o corpo fosse dado ao mar. Nenhum dos presentes sabia que aquela era a vontade real de Clara, exceto a princesa. O destino tem uma forma engraçada de agir... duas jovens que tudo teriam para serem rivais, tornaram-se melhores amigas.

Olhando em retrospectiva... muita coisa foi resolvida por Analiese. Incluindo o destino do nosso adorável ladrão.

Que, em seus momentos de luto, não estava tão adorável assim.

Leharuin foi levado para a casa de Henry, onde se isolou em um quarto grande o suficiente para saber uma cama. A antiga princesa que passara a morar com Lillith e Seamus após ter sido expulsa junto de Eruwin pelo pianista, decidiu que deveria passar uma temporada na casa da sereia. Ninguém a impediu, é claro. Liese parecia ser a única a quem o ladrão parecia escutar, mesmo que minimamente.

Além de Liese, Henry também visitava o quarto do amigo. Quem parecia odiar aquelas visitas, era o próprio Leharuin. Na maior parte das vezes, permanecia em silêncio, sem olhar para Henry que continuava a falar sozinho. Com o tempo ele se cansava e ia embora. Liese o perturbava frequentemente, contudo, ela nunca falara com ele. Entrava, lhe servia a comida e saia. Sempre silenciosa… ele não conseguia decidir qual dos dois lhe irritava mais.

Lembranças de quando fizera as pazes com Henry frequentemente invadiam sua mente. Não conseguia esquecer e era por isso que acreditava que o pescador jamais iria compreendê-lo. Era por isso que acreditava que suas palavras eram carregadas de falsidade.

— Henry? — sua voz era baixa e seus olhos dourados pareciam fitar o coração do jovem em pedaços. — Consegue me ouvir?

— Por que você mentiu? — De início, Leharuin não conseguiu decifrar aquelas palavras e permaneceu em silêncio, sem saber ao certo o que responder. A falta de compreensão durou pouco, pois logo Henry estava gritando a pergunta. — Por que você mentiu?!

— Porque não valia a pena lhe contar a verdade. A mente dela estava perdida e você ainda assim tentaria ajudá-la. Ela iria lhe matar se você tentasse ajudá-la. — Nem toda a cautela do mundo seria capaz de abrandar a fúria que aquele jovem pescador sentia.

— Baseado em quê? Evangeline não me mataria, você não pode provar isso, não pode provar nada! Está sempre agindo da maneira que acha melhor e sequer considera os outros a sua volta! — Leharuin conseguia entender a razão da raiva... isso não quer dizer que ele tivesse paciência para lidar com ela.

— Baseado na vez que ela tentou me matar! — Não era sua intenção gritar, mas gritou. Passou a seguir Evangeline de perto depois que que ela matou o sexto homem. Ele podia ver o progresso assustador que ela fazia. A cada morte, ficava ainda mais difícil tentar impedi-la. Seus instintos melhoravam e, no fim, ele não conseguiu pôr um fim na série de assassinatos. Nem mesmo quando ela matou um inocente... tentar salvar aquele homem quase custou sua vida. — E então ela te ameaçou e eu resolvi colocar um fim nisso. Eu fui covarde, poderia matá-la, mas deixei que ela fosse embora. Eu posso suportar seu ódio, só não queria vê-lo nesse estado.

O moreno escondeu o rosto nas mãos. Por mais que ele tentasse disfarçar, era notável que estava chorando. A Lua foi embora e o Sol chegou, porém nenhum dos dois conseguiu dormir naquela noite. Tudo o que podiam ouvir eram os roncos recorrentes do hóspede do quarto ao lado.

— E então? — perguntou Henry, findando o silêncio. — Como vamos dar a volta no nosso rei?

— Seu rei, você quis dizer. Eu sou um homem livre. — Os dois riram e Leharuin sentiu que, finalmente, depois de tantos anos... Henry o havia perdoado.

No entanto, aquilo ocorrera havia meses e nosso ladrão estava tão cego que sequer notara que seu melhor amigo não possuía mais um braço. Ou talvez fosse porque seu olhar estava compenetrado em um único ponto isolado da sala. Poderia até ser uma mistura de ambas as coisas.

O pescador já estava indo embora, quando Leharuin finalmente decidiu quebrar seu silêncio.

