Recomeçar escrita por LoaEstivallet


Capítulo 4
Seguindo em frente


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todas as leitoras queridas pelos reviews... Adooro ler a opinião de vocês...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/333305/chapter/4


A clínica finalmente estava pronta.


Depois de oito meses se dedicando exclusivamente ao seu projeto, Edward a observava de fora, satisfeito.


O prédio largo, de dois andares espaçosos, muito bem localizado em uma das mais movimentadas avenidas de Boston, era discreto, mas tinha seu charme, sua elegante imponência. Sua mãe era mesmo uma magnífica arquiteta.



A inauguração seria dali a dois dias, na segunda-feira. Ele estava empolgado. E pela primeira vez em dois anos, sentia-se verdadeiramente feliz.


Não se sentia completo, obvio que não. Bella não estaria ao seu lado. E seria ainda mais doloroso vê-la ao lado do seu namorado durante a festa, mas era melhor isso, do que não tê-la por perto num dia tão importante.



Olhou o relógio. Quase cinco da tarde. Precisava se apressar para a casa da ex-esposa, pegar o Tony.


O menino, agora com um ano e três meses, passaria o final de semana com o pai, como fazia a cada quinze dias. E Edward sempre ficava ansioso por esse momento com o filho. Era um dos poucos períodos em que se sentia em paz.



Entrou no Volvo e acelerou. Doze minutos depois estava na porta do apartamento de Bella.


Para seu completo desagrado, Patrick abriu a porta.



– Boa tarde. – Edward cumprimentou secamente, entrando em seguida.


– Boa. – Patrick falou com sua cordialidade inabalável – Bella está no banho, mas o Tony já está pronto. Vou chama-lo.



Seguiu para o corredor pensativo. Ele conseguia entender a antipatia de Edward por ele, sabia de toda a história já que Bella fez questão de contar, e por isso evitava ser inconveniente ou provocador. Por vezes tentou iniciar um diálogo, para que ao menos tivessem alguma empatia, mas o ex-marido de sua namorada deixava clara a sua posição. Para Edward, ele era o inimigo.


Patrick não sentia assim, afinal não estava disputando nada, Bella era sua agora. E em breve a situação entre eles ficaria mais séria.


Tentou imaginar a reação de Edward. Com certeza não seria nada fácil.



Edward esperou apenas dois minutos. Pensou que veria seu filho vir correndo animado para seus braços, mas para sua surpresa, e completo desagrado, o tal do pediatra já estava querendo tomar seu lugar na vida do Anthony também.


Ver o filho no colo do rival, sorrindo e confortavelmente abraçado a ele, fez seu estômago revirar com angústia e raiva. Conteve a muito custo todos os impropérios que desejou despejar na cara deslavada do namoradinho de Bella.



– Papa! – O pequeno balbuciou, estirando os bracinhos em direção ao pai.


Edward o pegou e abraçou com saudade.


– Oi moleque! Vamos pra casa do papai? A gente vai se divertir à beça. – Falou com o menino, os olhos brilhando. – Avise a Bella que eu já o peguei, por favor. – Disse a Patrick sem encara-lo, a raiva ainda fervendo em suas veias, enquanto se encaminhava para a porta.


– Espere Edward. Bella precisa conversar com você. – Patrick disse cauteloso – Ela pediu que a esperasse sair do banho.



Edward estranhou a urgência na voz de Patrick. Bella sempre conversava as coisas relacionadas a Anthony pelo telefone caso não se encontrassem. E ainda que estivesse há dois anos e dois meses separado dela, conhecia-a muito bem. Se ela queria falar pessoalmente, o assunto era sério.


Sentiu uma náusea inoportuna. Alguma coisa lhe dizia que não iria apreciar a conversa que Bella queria ter com ele.




Edward ficou brincando com o pequeno até que a silhueta curvilínea de sua ex-mulher o deslumbrou.


Bela estava cada dia mais encantadora.


Ela se aproximou de Patrick, ignorando o olhar indecente que o ex-marido lhe dirigia, e beijou-o nos lábios delicadamente.


