Recomeçar escrita por LoaEstivallet


Capítulo 3
Novos Rumos


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Mandy pela recomendação! Vejo vocês lá em baixo...



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Bella estava um pouco apreensiva enquanto aguardava por seu atendimento.

Doutora Linewell, que fora pediatra de Anthony durante seus primeiros cinco meses, havia se mudado para Nova York, transferindo seus pacientes para um amigo de longa data a quem confiava, o Doutor Dempsey.

Não que ela desacreditasse do bom senso da doutora, ou mesmo da credibilidade do médico que iria atender seu filho, mas ultimamente ela estava meio relutante com grandes mudanças, traumatizada ainda pelo fim de seu casamento.

A secretária anunciou a sua vez, e ela levantou-se da elegante poltrona com o Tony no colo, que ressonava tranquilo.

– Com licença. – Falou ao entrar, quase paralisando ao pôr os olhos no médico.

Ela esperava encontrar um senhor de uma certa idade, gordinho, baixinho e careca, com um sorriso complacente e olhos ternos.

Mas o homem à sua frente era jovem. Não teria mais que trinta e cinco anos. E sua expressão séria não abalava sua beleza clássica, e muito, muito máscula.

Ele era alto, ela podia dizer mesmo ele estando sentado, e forte. Seus traços marcantes eram emoldurados por cabelos espessos e negros, que contrastavam com os olhos azuis.

Meu Deus! Eu estou mesmo a perigo como Alice diz! Me sentindo atraída pelo pediatra?! Pensou alarmada.

– Bom dia, senhora... – Ele olhou a ficha em suas mãos, identificando o sobrenome do menino – Cullen.

Bella estremeceu, tanto pela voz absurdamente envolvente, quanto pela menção de seu antigo sobrenome, e sentando-se esclareceu logo as coisas.

Senhorita Swan. – Enfatizou a primeira palavra – Mas pode me chamar apenas de Bella, doutor Dempsey.

O homem sorriu.

E que sorriso! Bella engoliu com certa dificuldade, sentindo seu rosto corar.

Mas que diabos estava acontecendo?

– Então me chame de Patrick, Bella. – Ele falou simpático – Me desculpe o engano, mas, olhei o sobrenome de seu filho e deduzi que...

– Tudo bem – Bella o interrompeu com um sorriso – É o sobrenome do pai.

Ele a olhou com curiosidade mal disfarçada.

– Não são casados? – E se interrompendo logo em seguida – Me desculpe a indiscrição.

– Oh, não! Está tudo bem. Fomos casados. Mas nos divorciamos há quase um ano.

– Certo... – Ele replicou com um ar insondável – Bom, vamos ver esse garotinho...



Ao final da consulta Bella se levantou para ir embora, quando o médico a parou.

– Senhorita... – Ele parou, compreendendo a olhada significativa que Bella lhe deu – Desculpe. Bella. Leve o meu cartão. Aqui tem todos os meus contatos para qualquer emergência ou dúvida que possa vir a ter. Não hesite em ligar caso precise de alguma coisa.

– Obrigada dou... Patrick.

Sorriram cumplices e Bella se retirou após guardar o cartão na bolsa.


                                  *********************


– Você está a perigo! – Alice repetiu pela oitava vez só naquela manhã.

Elas estavam no escritório de Bella, na agência de publicidade e propaganda que abriram em sociedade há seis anos. Alice tentava convence-la a participar de uma “noite de meninas”.

–Alice... Mesmo que eu esteja, você acha mesmo que na primeira saída eu vou me envolver com alguém? Eu só tive um homem minha vida inteira! Não vou ficar com o primeiro que eu vir. Além disso, tem o Tony. Eu não tenho com quem deixa-lo.

– Ora vamos, Isabella! – Alice falou o nome todo, o que significava que ela não desistiria fácil – Eu não quero que você se envolva com o primeiro. Talvez o segundo – Falou brincalhona – O que eu quero dizer é que você precisa retomar sua vida. Já passou da hora. E quanto ao Tony... Tenho certeza de que a mamãe iria adorar ter o netinho em sua casa uma noite inteira.

