"Sacrifice won't suffice. Resurrection needs your death…" Children Of Cain - Marilyn Manson

Samantha abriu os olhos levantando rapidamente ao notar que já amanhecera, fazendo assim com que Philipe acordasse também.

– O que foi? – ele perguntou ainda sonolento.

– Amanheceu. – Samantha disse recolhendo sua roupa e a vestindo. – Eu tinha que voltar horas depois e não no dia seguinte!

– Quem se importa? – Philipe disse levantando.

– Eu me importo já que a única a sofrer consequências serei eu. - Sammy ironizou.

– Tudo bem. - Philipe se deu por vencido. - Eu te levo de volta.

– Vamos logo! - Sammy disse já saindo pela porta.

*

– Philipe tem certeza de que esse é o caminho certo? – Samantha perguntou mais uma vez. – Tenho certeza de que já passamos por aqui!

– É esse o caminho. – ele deu de ombros continuando á andar.

Samantha parou no meio daquela floresta.

– Estamos andando em círculos. - disse.

Philipe parou olhando para ela.

– Eu sei o que está fazendo. – Sammy suspirou. – Você não quer que eu volte.

Philipe desviou o olhar.

– Entenda que o que aconteceu noite passada não significa nada. – Samantha se aproximou dele. – Nada mudou.

– Não significou nada? – Philipe quase gritou. – Não foi o que pareceu enquanto você se contorcia entre meus braços!

Sammy atingiu seu rosto com um tapa.

Philipe limpou rapidamente uma gota de sangue que escapou de seus lábios.

– Apenas diga qual o caminho e eu seguirei sozinha. – Samantha pediu sem olhar para ele.

Philipe apontou e então Sammy foi. Sem olhar para trás uma vez se quer.

*

Sammy chegou rapidamente á um lugar próximo à vila, ansiosa por encontrar Niklaus. Além do mais o confronto aconteceria mais cedo ou mais tarde.

Mas algo parecia diferente.

Estava tudo silencioso demais. Havia odor de sangue demais.

Antes que pudesse pensar no que pudesse ter acontecido viu Niklaus. Ele estava sentado perto de uma árvore olhando para as próprias mãos.

E como havia sangue por ele todo.

– O que houve? – perguntou cautelosamente.

– Acho que me descontrolei um pouco. – murmurou sem olha-la.

Samantha olhou para a entrada da vila vendo dois corpos inertes.

– Onde esteve? – Klaus perguntou parando á centímetros dela em segundos. – Com Philipe?

– Eu ---

Samantha foi interrompida no momento em que seus cabelos foram puxados fortemente por Niklaus.

– Olhe para eles. – disse puxando-a para perto dos corpos. – Reconhece?

De fato, Sammy os conhecia. Antigos vizinhos.

– Eles me disseram que você estava com ele. – continuou. – Tive que mata-los para impedir que continuassem falando essas coisas de você... E então você confirma?

Samantha tentou se soltar, sem resultado algum.

– Esse sangue está em suas mãos. – disse.

– E você acha que eu me importo? – Samantha quase gritou se soltando dele. – As pessoas daqui nunca gostaram de mim, você sabe! Por que eu sentiria compaixão agora?

Niklaus riu.

Samantha sentiu raiva.

– Não se importa não é mesmo? – ele perguntou mais alto caminhando para dentro da vila com Sammy atrás de si. – Lucca! Onde está Lucca?

Samantha bloqueou as memórias. Aquele nome... Mas ela não o vira desde que estava aqui, não era possível...

O garoto de aproximadamente 10 anos apareceu sendo puxado pelos próprios pais. Primo e Tios de Philipe.

– Mas que droga Niklaus! – Sammy disse puxando-o pelo braço. – O que você pretende com isso?

– Talvez me alimentar... Matar por tédio. – ele deu de ombros. – Não é essa a melhor maneira?

– De uma criança? – ela quase gritou.