Edward arfou baixo, sentindo uma dor tremenda no peito, e desviou o olhar. Ainda pode ouvir o sussurro de Bella para o namorado.



– Você leva o Tony? É melhor que estejamos sozinhos.



Patrick assentiu e caminhou até o menino, pegando-o no colo e lavando-o para a sala de TV, enquanto Edward, confuso, sentia-se ainda mais oprimido.



– Oi. – Ela falou, sentando-se ao seu lado no sofá.


– Oi. – Ele respondeu sem conseguir esconder a tensão – O que está havendo? Porque precisa falar pessoalmente comigo? É algo grave, não é? Tem algum problema com o Tony? – Ele questionou em disparada, nervoso.



Bela suspirou.


Ela sabia o quanto seria difícil para ele. Por isso preferiu, antes de comunicar a qualquer outra pessoa, deixa-lo ciente de sua decisão recente.


Não queria causar-lhe mais essa dor, mas era preciso. Suas vidas precisavam seguir em frente. Ela precisava ir em frente. Aquele era o passo mais coerente com sua necessidade de esquecer o ex-marido.


Sim. Esquecer. Porque mesmo com Patrick, mesmo estando bem ao lado dele há dez meses, não era a mesma coisa. Dia e noite seu coração clamava por Edward, mesmo quando estava nos braços do namorado. Ela se continha o tempo inteiro, às vezes chorava escondida no banheiro, bem baixinho, com saudades. Mas tinha a certeza de que não conseguiria voltar para ele. O relacionamento seria um inferno se reatassem, não havia mais confiança, ela se sentiria insegura e o cobraria em excesso, inviabilizando a felicidade deles.


Por isso, dois dias atrás, havia aceitado o pedido de Patrick.



– Edward, eu ... Eu... – Ela gaguejou, buscando uma forma menos abrupta de dizer aquilo.



Mas a verdade é que não havia outra maneira de falar, nenhuma que evitasse a mágoa que ela veria nos olhos de absinto do homem de sua vida.


Passou a mão nos cabelos molhados, como que para afastar a agonia que sentia naquele momento.



E então Edward viu.



A delicada água-marinha, que adornava o solitário discreto que ela carregava no dedo anular esquerdo, cintilou, paralisando Edward de imediato.


Ele arfou audivelmente desta vez, evidenciando à Bella a sua percepção.


Bella abriu a boca para explicar, mas ele foi mais rápido.



– Não! – Arquejou em desespero – Não, isso não é verdade! Bela me diga que não é o que estou pensando!



Ela o encarou num misto de nervosismo, medo e compaixão. Tentou tocar suas mãos, num gesto involuntário de ternura, mas ele se afastou abruptamente, levantando-se e caminhando para a janela.


Edward sabia, pelo olhar de Bella, que era sim verdade. Ela estava noiva. Iria se casar.



Seu coração afundou no peito, enquanto a garganta fechava anunciando o choro iminente. Ele tentou conter, mas as lágrimas já deslizavam por sua face sem sua permissão.



Bella ouviu o soluço baixo enquanto encarava as costas do ex-marido, que tinha uma mão na cintura e outra na testa, como se precisasse de apoio para se sustentar de pé. Seguiu até ele, parando a poucos centímetros de seu corpo.



– Edward... – Sussurrou em aflição – Eu preciso seguir com minha vida... Como você deveria estar seguindo com a sua.



Ele se virou, o rosto banhado, e a encarou com tristeza.



– É isso mesmo que quer? Que eu continue, que siga em frente? O que sentiria se soubesse que vou me casar com outra mulher Bella? – Perguntou atormentado.


– Eu sentiria o mesmo que senti quando o vi com outra em nossa casa... – Sua voz era baixa e suave, mas cortou Edward por dentro – Você não vê? Não existe esperança pra nós dois. Acabou, Edward. E acabou há tanto tempo... Eu preciso, eu quero continuar a viver... Porque não consegue ir adiante e me deixar seguir também?


– Não é óbvio? – Ele questionou ironicamente – Eu amo você. E você. Não posso seguir sozinho ou com outra mulher. Não dá!


