The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 33
Paranoia


Notas iniciais do capítulo

Se pudesse, eu colocava ação em level extremo a cada capítulo, mas vocês sabem que não dá para ser assim, então, perdoem o capítulo meio parado...



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POV – Claire

A embalagem prometia um macarrão delicioso, embora eu tenha duvidado que aquilo sequer ficasse pronto. Não estava com fome enquanto empurrava a comida congelada para dentro do microondas, mas me obrigaria a comer. Necessitaria de todas as forças possíveis para o que viesse a seguir: dias de fome; ferimentos; doenças provenientes do ar frio que anunciava o começo do inverno...

Eu estava disposta a passar fome, uma opção bem melhor do que usar os alimentos na bolsa de Victor. Era como se aquela comida estivesse manchada pelos fantasmas do que acontecera recentemente. Meu plano era deixar o apartamento sem levar nada mais do que as armas e estas, só levaria porque eram absolutamente necessárias.

Oito minutos depois, o microondas chamou minha atenção para retirar o macarrão do tipo espaguete com brócolis e peito de peru. Não tinha grandes expectativas para a refeição. Retirei a película e mexi um pouco com o garfo, misturando o molho ao espaguete e em seguida, aventurei-me em uma primeira mordida.

A coisa era surpreendentemente boa. Segundos depois, peguei-me querendo devorar aquilo avidamente, mas acabei mastigando várias vezes e com paciência, lembrava de ter lido em algum lugar que mastigar muitas vezes algo pode prolongar a sensação de saciedade, o que era bom, pois eu não sabia quando seria minha próxima refeição.

Dez minutos depois, engoli a última garfada querendo mais, porém, sabia que qualquer busca nos armários do apartamento seria vã, a única comida ali agora se encontrava na maldita bolsa.

Totalmente desanimada, reuni as armas e meu outro par de roupas em uma outra bolsa – não me atrevi a chegar perto da com suprimentos  –, além de um pacote com velas brancas e duas lanternas para proporcionar iluminação.

Dando uma última olhada no lugar que poderia ter sido um lar, um refúgio para trancar as portas e dizer “foda-se” para o resto do mundo, fechei o zíper e coloquei a bolsa nas costas. Tinha duas facas – uma de cozinha que considerei boa para apunhalar algo que chegasse perto demais e uma grande dedicada a matar – e uma arma de fogo carregada. E a Claire que atravessou a porta e largou-a aberta, não era mais aquela mesma garotinha que saíra para buscar suprimentos armada apenas com uma faca, certa vez.

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O primeiro dia sozinha encerrou-se cedo, tive tempo apenas para entrar em uma loja de roupas para roubar um agasalho e, em seguida, migrei para uma loja de conveniência no fim de uma rua calma – ou seja, sem muitos infectados – onde acabei passando a noite. Após fechar as portas de vidro da melhor maneira que pude, aconcheguei-me por trás do balcão, acendi uma pequena vela e assim adormeci, olhando o fogo queimar e degustando um pacote de salgadinho, o único que não passara da data de validade, que encontrei entre as prateleiras perfeitamente arrumadas – como se o fim do mundo não tivesse chegado ali.

Acordei com um baita torcicolo. A noite não tinha sido das melhores. Não tive pesadelos, pelo menos desse mal fiquei livre, talvez porque minha mente paranoica, alerta a cada barulho ou corrente de ar diferente que permeava a escuridão, não tenha dado chances.

Esse segundo dia foi bem mais agitado e longo. Reuni todos os alimentos não vencidos e de fácil transporte, uma caixa com band-aids – o que era realmente muito útil, caso eu fosse mordida por um zumbi, nossa! – e uma garrafa de uma bebida alcoólica escura e de cheiro forte que talvez me ajudasse a anestesiar a mente na próxima noite.

Meu estômago se contorcia de medo quando saí da loja. Não havia nenhum morto-vivo a vista, mas aquilo não me reconfortava. Eles poderiam estar observando do interior de algum prédio e se preparando agora mesmo para atacar. Acelerei o passo, com um nó crescente na garganta, um gritinho esganiçado querendo sair pelos lábios.

Minha sensação de paranoia era tanta que, quando um primeiro infectado surgiu em meu caminho, hesitei quanto à maneira de matá-lo, atingi-o no ombro primeiro, até uma luz iluminar meu cérebro. Só funciona se for na cabeça. Quando seus olhos não tinham mais aquele brilho vermelho demoníaco, arranquei a faca profundamente cravada no cérebro da coisa e prometi a mim mesma que aquilo não iria mais acontecer. Já matei muitos zumbis antes, então o que mudou?! Mas de certa forma eu sabia, faltava-me motivação. Algo pelo qual lutar. Antes tivera os órfãos, depois Ana e até mesmo Victor, mas o que sobrara agora?

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Foi no terceiro dia que comecei a fazer planos. Depois de quase morrer encurralada com vinte zumbis famintos no dia anterior e ser salva única e exclusivamente pela sorte de encontrar a porta dos fundos de uma pizzaria aberta, decidi tomar um rumo dali em diante. Por mais esperta que eu fosse – no fim do mundo, podia me dar ao luxo de elogiar a mim mesma. Ninguém mais faria isso! –, sabia que não seguiria adiante daquela maneira por muito tempo.

Nesse período, comecei a dar um pouco mais crédito à história de Ana sobre o tal shopping e mesmo sem crer muito naquilo, passei a buscar nos rádios, desesperadamente, algum sinal de transmissão daquele tipo. O que encontrei na maioria deles foi uma gravação com a voz do presidente dizendo para nos mantermos fortes, resistir!, pois éramos o povo escolhido e aqueles eram apenas dias difíceis que seriam superados muito em breve. No interior de um carro fedendo a decomposição, ignorei tudo aquilo, até achar uma frequência, apenas uma estação de rádio que não transmitia chiados ou o anúncio gravado. Apenas silêncio. Aquilo foi como se um sinal luminoso se acendesse informando: “Sua tonta! Não vê que encontrou o que procura?”.

Atenta, mal ousei me mover, com medo de perder alguma palavra que eventualmente podia ser dita. Após um tempo, cansei-me e precisei me ocupar da tarefa de investigar o porta-malas, onde encontrei preservativos, dinheiro e uma seringa do tipo que se usa para injetar drogas. Nada daquilo me interessava. Então me voltei para os bancos de trás do veículo, onde repousavam livros de faculdade perfeitamente alinhados em um canto. Um contraste com as drogas no porta-malas.

Mas foi quando voltei à posição inicial, por atrás do volante, que realmente fiquei paralisada. Uma nuvem negra formada por milhares de moscas agrupadas se aproximava, e debaixo da nuvem, uma quantidade indeterminada de infectados cruzava a esquina. Tarde demais para sair correndo do carro, notei. A única coisa em que pude pensar foi em agarrar a bolsa que havia deixado ao lado da minha perna que pendia para fora do veículo e fechar a porta o mais silenciosamente possível. Em seguida, fechei os vidros e me joguei no espaço entre os bancos da frente e de trás do carro, rezando para não ter feito barulho demais. Rezando para não ter sido percebida. Segurei firme a bolsa sobre a minha barriga e mal ousei respirar.

De um momento para o outro, como se uma torneira tivesse sido aberta e liberado uma corrente interminável de água, os zumbis começaram a passar do lado do carro. Os primeiros seguiram reto sem nem olhar para dentro do veículo, mas quem podia dizer se os próximos fariam o mesmo? 


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler, deixe seu review após o BIP! -sqn