A Primeira Família de Esther escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 13
Ligações


Notas iniciais do capítulo

Pensaram que eu tinha esquecido? Pois saibam que eu planejo postar não só esse, como também os próximos três capítulos, que serão os últimos. E espero sinceramente que vocês continuem lendo e gostando ;)
Boa leitura!



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Conveniente.

No começo, fiquei profundamente enfurecida por ter sido atirada ao chão por aquele fedelho irritante, mas ao que Geraldine chegou e viu que Leon me batia, sem ela saber o motivo, me dei conta do quanto o ato dele foi profícuo.

Mais um ponto para mim.

Leon, que tinha segurado meus braços para que eu não pudesse pegar meu estilete, me soltou, inseguro, após a avó ordenar. Eu sabia que não havia chances de algo dar errado desta vez – os dois irmãos não contariam sobre algo para ela, por medo do que eu poderia fazer com eles.

Levantei-me do chão e saí correndo para os braços de Geraldine, aos prantos, e ela me abraçou carinhosamente.

— Tudo bem, tudo bem. – Disse de modo consolador, e depois fuzilou o neto com o olhar. – Leon, você quer fazer o favor de me contar o que cargas d’água aconteceu?

Sem sair do abraço dela, virei a cabeça para olhá-lo também. Meu choro era sem lágrimas, mas convincente, e eu conseguia forjá-lo ao mesmo tempo em que lançava um olhar de aviso para o garoto.

Leon deteve seu olhar em mim por um longo tempo também, antes de olhar para o chão e murmurar, dirigindo-se à avó:

— Desculpe.

— Desculpas depois! Agora eu quero uma explicação!

— Não existem explicações. – Ele retrucou, levantando a cabeça para olhá-la, agora – Desculpe.

— Esther, o que aconteceu? – Geraldine então perguntou para mim, depois de fazer um gesto de impaciência para Leon.

— Nada! Eu estava no corredor, e ele chegou e me empurrou! – Contei, com a voz chorosa.

— Foi isso mesmo, Mandy?

A menina assentiu, encarando o chão.

Geraldine não pareceu ter se convencido, mas pareceu ter entendido que ninguém ia falar mais que isso.

— Certo. Leon, vá para o seu quarto. Vou ligar para os seus pais mais tarde para contar isso. Mandy e Esther, vão brincar.

— Eu não quero brincar. Eu quero voltar para casa para ficar com o papai e com a mamãe. – Falei, chorosa, me desvencilhando do abraço dela e correndo para o meu quarto.

Lá, imediatamente desabei na cama, para parecer aborrecida caso alguém viesse atrás de mim, e por lá fiquei por vários minutos. Passado algum tempo, levantei, fui até a minha mala, guardei o meu estilete e peguei meu bloco de desenhos e um lápis. Então, voltei rapidamente para a cama, onde pretendia me entreter desenhando até que Geraldine ou Roland viessem até aqui.

Isso não ocorreu durante horas, mas quando enfim ouvi o barulho da porta se abrindo, enfiei o caderno e o lápis embaixo do travesseiro e em seguida enterrei meu rosto lá, como se estivesse chorando desde aquela hora.

Escutei passos se aproximando e depois senti alguém sentando na minha cama, ao meu lado.

— Esther, você não quer vir almoçar? – Era Geraldine.

— Não.

— O Leon vai comer no quarto dele, se for este o problema.

— Já disse que não.

Ela continuou sentada perto de mim e começou a mexer em meus cabelos, como se testando a minha paciência.

— Se você mudar de ideia, e só ir até a cozinha. – Disse, então, se levantando e saindo do quarto.

E eu realmente estava começando a sentir fome, mas se comesse agora, iria acabar por arruinar o meu mais novo plano, que me mandaria de volta para Kentucky. E era um plano simples: Eu só precisava parecer muito, muito mal por estar aqui. Sei como são os Sullivan. Iam me querer de volta num piscar de olhos, se eu estivesse desconfortável.

Foi um golpe de sorte Geraldine vir me trazer um lanche no meio da tarde, porque a única falha no plano era justamente quando eu poderia sair para comer. Assim, foi fácil terminar a tarde e abrir mão do jantar, também.

À noite, foi Roland quem veio, avisar que Rick estava ao telefone e queria falar comigo. Não hesitei para ir correndo até a mesinha do telefone, no corredor, e agarrar o aparelho.

— Alô, papai?

— Olá, querida. Estou com saudades de você.

— Eu também. – Concordei – E eu quero voltar para casa.

— Só mais alguns dias. – Ele ia continuar o que estava falando, mas o interrompi:

— É muito tempo. Quero voltar para casa o quanto antes. O Leon me bateu, o vovô disse? Eu não quero ficar aqui com ele.

— Ele disse, sim. E disse que você não quis sair do quarto desde hoje cedo. Você está se sentindo bem?

Fiz o melhor som de choro possível.

— Não. Eu passei muito tempo da minha vida sem um papai e uma mamãe. Agora, eu não quero ficar longe deles, nunca mais.

— Ah, Esther... – Dava parar perceber que ele estava comovido.

— Por favor?

Rick fez uma pausa.

— Olhe, eu preciso desligar, está bem? A gente se fala depois.

— Tchau, papai.