– Porque não pensou nisso antes de me trair? Porque não cuidou do que tínhamos Edward? – Bella replicou em desespero – Você destruiu o nosso amor! Destruiu a história linda que tínhamos! Não restou nada. Nada!



Edward sacudiu a cabeça em desacordo e a segurou pelos braços com cuidado.



– Olhe pra mim Bella, e diga que não me ama mais... Diga que não sente coisa alguma por mim, que tudo que existia entre nós realmente acabou pra você... E eu sigo... Eu sigo com minha vida. Mas eu quero ouvir você dizer isso me olhando nos olhos. Eu preciso ter certeza.



A voz torturada e as palavras claramente desesperadas dele a fizeram sobressaltar. Se ela dissesse aquilo, estaria mentindo. E Edward a conhecia o suficiente para ler a hesitação em seu olhar. Precisava ser forte, precisava fingir, fingir como nunca antes fizera. Precisava fazê-lo acreditar na mentira para que ambos se libertassem.



Olhou o chão, tomando fôlego, buscando dentro de si as lembranças amargas para lhe sustentar a melhor cara de indiferença que poderia interpretar. Contava também com o fato de que Edward estava fragilizado com toda aquela situação, que já se arrastava há tanto tempo. Quando o encarou, sentia a frieza em seus olhos, e notou o assombro dele em reação.



– Eu amo o Patrick. – Falou categórica, destroçando seu próprio coração – O amor que eu senti por você acabou no dia em que o vi me traindo. Não existe nada além de consideração entre nós. Consideração por termos um filho. E é só isso.



Bella sentiu um gosto amargo na boca ao terminar de falar e constatar o resultado no rosto distorcido de Edward.



Ele nem respirava. A olhava de olhos arregalados, incrédulo. Não encontrou um traço sequer de dúvida naquele mar castanho. Não podia crer que todo esse tempo teve esperanças. Fiou-se na certeza de que Bella não queria ceder por orgulho, por mágoa, mas não por ter deixado de ama-lo.



As mãos que a seguravam caíram flácidas ao lado do corpo.



– Sim... – Ele sussurrou apático – É só isso...



Subitamente, para surpresa de Bella, Edward a abraçou com força, afundando o rosto em seus cabelos molhados.


Automaticamente os braços dela o rodearam, fazendo com que ela sentisse a familiaridade daquele contato, e a falta que sentia dele.



– Eu te amo, Bella... Amo pra sempre... Me perdoe pelo que fiz a você... A nós dois... – Se afastou lentamente, segurando seu rosto – Eu vou deixar você ser feliz agora.



E dito isso se afastou, ainda olhando o rosto delicado dela.



– Por favor, dê alguma explicação ao Tony... Eu não vou leva-lo, não hoje. Não tenho condições. Me desculpe por isso. Compensarei outro dia, prometo.


– Edward... – Bella tentou.


– Não. – Ele a interrompeu – Por favor, não diga mais nada. Eu preciso ir.


E observando-o apressar-se pela porta afora, Bella permitiu que o pranto fosse libertado. Nem percebeu quando Patrick chegou à sala e a tomou nos braços, confortando-a compreensivo, enquanto ela extravasava a dor da perda.





*******************************************************************************









Edward entrou feito um furacão em seu apartamento recém-comprado.


As lágrimas não paravam de fluir, profusas.


Ele sempre soube, desde aquele maldito dia há mais de dois anos, que sua chance de ter Bella de volta era ínfima. Mas se agarrou a ela com sofreguidão.


Agora, em meio à certeza de que ela estava perdida para sempre, a dor era insuportável. Não conseguia respirar, pensar... Viver.



Sentou no chão e afundou a cabeça entre os joelhos.


Seu coração disparado quase perfurava seu peito. Sua dor seria capaz de fazê-lo implodir e morrer sem qualquer esforço.



Morrer.


Era isso.


Nada mais faria sentido sem Bella.



Antes ele ainda podia sonhar com o dia em que ela permitiria que ele se reaproximasse. Mas agora... Tudo estava terminado. Ela seria de outro, definitivamente. Ela amava o outro! Não havia esperança.