– Mas aí o Edward iria saber que eu saí com vocês e...

– É com isso que está preocupada? – Alice a interrompeu – Eu não acredito!

– Veja bem...

– Qual é Bella?! Você quis se divorciar, deixou bem claro que não tem volta, e agora fica preocupada com o que o seu ex-marido, sem nenhum futuro em sua vida tem a pensar sobre suas noitadas? Faça-me o favor!

Bella ruminou um pouco as palavras de Alice.

Não era a primeira vez que ela inventava uma noitada entre amigas para arranca-la de sua morosidade. Mas Bella sempre se esquivava, sem saber bem o porquê, ou melhor, sem admitir o porquê. Inconscientemente ela ainda possuía aquela lealdade arraigada por Edward, como se ainda devesse fidelidade a ele, principalmente depois da última declaração que ele fizera em sua casa.

Mas o fato é que a melhor amiga estava coberta de razão. Ela não tinha intenção de voltar para Edward. Não que houvesse deixado de ama-lo, mas o amor não era mais suficiente para fazê-los ficar juntos. E sua vida estava parada, sem rumo, pelo menos na área pessoal.

Ela já havia tomado àquela decisão. Mas concretiza-la era muito complicado.

Respirou fundo, tomando coragem. Sim. Estava na hora de seguir em frente. E se ela não desse um passo nunca sairia do lugar.

– Quem vai? – Bella perguntou, surpreendendo Alice que já estava dispersa da conversa.

–A galerinha de sempre, da época da faculdade. – Falou dando de ombros – Jéssica, Helena, Alison, Natalie... E eu chamei a Rosalie.

– O Emmet vai ficar uma fera! – Bella sorriu – Ele tem muito ciúme da Rose.

– Que nada! O Jazz vai pra casa dele. Parece que combinaram de assistir a um jogo de baseball na TV e se encharcarem de cerveja.

– Ok, então. A que horas nós vamos?

Alice sorriu, os olhos brilhando travessos.

– Você vai? – Perguntou animada.

– Primeiro eu vou ligar para Esme. Se ela puder ficar com o Tony... Eu vou.

– Ah Bella! – Alice correu em sua direção, estalando um beijo em sua bochecha – Vai ser muito divertido, você vai ver.



                                  *********************************


– Filho, você não acha que já está na hora de retomar sua vida? Vocês estão separados a mais de um ano! – Carlisle falou impaciente.

Estava com Edward em seu gabinete na grande mansão branca. Havia chamado o filho para conversar. Não aguentava mais vê-lo pelos cantos desanimado e apático.

– Eu não me importo de sustentar um filho – Continuou – Tenho condições de sustentar vocês pro resto de suas vidas se necessário fosse, mas... Você estudou tanto Edward! Se preparou, se especializou, sacrificou tanto de seu casamento com Bella pela carreira... Pra deixa-la de lado assim!

Edward sacudiu a cabeça em negativa.

– Eu sei pai... O problema é que... Eu simplesmente não consigo me reerguer.

– Consegue sim! – O pai falou autoritário – É só fazer um pouco de esforço. Além do mais... Você acredita que Bella, sendo a mulher dinâmica e independente que sempre foi, pensaria em voltar com você, quando não passa de um fracassado?

Edward se encolheu minimamente em reação ao tom e às palavras do pai. Muito mais pelo peso da verdade que elas carregavam do que pela agressividade que ele usara para atingi-lo.

– Desculpe, filho... – Carlisle pediu arrependido – Eu não quero te ofender, mas você precisa enxergar a realidade. Sua vida está paralisada enquanto Bella segue com a dela, tentando continuar, tentando viver. O que você está ganhando com sua impassibilidade, Edward? Acha que, se existir uma possibilidade ínfima dela querer você de volta, isso vai cair assim, de graça no seu colo? Depois do que você fez?

– Sei que não...

– Então! Se você quiser realmente sua mulher de volta... Lute. Mas para isso você tem que ter sua vida em suas mãos. Precisa mostrar que é digno dela.

– Eu... Tenho medo... – Edward confessou constrangido.

– Medo? – O pai indagou confuso – Medo do que?