Desliguei e voltei para o quarto. Eu iria esperar que ele ligasse depois, fosse naquele mesmo dia ou em outro, e iria parecer aborrecida o suficiente para poder voltar antes do tempo.

No dia seguinte, foi a mesma coisa: Fiquei deitada na minha cama, desenhando, e vez ou outra Geraldine ou Roland ficavam indo me trazer comida ou me tentar me convencer a sair para brincar. Sequer vi sombra de Leon ou de Amanda, o que era muito bom, e também era ótimo pensar que eu não precisava mais manter as aparências para eles. Embora a Esther fosse parte de mim, não era agradável sê-la o tempo inteiro. Eu ficava imaginando como seria agir como uma mulher de trinta e dois anos a todo o tempo, sendo que quase sempre tenho de me comportar como uma garotinha de oito.

Fiquei atenta para ouvir se o telefone tocava, e nada escutei o dia inteiro. Por ruim que isso fosse, decidi que só pediria para ligar eu mesma se eu também não recebesse uma ligação amanhã.

E no final das contas, não foi necessário, pois Geraldine veio me avisar de uma ligação, um dia depois na parte da tarde. E o horário deixava claro uma coisa: Não era Rick quem ligava. Era Eliza.

— Oi. – Foi assim que atendi desta vez, com a voz fria e baixa para que, se alguém passasse por mim no corredor, não pudesse eventualmente ouvir.

— Esther. – Pela voz nervosa dela, vi que Eliza também não estava achando que falar comigo era algo bom. – O que você está fazendo?

— Perdão?

— Eu sei que o Leon não te bateu do nada. Você fez alguma coisa para ele. Você o machucou? Conte agora!

Demorei um pouco para responder, escolhendo bem as palavras:

— Pelo jeito como você fala, acho que foi o Leon quem te contou alguma coisa, para começo de conversa.

— É claro que não! Meus pais me contaram o que aconteceu e eu já estava com um pé atrás com você por causa de acontecimentos passados. Você fez alguma coisa para o Leon, não fez?

Considerei que ela estivesse mentindo para proteger o filho, mas se Eliza mentisse, eu com certeza iria logo descobrir. Pessoas idiotas como ela mal sabiam fazer esse tipo de coisa.

Não respondi, o que levou Eliza, de repente, às lágrimas, e eu não sabia dizer se eram de medo ou desespero.

— Você não pode fazer isso conosco, Esther.

— Fazer o quê?

— Você sabe bem!

— Não, não sei. Eu ainda mal comecei o que eu posso fazer com vocês. – A última frase eu falei num sussurro tão baixo que ela mesma deve ter tido dificuldade para ouvir.

Mas deve ter ouvido, pois em seguida desligou o telefone na minha cara.

Eu tinha gostado de poder falar assim com Eliza, mas a ligação me deixou desassossegada. Seria bom ela desconfiar de mim se eu estivesse perto para controlar a situação, mas se eu estava em outro estado, quem saberia o que ela ia dizer para Rick?

Não que eu houvesse faltado com a verdade em algum momento enquanto falava com ela, é claro.

*********

O som de choro que Rick ouviu ao chegar em casa na noite daquele dia o fez sair correndo escada acima, até o seu quarto, de onde o barulho estava vindo. Mesmo com a polícia montando guarda em frente à casa dos Sullivan, ele continuava a temer que um dia John Murray conseguisse entrar em sua casa novamente, e ferisse mais alguém. E nada lhe foi mais alarmante que aquele choro.

— Eliza? – Chamou, assustado, abrindo a porta e encontrando a esposa sentada na cama deles, encarando o teto. Ao ver que ela estava aparentemente bem, suspirou. – O que houve?

— É a Esther, Rick. – Disse ela, sem olhar para ele.

— O que tem a Esther?

— Eu liguei para ela hoje. – Foi a vez de Eliza suspirar, antes de contar tudo o que havia acontecido, em detalhes. Rick ouviu tudo o que ela tinha a dizer, mas sacudiu a cabeça quando ela terminou a história.

— Não creio que você tenha entendido certo.

— Ah, não? Então, o que mais ela pode ter dito?

— Não sei. – Ela reparou que a voz dele estava gélida quando disse isso, e olhando para ele, viu que seu olhar também estava assim. – Por que você falou daquele jeito com ela, para começar?

— Eu contei o porquê!

— Então eu não entendi bem. Eliza, francamente, ela é uma menina. Não pode ter feito nada disso.

— Quando eu estava na escola, uma menina cortou fora as tranças da minha amiga, que sentava na frente dela. É claro que meninas podem fazer crueldades!

— Tudo bem, algumas meninas podem ser más. Mas não é o caso da Esther. A única coisa que há de errado com ela é que ela está muito mal porque está morrendo de vontade de voltar para casa.

— Não quero que ela volte.

— Eliza! – Rick esbravejou, abandonando de repente o tom calmo. – Chega dessa história!

— Você a quer de volta? – Irritada, Eliza pegou o telefone sem fio, na mesinha ao lado da cama, e o levou até ele. As lágrimas em seus olhos agora eram de raiva. – Ligue para lá. Mas chame Leon e Mandy também, porque quando eles voltarem, pode apostar que haverá uma mudança e tanto nesta casa.

— Certamente vai. – Respondeu ele, arrancando o telefone de suas mãos e saindo do quarto. – E pode deixar. Vou ligar e agendar para que eles voltem o quanto antes.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!