Edward levantou-se trôpego e caminhou pelo corredor silencioso até o banheiro. Abriu uma das gavetas do pequeno armário de pia e pegou a navalha afiada que usava para fazer a barba.


Nem raciocinou. Apenas atravessou a pele em linha reta com a lâmina, na altura do pulso, e se encarou no espelho.


O desespero era tamanho que nem sentiu a dor aguda do corte. Apenas o calor molhado do líquido que escorria o fez notar que sua ação era de uma única via. Viagem sem volta.



Viu seus olhos aumentarem no reflexo frio, as pupilas dilatarem ao ponto de quase sobressair sobre o tom verde da íris.


Sua mente divagou por entre os anos doces de seu casamento feliz com a mulher de sua vida. O pensamento girou num torvelinho de memórias delicadas do rosto puro de Bella, sua pele clara, seu sorriso sutil e iluminado. O som contagiante de sua risada musical.



De repente a imagem do rosto indiferente, os olhos castanhos tão distantes, tomou lugar. E sua consciência, quase perdida, alertou-o.


Enxergou o líquido carmim cobrindo parte do mármore brilhoso do balcão.


Ele sabia, sendo o médico dedicado e estudado que era, que agonizaria por horas.


Não teve dúvidas. Nem hesitou. Riscou profundamente o outro pulso, desta vez saboreando a agonia lenta que o ferimento causava, arrepiando-se com o som abafado e cruel que o metal produzia ao rasgar a carne.


Sentou no chão gélido, sentindo a cabeça pulsar intensamente. Uma tontura desenfreada dominou seus sentidos, vagarosamente o sugando para uma escuridão mórbida.



Apenas segundos antes de apagar ele teve o pensamento que o salvaria.



Anthony.



Era uma razão muito forte para que ele não fizesse aquilo. Mas já era tarde demais para pedir socorro. Não tinha mais forças para, sequer, sacar o celular do bolso da calça.


Pensou em Alice.


Ela era o que se podia chamar de sensitiva. Sempre, nos momentos mais críticos de sua vida, ele praticamente não precisava falar. Ela meio que sentia o que estava acontecendo.


Forçou-se a pensar na baixinha, chamando-a.


Mas antes de suas pálpebras cerrarem, foi o rosto de Bella que ele viu, e foi para ela que pediu ajuda em silêncio.








******************************************************************************






Isabella despertou do torpor de seu pranto num movimento súbito.


Seu coração não se enganaria. Edward estava pedindo ajuda. De alguma forma ela tinha certeza disto.


Não deu explicação a Patrick, que a observava confuso e surpreso. Apenas correu para o telefone e discou o número conhecido.


Nada.


Chamava até cair na caixa postal.


Seu coração estava apertado de uma maneira angustiante. Ela tinha certeza de que alguma coisa errada e muito grave estava acontecendo.


Ligou para Alice.



– Oi Bellita! – A voz sonoramente delicada soou do outro lado da linha.


– Al, o sabe do Edward? Falou com ele por agora? – A voz de Bella era aflita.



Alice do outro lado se empertigou. Todos os seus sentidos se aguçaram, sua intuição lhe alertando que algo não estava bem.



– Não... – Sussurrou – Eu não falo com ele desde ontem. O que aconteceu?



Bella engoliu em seco, seu nervosismo crescente.



– Eu não posso te explicar agora, mas acho que Edward precisa de você. Pode, por favor, verificar se ele está bem e me dar noticias?


– Sim. Farei isso. Fique calma, está bem? Eu vou procura-lo imediatamente.




Depois de desligar o telefone, ainda com o olhar desfocado, Alice pegou as chaves do carro e a bolsa, seguindo para a garagem apressada.


Seu coração lhe dizia que precisava correr, ou não chegaria a tempo.


A tempo de quê, meu Deus? Indagou a si mesma consternada.


E correu. Acelerou o carro pelas ruas já escuras de Boston em plena agonia. Certa de que aquela seria uma noite muito, muito difícil.


Oito minutos e subia o elevador do prédio luxuoso em que Edward havia fixado sua nova moradia. As mãos tremiam e suavam enquanto ela apertava o celular contra o ouvido apenas para ouvir pela décima nona vez o sinal de desligado.


