Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa


Capítulo 39
CAPITULO 34 – SEM MÁSCARAS




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O encontro com Sasuke na fábrica foi deturpador. Quando eu saí da sala o hall ainda estava vazio, as secretárias não haviam chegado ainda era bem cedo. Aliás, era cedo demais para Sasuke estar ali, no entanto não perdi tempo pensando sobre isso.

 

Eu desci as escadas e apressadamente atravessei o jardim, em todo o meu trajeto eu não olhei para trás, eu era um “peão” nesse jogo e por isso eu tinha que seguir em frente.

 

E o meu próximo passo seria: encontrar Naruto. Não havia como não fazê-lo.

 

Eu esperei por 30 minutos o ônibus passar, e juro que nunca senti que ônibus viera tão rápido.

 

A caminho do apartamento eu pensei se o que eu estava fazendo era o certo, e considerando minhas opções, não havia dúvidas que ir para a Hungria era o melhor a ser feito; assim eu achava.

 

Eu tinha que sumir do rastro da CIA, da KGB e do FBI levando comigo as fotos dos documentos que provavam à existência de cápsula de bomba de nêutrons. Dessa vez, eu não podia ser tão crédula nas pessoas que me cercavam, todas tinham interesse nessas fotos, e por isso fariam qualquer coisa para tê-las. A verdade era apenas uma: eu estava sozinha.

 

Shikamaru tinha toda a razão, eu era o “peão” do jogo de espiões. E como um peão de xadrez eu não podia voltar atrás em minhas jogadas, eu só podia seguir em frente.

 

Nagato havia começado o jogo, ele me designara como seu peão; todavia o jogo ainda não havia terminado, e se ele havia avançado duas casas ao conseguir envolver órgãos de policia americanos e soviéticos em sua espionagem, então, eu podia fazer a...

 

- Tomada en passant – sussurrei para mim mesma.

 

Literalmente captura em passagem. Essa é uma manobra do jogo de xadrez onde um peão captura outro peão que tenha andado duas casas, no meu caso eu não queria capturar um peão, afinal isso de nada me serviria, eu queria o rei. Como eu não vivia num jogo de xadrez, eu poderia muito bem tentar capturar o rei, mesmo eu sendo um simples peão. Era isso que eu precisava para sair dessa confusão.

 

Dessa vez eu não confiaria em ninguém, eu seguiria meus passos, e eles me conduziam à Hungria. Nagato estava lá, e o exército vermelho soviético também. É, naqueles dias a Hungria havia aberto sua revolta contra a União Soviética publicamente e feito um levante popular, Shikamaru havia mencionado isso quando me contou sobre o jogo de espiões; a Hungria deveria estar um caos.

 

Porém não me importei com isso. Mesmo que eu jamais conseguisse uma confissão de Nagato e muito menos conseguisse o capturar, eu tentaria, e ainda que terminasse morta, eu não romperia minha promessa e nem meus princípios, eu não entregaria as informações nem para a CIA, nem para o FBI e nem para a KGB.

 

Eu desci do ônibus e caminhei até o prédio; as pessoas passavam por mim apressadas, e eu indiferente a elas apenas seguia caminhando e sentindo um imenso vazio crescer dentro de mim. Entrei no apartamento sentindo o cansaço de uma noite em claro finalmente abater meu corpo. Numa primeira olhada no interior do apartamento vi que sala estava vazia, o cobertor e travesseiro Naruto estavam ajeitados sobre o sofá, da mesma maneira que eu os havia deixado na manhã anterior. 

 

Lembrei do que o Sasuke me contara: 

“ Sakura, se isso te importar, Naruto esteve te procurando a noite toda”.

 

Não deveria importar, mas importava. Eu deveria pensar friamente que ele apenas esteve me procurando porque queria as fotos dos documentos, afinal Sasuke já deveria ter lhe contado que eu conseguira as fotos; porém ao lembrar-me do tempo que passamos juntos, eu senti que Naruto esteve me procurando porque estava preocupado comigo. Eu fechei a porta de entrada, e andei em direção ao quarto.

 

- Naruto – arrisquei gritar por seu nome.

 

Não houve resposta. Fiquei aliviada em pensar que ele não estava em casa, seria mais fácil ir embora sem ter que encará-lo; de repente passei a desejar não mais encontrá-lo.

