Gabriel

Ok. Eu a beijei. Ela me beijou. Nós nos beijamos. Ok. Porque estou assim? Por quê? Eu consegui o que eu queria. Foi por isso que me aproximei. Beijá-la, ganhar a aposta, ter a Lucie. Esse era o plano. Não era? Mas, porque estou me sentindo assim? Porque parece que tomei um sal de frutas e meu estomago está borbulhando? Porque meu corpo está gelado e mesmo assim estou suando? Porque ainda estou pensando nela, se já faz cinco horas que nos vimos? Eu nunca faço isso. Eu não... Preciso falar com John. Agora. Levantei pela quadragésima vez da cama e peguei o celular.

- John? – chamei. – John?

- Oi Gabriel? O que foi? – ele perguntou com a voz arrastada.

- Eu-eu a beijei. – eu disse e apoiei-me na parede.

- O que? Quem? Do que está falando? – ele perguntou.

- Da Mel. Eu a beijei.

- Agora?

- Claro que não. – eu quase gritei.

- E daí cara? Porque está me ligando a essa hora? Amanhã você fica com a Lucie e pronto. Recupera seu orgulho por ter conseguido, finalmente ficar com Amélia, e aumenta o ego por ficar com Lucie. Eu é que vou me ferrar. Coca-Cola e ingressos para festas da cidade. – ele disse rindo. Forcei um sorriso.

- Tudo bem. Só queria dizer mesmo. Até amanhã. – eu disse e desliguei o telefone.

Orgulho e ego. Ok. Era isso que eu queria. Não era?

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- Bom dia filho. – minha mãe sorriu quando apareci na cozinha.

- Bom dia mãe. – eu disse indo em direção à porta.

- Não vai comer? – ela perguntou.

- Não mãe, estou sem fome. – eu disse saindo pela porta do fundo.

Andei rapidamente pela rua. Eu sentia uma vontade ridiculamente incontrolável de vê-la. Eu precisava vê-la. Eu quase corria no meio da rua, ainda vazia. Até que me interrompi, parando subitamente. Acabou a aposta. Agora eu ficaria com Lucie. Não preciso mais ver a Mel. Voltei a andar vagarosamente. Eu queria aumentar a distância da minha casa até a escola, mas quando dei por mim já estava em frente ao portão azul escuro. Entrei e fui direto pra sala. John veio até mim aos pulos.

- E aí cara? Como se sente? – John perguntou rindo. Forcei um sorriso.

- Bem. Estou ótimo. – eu disse jogando a mochila na cadeira ao seu lado.

- Não parece. Não me diga que se apaixonou pela Amélia? – ele riu me empurrando.

- Claro que não. Isso é ridículo. – eu bufei.

- Ah bom. – ele riu. – Olha aí, a Lucie chegou. – John quase gritou no meio da sala.

- Cala a boca John. – eu bufei.

- Cheguei sim, por quê? – Lucie sorriu chegando mais perto de nós dois.

- Nada Lucie. – eu disse.

- Ele beijou a Mel. – John sussurrou e eu o encarei.

- John!

- Sério? – Lucie me encarou com um sorriso. – Cadê a prova? – ela perguntou estendendo a mão.

- O que? Que prova? – perguntei.

- A prova de que você a beijou. Não espera que eu acredite sem provas não é? – ela me encarou de sobrancelhas arqueadas.

- O que você queria que eu fizesse? Tirasse uma foto enquanto a beijava? – eu perguntei alterando minha voz.

- Sei lá. – ela deu de ombros. – Então acho que a aposta acabou. Sem provas, sem aposta. – ela disse. – Você perdeu Gabriel. – ela disse me encarando com ar de deboche. Depois se virou pra sair, segurei-a pelo braço forçando-a a me encarar.

- O que quer que eu faça? – perguntei e ela sorriu.

- Vai ter uma festa de aquecimento para o baile na sexta. Leve-a e beije-a na frente de todos. Aí eu vou acreditar. – ela disse e eu a encarei sem acreditar.

- Isso tudo é por diversão mesmo? – perguntei.

- Começamos, porque não terminar? – ela disse antes de sair.

- Estou começando a achar que essa Lucie é louca. – eu disse e John riu.

- Pra falar a verdade eu também estou querendo ver você beijar a esquisita. – John riu e se sentou.

Encarei a janela da sala e vi Mel passar rindo com Samuel. O sorriso que eu tinha me acostumado a ver nas duas últimas semanas. O que eu estava fazendo? Ia mesmo brincar com ela? Ela era legal. Não, eu preciso acabar com isso. Como Lucie disse, começamos, porque não terminar? Eu pensei antes de me sentar.

                                      Mel

- Vocês se beijaram? – Sale me encarou parando no meio do pátio.

- Sim Samuel. – eu disse. – Não me olhe assim. – eu o puxei forçando-o a andar novamente.

- Gosta dele? – ele perguntou.

- Sim. – eu respondi suspirando. – Gosto. Não sinto isso desde... – eu me interrompi ao lembrar-me do meu ex. – Você sabe. Eu gostava dele porque ela fora meu primeiro em tudo. E agora, com Gabe, é como se ele me fizesse parar de ter medo. Ele me faz ter vontade de fazer coisas bobas, e eu me sinto... Incrivelmente feliz com isso. – eu disse e ele sorriu.

- Isso é bom.

- Isso não foi uma pergunta.

- Não, não foi.

- O que é bom?

- Você estar feliz. É isso que eu quero. – Sale sorriu. – Eu também estou feliz, e preciso te contar algo. – ele disse meneando o corpo. Eu sorri.

- O que? – perguntei.

- Eu...

- MEL! – Gabe me gritou do outro lado do pátio. Eu olhei em sua direção e sorri acenando. – MEL, VOCE QUER IR AO BAILE COMIGO? – ele gritou e eu fique parada no meio do pátio o encarando. Aquilo era sério?

- Responde Mel. – Sale me cutucou.

Ao nosso redor os outros alunos tinham parado para me encarar. Senti minhas bochechas corarem.

- MEL? – ele me chamou olhando-me. Seus olhos estavam quase se fechando por causa da luz do sol.

- ISSO NÃO VALE. – eu gritei e ele riu, entendendo o que eu estava falando. – MAS EU QUERO. EU VOU AO BAILE COM VOCE. – gritei e ele sorriu. Todos ao nosso redor bateram palmas e Sale sorriu. Puxei-o em outra direção.

- O que foi isso? – eu disse quando sentamos na arquibancada do ginásio.

- Acho que ele gosta de você. – Sale sorriu. – E eu não o odeio tanto assim. – ele riu e eu o abracei. – A festa de aquecimento é na sexta, você vai?

- Acho que sim. – eu disse com um sorriso.

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Voltei pra casa mais cedo. Minha turma foi liberada antes das outras. Assustei-me ao ver que minha mãe estava em casa preparando o almoço.

- Mãe? – eu chamei e ela me encarou com um sorriso. – O que faz aqui tão cedo?

- Tive uma folguinha e resolvi vir preparar alguma coisa pra nós duas. – ela disse enquanto escorria o macarrão. Fiquei parada olhando-a. – Vai ficar aí, ou vai vir me ajudar? – ela perguntou e eu sorri.

 Estava tudo muito bom. Bom demais. E quer saber? E eu estava amando isso.