Tocou a campainha assim que alcançou a porta.


Nada.


Bateu desesperada, alternando toques na buzina e murros na madeira pesada. E continuava sem resposta.


Lembrou-se da chave em sua bolsa. Havia ficado com a cópia para guiar a reforma e mudança. Remexeu impaciente até encontrar o pequeno objeto metálico, enfiando-o na fechadura de qualquer jeito e correndo para dentro do imóvel.



– Edward? – Chamou.

Não obteve resposta.


– Edward! Está em casa? – Tentou mais uma vez enquanto caminhava pela penumbra que cobria os cômodos.


Seus passos vacilantes a levaram até o quarto de seu irmão, e de lá à sua suíte.



– Edward? – Sussurrou hesitante.



O silêncio a atravessou como uma lança quando, ligando um abajur no caminho, vislumbrou uma mão extremamente branca largada no chão, imóvel, na porta do banheiro.



– Por favor, Deus... – Murmurou para si mesma – Não...



E arfou ao ligar a luz do pequeno cômodo e encontrar seu irmão desfalecido, jogado contra a parede de azulejos, manchado do próprio sangue que cobria sua calça, a pia, o chão.



– Edward! Edward por favor! Edward acorda! – Gritou em pânico.


Mas ele não respondia ou tinha qualquer reação.

Procurou verificar se ainda respirava.


O ar saía e entrava fraco demais em seu peito, movendo-o quase que imperceptivelmente.


Discou o número do pai no aparelho que ainda estava em sua mão, pedindo ajuda.







*******************************************************************************







– Allie, por favor!


– Não, Edward! Não vou te ajudar a sair e ponto! Você quase morreu! Se eu tivesse chegado um minuto depois... – Colocou a mão na testa em sinal de angústia – Nem quero pensar...


– Mas eu não aguento mais ficar aqui! Já estou bem... Porque o papai não me dá alta?


– Você ainda pergunta? Você tentou se matar! Ele está aterrorizado! E mamãe disse que você só sai daqui se for pra casa deles.



Edward amarrou a cara numa expressão de desagrado. Já estava ali há uma semana. Estava arrependido do que fez, não tinha intenção alguma de repetir o ato impensado, e repetia isso frequentemente para o psicólogo que o acompanhava, mas nada era suficiente para convencer a família.



– Tudo bem... – Desistiu – Como vão as coisas? A mídia ficou muito afoita por causa do adiamento da inauguração?


– Não. Eu cuidei de tudo. Assim que você sair daqui nós planejaremos uma festa ainda melhor, você vai ver.



Edward ficou em silêncio por alguns minutos, tomando coragem para perguntar.



– E a... E a Bella? Você não contou a ela, não é?


– Eu fiz como me pediu e encobri sua loucura. – Alice respondeu contrariada – Inventei uma viagem pra você. Disse que você estava muito infeliz e precisava sair um pouco da cidade. Para todos os efeitos você está na casa de campo. Não só para ela como para todos os amigos e conhecidos.


– Obrigado Alice. – Ele expirou aliviado – Eu só não queria que ela soubesse... Ou o Tony.


– Eu sei meu irmão. Não se preocupe com isso. Só a família sabe.


– E ela... Ela tem perguntado por mim?


– Edward... – Alice suspirou, compadecida pela aflição do irmão – Esqueça Bella. Eu sei o quanto ainda deve doer, mas você precisa superar isto. Ela está seguindo com a vida dela, enquanto você... Olha só o que você fez Edward! No que você pensou, hã? Não lembrou de mim ou do papai e da mamãe? Não considerou o que o Tony sentiria se perdesse o pai?



Edward baixou o olhar ao chão, constrangido.



– Não... Não pensei em nada. Só em acabar com a dor que eu sentia... Que era insuportável. – Sua voz soou afligida.


– Olha Ed, eu entendo o quanto deve estar sendo difícil aceitar que Bella agora tem uma vida além de você... Eu imagino que a dor que sente é gigantesca, não tendo mais esperanças de reatar seu casamento... Mas foi você que provocou tudo isto. Seja o homem adulto que é, assuma seus erros e a consequência deles, e siga em frente, assim como ela está tentando fazer. É melhor assim.