– Se eu voltar para o hospital... Talvez... Aí sim, Bella não me queira mais, definitivamente.

– Fala isso por causa da moça?

– Sim. – Afirmou dando de ombros.

– Ela é uma residente. E você era o responsável pela residência dela. Você retornando continuará sendo seu chefe, pode demiti-la, ou transferi-la. Isso é o mínimo.

– Eu não... Tenho coragem de fazer isso com ela. A Ângela é uma boa menina. A culpa disso tudo foi minha. Ela não tem que pagar por isso, ainda mais com sua carreira que mal começou.

Carlisle olhou o filho com atenção, sondando.

– Edward, você tem sentimentos por essa moça? – Perguntou com os olhos estreitados em pura desconfiança.

Edward ficou mudo pela surpresa. Foi pego completamente desprevenido pela pergunta, que ele tinha de admitir, fazia muito sentido.

Mas tudo o que nutria por Ângela, além do carinho e a forte atração física que deixara de existir há muito, era uma preocupação genuína de um tutor para seu pupilo.

– Pai... Eu só tenho sentimentos por Bella. Ela é a única mulher que eu realmente quero em minha vida – Respondeu com um sorriso triste. – Mas eu tenho medo justamente disso. – Fez um gesto com as mãos, indicando o que o pai acabara de fazer – Essa reação, essa desconfiança que meu convívio com Ângela provocaria. – Suspirou longamente, cansado de sentir aquela desesperança – Eu já não faço mais parte da vida de Bella, sou apenas o pai do filho dela... Se ainda existir uma chance... Microscópica que seja... Se desmanchará quando ela souber que eu voltei a trabalhar justo ao lado do pivô de nosso divórcio.

Carlisle levantou da cadeira e rodeou a mesa, sentando-se na ponta dela, de frente para Edward.

– Porque não abre a sua própria clínica? Não era esse o seu sonho? Eu posso monta-la pra você.

Edward sorriu.

– É uma ótima idéia, pai. Mas eu não preciso que faça isso.

– Por que o orgulho? Sou seu pai. Tenho dinheiro pra abrir dez clínicas se quiser. Não posso dar um presente ao meu mais velho, como incentivo a um recomeço?

– Não pai... Não é por isso. Não é orgulho.

– Ok. Se o problema for vergonha, eu te empresto. Você vai me pagando quando a clinica começar a dar algum lucro.

– Eu tenho dinheiro. Tenho meus investimentos e poupanças. Mas esse não é o problema, pai...

– O que é então?

– Eu não tenho condições de pensar num projeto desse tamanho agora. Equipamentos, profissionais especializados...

– Filho... Não vê o quanto isso seria ótimo para ocupar seu tempo e sua mente? Além disso você tem uma arquiteta em casa! Sua mãe pode fazer o projeto. Eu ajudo com os equipamentos e profissionais. Apenas tente!

Edward olhou para o nada, concentrando-se no discurso do pai.

Ele realmente não se sentia disposto, e o que queria mesmo era ficar paralisado até que Bella decidisse voltar. Mas sabia o quanto o pai tinha razão. Precisava tocar a vida, mostrar à mulher que amava que era forte, que não era um fracassado. Depois, ocupado sentiria um pouco menos a dor. Pouparia um pouco de energia para retornar à luta.

– Ok. Eu vou tentar. Prometo.

Carlisle sorriu e puxou o filho para um abraço.


                          **********************************


Era noite alta quando a campainha tocou, e Esme largou o esboço do projeto que fazia com o filho para seguir em direção à sala.

– Deve ser a Bella. – Murmurou.

Edward, surpreso pelo que a mãe falara, seguiu-a ansioso. Perguntou-se internamente o que Bella estaria fazendo ali numa quinta-feira à noite, o que não era muito comum já que ela raramente aparecia, e quando o fazia era por insistência de Carlisle e Esme para que levasse o Tony até lá no final de semana.

– Querida! – Esme exclamou, abraçando a ex-nora com alegria.

Edward notou de imediato o cestinho azul que estava no braço da ex-esposa.

– Oi Esme... – Bella murmurou desconcertada com a intensidade dela – Oi Edward.

– Oi... – Respondeu ao cumprimento meio aéreo.