– Você realmente tem alguma piedade por ser uma criança ou por que é Lucca? Primo de Philipe? – Klaus parou analisando a expressão dela.

Samantha olhou para a criança que parecia assustada.

– Não faça isso. – disse quando ele se aproximou do pequeno.

– Sammy. – Lucca chamou olhando diretamente em seus olhos.

Como ele ainda lembrava-se dela depois de todos esses anos? Samantha sorriu.

Em um segundo Klaus se aproximava dele no outro quebrara seu pescoço.

Samantha prendeu a respiração, sentindo algo se agitar dentro de si. Ela não teria emoções exageradas se era o que Klaus queria.

Niklaus girou nos calcanhares sorrindo cínico para ela.

– Ele não tinha nada a ver com isso. – Samantha disse sem expressão.

– Caroline não tinha também e vejamos o que você fez com ela. – Klaus deu de ombros.

Samantha sentiu a raiva subir a cabeça mais rápido do que seu autocontrole.

– É sobre o que isso se trata? – ela gritou. – É sobre o que tudo isso se trata, afinal? Caroline? – Samantha foi até ele tendo a consciência de que seus olhos já mudavam.

– É sobre você! – Klaus falou tão alto quanto ela. – Será que não pode aceitar uma pequena morte?

Sammy olhou para os pais de Lucca que permaneciam ao lado do corpo.

– Aceito quantas vierem. – disse caminhando até eles.

Klaus tentou impedi-la, mas Sammy foi mais rápida rasgando a garganta de ambos.

Samantha riu olhando para o próprio corpo coberto pelo sangue.

– Eu nunca gostei deles. – disse olhando para Klaus.

Ele permanecia sério encarando-a.

– Não esperava por essa, não é mesmo? – perguntou levantando-se. – Vamos lá, diga o quanto eu sou descontrolada e um perigo!

Samantha foi até ele, Klaus levantou a mão para afasta-la tendo a pele arranhada pelas longas unhas de Sammy. Ela sorriu passando as unhas pelos lábios que ficaram tingidos momentaneamente com o vermelho do sangue dele. Klaus a ignorou.

– Ele não morreu. – Klaus disse abaixando perto do garoto. – Estava com um anel.

Samantha viu pela primeira vez o objeto brilhante. Ela sabia que um anel feito por uma bruxa poderia ter esse feito... Se a pessoa morresse de causas sobrenaturais ou morto por um, ela ressuscitaria horas depois.

Olhou desentendida para Niklaus.

– Eu só queria que Philipe viesse até aqui. – Klaus disse se levantando. - Droga, Samantha!

– Eu sabia que isso não daria certo. – disseram.

Sammy virou encontrando as duas bruxas ali, as mesmas que cuidaram dela.

– E agora a criança não terá ninguém quando voltar á vida. – a outra completou.

Samantha sentiu raiva novamente. Aquelas bruxas... Malditas bruxas!

Foi tudo rápido demais até para os olhos atentos de Niklaus.

Em um momento Samantha estava próxima a ele no outro de frente para uma das bruxas e em seguida havia sangue em todas as direções. Sammy tinha o coração dela na mão e em um ato que Klaus jamais imaginou ver, Samantha deixou seus dentes de alongarem e os cravou ali, sugou uma vez, o coração bateu uma última vez e então Sammy o jogou para o lado.

Samantha estava usando seus Poderes sem restrição alguma. E ela parecia tão forte.

– Aberração! – a bruxa gritou enquanto segurava o corpo da irmã morta. – Devia ter te matado quando tive a chance!

– Tem razão. – Sammy disse sorrindo irônica. – Só se tem uma chance assim uma vez.

– Ou posso resolver isso agora! – Levantou em um salto.

Klaus não sabia o que de fato estava acontecendo. Elas não se tocavam, mas ambas mantinha expressões em mistura de dor e raiva.

Samantha se curvou cuspindo uma quantidade preocupante de sangue. Sangue esse que ele tinha certeza não ser da bruxa que ela acabara de matar.