 

Em passos largos dirigi-me ao quarto cuja porta estava aberta, Naruto também não estava lá.

 

Resisti ao impulso de me jogar sobre o macio colchão e descansar; todos aqueles sentimentos se intensificando e em seguida tornando-se mais amenos, somada as recentes descobertas e a noite em claro haviam me deixado demasiadamente cansada. Entretanto, apesar do meu cansado, eu não me deitaria naquela cama; só de me lembrar que Naruto havia estado naquele apartamento com outra mulher, e que eles haviam dormido naquela cama... Eu senti nojo daquele colchão.

 

O apartamento, o fato de Naruto parecer conhecer tão bem a região onde morávamos, o jornal que ele lia... Tudo fazia sentido, Naruto já estivera morando naquele apartamento com sua parceira, uma mulher. 

 

Recordei-me do dia que estive no bar de estrangeiros, eu a conheci, mesmo não sabendo quem ela era de verdade seu rosto ficou gravado em minha mente. Ela tinha os olhos azuis bem claros e o cabelo negro longo contrastava com sua pele alva. O olhar daquela mulher para Naruto, tão terno, me fazia imaginar saber o porquê daquele tipo de olhar direcionado a ele... Eles tinham um caso.

 

Fui à direção ao guarda-roupa, eu não queria mais ficar pensando no que Naruto havia me escondido todo esse tempo, pensar fazia meu estômago revirar e minha cabeça doer.

 

Coloquei uma roupa limpa e peguei minha mala, não havia tempo para tomar um banho, ainda que eu estivesse desejosa disso. Eu comecei a arrumar minha roupa; eu tinha que sair antes de Naruto voltar. Recolhi tudo que estava no guarda-roupa, dei a volta na cama para me certificar que não havia ficado nada para trás, e ao olhar para o chão vi uma camiseta branca de Naruto no chão. Eu a peguei e a trouxe para junto de meu rosto, o cheiro dele estava impregnado na camiseta; recuperando a razão eu joguei a camiseta para longe.

 

- Idiota, Sakura! Você é uma idiota!

 

Era o que eu havia sido uma idiota por acreditar que as palavras de amor de Naruto algum dia foram reais. Caminhei até a penteadeira e peguei a escova de cabelos, não pude evitar olhar meu reflexo desfigurado no espelho; eu mal pude me reconhecer com os olhos inchados e o rosto triste. Dei quatro passos para trás, a minha imagem começou a se distanciar, porém eu ainda me via refletida. Eu estava num estado tão deplorável, tão digno de pena, senti raiva do espelho por ele me mostrar uma realidade que eu não queria ver; apertei o cabo da escova e impulsionando a escova para frente atirei-a contra o espelho. O vidro se partiu ao meio e caiu sobre a penteadeira, houve um tilintar de vidros caindo no chão e se fragmentando ainda mais; agora eu não precisava mais ver o meu reflexo.    

 

Naruto era o culpado disso, e eu também por ter sido tão boba em acreditar em suas palavras de amor. Enquanto eu devaneava sobre um futuro onde estivéssemos nós dois, ele simplesmente queria as informações que eu conseguisse na fábrica. Ele nunca fora meu parceiro, ele era meu... Inimigo! Para mim não havia outra palavra para defini-lo.

 

- Nem uma vez sequer – eu comecei a falar comigo mesma - Naruto me contou nada que havia descoberto na fábrica, mas eu sempre lhe contei tudo sobre meu dia ao lado de Sasuke.

 

Lágrimas caíram de meus olhos. Como doía a traição de quem se ama, como doía ter o coração partido e os sonhos destruídos. Esse era um tipo de dor que corrói o corpo e destrói a alma. Recostei-me na parede buscando amparo.

 

Se eu entregasse as informações para o FBI, eles diriam que eu estava trabalhando para a INTERPOL, e isso me protegeria das acusações de traição a minha pátria. Shikamaru disse que essa era a melhor opção, e talvez o fosse mesmo; afinal eu não podia mais acreditar que o Naruto não me entregaria nas mãos da CIA, eu não podia acreditar nisso, porque ele havia feito tudo para que as coisas fossem assim. Eu havia me entregado a meu inimigo. Sasuke tampouco era capaz de me proteger, e quanto a Hungria... Mesmo não admitindo e achando que eu poderia fazer alguma coisa para capturar o assassino de meus pais, naquela atual situação, eu sabia, no fundo de meu âmago, que eu estava indo em direção a minha própria forca. 