Bella estava realmente linda com aquele vestido e maquiada. Fazia tempo que ele não a via assim.

– Olá bebê da vovó! – Esme falou com o Tony, que agitava as mãozinhas de dentro do cestinho.

– Espero que esteja realmente tudo bem, Esme... Eu não quero incomodar de maneira alguma...

– Fique tranquila, meu bem. Eu vou adorar recordar meus tempos de mamãe de primeira viagem... Além do mais, você precisa mesmo se divertir um pouco. A Alice tem me contado como você anda apática.

Edward ficou em choque.

Se divertir um pouco? Então ela iria sair?

– Você vai sair? – A pergunta escapou, e num tom de cobrança, antes que ele pudesse se conter.

Bella o fitou com incredulidade, e de repente sentiu ainda mais vontade de badalar.

– Sim, vou sair com a Alice, a Rosalie e algumas amigas da época da faculdade. – Falou levemente arrogante.

Edward de imediato se sentiu constrangido. Não tinha mais direito algum sobre ela, não poderia cobrar nada. Mas o terror que assumiu seu cerne era violento. Fez seu estômago se revirar em angústia. Linda daquele jeito, não demoraria muito e Bella estaria em outra.

– Aqui estão as coisas dele – Bella falou a Esme, ignorando a cara de aturdido de Edward – E se acontecer qualquer coisa, meu celular vai estar ligado.

– Não se preocupe, Bella. Eu vou mimar meu netinho e depois ele vai dormir com o papai... Não é Edward?

– Sim... Claro. Pode deixar, mãe. Eu cuido do meu filho. – Falou saindo do transe – Você vem pegar ele a que horas, Bella?

Ela corou levemente, imaginando a reação que ele teria à sua resposta. Mas foi Esme quem respondeu, tranquilamente.

– Eu vou leva-lo à creche amanhã pela manhã. Esse foi o combinado.

Edward abriu a boca numa expressão de indignação misturada com descrença, enquanto Bella percebeu que aquela era sua deixa.

– Bom, eu já vou. Tchau Tony, a mama te ama muito, viu?

E depois de beijar a testa do filho, acenou para Esme e saiu, fingindo não notar o olhar perfurante que Edward lhe direcionava.



                  ***********************************************



Bella sentiu uma mão quente tocar seu ombro, exposto pelas alças finas do vestido.

Virou-se com um ar reprovador, pronta para ser rude, quando seu olhar encontrou um oceano límpido e cheio de expectativas.

– Doutor Dempsey? – Perguntou surpresa, acreditando que ele não ouviria devido ao som alto da boate.

– Por favor, Bella... – Ele disse sorrindo – Principalmente num ambiente desses, só Patrick.

Bella se levantou e o cumprimentou adequadamente, fingindo não ver o alvoroço que a curiosidade causava em suas amigas.

– Deixe-me apresenta-lo... – E finalmente virou-se para a mesa – Meninas, esse é o doutor Patrick Dempsey, pediatra do Tony.

As mulheres o cumprimentaram e foram devidamente apresentadas, em seguida se voltando para uma conversa sobre sapatos, iniciada propositalmente por Alice para que Bella desse atenção ao bonitão.

– Noite de garotas? – Ele perguntou inclinado ao ouvido de Bella, devido ao barulho intenso.

– Como sabe? – Ela sorriu.

– Eu já tive namoradas... – Respondeu bem próximo ao seu rosto, causando um leve arrepio em Bella.

Teve. No passado. Ela pensou. E se repreendeu logo em seguida.

Não entendia como um estranho, sim porque era exatamente isso que ele era, poderia lhe causar tanta atração. Eles haviam se conhecido naquele mesmo dia! Talvez estivesse mesmo à perigo como Alice costumava enfatizar.

Ah! Que se dane! Eu preciso mesmo me divertir um pouco. Estou solteira... Que mal há?

– E você? Veio dançar sozinho? – Perguntou, mandando a timidez às favas.

– Na verdade vim me distrair um pouco com um amigo. Mas ele encontrou uma conhecida e está se agarrando com ela por ai... – Seu ar era divertido.

