Jogo de Xadrez escrita por Sara Jaganshi


Capítulo 3
Capítulo terceiro: pipocas


Notas iniciais do capítulo

As vezes um simples saco de pipocas aproxima as pessoas...



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Estávamos na terceira aula, e o professor de biologia I ainda não havia chegado. Sim, eu tenho três matérias de biologia, cada uma com um professor diferente. Eu gosto de biologia, só não concordo que nós não tenhamos tempo para laboratórios. Seria interessante interagir com plantas. Eu ficaria apenas triste se tivesse que matar animais, por isso eu não reclamo muito da nossa falta de interatividade com a natureza. Suspiro. Rafael e Renato haviam colocado um vídeo de piadas para assistirmos. Eu não estava dando muita importância. Abri minha bolsa e peguei um saco de pipocas. Mayara estava conversando com Petra, Amanda e Paula. Elas já tinham percebido que eu estava com dor de cabeça. O Nickolai ao meu lado apenas observava o movimento. Notei que ele tentava entender o vídeo. Me levantei. Ele estava na última banca da última fila do lado esquerdo da sala. Perto das grandes janelas que a sala possuía. Era verdadeiramente lindo olhar as nuvens por lá, principalmente por que nós nos encontrávamos no quarto andar. Sentei-me ao seu lado, sem olhar para ele. Não falei nada, não tentei me comunicar. Ele me olhou confuso. Eu o olhei de canto de olho, e apenas inclinei o saco de pipocas em sua direção. Ele sorriu e se recostou mais na cadeira, colocando a mão no saco e retirando algumas pipocas em seguida. Ficamos a olhar a tela, com aquelas coisas ridículas no quadro. Eu ri. Ele me olhou, entre o curioso e o fascinado. Ok, eu devo estar exagerando. Por quê ele estaria fascinado comigo?...

Ele colocou o braço por trás da minha cadeira, apoiando-se nela. E eu pude notar que a tatuagem dele realmente se estendia braço a dentro. Fiquei curiosa. Mas permanecemos assim, compartilhando a pipoca até o professor chegar e acabar com o nosso divertimento.

Fui sentar em meu lugar. Logo, Mayara - uma garota realmente inteligente e amiga. Ela sempre tem respostas sarcásticas na ponta da língua e é realmente uma amiga incomparável, quando não está junto de Paula – coloca em minha banca um bilhete.

“O que está acontecendo entre você e o novato?”

Eu peguei minha caneta verde e respondi prontamente:

“nada. Apenas ofereci um pouco de pipoca!”

O bilhete voltou. Mas não continha apenas a caligrafia de Mayara como resposta.

“Tá legal! Agente finge que acredita que você não está tendo nada com o novato sara!” - eu li, reconhecendo a minúscula caligrafia de Amanda.

“É mesmo, você não pode esconder da gente como está conseguindo se comunicar com ele!” – escreveu Petra – a garota mais gentil que conheci.

Eu entrego o papel respondido.

“Falo sério! Não me comunico com ele!” – escrevi, no que era totalmente verdade.

Elas não acreditaram.

Conversamos ainda mais um pouco, sempre tendo cuidado para que Paôlo Germano – nosso professor de Biologia I. Germano ( como nos referimos a ele) é magro e alto. Por isso, lembra muito o “lula molusco” do desenho “Bob Esponja”. Rimos muito ao fazer tal comparação, principalmente por que até o Humor é parecido. – não pegasse nossa conversa. Eu acabei me estressando um pouco pela insistência delas e queria dar alguma resposta para elas, com o intuito de fazê-las pararem de insistir. Afinal era verdade, eu nunca tentei me comunicar com ele. Ao contrario do resto do colégio.

Após muitas insistências eu resolvi responder: “Tá ok! Eu me comunico com ele por meio do xadrez.”

Elas ficaram sem entender, mas eu não escrevi mais nada, deixando claro que a conversa havia acabado.