– Samantha! – Klaus chamou tentando se aproximar.

A bruxa, no entanto fez um gesto com a mão e ele se viu preso. Uma barreira invisível.

Klaus não pode fazer nada enquanto assistia a bruxa se aproximar de Sammy que continuava na mesma posição.

Ele viu a mão dela se erguer e várias imagens se passaram simultaneamente por sua mente.

– Vocês criaram um monstro. – Samantha disse adquirindo uma postura ofensiva.

E ela ainda sorria mesmo com todo aquele sangue que fluía por sua boca.

– Isso nunca deveria ter existido. – ela concordou. – Deveríamos ter sacrificado você quando percebemos que era um problema. Fazer um ritual e desmembrar todo seu corpo! Talvez eles mandassem outra escolhida no mesmo dia!

Samantha agitou a mão no ar como se pegasse algo e então a bruxa caiu de joelhos, algo parecia prender sua garganta. Algo que obviamente Niklaus não podia ver.

– Não seja rude! – Sammy disse se aproximando.

Samantha olhou para o canto de relance vendo uma jovem, provavelmente mais nova que ela mesma.

– Mãe! – a garota chamou olhando para a bruxa desfalecida.

– A filha da bruxa. – Sammy disse mudando de direção. – Obviamente uma bruxinha.

– Ela nunca usou seus Poderes! – ela gritou. – Ela não é uma bruxa completa ainda!

– Incompleta... Completa. – Sammy disse indo até ela. – Sendo uma bruxa é o que importa.

A garota correu para o fundo da casa e Samantha foi atrás dela.

Niklaus apenas podia ouvir e como era torturante não saber exatamente o que estava acontecendo.

Minutos se passaram em absoluto silêncio então um grito foi ouvido.

Klaus esperou e então Samantha voltou.

– Trouxe um presente. – disse jogando o coração da garota sobre ela.

A bruxa olhou fundo em seus olhos e então Samantha sufocou um grito colocando a mão sobre o próprio peito.

Niklaus podia ouvir o coração dela bater rápido demais e então diminuir em frações de segundos.

– Você pode me matar agora. – a bruxa disse com dificuldade. – Mas você morrera também.

Samantha olhou para o céu. Os primeiros pingos de chuva começavam á cair, o vento ficara forte.

– Eu não me importo. – disse voltando á atenção para ela.

Samantha arrancou seu coração fazendo o mesmo que fizera com o outro e então caiu.

A barreira sob Niklaus foi desfeita e mais que rapidamente ele foi de encontro á Samantha.

– Sammy. – ele chamou abaixando na frente dela.

Samantha estava ajoelhada e mantinha os olhos fechados.

Niklaus tocou seu rosto percebendo o quanto ela estava gelada.

– Não é engraçado quando você sabe que vai morrer jovem?*¹ – Samantha murmurou voltando a ficar imóvel novamente em seguida.

Ela não se movia e a sua respiração era tranquila. Seu coração batia calmamente em seu peito.

Klaus ouviu passos e então o garoto Lucca chamar por “Philipe”.

Klaus não acreditou no que estava ouvindo. Levantou encarando furiosamente a pessoa pela qual tudo aquilo havia começado.

– Philipe. – ele disse.

– Niklaus. – Philipe disse da mesma forma.

– Você esteve aqui por todo esse tempo? – Klaus perguntou enquanto via o rapaz se afastar com o garoto.

– Você esteve ocupado demais preso na armadilha da bruxa e preocupado com a Samantha para perceber. – respondeu.

Philipe pediu para que Lucca fosse para casa e ficasse lá antes de se voltar para Niklaus.

– Enfim á sós. – Philipe decretou sorrindo irônico.

Klaus imaginou aquela cena muitas vezes. E em todas elas assim que estivesse frente á frente com Philipe o rapaz seria morto rapidamente. Além do mais, o que era um humano perante o Original?