– Pode se juntar a nós, se quiser... – Bella ofereceu.

– Não vou atrapalhar o clube cor-de-rosa?

– De maneira nenhuma. Algumas das meninas são solteiras, estão aqui para se divertirem e, quem sabe, encontrar um par. Então não é um clube fechado. – Ela falou rindo.

Ele a olhou com intensidade antes de perguntar.

– Você é uma delas?

Bella corou e baixou o olhar, se sentindo uma atirada por ter dito aquilo. Na verdade ela não medira as palavras, apenas falara o que viera à sua cabeça para convencê-lo a permanecer. Estava gostando da companhia.

E estranhamente, do pequeno jogo de sedução também.

– Talvez. – Respondeu sem encara-lo.

Ele nada disse, notando seu desconcerto. Apenas apoiou levemente a mão na base das costas de Bella enquanto puxava a cadeira para que ela sentasse, sentando-se ao seu lado, totalmente virado para ela.


Depois de conversarem horas sobre amenidades de suas vidas, sempre sob o olhar perscrutador de Alice e Rosalie, Patrick convidou Bella para dançar.

– Você aceitaria se eu te chamasse para Jantar amanhã? – Ele perguntou.

– Você terá de chamar pra saber... – Bella disse com ar divertido. Estava adorando aquela aura de conquista.

– Quer jantar comigo amanhã? – Ele pediu bem próximo ao ouvido dela.

Bela sorriu com a sensação. Havia esquecido como era bom ser desejada e cortejada.

Uma memória ameaçou emergir, do tempo em que ela e Edward eram namorados, e ela logo a afastou, tomando rapidamente sua decisão.

– Eu adoraria.



                      *****************************************



Edward andava de um lado para o outro em seu quarto, tentando a todo custo não fazer um barulho alto que acordasse seu filho que ressonava tranquilamente no meio de sua cama.

Quase duas horas da manhã.

Seus dedos formigavam devido à força com que apertava o aparelho em sua mão, controlando fortemente a ânsia de discar o número tão familiar e descobrir se ela já estava em casa ou não.

Então a idéia surgiu, rápida e eficaz.

Discou um número alternativo. Sabia que seu interrogatório não seria bem visto, mas confiava no poder de persuasão que tinha sobra ela. Foi atendido no segundo toque.

– Oi irmão... Aconteceu alguma coisa?

– Onde você está Alice? – Perguntou aflito.

– Acabei de chegar em casa, por que? – Ela questionou confusa e assustada.

– A Bella está com você?

Alice demorou um pouco mais do que deveria para responder, e ele sabia que era porque estava compreendendo exatamente aonde ele queria chegar.

– Edward... – Repreendeu.

– Por favor, Al... Eu só... Só...

– Quer saber os passos dela... Pelo amor de Deus Edward! Cresce! A Bella não é mais sua mulher!

Ele suspirou.

– Por favor, mana... Eu tô desesperado aqui. Eu só quero saber se ela já está em casa.

Foi menos de um minuto de silêncio, mas para ele pareceu uma eternidade.

– Tudo bem. – Alice expirou derrotada – Já deve estar sim. Ela saiu de lá pouco antes de nós.

– Obrigada Al. Eu te amo.

– Te amo também seu manipulador barato de irmãzinhas indefesas. Tchau.

Sentiu-se um pouco menos agoniado, mas ainda não era o suficiente.

Estar em casa não significava que ela havia ficado a noite toda sozinha. E na verdade, esse era o seu medo.

Tomado pelo ímpeto, mandou sua dignidade e amor próprio à merda e levou o celular até a frente de seu rosto, digitando apressado.

Mas antes que pudesse apertar o “send” , a porta se abriu, iluminando fracamente o cômodo.

– Ainda acordado filho? – Esme perguntou surpresa.

Sem pensar direito no que estava fazendo, Edward apenas puxou a mãe pelo braço, forçando-se a ser delicado.

– Toma conta dele, mãe. Eu preciso sair.

– Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou aos sussurros.

Não houve resposta. Edward já descia as escadas rapidamente.


Dirigiu no limite, chegando a seu destino em pouco mais de dez minutos, ofegando nervosamente.