— Já me cansei de suas palavras falsas, Henry. Não precisa se forçar a vir aqui. Nem você, nem Analiese. — As grossas sobrancelhas do outro se estreitaram. Que tipo de postura deveria assumir naquela situação? Suspirou e resolveu sair em silêncio, temia piorar a situação. De algum modo, sua mente sabia que seu amor por Evangeline perdia de longe pro amor que Leharuin sentia por Clara.

A situação com Liese era um pouco mais complicada. Ela continuava vindo, mesmo que Leharuin fizesse comentários detestáveis sobre como uma princesa não deveria suportar entrar em um quarto imundo. Parecia ser impossível fazer com que ela desistisse dele. Parecia ser impossível fazer com que ela falasse com ele.

— Sabe... de todas as pessoas que eu achei que me consolariam, você era a primeira da lista. Por causa do seu jeitinho... de querer ajudar todo mundo. — As palavras que ela ouvia eram como espinhos e ela sempre conseguiu lidar com a dor em silêncio. Porém, naquela vez, ela julgou que deveria finalmente falar com Leharuin.

— Não sou tão transparente como você acredita, não é? — deu um sorriso breve, mas carregado de tristeza. — Minha maior vontade era te consolar, mas eu lembrei da morte da minha mãe. Naquela época, qualquer consolo me parecia falso... pensei que não deveria ser diferente com você.

Pela primeira vez em semanas, Leharuin olhou para os olhos de alguém.

— Eu não... — A frase morreu em sua boca. O que ele queria dizer? Nem o próprio sabia. A princesa, no entanto, pareceu ter uma ideia.

— Não sabia. Clara foi minha primeira amiga, isso sem contar a minha mãe, evidentemente. Também compartilho um pedaço da sua dor. — Os olhos dourados fugiram. Ela não conhecia Clara do mesmo modo que ele. — Você não consegue ver agora, mas também sofro por ela. Minha dor não pode ser comparada com a sua... acho que cada dor é única e terrível ao seu modo.

Toda a raiva e ódio estavam indo embora pacificamente, o que o ladrão via como uma ironia. Não bateram o pé, nem fizeram pirraça. Apenas aceitaram que já não havia um espaço para eles naquele corpo e foram embora. O que sobrou foi o vazio, um imenso buraco em seu coração que antes era preenchido por Clara e os sonhos que ambos partilhavam.

— Liese... — Ele conseguiu sentir o susto que ela levou ao ser abraçada repentinamente. Porém, o corpo da princesa verdadeiramente gelou quando Leharuin começou a beijar seu pescoço. Queria algo que o aquecesse, algo que levasse aquele vazio embora. Não se importava se a raiva voltasse, desde que ela conseguisse preenchê-lo.

A jovem permaneceu paralisada, seu corpo se recusava a lhe obedecer. Podia sentir o desespero dos lábios do ladrão, podia sentir a força das mãos dele ao apertar sua cintura e quando uma delas subiu até seus cachos. Ele iria beijá-la nos lábios e se ele fizesse isso, estaria perdida.

O problema foi que sua mão voltou a descer, parou na alça de seu vestido...

Ah, então era isso.

Liese o empurrou quando ele arriou a alça e tornou quase que imediatamente a erguê-la. Não iria permitir que ele a envergonhasse daquela forma. A dor dele era grande e insuportável, porém não dava a ele o direito de fazer aquilo. Quantas vezes ela havia lutado contra as lágrimas naquela semana?

Ele ficou um pouco desnorteado por alguns instantes, tentou novamente se aproximar dela, no entanto tudo o que recebeu foi um tapa no rosto.

Naquele quarto pequeno, o estalo soou como um chicote.

Leharuin não viu quando a princesa saiu do quarto, muito menos viu o jeito como ela desabou no corredor e finalmente perdeu a batalha contra o choro reprimido. Não. O ladrão comeu a refeição que sua melhor amiga trouxe e se recolheu em sua cama. O vazio havia aumentado e aquele buraco em seu peito atraiu outro sentimento parasita: a vergonha.

Uma vez mais, o ladrão chorou. Não como na primeira vez, esse era silencioso, contido... o choro de uma pessoa solitária.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro, já sabem. MP ou avisem por review mesmo XD O que se sentirem mais confortáveis =3 Espero que tenham gostado do capítulo >—>