– Eu sei... Você tem razão. Mas Bella é minha vida, Alice. Como alguém pode viver sem sua vida?


– Não seja tão dramático...


– Não estou sendo! Você esteve lá todos esses anos! Você sabe!


Alice baixou a guarda, assumindo que as palavras do irmão eram verdadeiras em sua essência.


– Eu sinto muito... Sinto mesmo. Mas não tem outro jeito. Você precisa ser forte. Por mim, pela nossa família e principalmente por seu filho. Vai ter que aprender a lidar com sua dor, ou seguir de alguma forma que lhe permita o mínimo de paz.



Edward apenas assentiu em silêncio, certo de que a irmã estava, como sempre, coberta de razão.






*******************************************************************************








Vinte dias depois de sua alta, e apenas dois dias depois de retornar da casa de seus pais para o seu apartamento, Edward entrava no escritório de sua irmã para acertar detalhes da campanha publicitária de sua clínica, que finalmente seria inaugurada dali a dois dias.


Não se surpreendeu ao encontrar Bella ali, checando junto com Alice os portfólios, mas seu coração deu um salto, quase saindo pela boca, ao deslumbrar-se com a beleza da ex-mulher e sentir a saudade dela o engolir.



Bella fingiu indiferença ao nota-lo, mas o peito quase explodiu de satisfação. Quase um mês sem vê-lo ou falar com ele, apenas tendo noticias por Alice, causaram uma angústia sem tamanho, que era sanada naquele exato momento, enquanto ele caminhava devagar e elegante pelo cômodo, esbanjando seu charme natural.



– Boa tarde. – Ele disse com sua voz mais impassível, tentando sorrir, seus olhos em Bella.


– Boa. – Alice respondeu séria, sentindo a tensão cingir o ambiente, enquanto Bella apenas meneou a cabeça, tentando desviar o olhar.






– Então está tudo acertado. – Alice finalizou quarenta minutos depois – Vou entregar à Karen para ela providenciar a inserção.


E dizendo isso pediu licença e retirou-se da sala.



Edward levantou-se de súbito ao notar-se sozinho com Bella. O nervosismo que aquela situação lhe causava era desconfortável.

Caminhou em direção à porta.


Antes que ele esboçasse sua despedida, Bella o interpelou.



– Edward.



Ele respirou fundo antes de se virar, as mãos tremendo levemente.



– Sim?


– Como você está? – Bella perguntou, imediatamente se sentindo uma estúpida.



Edward sorriu, tentando manter o ar irônico do gesto para si mesmo.


Se perguntou o quanto ela realmente se importava, se aquela pergunta não era nada mais que mera cortesia depois de tanto tempo de ausência.



– Eu estou... Bem, Bella. – Mentiu – Tentando seguir em frente, como você me aconselhou.



Ele não notou, mas ela captou o tom amargo de sua afirmação, que não a convencera. Ela sabia, pelo brilho torturado de seus olhos, que ele ainda sofria, e apesar de saber que ele merecia aquilo por tudo que fizera a ela, sentia-se culpada e infeliz por provocar-lhe dor.



– O Tony tem sentido muito a sua falta. – Ela procurou contemporizar.


– Eu sei. – Edward replicou, dessa vez sorrindo com sincera alegria – Ele me cobra uma visita todos os dia quando ligo. Eu iria falar com você sobre isso hoje de qualquer forma. Gostaria de passar uns tempos com ele, pra compensar essas semanas que fiquei fora.


– Tudo bem. Quanto tempo? Alguns dias, semanas...


– Eu adoraria ter meu filho por um mês inteiro... – Ele arriscou – Se você não se importar.


– Sem problemas. Mas eu poderei vê-lo, sim?


– Claro que sim, à hora que desejar. Passo para pega-lo à noite?


– Oito horas.



Ambos sorriram. Fazia tempo que não tinham um diálogo leve como aquele, ou se entendiam com tamanha facilidade.



Edward suspirou, compelido a sair antes que aquela serenidade fosse quebrada.