Sua vontade era subir e bater em sua porta, perguntando tudo que tinha acontecido em sua primeira saída solteira. Mas ela deveria estar dormindo, ou se preparando para dormir naquele momento.

Sentiu-se um tolo.

Nem quando eram adolescentes, quando ele temia que a qualquer momento Bella o trocasse por um dos seus muitos admiradores, Edward agira de maneira tão insegura, espionando nas sombras.

Preparou-se para sair quando notou o carro de Bella parar em frente ao prédio.

Seu coração acelerou, mas a mente trabalhou mais rápido, chamando sua atenção para um ponto incomum.

Aquela atitude era estranha, visto que o prédio tinha garagem. Porque ela pararia em frente ao prédio, àquela hora, em vez de seguir direto para sua vaga, dentro do condomínio?

Foi então que ele notou um outro carro, desconhecido, parando logo atrás.



             ************************************************



– Obrigada por me acompanhar, Patrick. – Bella falou sorrindo, já do lado de fora do carro – Mas realmente não era necessário.

– Eu só queria saber onde você mora... Pra não me perder amanhã. – Ele replicou, se aproximando dela.

Eles se olharam significativamente, e Bella sabia o que podia acontecer. Ele parecia calmo, sem pressa, sem intenção alguma de forçar a barra, e isso fez com que ela se sentisse à vontade.

Mas era muito cedo.

Apesar da decisão tomada, precisaria de um pouco mais de segurança. Algo que só uma preparação íntima poderia fazer por ela. Precisava ainda trabalhar melhor sua convicção, seus argumentos próprios contra o que ela chamava de fantasma do casamento passado.

– Boa noite, Bella. – Patrick murmurou, se inclinando para ela.

Ela esperou. Apenas para ver o quanto ele seria paciente.

Patrick beijou-lhe a bochecha com delicadeza, as mãos cruzadas nas costas como que para se conter.

Ela sorriu. Ele era mesmo um cavalheiro. Até a fazia se lembrar de ...

Cortou o pensamento nessa altura.

– Boa noite, Patrick. Até amanhã.

E depois de vê-lo desaparecer no final da rua em seu carro, entrou em seu próprio veículo, conduzindo-o para dentro do prédio, ignorando o ex-marido que a observava das sombras.



                    ************************************************


Edward não acreditava no que seus olhos tinham visto.

Estava deitado em sua cama, o dia já alto lá fora, enquanto repassava a cena aterrorizante em sua mente.

Ainda permanecera lá, incrédulo, por mais cinco minutos depois que Bella entrara, apertando afoitamente os dedos, sem saber o que pensar, ou como agir. Apenas tinha a certeza de que a estava perdendo de vez.

Precisava fazer alguma coisa, mas não tinha idéia do que. Afinal não havia muito que fazer já que não era mais nada dela.

Revirou-se na cama, angustiado.

Alice.

A irmã saberia de alguma coisa. E qualquer coisa o ajudaria nesse momento.

Levantou-se decidido e seguiu para o banho.

Uma hora depois estava entrando na sala de Alice na S&C pp*, devidamente anunciado.

– Oi Ed. – Alice falou assim que ele passou pela porta, fechando-a atrás de si.

– Oi. – Disse com ar sombrio – Eu preciso saber quem é aquele cara.

Alice arregalou os olhos em descrença. Como ele poderia saber? Será que...

– Edward, você estava espionando a Bella? – Seu tom era repreensivo – Eu não posso acreditar nisso!

– Não importa como eu sei, Alice! – Ele replicou impaciente – Eu preciso de sua ajuda! Eu não posso permitir que...

– Você não tem o que permitir! – Ela o interrompeu quase gritando – Você não é mais o marido dela! Quando vai aceitar isso?

Edward se jogou na cadeira mais próxima, o semblante evidenciando todo o seu desespero. Enfiou o rosto entre as mãos, soluçando baixo, libertando as lágrimas dolorosas de seu pranto há tanto contido.

Alice compadeceu-se do sofrimento do irmão.

Não que houvesse mudado de idéia. Apoiava a melhor amiga, e acreditava que seguir em frente era a melhor opção para os dois. Mas, ainda sim era seu irmão ali. E precisava dela.

