Acordei sentindo um cheiro bom de comida... devia ser mais uma iguaria dos duendes. Criei forças para ficar de pé, tomei banho, penteei meu cabelo, vesti uma roupa qualquer e segui o delicioso rastro do cheiro da comida. Para minha surpresa, não era o Kallifer que estava cozinhando, e sim a Yasmin.

- Bom dia - disse ela.

- Bom dia... não sabia que cozinhava.

- Você me conheceu ontem, bobinho. Ainda há muito o que aprender sobre mim.

- Pois é, né...

De repente, Kallifer Aparece.

- Ér... espero não estar interrompendo nada.

Eu e a Yasmin ficamos feito palermas, e com rostos totalmente avermelhados.

- Não... não interrompeu nada - disse eu. - Vamos nos sentar e comer, porque meu estômago está roncando!

- Já terminei.

- Eu estava lá fora pegando lenha para hoje à noite. Vou apresentar ao meu amigo Luck os perigos da selva no período noturno.

- Ele ainda não está preparado!

- Veremos...

- Por que o valoriza tanto? Acha que só porque ele é o filho do Grande ele tem direitos melhores?

- Só estou preparando-o!

Eu não me sentia bem naquela discussão, os dois falavam de mim como se eu não estivesse ali. Então, resolvi puxar assunto:

- Que comida deliciosa, hein?

Não foi a coisa mais inteligente a se fazer, os dois se retiraram da mesa, e eu fiquei lá... sozinho com aqueles deliciosos brioches.

..

Durante o dia inteiro, eles não se falaram em momento algum. Fizemos todo o nosso treinamento de rotina sem dizer um "piu". Aí a noite chegou, e nós acampamos no centro de uma floresta próxima, para começar um treinamento que prometia ser bem difícil.

- As barracas já estão prontas, Luck. - disse a Yasmin.

- Mas, só tem duas...

- Eu não vou ficar com ele, então...

Eu me enchi de esperança, porque achava que ia dormir na mesma barraca que ela, mas ela disse:

- Você dorme do lado de fora.

- Hãn?

- Isso, vai te ajudar no treinamento, Luck. - Disse Kallifer.

Quase soltei um palavrão, mas minha imagem de bom garoto não poderia ser queimada na frente da menina que eu estava amando.

Os dois entraram dentro de suas respectivas barracas e me deixaram do lado de fora, sozinho com a fogueira.

- Ei? Não vai passar nenhuma instrução?

Ninguém respondeu nada.

- KALLIFER! YASMIN!

Resposta que eu obtive: minha voz ecoando dentre os troncos das árvores.

Percebi que tinham deixado um colchão e um travesseiro para mim. Eu me deitei, e estava quase adormecendo, quando um lobo, bem parecido com o que matou a minha mãe, apareceu.

- Aaai.. - gemi de medo.

Ele avançou numa velocidade impressionante, eu desviei o mais rápido possível, mas ele rasgou uma parte da manga da minha camisa, arranhando-me. Peguei o galho mais próximo e comecei a bater no animal. Também joguei pedras no corpo, e areia nos olhos. Até que ele gemeu, e fugiu.