– Obrigado Bella. – Falou, já se virando para a porta.



Ela nada disse. Apenas o observou partir, controlando a tristeza que sua ausência suscitava.







*******************************************************************************








A noite estava especialmente estrelada. Parecia até que Alice tinha contratado o brilho delas para engrandecer o glamour da festa. O que até era possível em se tratando dela.


Edward as observava extasiado. Aquela noite era o ponto de partida para sua nova vida. Ele desejava ser forte o suficiente para começar a viver, realmente viver, sua vida sem Bella a partir daquele dia.


Observou a área gramada em frente à clínica, sorrindo por ter conseguido o feito.


Voltou o olhar para o portão de entrada, imediatamente surpreendendo-se ao visualizar a chegada dela.



Linda como sempre, trajava elegante vestido de seda azul anil, o caimento perfeito delineando as curvas de seu corpo. O cabelo preso no alto, a maquiagem leve, o sorriso sereno. Ele sentiu que poderia passar o resto da existência observando aquele anjo se mover com graciosidade até ele.



Sorriu deslumbrado.



Ela sorriu de volta, um sorriso mais pronunciado, tão deslumbrada quanto ele, com a alinhada postura daquele que nunca deixaria de ser seu único amor.



O sorriso de Edward, assim como o brilho de satisfação em seu olhar, esmoreceu ao finalmente detectar a presença de Patrick ao lado de Bella, a mão posicionada possessivamente em sua cintura.



– Boa noite. – Ele disse repentinamente sério – Obrigado por terem vindo.



Isabella sentiu o tom levemente rude nas poucas palavras do ex-marido, mas não se deixou abater.



– Parabéns, Edward. – Falou com suavidade – Estou muito feliz por ter finalmente realizado seu sonho.



Ele acenou com a cabeça, a expressão falsamente amistosa encobrindo seu desagrado. Apertou a mão de Patrick contrariado, por pura educação, enquanto este o congratulava com sincera cortesia, aceitando em seguida um abraço fraco e distante de Bella, sentindo seu coração saltar ansioso com o toque tão desinteressado.




A noite estava sendo surpreendentemente agradável.


Apesar do descontentamento pela presença do noivo de Bella, Edward estava se sentindo confortável em si mesmo, distribuindo sorrisos e simpatia aos convidados.


Alice, feliz pela postura do irmão, resolveu que já era hora de agir.


Há dias ela tivera aquela idéia. E felizmente tivera tempo de convidar uma antiga amiga de faculdade, que sempre tivera uma queda por Edward.


Ela não pretendia de forma alguma arranjar um namoro para ele, apenas queria incentiva-lo a olhar para outras mulheres, para, quem sabe num futuro próximo, arriscar-se num novo relacionamento.



– Edward... – Pressionou o braço do irmão que conversava animadamente com um médico – Eu posso falar com você um minuto?



Edward pediu licença ao colega, seguindo com a irmã para o bar.



– O que há? – Ele perguntou animado e distraído.


– Eu quero te apresentar alguém...



Edward sorriu, reconhecendo o tom de Alice.



– Não me diga que agora vai ficar me arranjando encontros com suas amigas... – Falou com o tom divertido.


– E se for? – Ela o desafiou – Algum problema nisso?



Edward parou e riu, pensando: Por que não?



– Não... – Sacudiu a cabeça levemente – Problema nenhum.



Alice o arrastou pela mão, contente, até uma moça ruiva, alta e muito bonita que bebericava um gin, enquanto conversava com Jasper.



– Kate – Alice chamou, ignorando a surpresa de Edward ao deparar-se com as safiras que o encaravam – Lembra-se do Edward, meu irmão?



A moça sorriu hipnotizada, ruborizando ao contato da mão quente que Edward lhe ofereceu em cumprimento.



– Prazer. – Ela murmurou com a voz suave.


– Prazer. – Edward respondeu, encantado com a beleza e delicadeza da moça, não deixando de assumir que o fato dela reagir de uma maneira tão... Familiar ao seu toque, o cativava ainda mais.



Ao longe, um par de olhos castanhos os observava com discreto pesar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até sábado!