Já é a terceira vez que urro de dor depois de mais um chute de Kate. Tentar desviar chegava a ser ridículo, já que só sabia que havia sido atingida depois que sentia a dor, sendo arremessada pelos ares. Ela não estava poupando energias para acabar comigo, não que ela precisasse de muita. Os Cullens tentavam me ajudar, mas eram impedidos pela mão mágica de Kate ou por um golpe de Irina. Eu estava enjoada e fraca demais pra procurar uma saída. Não conseguia me mexer um centímetro que fosse. Só ficava parada gemendo de dor esperando o próximo golpe. E eu odeio me sentir assim, impotente. Mais um chute e tenho certeza de que não irei resistir. Meu estomago dói tanto que parece que acabei de engolir milhares de pregos salientes. Pedir pra ela parar, por mais que eu achasse que seria inútil, estava fora dos padrões, já que eu estava praticamente engasgando com meu próprio sangue.

- Isso Isabella!! Eu quero ouvir você gritando de dor!!- berrou Kate já se preparando para me atingir.

Esperei o impacto, mas ele não aconteceu. Foi então que percebi que Edward havia entrado na frente e recebido o golpe por mim. Mas aparentemente ele nem sentiu, já que caiu em pé, como um gato. Não entendo porque ele está tão determinado em cuidar de mim. Qualquer garota estaria pulando de felicidade, mas eu sei que tem algo por trás disso tudo, e realmente estou começando a ficar assustada. A cada segundo tenho mais certeza de que estou envolvida em uma confusão sem tamanho. E sinto que estou bem no meio dela. Mas mesmo que eu odeie receber ajuda, essa foi muito bem vinda. Meu estomago agradece. Mas ele não precisa saber disso.

-Bella,você está bem? – Edward agachou ao meu lado, ainda mantendo os olhos em Kate.

- Cla...Claro seu retardado...Cuspir meu próprio sangue é meu hobbie favorito. –consegui dizer com muita dificuldade.

- Toma Ed!!- gritou alguém. Não pude evitar sorrir por um momento. Um vampiro com senso de humor era novidade.

-Você está do lado dela Edward? – disse Irina indignada. Felizmente, alguém tinha conseguido agarrá-la.

-Eu pensei que havia sido bem claro quanto a isso. Vocês sabem de toda a historia. Sabem quem Bella é. Sabem como ELA ficaria se chegasse aqui e a encontrasse morta?

Alguém pode me dizer que é ELA?

-Mas e a nossa família Edward?! – poderia jurar que Irina estava chorando, se isso não fosse impossível - Nós também tínhamos uma família. Ela destruiu tudo...

-Bella não sabia sobre nós...

-Parem com esse drama! Até parece que não estão felizes por ela ter matado a Tanya. Ela era um pé no saco. Se a Bella sobreviver a isso, vou agradecer de joelhos – disse um dos homens gargalhando incrivelmente alto. Era o vampiro com senso de humor. Não sei quem é, mas eu até que gostei dele. Caramba, isso está ficando cada vez mais estranho. Eu simpatizei com um vampiro.

-Emmett, o assunto é serio. Será que dá pra agir...Bem...nao como você,por uns cinco minutos? – disse uma loira ao seu lado, deveria ser a namorada dele. – Esquece. Como eu te conheço muito bem, sei que isso não vai ser possível. Então...Só cale a boca.

Ah não...Porque? Eu estou me divertindo com ele! Não Bella você está morrendo, de novo! Rebateu meu inconsciente.

- Nós não somos assim Kate. Não matamos humanos.

-Isso deixou de valer no exato momento em que eles começaram a matar a gente. Ela é o inicio de nossa destruição Edward. Ela criou essas armas que podem nos matar. Isso é tudo culpa s...

-Chega Kate! Chega!- esbravejou Edward. – Eu confiei em vocês quando me disseram que não iriam atacá-la. Pensei que fossem me ajudar.Mas vi que estava errado. Saiam daqui antes que acabem se machucando.