Puxou outra cadeira para perto dele e pousou sua mão pequenina no ombro largo de Edward.

– Por favor, Edward... Você precisa sair dessa. Ela está tentando retomar a própria vida, e acho que você deveria fazer o mesmo. Não vai adiantar você persegui-la, ou cobrar explicações... Ela não te deve mais nada, e no final, tudo que vai conseguir é fazê-la se afastar ainda mais.

– Eu simplesmente não consigo evitar... – Ele falou por entre os dedos, a voz torturada – Eu ainda a amo, Al. Mas ainda do que já amei algum dia. E isto está me matando!

– Eu entendo seu lado... E não quero parecer cruel mas, foi você que procurou por isso quando se envolveu com aquela garota.

– Eu sei. – Suspirou – E me arrependo amargamente de ter sido um fraco, todos os segundos do meu dia. Mas eu não posso cruzar os braços enquanto vejo que ela está se envolvendo com outro homem. – Levantou o rosto, banhado em lágrimas, e encarou Alice suplicante – Por favor, pelo amor que você tem por mim... Só me diga quem é ele...

Alice se afastou um pouco, ponderando.

Não sabia até que ponto Bella estava envolvida. E ela não falara nada sobre manter sigilo, apesar de claramente querer evitar um confronto com Edward. Mas o fato é que o que o irmão pedia não era muito.

– Ela o conheceu faz pouco tempo. – Cedeu, omitindo a parte mais importante, que ele era o pediatra do Tony – E eles se encontraram por acaso na boate ontem à noite. Isso é tudo que sei.

– Ela está saindo com ele?

– Edward, você não me ouviu? Eles se conhecem há pouco tempo. E eu não sei de muita coisa, Bella não me disse nada.

– Você acha que... Que ela... Ela está atraída por ele?

Alice abaixou a cabeça, fitando o chão.

Talvez fosse melhor mesmo ele ouvir isso dela. Melhor do que confrontar Bella e obriga-la a ser rude.

– Eu acho que sim... Pela maneira como olhava pra ele, e como conversavam... Acho que sim.

Edward fitou o nada, perdido no turbilhão de sentimentos que o afligiam. Estava de mãos e pés atados. Não podia fazer nada para impedir que acontecesse o que mais temia.

Levantou-se trôpego, ignorando a irmã que o chamava aflita.

Caminhou a passos lentos até seu carro, entrou, deu a partida, e saiu sem destino.




                  *******************************************


Bella se sentia feliz.

Naquela noite comemoraria dois meses de namoro com Patrick.

Ainda recordava a noite em que saíram para jantar, apenas um dia depois de se conhecerem. Ele não precisou de muito mais que uma hora para convencê-la a saírem novamente na noite seguinte, e passaram uma semana saindo juntos todos os dias, para almoçar ou dançar.

Ele a respeitara, e fora muito paciente. Conhecendo sua história aos poucos, ao longo dos sete dias que compartilharam como amigos. E apenas depois do consentimento de Bella ao seu pedido de namoro, eles se beijaram pela primeira vez.

Ainda não haviam tido um contato mais íntimo, apesar de Bella notar o quanto ele a queria. Ele se mostrava compreensivo e resignado, e ela admirara seu comportamento.

Mas uma nova decisão havia sido tomada, depois de uma longa conversa com Rosalie e Alice.

Tony dormiria na casa de Emmet esta noite. E Bella prepararia um jantar especial para o namorado, com direito a uma noite de descobertas.

Ela se sentia nervosa, obviamente.

Nunca havia se entregado a outro homem que não fosse Edward. Mas essa era a ordem natural das coisas. Estava tocando a vida, dando um passo por vez, e se sentia satisfeita com seus progressos.

Mas não poderia negar que uma parte do seu coração, uma bem grande, ainda sentia como se o estivesse traindo.

Deixou as conjecturas de lado quando ouviu a campainha soar.

– Edward?! – Perguntou alarmada ao notar o homem em sua porta – O que está fazendo aqui?

– Vim ver meu filho. – Respondeu com um dar de ombros – Não posso mais?