 

Pensei em Nagato, e isso fez a minha vontade de ir para a Hungria crescer ainda mais.

 

Eu ajeitei as coisas na mala e a fechei. Um sorriso nervoso apareceu em meus lábios.

 

- Quão cega eu fui?

 

Acreditei que estava enganando Sasuke, dormi com Naruto e nem percebi que a minha contratação não havia sido feita pelo governo americano. Eu era um fracasso como espiã. No fim, a única coisa que eu provaria para a agência de Nova Iorque que eu era um desastre como espiã internacional.

 

Escutei a porta da frente se abrir, um calafrio percorreu minha espinha. Agora não havia como sair sem encarar Naruto.

 

Peguei meu sobretudo que estava pendurado na porta do guarda roupa e o vesti, senti um peso no bolso, eu havia deixado lá o meu revolver. Os passos de Naruto pelo apartamento estavam concentrados na sala, logo ele viria até o quarto. Não havia como não encará-lo na partida; repentinamente senti vontade de feri-lo assim como ele havia me ferido. Vingança. A vingança parece ser sempre uma boa maneira de revidar nossa dor, como se com isso pudesse fazê-la sumir de nosso coração.

 

Tomando coragem eu tirei o revolver do meu bolso e fui para a sala.

 

Naruto ficou surpreso em me ver ali. Minhas bochechas não estavam mais úmidas, mas meus olhos ainda estavam vermelhos e inchados. 

 

- Sakura, onde passou a noite?

Nós estávamos de lado opostos, um frente ao outro; achei irônica a nossa posição. Eu segurava o revolver atrás de meu corpo, e num movimento rápido apontei o revólver para ele.

 

Os olhos azuis de Naruto se dilataram pelo espanto.

 

- Sa... Sa... Sakura, o que está fazendo?

 

Sua expressão foi tão divertida que por um momento eu tive vontade de rir, mas não o fiz; ao invés disso reforcei a seriedade em meu rosto.

 

- Sakura?

 

- Todo esse tempo eu acreditei em você! – gritei, eu não mais reprimia a raiva dentro de mim.

 

- Sakura, você ainda está chateada por aquela noite? – questionou-me parecendo inocente.

 

A raiva aumentou dentro de mim. Aquela noite no bar, como eu ainda pude continuar acreditando nele depois de tê-lo visto com pessoas estranhas... Eu me lembrei do porquê havia continuado acreditando nele, porque ele havia me prendido seus braços e olhando nos meus olhos me disse que me amava, e que isso não era uma mentira. Só que agora eu não acreditava em mais nada.

 

Eu engatilhei a arma e Naruto fez uma cara de espanto ainda maior.

 

- Hey, Sakura! O que pretende fazer?

 

Sem lhe responder nada eu soltei o gatilho... A arma fez um pequeno barulho. Naruto ficou olhando para mim surpreso, não houve tiro. 

 

- Sakura...

 

- Pare de dizer meu nome! – eu gritei

 

Eu joguei o revolver no chão, a arma deslizou pelo piso indo parar perto dos pés de Naruto.

 

- Não há balas! Eu deveria tê-lo matado por ser um mentiroso.

 

- Sakura, eu...

 

- Já disse para não dizer mais meu nome! – o repreendi – como pode me enganar dessa maneira. Eu confiei em você, acreditei que você era meu parceiro, mas você não passava de um maldito agente duplo!

 

Naruto arregalou os olhos, ele definitivamente não esperava que eu soubesse da verdade.

 

- Quem te contou?

 

- Isso não importa. Todo esse tempo você esteve trabalhando disfarçado para a CIA.

 

- Sakura, eu ia te contar.

 

- Quando? No momento que tomasse o microfilme com as fotos dos documentos das minhas mãos e me entregasse para os seus amigos? Você usou meus sentimentos – acusei-o – Fez com que eu abaixasse a guarda, me fez confiar cegamente em você!

 

Naruto havia feito comigo o que eu havia feito com Sasuke, só que eu havia me apaixonado de verdade por Sasuke. 