-Não faria isso!- disse Irina chocada com o que havia acabado de ouvir – Somos parte de sua família.

- Isabella é tecnicamente da família. E vocês sabem disso.

Espera...O que?! Como assim eu tecnicamente faço parte da família? Eu ouvi direito? Isso só pode ser uma piada de mau gosto. Eu preciso ter uma conversa longa com Edward. Ele aparentemente sabe mais de mim do que eu mesma.

-Ninguém toca nela entenderam? – uau,ele está muito nervoso. 

Tentei dizer “Eu não”, realmente porque eu não entendia, mas um gemido acabou saindo no lugar das palavras.

- Edward, fique longe dela ou você vai se machucar. –disse Kate pausadamente, tentando controlar sua raiva.

De um segundo para o outro, todos os Cullens começaram a falar ao mesmo tempo, um alvoroço de vozes tentando impedir qualquer briga que fosse acontecer entre os dois. Hei! Eu estou morrendo aqui! Pensei. Mas o que eu realmente queria era ver o Edward arrancando a cabeça dela. E talvez isso fosse acontecer, já que ele respondeu:

-Não. – no exato momento em que suas palavras foram pronunciadas, a sala ficou em silencio – Não vou sair de perto dela.

Edward se abaixou e passou gentilmente seus braços pela minha cintura. Ele estava tenso, seus músculos estavam rígidos e sua mandíbula retraída. Com os braços protetoramente posicionados ao meu redor, me manteve sentada, para que eu não morresse engasgada. Como ele se defenderia de Kate comigo em seus braços, eu não sei. Mas ultimamente não sei de mais nada.

-Essa é sua ultima chance. – Kate.

Ele se manteve parado. Não iria mudar de idéia. Agora que posso ver o rosto daquela vampira de merda, me sinto pior ainda por não poder simplesmente me levantar e arrebentá-la. Kate se virou para trocar algumas ultimas palavras com o restante da família, provavelmente se desculpando por ter que machucá-lo. Senti os braços de Edward se apertarem ao meu redor, e assim que ele ouviu meu gemido de dor, os afrouxou novamente.

-Bella, preciso que me ajude. – sussurrou em meu ouvido. Sua voz é realmente uma tortura. Não consigo ouvi-la tão perto sem me sentir...Estranha. Ele não podia falar um pouco mais de longe? – Kate vai atacar, e vai atacar daqui a alguns segundos. Peguei uma de suas armas...

-Seu enxerido filho de uma...- Meu deus... como dói. O ar que estava aqui a um segundo, se foi. Não consigo mais emitir uma palavra sequer. Ou eu respiro, ou eu falo e desmaio.

-Estou tentando te ajudar sua louca!- Edward soltou um muxoxo e respirou fundo - Continuando, peguei uma das armas, mas não sei usar. Nem ao menos sei pra que serve. Preciso que me ensine em 20 segundos como manuseá-la.

Ah...Era só isso que me faltava. Estou me sentindo no filme jogos mortais. Tenho vinte segundos ou eu morro. Como vou explicar algo pra ele nesse tempo e ainda por cima sem conseguir falar? Por sorte, Emmett já tinha percebido o plano, então continuou enrolando Kate. Edward me mostrou a arma. Era a mesma que eu havia usado em Tanya. Ufa...Seria rápido. Eu acho. Tentei puxar a corda, mas não a movi um centímetro.

-Eu disse para me mostrar, eu faço. – disse decidido.

Edward deslizou lentamente sua mão esquerda pelo meu braço, me torturando até cobrir meus dedos com os seus. Congelei no mesmo instante.Esse vampiro está me provocando. Já não chega sussurrar em meu ouvido com essa voz? Não acredito que ele esta fazendo isso bem quando estou prestes a morrer. Ele puxou a corda facilmente, e assim que ouvi um click, sabia que a corda estava presa. Depois de colocar a flecha no lugar, apontei para o gatilho. E era bom ele saber o que estava fazendo, já que Kate havia descoberto tudo, e olhava furiosa para nós dois.