Porém em nenhuma delas Samantha teria agido estranho e estava metros atrás dele imóvel. A preocupação com ela o deixava sem foco para pensar no que fazer com Philipe agora.

E o próprio rapaz parecia atento ao que acontecia com Sammy mesmo que pudesse estar correndo perigo ao se manter desatento á Klaus.

Samantha os unia, mesmo que de uma forma estranha e errada.

Klaus percebeu seu olhar aflito por trás de toda aquela mascara de determinado que ele adquirira.

Niklaus olhou para trás ao ouvir um som diferente.

Samantha passava as unhas pelo chão ao redor de si. O resto do corpo continuava tão imóvel quanto antes, apenas os dedos se mantinham em movimento frenético.

– Você a ama? – Niklaus perguntou.

– O amor é o diabo contando lágrimas na chuva. – Philipe cantarolou olhando para o céu e depois para Samantha. - Ao som de uma sinfonia negra tocada com as unhas.*²

Niklaus sentiu um pingo de chuva mais denso cair em sua testa, passou á mão por ali vendo que não era água e sim, sangue.

O mesmo acontecia á Philipe.

Ambos olharam simultaneamente para o céu assistindo os pingos transparentes tornarem-se vermelhos.

Logo tudo em volta era vermelho. Tudo era sangue.

Samantha praticamente tinha criado um buraco ao arranhar á terra daquela maneira e agora parecia estar dentro de uma possa de sangue.

– O que está acontecendo? – Klaus perguntou.

Philipe tirou do bolso um saquinho quase vazio jogando-o para ele.

– Aloysia. – Klaus disse e então o entendimento veio rapidamente. – Samantha.

Klaus olhou para ele com fúria.

– Você deu isso á ela? – gritou pelo barulho que a chuva fazia.

– Não achei que ela o usaria tão rapidamente. – Philipe deu de ombros se afastando.

Klaus prendeu as mãos dele com uma das suas e com a outra apertou seu pescoço. Philipe se debateu tentando se soltar.

– Isso é tudo sua culpa?! – Klaus ainda tentava assimilar.

– Eu não tenho culpa se você não consegue controlar o que ela faz! – Philipe gritou. – Você já sabia quais eram os planos dela!

– O que acontecerá agora? – Klaus perguntou soltando seu pescoço.

Philipe tossiu algumas vezes antes de conseguir responder.

– Eu não sei.

– Ótimo! – Klaus ironizou. – Se não tem serventia eu já posso te tirar da cena.

Os dentes dele se alongaram e tão rápido quanto seus dentes de alongaram e ele avançou, Philipe tirou uma estaca de um compartimento que mantinha nas costas por dentro da camisa.

Klaus piscou algumas vezes, olhou para baixo vendo a estaca que atravessava seu coração.

Philipe respirava rapidamente e esperava alguma reação.

– Não é carvalho-branco. - Klaus puxou a madeira jogando-a para o lado. – Bela tentativa.

Novamente ergueu-o pelo pescoço empenhado em acabar com aquilo, até algo chamar sua atenção. Ele largou Philipe que caiu no chão enquanto ainda gritava uma série de palavras ofensivas.

– Fique quieto! – ordenou. – Você não percebe?

– O quê? – Philipe levantou.

Klaus começou a andar com o olhar perdido, Philipe foi atrás dele.

– Só ouço um coração bater aqui.

Rapidamente os dois chegaram á Samantha que estava caída em meio a todo o sangue que continuava caindo como chuva do céu.

Philipe engoliu em seco.

– Samantha. – Klaus chamou tocando seu braço. – Samantha!

Não havia resposta. Não havia movimento. Não havia batimentos cardíacos...

– Ela ingeriu Aloysia, fez o sacrifício. – Philipe disse se ajoelhando ao lado dela. – E agora completou o ritual.

– Completou o ritual... – Klaus repetiu disperso. – O que isso quer dizer?

Philipe suspirou tocando seu ombro.

– Samantha está morta.