 

- Sakura me perdoe.

 

Balancei a cabeça num sinal negativo. Não havia perdão para o que ele havia feito comigo.

 

- Se você fosse apenas o meu parceiro... – lágrimas inundaram meus olhos verdes – Mas você era mais do que isso, e você sabia que eu.... – não tive coragem de dizer - Você nunca me amou! – acusei-o.

 

- Não é verdade! – Naruto gritou em resposta.

 

Uma lágrima escorreu por minha bochecha direita.

 

- Não se atreva a dizer que não é verdade! – repliquei com raiva – Você está do lado da CIA... Até mesmo do Sasuke, toda aquela encenação de ciúmes com seu companheiro da CIA apenas para me fazer acreditar que você realmente gostava de mim!

 

- Sakura, eu te amo - Naruto tentava me convencer de suas mentiras.

 

- Mentiroso!

 

Soquei a parede na minha lateral, o próximo soco seria na cara dele se não parasse de me dizer tais palavras.

 

- Sakura...

 

- Eu confiei em você, eu me entreguei a você... Eu deveria ter dormido com Sasuke na noite do teatro, já que no fundo não faria diferença... Vocês dois são iguais!

 

- Isso não é verdade! – Naruto tentava rebater minhas palavras.

 

Senti a tensão diminuir em meus músculos.

 

- Eu não vou ser mais uma boneca nas mãos da CIA.

 

Eu tirei um microfilme do bolso do sobretudo.

 

- Informações secretas, jogos de espiões... Estou cansada de ser ferida por isso...

 

Eu joguei o microfilme na lareira acesa.

 

- Está acabado.

 

Naruto me olhou incrédulo por minha atitude, porém nem por um momento ele tentou recuperá-lo do fogo; ao contrário os olhos de Naruto estavam fixos em mim.

 

- Eu te amei... Eu confiei em você - continuei meu desabafo.

 

Minhas bochechas estavam quentes e eu sentia o gosto salgado das lágrimas em meus lábios.

Naruto se aproximou de mim, e segurou meus pulsos. Eu lutei para soltá-los. 

 

- Me solte – ordenei

 

- Não até que me escute.

 

Eu continuei me debatendo tentando em vão me soltar, no entanto Naruto não estava disposto a deixar-me ir sem ouvi-lo. Eu estava certa que ele me contaria mais mentiras.

 

Por um momento me aquietei, e inevitavelmente ao levantar minha cabeça, meus olhos se cruzam com os de Naruto. Seus olhos oceânicos estavam sérios e escuros, como um oceano numa noite sem lua, não havia brilho refletido neles.

 

- Eu te amo.

 

Naruto voltou a repetir como se não o tivesse ouvido antes quando ele me dissera essas palavras vazias.

 

- Não diga mais isso... – eu lhe supliquei.

 

Doía demais escutá-las.

 

- Sakura, antes de te conhecer, eles me pediram para que a conquistasse... Que a fizesse confiar em mim...

 

- No começo... – repeti – por isso me beijou naquela noite após a missão na fabrica, era tudo parte de um plano.

 

- Eu não o fiz por isso!

 

Eu me debati mais uma vez, e Naruto me soltou.

 

- Sabe, foi fácil desconfiar do Jiraya, da Tsunade, do Sasuke... mas em você, eu acreditei.

 

Eu não conseguia mais medir minhas palavras.

 

- Nós somos espiões, Naruto. Não existe amor para nós, você me fez entender que não vale a pena sonhar.

 

Naruto me puxou para junto de si, e me beijou a força. Suas mãos se fixaram em minha cintura.

 

Eu o empurrei para longe de mim. Eu o olhei com repulsa.

 

-Você me dá nojo – disse limpando meus lábios – nunca mais toque em mim. Eu te odeio! 

 

Naruto ficou chocado com minhas palavras, mas eu não me importei se o estava ferindo ou não. Ele girou os calcanhares e saiu do apartamento sem dizer nada mais.


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Notas finais do capítulo

nota da autora: Sakura finalmente desmascara Naruto e apesar dele tentar dizer a ela que a ama, a nossa heróina não acredita. Agora Sakura pretende ir para a Hungria mesmo sabendo que ela poderá terminar morta, o que será que vai acontecer?



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