-Isso vai doer um pouco. – Edward disse a mim.

Em um só movimento, ele me colocou de pé, ainda me dando apoio com seu braço direito ao redor de minha cintura. Confesso que por mais que tenha sido rápido, doeu muito. Consegui abafar o grito, mas as lágrimas foram inevitáveis. Kate estava pronta para atacar, e quando Edward apontou a arma para ela...Tive certeza de que iria morrer. A arma estava ao contrario. Vampiro burro do caramba! A mira estava apontada exatamente para nós dois. Eu realmente me recuso a partir dessa pra uma melhor desse jeito. A morte provavelmente deve estar super confortável em sua capa preta, encapuzada, sentada em uma poltrona de couro, comendo pipoca e rindo da minha cara. Isso já está virando um filme. E eu sou a atriz que se ferra o tempo todo. Preciso falar agora com ele. Talvez se eu disser cada palavra devagar...

-Edward...-respira Bella- Vira...Essa...Merda...Pro...Outro...Lado...

Assim que terminei de falar, Kate correu em nossa direção.  Edward virou a arma em menos de um segundo e atirou na perna dela, a fazendo se estatelar no chão. Não é tão legal quanto ver uma cabeça sendo arrancada, mas isso vale também. Kate rolava de um lado pro outro, tentando amenizar a dor. A flecha estava cheia de verbena, ela não conseguirá se movimentar tão cedo.

- O que fez com ela seu idiota?! –gritou Irina.

Edward e eu estávamos respirando rapidamente. Essa foi por muito pouco. Kate caiu a uns trinta centímetros de nós. Mais um segundo que fosse e eu estaria morta.

-Eu realmente não sei. E acho que Bella não está em condições de explicar. – disse Edward largando a arma e me pegando no colo. – Carlisle,o que eu faço?

- Leve ela lá pra cima. O estomago deve estar muito machucado. Coloque algo gelado em cima para parar o sangramento. Nós cuidaremos das Denali. Eu cuido dos ferimentos menores depois.  

-Mas...Carlisle...Não temos ge...

Carlisle o olhou como se estivesse pensando: “Pare de agir como se não soubesse”.Edward engoliu seco e seus olhos se arregalaram levemente. O que um pouco de gelo tem de tão anormal que pudesse deixá-lo assim?

-Você sabe o que deve fazer.

Dois minutos mais tarde, Edward estava me colocando cuidadosamente na cama. Eu não devia ter saído desse quarto. Tudo isso por culpa de um café da manhã. Levantei minha blusa, pra ver o estrago que Kate havia feito. E olha...Ela está de parabéns. Meu abdômen inteiro está roxo. Tentei tocar, mas não deu. Se por fora está assim, nem imagino como está por dentro.

-Isso está feio. – disse Edward se aproximando com dois comprimidos e os estendendo para mim.

Balancei a cabeça. Não vou engolir nada. Nem falar direito eu estou conseguindo.

-Bella,você vai ter que tomar. Vai diminuir a dor.

Balancei a cabeça novamente. Exasperado, ele se levantou.

-Ok, foi você que pediu.

O que ele pensa que vai fazer? Ele está mexendo nas gavetas. Nas gavetas do Carlisle. Na gaveta em que está escrito “Agulhas”. Só me faltava essa! Nem ferrando! Pensei. Com um sorrisinho no rosto, provavelmente rindo do meu pavor, ele se aproximou com a seringa que já estava preenchida com o remédio.

-Pronta? – disse dando um peteleco na agulha, checando se estava tudo certo.

Quando ia dizer não, já era muito tarde. Ele já havia enfiado a seringa em meu braço. Abri a boca e arregalei os olhos com o susto. Edward não conseguiu segurar o riso. A gratidão por ele ter me ajudado, já se foi.

