Narrado em terceira pessoa

Era uma tarde fria em Leeds. Libni e sua mãe andavam juntas pelo enorme parque encontrado no centro da cidade. Raramente as duas tinha um tempo juntas, com toda certeza elas necessitavam desse tempo juntas. Principalmente para colocarem suas fofocas em dia.

Marie era a melhor amiga de Libni. Ela apoiava a filha em tudo que ela queria e considerava certo. Ela apreciava o talento para atuar que a filha tinha. De todas as formas ela tentava ajudar, como por exemplo, colocando-a em uma escola para pequenos talentos.

O único problema de Libni era ser um tanto que antissocial, atrapalhava um pouco em seus estudos e na carreira que gostaria de seguir. Ela também tinha vergonha e um pouco de timidez, mas isso não era tanto quanto a sua falta de sorte para fazer novas amizades. Sempre que mudará de escola começava tudo de novo. Sozinha no primeiro ano e depois ia cada vez mais se aproximando de alguém.

Esse ano ela queria fazer diferente. Estava determinada a isso. Ela queria poder finalmente conseguir um papel em algo grande. Havia treinado por mais de quatro anos para isso. Mudado de escola mais de cinco vezes nesses anos. Ela precisava daquilo e o bom de tudo isso era que Marie entendia claramente a filha.

– Mamãe. – Marie olhou fixamente nos olhos da filha – Amanhã terei um teste às 7 horas da manhã. Você poderia, por favor, me levar? Ainda estou com um pouco de medo de dirigir...

– Sim querida. Amanhã acordamos mais cedo e tomaremos um café reforçado. – Marie disse enquanto acariciava o cabelo de sua princesinha.

– Obrigada mamãe. – Libni sorriu – Não sei o que faria sem você...

– Nem eu sem você.

Elas pararam perto de um dos bancos do parque. Ele estava um tanto que cheio para aquela tarde fria de domingo. Libni não perdia a chance de mostrar seus dotes para as pessoas. O parque era o local onde mais apresentava a sua peça, “Phenomenon”. Ela havia escrito a mesma. Baseada em umas de suas músicas preferidas.

Libni sempre fazia suas apresentações nos parques, por ser mais divertido, pois lá as pessoas podiam interagir com a peça e por ser mais fácil do que marcar um dia para apresentar-se em teatros. Claro que também havia os pontos negativos, que normalmente eram de não ganhar dinheiro algum com aquilo, mas ela não se importava. Era o que ela gostava de fazer e somente isso trazia a sua felicidade.

– Day... – Libni pegou na coleira de Day (lê-se: Dai), uma Husky Siberiana adulta e soltou a mesma – Pode ir com seus amigos agora.

– Já vai começar? – Marie perguntou sorrindo para filha. Ela ficava muito alegre com a animação e entusiasmo dela.

– Sim! Tenho sempre que praticar, certo? – Libni disse e logo se direcionou para a fonte, onde era localizada a parte central do parque – Senhoras e senhores! Sejam bem-vindos a peça Phenomenon!

Todos olhavam confusos para Libni, primeiramente achando que a mesma estava louca e assim formava-se a aglomeração. Era sempre a mesma coisa. Ela chamava atenção das pessoas, eles olhavam e ela esperava o local ficar cheio. Lançava o seu último olhar para mãe e sempre via os seus lábios mexerem da mesma forma.

Boa Sorte.

Após isso, ela dava a última respirada e começava a atuação. Por ser uma peça de uma pessoa só, ficava um pouco constrangedor, mas já era acostumada com as pessoas que circulavam pelo parque.

– Eu vós digo! Um dia haverá a infestação! E isso será um fenômeno! – Ela andava por todos os lados, olhando para todos que assistiam com atenção a sua maravilhosa peça.

Depois de um tempo explicando como seria que a humanidade acabaria ela colocava a música para todos sentirem como realmente era. Claro, Libni, nunca acreditou nessas coisas de fim do mundo, porém ela gostava de pesquisar sobre aquilo e viu que os fenômenos naturais eram umas das maiores possíveis formas de fim do mundo. Então aproveitou e juntou as duas coisas. O que você faria se estivesse dentro de um fenômeno desses?

– Down, here comes the sound

Everyone pound your feet to this Phenomenon

Now, let's make it loud

Let's show 'em all how you move to this Phenomenon – Libni conseguia cantar em um tom que agradava a todos. Além de ser uma ótima atriz ela tinha uma voz potente.

Acabava a apresentação com a música Phenomenon. E os agradecimentos finais. Todos sempre adoravam e muitos às vezes iam até Libni para entrega-la um pouco de dinheiro, mas como ela era uma boa pessoa, sempre recusava. Não necessitava daquilo por enquanto. Sua mãe a admira por ser tão humilde.

Tudo estava ocorrendo bem naquela tarde. Exatamente perfeito como sempre. Elas estavam voltando a pé para casa. Já estava muito frio e Libni estava sem nenhum casaco. Apesar de a peça dar um pouco de calor humano, por manter contato direto com as pessoas, Leeds, no inverno, era bem fria.

Libni voltava guiando Day que nunca teve a vontade de voltar para casa. Ela adorava brincar com seus amigos do parque. Era incrível a sintonia que todos tinham com aquela cidade. Apesar de Libni ter nascido no Canadá, ela havia se mudado com sua mãe para Inglaterra quando ainda era criança. Na época que seu pai foi para guerra e morreu em combate. Assim as duas começaram uma nova vida na Inglaterra. Tudo era calmo, sem estresse. Não corriam perigo. Nunca aconteceu algo de ruim.

– Day! Vai com calma garota! – A cachorra estava ainda estava agitada. Queria brincar mais e mais – Logo chegaremos em casa e eu vou brincar com você! – Libni disse em tom calmo.

– Querida, o que vai querer para o jantar hoje?

– Ah... Pode ser uma sopa?

– Claro. Temos variados ingredientes em casa. Farei a sua sopa preferida. – Marie tocou na ponta do nariz de sua pequenina que logo retribuiu com um sorriso.

Day avistou a casa e puxou com todas as suas forças Libni para o meio da rua, até a coleira arrebentar e Libni cair no chão. Sua mãe vendo aquilo foi até a filha para certificar-se de que tudo estava bem. Por sorte a rua estava deserta. Libni levantou-se com ajuda de sua mãe e sorriu para ela. Havia machucado o seu cotovelo com a queda.

As duas foram até a porta e Marie abriu. Ele sangrava um pouco. Marie levou Libni até a cozinha e colocou uma gaze para segurar o sangue. Logo aplicou um produto para cicatrizar o cotovelo da filha. Ela estava com cara de dor, mas sabia que aquilo era a solução certa, nem tudo na vida é um mar de rosas. Às vezes temos que sentir algumas dores.

Libni sentou-se a mesa enquanto assistia a sua mãe fazendo a sopa. Ela hora olhava para os ingredientes e hora olhava para janela. Estava nevando. A neve branca sempre chamou a sua atenção, por ser tão bonita.

Distraída em seus devaneios não percebeu que um carro diferente havia parado do outro lado da rua. Quando havia percebido já era tarde demais.

Um objeto cinza. Um barulho. Marie estava morta.