Minha visão estava embaraçada e minha cabeça latejava de dor. Apertei minhas pálpebras tentando ganhar nitidez na imagem, fiz isso diversas vezes até conseguir ganhar foco. A sala onde eu estava era totalmente branca, exceto pela cor das correntes que me mantinham presa na maca. Tentei levar a mão à cabeça, mas estava muito bem amarrada e isso me impedia de fazer qualquer movimento, por mínimo que fosse. Detestei essa sensação de estar contida a uma cama de hospital, me sentia um animal preso em uma gaiola de uma única cor. O branco total daquele cômodo estava começando a me incomodar profundamente, por isso desviei meu rosto a procura de algum colorido que pudesse me distrair.

Um homem usando jaleco tão claro quanto o restante da sala estava virado de costas para minha maca. Seus cabelos cacheados e escuros batiam na metade do comprimento de seu pescoço, era magro e alto. Poderia jurar que já vira aqueles cabelos em algum lugar, mas não conseguia me lembrar de onde era.

-Onde estou? – Deixei que a pergunta escapasse de minha boca antes que pudesse conte-la.

-Você está na base que agora pertence à Loki, nosso rei. – Respondeu ele ainda sem se virar para mim. Sua voz era grave ao mesmo tempo leve e bastante fácil de compreender. Loki estava novamente reunindo um grupo de pessoas para trabalhar para ele? Parece que o Deus estava novamente encontrando os que detestavam a SHIELD.

-Porque você está aqui?

-Estou aqui, pois Loki será a solução para a Terra. Pretendo ajuda-lo em o quer for preciso. – Ele respondeu com certo fervor em sua voz. Virou-se para mim e foi simples se lembrar de onde eu o vira. Esse era o homem que me fizera massagem cardíaca para voltar a respirar depois de ser encontrada no mar, mas também fora ele quem injetara aquele liquido que me fizera adormecer.

-Loki destruirá a Terra e seus familiares, você precisa avisar a SHIELD sobre os planos dele...

-Jamais farei uma coisa como essa. – Seu belo rosto torceu-se em uma careta para o que eu dissera. Parecia incrédulo com a minha ignorância em querer destruir os planos do “Rei”. Seus olhos ainda possuíam aquele azul descomunal, então entendi que não adiantaria de nada ficar ali durante horas tentando protestar com as coisas que ele dizia, sempre iria proteger Loki.

-Qual é o seu nome? – Perguntei, já que ficaria na companhia dele por muito tempo, então o básico eu deveria saber sobre sua vida. Ele voltou a me dar as costas, organizando algumas coisas sobre a bandeja de medicamentos.

-Misha Jackson. – Respondeu relutantemente. A porta automática da sala se abriu e a pessoa que eu mais queria matar naquele momento entrou com um sorriso triunfante.  

-Não converse com a prisioneira. – Ordenou Loki para Misha que fez um breve reverencia quando percebeu a entrada do Deus. Revirei meus olhos, cansada de toda aquela bobagem.

-Como você pode estar fazendo isso, Loki? Depois de toda confiança que depositei em você, depois de todas as vezes que te defendi quando as pessoas diziam que você jamais iria mudar seu jeito. – Falei indignada, cuspindo as palavras com tanta raiva que sentia meu corpo começar a tremer. Loki fez um sinal para que Misha saísse da sala para nos deixar sozinhos. O homem obedeceu, se retirando silenciosamente e com pressa. O deus da trapaça cortou com seu cetro, as correntes que me prendiam, já que eu sempre fazia isso quando ele estava amarrado.

-Por isso você ainda está viva. Darei o prazer de ser minha companheira nessa batalha contra a Terra. Lutará ao meu lado contra os seus amigos Vingadores. – Disse ele. Comecei a rir freneticamente enquanto me sentava na maca. Ainda usava as roupas da SHIELD, mas agora estavam secas e confortáveis novamente.

-Preferia ter sido devorada por um tubarão!- Levantei e andei pela sala, sentindo minhas pernas um pouco dormentes, voltarem ao normal. – E porque eu faria uma coisa dessas? Se acha que é apenas por minha gratidão, então pode me jogar de volta ao atlântico.

-Não é por esse motivo. Seria simples demais e não me daria garantia de que você permaneceria ao meu lado. – Ele admirava seu cetro enquanto falava com o mistério em sua voz. Comecei a temer seus planos.

-E qual seria?