-Eu pedi pra tomar os comprimidos. – disse tentando justificar.

Se a dor não estivesse instantaneamente diminuindo, eu até reclamaria. Agora é só colocar um pouco de gelo e estarei novinha em folha. Edward jogou a seringa no lixo e depois focou seus olhos dourados em mim, passando as mãos pelos cabelos, tentando achar um modo de dizer o que tinha para falar.

-Sobre o gelo...Precisamos conversar. –disse me olhando cauteloso.

- Quer saber se eu prefiro em cubos ou em formato de dinossauros? – Finalmente...Falando sem ficar com asma.

- É bem mais complicado.

-Como assim? –disse confusa.

Edward suspirou e... Meu deus, porque ele está arrancando a camiseta? Agora sou eu que estou nervosa. Acho que vou ficar sem respirar novamente.

-Edward...O que pensa que está fazendo?

- O que eu queria dizer, é que não tem gelo.

-E por causa disso você vai me estuprar? – disse rezando para ele dizer não.

-Você é insana Bella. Não vou fazer nada disso.

-Ótimo, porque eu faria questão de me matar antes.

-Eu sou tão horrível assim? – disse divertido.

Analisei Edward. Seu corpo era definido na medida exata. Seus olhos ainda me prendiam de uma maneira que não conseguia entender. Seu rosto era totalmente imaculado. E seus cabelos acobreados, largados daquele jeito que tenho certeza de que só ele consegue deixar, me faziam querer alisá-los o dia todo e sua boca...Chega Bella!! Que droga é essa que está pensando? Desvie os olhos dele já e diga o quão horrível ele é!

- Pela sua cara, posso ver que a resposta é não.

Devo ter ficado da mesma cor de uma rosa vermelha. Não sabia que meus pensamentos estavam tão óbvios assim. Ele não tinha o direito de me deixar tão envergonhada.

-Desde quando ficou abusado desse jeito? Da pra parar com gracinhas e ir direto ao ponto? – meu coração vai sair pela boca. Ele está se aproximando.

- Precisamos substituir o gelo por outra coisa.

-O que?! Co...Como assim?!

-Eu vou ser o seu gelo Bella.

Meu coração definitivamente parou. Senti todo o sangue se esvair de meu rosto. Edward se aproximou com um olhar escuro e misterioso. Esperei que a Terra me engolisse, mas nada aconteceu. Ele se deitou ao meu lado e me puxou para seus braços, de modo que ficamos cara a cara, deixando nossos corpos colados um no outro. Coloquei minhas mãos em seu ombro, tentando manter distancia entre nossos rostos, mas ainda assim, estávamos próximos demais. Eu queria sair dali, mas meu corpo não obedecia. Não conseguia reagir. Nunca senti isso na vida. Edward esticou uma das mãos e acariciou meu rosto, tentando domar meu pânico.

-Está tudo bem Bella. Eu vou cuidar de você.

Meus olhos estavam se fechando sozinhos. Eu não estava agüentando mais. Claro, o remédio. E a sensação de seu abdômen colado no meu, estava tendo o mesmo efeito do gelo, me deixando ainda mais relaxada, me fazendo esquecer completamente a dor.

- Durma Isabella. Não vou matar você se é isso que está pensando. Prometo que se amanhã estiver melhor, vou te mostrar um dos segredos sobre sua vida que somente nós sabemos.

- Depois de me dizer isso, espera que eu durma? – disse bocejando.

-Sim, porque se não dormir,eu não mostro nada.

Entreguei-me ao sono, capotando no ombro de Edward. Senti seu beijo em minha testa e sua cabeça descansando na minha, antes de apagar totalmente. E pela primeira vez em muitos anos, por mais que as circunstâncias pareçam estranhas, me sinto completamente segura e protegida.