Quando a aula de Biologia I acabou, teríamos aula de filosofia, porém a professora Nina rosa – sim, ela me adora! ^^ - estava gripada e não pode comparecer hoje. Estava guardando o caderno quando Nikolai sentou-se a frente de mim, colocando o tabuleiro em minha banca. Ele olhou para mim. Um sorriso brotando em seus lindos olhos azuis cinzentos, juntamente com um sorriso torto em sua boca roseada. Ele havia retirado a gravata que compunha a farda escolar, e desabotoara os dois primeiros botões da camisa branca, revelando a camisa preta de mangas compridas que usava por baixo. Eu senti minhas bochechas enrubescerem. Eu raramente possuía um garoto, - principalmente um tão lindo – olhando diretamente para mim. Principalmente um que estivesse sorrindo de modo tão sedutor. Corei ainda mais ao pensar isso. Olhei para o Tabuleiro. Ele já colocava as pedras no lugar, colocando as brancas em minha área, simbolizando que gostaria de ser as pretas desta vez. Ele parecia se divertir com minhas reações, e com meus movimentos no jogo. Rafael logo veio me irritar.

- Ei 'monstro'! O que está fazendo aí com o Nick? – disse rindo, enquanto vinha até onde estávamos sentados.

Ao ouvir o “apelido” de seu nome, virou-se para encarar Rafael.

- Estamos jogando Xadrez. Algo incompreensível para seu cérebro tão diminuto, Rafael. – disse enquanto fechava a mão debaixo da cadeira. Nikolai havia percebido minha irritação.

- Qualé monstro! Xadrez não é tão difícil assim! Deixa eu jogar vai! – disse empurrando-me de minha cadeira.

Eu odiava o apelido, e não há um só santo dia em que eu não me pergunte o porquê desse idiota me atormentar o juízo.

Saí da cadeira após quase cair dela. Meu rosto deveria estar bastante vermelho por causa da raiva. Nikolai olhou rapidamente para mim e retornou a encarar Rafael, que já reorganizava as peças. Sentei ao lado de Amanda – ex namorada de Rafael – ao qual tentava me acalmar, dizendo para eu não ligar para aquele absurdo. Todos sabiam que eu sou explosiva, e que não levava desaforo pra casa. E todos sabiam o quanto me feria o orgulho não poder revidar aquele hipócrita.

Começaram a jogar. Nikolai estava com um sorriso maroto no rosto. Parecia estar se divertindo com as expressões faciais de Rafael.

O jogo não demorou muito.

Rafael havia saído frustrado da cadeira. E enquanto Nikolai olhava para mim, com um grande sorriso no rosto, eu não pude deixar de me sentir feliz. Senti que ele tinha tido aquela vitória esmagadora para me vingar. Apesar de saber que não deveria me sentir assim, cara... Eu fui ao céu.

O sinal tocou e tivemos que sair da sala. Em meu colégio é proibido ficar nas salas durante os intervalos. As salas são trancadas por meio de códigos de segurança.

Na verdade eu nem gostaria de estar aqui, não sou rica como o resto das pessoas com quem convivo. Quem paga este colégio para mim é meu padrinho. Tio Antony Godoy. O anjo de minha vida.

Saímos da sala e eu não queria nem chegar perto das pessoas que me aborreciam todos os dias. Fui para o lugar mais afastado, o estremo alto das bancas da quadra poliesportiva.

No Real College Goldenen Löwen, temos três quadras dentro do colégio e mais quatro fora. Apenas uma é poliesportiva. E pra essa, quase ninguém vai. Nikolai foi comigo. Sentando-se ao meu lado, ele olhou nos meu olhos e disse:

- Kolya.

Eu não entendi. Pisquei os olhos várias vezes sem entender. Ele estava com o tabuleiro nas mãos e já o apoiava no chão.

Minha expressão era de completa confusão.

- ãh? – foi tudo que consegui dizer. Frustrada por não saber russo.

- nikolai. - Ele fez um sinal de igualdade no chão. Passei a amar matemática por causa disso. – kolya.

- kolya? – falei apontando para ele, que prontamente sorriu e fez sinal positivo com a cabeça.

- sophie – ele disse apontando para mim – Kolya – disse apontando para si mesmo.

Agora entendi. Ele preferia ser chamado de Kolya. Seria algum apelido?

Jogamos durante todo o intervalo. Minha tarde olhando para aqueles olhos azuis fora... magnífica.


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