O seu relacionamento, antes cordial e tranquilo com o pai de seu filho, agora era difícil e tumultuado. Desde que ela assumira para todos, seu romance com Patrick, Edward estava arisco.

– Pode mas, você sempre avisa antes... Ele não está aqui.

Edward não esperou pelo convite, apenas foi entrando e se sentando no sofá, admirado com a arrumação da mesa de jantar, enquanto Bella o olhava aturdida.

Um frio desagradável percorreu sua espinha, e ele não se conteve.

– Já despachou o filho para ter uma noite de amor com seu namoradinho, Bella? – Perguntou irônico.

Bella sentiu a raiva lhe cegar. Quem ele pensava que era para cobrar o que quer que fosse?

– Em primeiro lugar, eu não te convidei a entrar. – Sua voz era afiada como uma faca – Em segundo, eu não despachei o meu filho. Ele está com a madrinha e o padrinho, e passará a noite lá. E em terceiro... E último... Eu não lhe devo satisfações de minha vida amorosa.

Num ato impetuoso, Edward se levantou e a alcançou, enlaçando sua cintura com as mãos fortes e imprensando-a contra a parede mais próxima, o desespero cintilando em seus olhos.

Bella ainda se debateu um pouco, mas o aperto era impossível de ser desfeito. Não porque Edward era muito mais forte do que ela, mas também porque seu toque, há tanto tempo evitado, a deixava indefesa e confusa.

– Você não o ama... – Ele sussurrou a centímetros de seus lábios.

– Você não sabe de nada da minha vida... – Ela provocou com a voz fraca, entontecida pela proximidade daquela boca.

Eles se olhavam com intensidade, os peitos se tocando devido às respirações descompassadas.

A mente de Bella girava. Ela ainda o amava e desejava com todas as forças de seu ser. Mas precisava ser forte. Ceder só lhe causaria dor e arrependimento.

– Me largue! – Murmurou, debatendo-se contra ele.

– Não! – Edward falou firmemente – Você é minha. Eu não vou deixar que faça isso.

– E como você vai me impedir, hã? Vai me trancar no quarto?

– Não seria uma má idéia...

– Me largue, Edward! Eu não sou sua! Não mais! Me largue! – Gritou.

– Eu não vou desistir de você. – Falou seguro, mal sentindo os murros que ela lhe acertava no tórax. – Eu não vou me conformar. Não vou entregar o que é meu de bandeja para outro.

Bella parou, sabendo exatamente o que falar para fazê-lo se afastar.

– Nós estamos separados há um ano e quatro meses, Edward... – Começou baixo, encarando-o desafiadoramente – E há pouco mais de um ano estamos divorciados. Eu sou livre pra fazer o que quiser. Você me teve sempre, incondicionalmente. Eu fui sua, só sua, durante catorze anos, e você jogou fora tudo que nós tínhamos por uma aventura... Ou você acha realmente que um dia eu vou esquecer aquela cena dantesca que eu presenciei no escritório de nosso antigo apartamento?

As palavras funcionaram como água gelada num adormecido.

Edward arregalou minimamente os olhos, enrijecendo automaticamente. Suas mãos afrouxaram o aperto na cintura de Bella, enquanto sua expressão de dor a feria profundamente.

Ela podia sentir o estremecimento no corpo dele. A laceração que seu rápido discurso causou em sua obstinação e em seu coração.

Doía magoa-lo assim, mas ele merecia.

– Agora se afaste de mim, e saia de minha casa. – Ela falou depois de se recompor, evitando olha-lo nos olhos.

Edward fez como ela falara, entorpecido pela dor. Mas ao chegar na porta, teve o último suspiro de determinação, que esvaía aos poucos.

– Eu te amo, Bella. – Murmurou sem se voltar para ela – Isso nunca vai mudar.

E dito isso saiu, sem qualquer vestígio de esperança no peito.

Bella o viu partir, sentindo o coração quebrar em milhares de pedaços, tendo a certeza de que aquela noite a história dos dois se encerrava. Definitivamente.




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Notas finais do capítulo

No sábado pretendo postar outro, mas vai depender se esse cap for bem comentado! Bjos