-Sua família. – Arfei ao ouvir aquelas palavras saírem de sua boca. Como ele teria coragem de ameaçar pessoas inocentes? Agora ela sentia vontade de se atirar de um penhasco por não ter dado ouvidos a Steve quando dizia que Loki não prestava e era uma criatura abominável. Todos ao meu redor tinham razão, mas eu continuava a ignorar o que eles diziam e protegia Loki com dentes e unhas.

-Não faria isso. Sabe que eu posso matar você. – Ameacei ele que não pareceu se intimidar nenhum pouco comigo.

-Isso não faria diferença... Tenho pessoas infiltradas nessa cidade que com um estalar dedos poderiam matar cada membro da sua família. Você poderia me matar, mas isso não os impediria de quebrar o pescoço deles, enfiar uma adaga no coração de cada um. Imagine a cara de dor das suas irmãs, seus sobrinhos... – Isso foi o suficiente pra mim. Ver o divertimento nos olhos de Loki enquanto ele falava sobre como mataria as pessoas que eu amo, me deixou furiosa. Voei em seu pescoço derrubando tudo que havia no caminho. Meu corpo colidiu com violência na parede, atravessando o corpo de Loki.

-VOCÊ NÃO É HOMEM PARA ME ENFRENTAR PESSOALMENTE!- Berrei para as paredes, pois sabia que Loki deveria estar ali fora assistindo o show. Seu holograma sumiu, me deixando completamente sozinha naquela sala infernal.- SEU MONSTRO!

Eu continuei a berrar insultos até as luzes do quarto branco fossem apagadas. O escuro era muito mais confortável, mas não me fazia diminuir a raiva que estava sentindo naquele momento. Queria poder enfrentar Loki pessoalmente e arrancar seu coração pela boca, isso se ele tivesse um coração. Um ódio mortal nasceu dentro de mim em relação ao Deus, se visse aqueles olhos verdes novamente seria capaz de fura-los.

Se ele desejava tanto a minha ajuda, porque não colocou aquela hipnose em mim? Causar dor ao me ameaçar seria mais divertido? Coloquei as duas mãos no rosto gritando exasperada logo em seguida. Tudo que eu mais queria era avisar a Steve que eu estava viva e ele viesse me resgatar. Só que se eu fugisse dali, Loki mandaria alguém matar minha família. Eu não podia suportar a ideia de algo ruim acontecer com eles. Thor e Bruce poderiam tentar protege-los, mas até eu ser capaz de avisa-los para cuidar de Kate, Elizabeth e os gêmeos, talvez fosse muito tarde.

Coloquei a mão em meu pescoço, procurando meu colar para segura-lo, como fazia sempre que estava nervosa ou indecisa. Tateei por vários segundos até constatar que o objeto não estava ali, para minha total surpresa. Talvez tenha caído enquanto me transferiam para essa sala, ou ficado perdida no mar enquanto eu era resgata por aqueles mergulhadores. Agora eu oficialmente estava sozinha, sem nenhuma lembrança que me ligava a Steve ou alguém que eu amasse.

Massageei minha cabeça que doía pela batida que eu havia dado ao pular em Loki, mas acabei atravessando seu corpo por completo. Eu não sabia que ele era capaz de tal magia, mas agora duvidava que soubesse alguma coisa que fosse verdade nele. Ainda não conseguia me perdoar ao ter perdido tempo tentando convencê-lo a se tornar meu assistente naquela experiência. Fiz tudo por possuir um pingo de esperança que ele fosse se tornar um “mocinho” deixando de ser “vilão” nessa história. Totalmente enganada eu estava e agora me martirizava por isso. Briguei com Steve por causa dele, Asgard entrou em uma luta por causa daquelas criaturas que provavelmente estavam lá por mandato dele, tudo de ruim que aconteceu em minha vida foi por causa dele. E NÃO PERCEBIA ISSO!

-Burra, burra, burra. – Falava enquanto batia repetitivamente minha cabeça na parede com força. Uma portinha se abriu na parede, eu fui capaz de ver todo o quarto novamente, já que a luz do corredor entrou. Misha empurrou um copo de agua para mim e sua expressão não mostrava que ele fora obrigado a fazer isso, mas estava ali por conta própria. Senti minha garganta seca e então corri para beber aquele liquido. Certifiquei-me que era somente agua pelo cheiro e tomei confiante. – Obrigada. – Agradeci ofegante enquanto devolvia o copo vazio para ele. Misha apenas concordou com a cabeça me deixando de novo na escuridão ao fechar a porta.

Misha era bondoso e acabou parando naquele lugar contra sua vontade. Prometi a mim mesma que o ajudaria a sair dali, já que na situação que eu estava, era a única coisa que eu era capaz de prometer.