POV Riley

Já era tarde da noite e uma densa e sombria névoa rodeava as arvóres da floresta, mas eu não me incomodava com isso. Era como se eu fosse conectada com aquele lugar. Isso realmente era óbvio, porque eu era filha de um...bom, digamos que eu era uma caçadora.

O lugar estava muito quieto, sem algum resquício de vida. Sabia que uma hora iria surgir um problema.

Aquele lugar transbordava lembranças para mim, e era tarde demais quando percebi que estava chorando. Minha amiga já caminhava em minha direção.

– Riley, tá tudo bem? - Perguntou uma menina de cabelos espetados.

Asseti em resposta. Bom, Thalia podia ser uma ótima pessoa e líder do nosso grupo, mas eu realmente não estava a fim de desabafar. Mas os olhos azuis intensos pareciam saber que eu estava mentindo. Me encolhi em defesa.

– Bem, mas eu acho que você tem que estar se sentindo melhor para caçar o que procuramos.

SIM, OS VENÁTIOS. Nosso grupo estava procurando por eles há séculos, mas ninguém conseguiu até então e sobreviveu. Até a própria deusa Artemis, nossa inspiração divina tentou, mas sem sucesso. Essas criaturas são traiçoeiras e obssecadas por sangue de outras vivas. E tipo, elas já são muitas. Isso estava acabando com o equilíbrio da própria natureza, e o nosso objetivo era acabar com elas, mesmo se isso soasse um pouco bárbaro.

O difícil era saber se um venátio era uma pessoa do seu lado. PORQUE ELES PODERIAM SER.

Ouvi muito sobre eles quando paramos em um acampamento, onde um instrutora loira não parava de jogar informações na minha cabeça. Ela me disse que eles são lobos de olhos cor de ketchup, mas que podem virar humanos se quiserem, e rodar por aí em o que? Ah...um shopping. Seja lá o que isso for.

Eu deveria estar olhando para um ponto fixo há minutos, porque Thalia estava me olhando de um jeito estranho.

– PARE DE BABAR! – Gritou ela, e isso confirmou toda a minha teoria.

Limpei meu queixo babado enquanto as outras caçadoras apontavam e riam de mim.

Somos muito unidas, então elas não ligaram quando eu explodi as garrafas de água nas mãos delas.

Sim, eu tenho um passado estranho. Na verdade, isso é bem culpa dos meus pais, porque eu não existiria se não fosse por eles, nem os meus problemas, ou bençãos, sei lá.

Fazia muito pouco tempo que eu tinha descoberto que eu era filha da deusa do mar Anfitrite, e que eu era um projeto de vida que não era pra existir.

Muitas caçadoras do nosso grupo são filhas de deuses gregos como Apolo, Zeus, Hermes ou até menores. Ou são meros mortais que acreditam na magia de Artemis em salvar o mundo que acabaram entrando pela sua crença.

Eu sou filha de uma traição. Tudo bem que Poseidon não era nada fiel, mas minha mãe divina o amava e gostava de manter sua lealdade. Até o maldito dia que ela conheceu meu pai.

Eles meio que se apaixoram numa praia, aí um pouco depois eu surgi. Poseidon quis matar minha mãe e tentou botar moral com seu tridente, mas Anfitrite disse que só traiu ele uma vez, e que ele tinha feito isso só 364334665436 vezes.

Ele me baniu de ficar com minha mãe, de crescer no meio do oceano com poderes de semi-deusa, e me deixou com meu pai...que era um caçador...ainda doí falar um pouco dele...

Enfim, cresci em um ambiente totalmente diferente, lutando com esquilos raivosos e mendigos que apareciam em nossa cabana quando tinha apenas 8 anos. A vida foi difícil para mim até então. Meu pai trabalhava para rainha do reino, e eu ficava sozinha durante o trabalho dele. E tinha que me virar...odiava isso. Gostava de ter a mordomia de uma pessoa me servindo e fazendo tudo por mim. E o pior que eu tive que me acostumar com isso, porque o meu pai fez o favor de morrer em uma caçada e me deixar jogada para as traças.

Daí, quando eu estava sozinha e apavorada, Thalia apareceu e meu acolheu. Se tornamos amigas desde então. E a minha vida agora se resume a...

– THALIA, CUIDADO! – Gritou uma voz atrás de mim, dissipando meus pensamentos.

Thalia virou e deu de cara com um venátio, que logo estava com uma flecha cravada na cabeça. Mais lobos surgiram, e seus olhos vermelhos estavam advertindo que iriamos morrer.

– MATA! MATA! MATA! – Outra voz ecoou na cena.

Os venátios estavam dominando as caçadoras, que estavam ocupadas demais tentando fincar as armas nas criaturas, que não paravam de atacar. Eu, por incrível que pareça, estava livre. Acho que eles perceberam que eu sou inútil. Então eu caí num barranco, já que não tinha mais nada para fazer.

Mas que legal. – Pensei – Eu e a minha sorte que não existe.

O barranco que caí era meio alto, o que me fez sentir que meus ossos tinham virados gelatina e eu gemi de dor. O que não foi lá uma das minhas melhores ideias. Vi de esguelha uma luz vermelha no meio da sua escuridão, e pude sentir o podre odor de carniça que vinha da baba do ser. A batalha lá em cima ia ficando cada vez menos importante enquanto a criatura se dirigia a mim com seus olhos cor de sangue. Vou morrer! – Pensei.