Fear escrita por Adrenaline Plasma


Capítulo 3
Not alone. Not anymore.


Notas iniciais do capítulo

Ok, desculpa a demora de novo. O cap tava pronto semana passada, mas eu só pude postar hoje. Ah uma pergunta, vocês se sentem incomodados quando eu coloco alguma referência real nos caps? Tipo banda, música, jogo etc. Enjoy :3



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   "Adormeci em poucos minutos, todos os machucados latejando juntamente com a minha cabeça. Eu não iria tomar remédios nem nada, talvez se deixasse doer iria um dia me acostumar com a dor."

   

   -Damon POV-

   

   Acordei com o som do meu celular tocando, ainda deitado tateei o criado mudo até sentir o aparelho que também vibrava. Não reconheci o número no visor.

   

   - Alo? - Minha voz estava rouca e minha garganta doía.

   

   - Oi Damon, é o Zack.

   

   - Zack? Onde conseguiu meu número? - Não era minha intenção ser grosso, mas eu ainda estava mais dormindo do que acordado.

   

   - Você me passou, não se lembra? Aquele dia na cafeteria. - Ele respondeu como se fosse óbvio.

   

   - Ah claro, eu me lembro sim. - Não, não me lembrava. - Bom, você está me ligando por...

   

   - Ah é, eu queria saber se você está bem, você não foi na escola hoje.

   

   - Eu...eu estou bem sim, só estava com um pouco de dor de cabeça. - Menti.

   

   - Ah...tudo bem. - Ele pareceu pensar. - Damon, você quer ir no parque comigo hoje? Aquele que tem uma reserva ecológica...

   

   Cocei os olhos com uma certa força. Não queria sair de casa, meu corpo todo doía. Por outro lado eu não queria olhar na cara do Norman hoje. 

   

   - Certo, só preciso de algum tempo pra me arrumar. Posso te encontrar na frente da sua casa? - Perguntei me sentando na cama lentamente.

   

   - Claro! Estou te esperando. Tchau.

   

   Desliguei o celular. Olhei o visor do aparelho, eram duas horas da tarde. Me levantei devagar e quase me arrastei até o banheiro. Me despi e deixei que a água caísse sobre meu corpo, tentava tirar os acontecimentos da noite passada da minha cabeça, mas era impossível.

   

   Antes de sair do banheiro me olhei no espelho. Toquei os cabelos negros que caiam sobre meu rosto, cobrindo parcialmente as marcas escuras em baixo dos olhos, a cicatriz ainda dolorida, e as recentes manchas vermelhas no pescoço. Não pude deixar de notar também as várias cicatrizes nos braços. 

   

   Mas algo não se encaixava na minha aparência, encarei meus próprios olhos refletidos no espelho. Azuis e cristalinos, me fazendo lembrar da minha infância, quando a minha mãe conversava docemente comigo, sempre me dizendo que por meus olhos ela podia ver tudo que eu sentia.

   

   Suspirei e saí rapidamente do banheiro. Vesti uma calça jeans preta, blusa azul de mangas compridas e all star. Desci as escadas com cuidado, pela janela vi que o carro estava parado em frente da casa, mas todos pareciam dormir, o que era estranho pois já era bem tarde.

   

   Fui até a cozinha e peguei uma maçã, eu a comeria no caminho. Tentei sair sem fazer muito barulho, por sorte eu tinha uma cópia das chaves de casa.

   

   Vi muitas pessoas pelo caminho, pessoas felizes. Crianças que corriam com amigos, jovens andando de mãos dadas, todos pareciam sorrir, menos eu. Essa visão deveria estar quase cômica, todas essas pessoas sorrindo alegremente e eu ali, andando de cabeça baixa, os cabelos caindo sobre o rosto, tentando evitar olhares alheios.

   

   Tentei me concentrar no caminho, e em poucos minutos já estava na frente da casa do Zack, quando eu estava entrando no gramado o vi saindo pela porta. 

   

   - Oi, que bom que você chegou. - Ele disse sorridente.

   

   - Oi. - Limpei minha garganta que doia um pouco. - O que vamos fazer no parque?

   

   - Seilá, caminhar um pouco. Eu gosto de ir lá pra relaxar. - Ele disse me puxando levemente pela mão.

   

   Enquanto andávamos em silêncio até o parque, senti algo diferente em mim, era uma sensação boa, como um alívio. Era bom não ter que brigar, não ter que sentir medo. Era isso que sentia quando era criança, quando minha mãe me buscava na escola, quando ela me levava pra tomar sorvete e essas coisas que as mães fazem.

   

   Parei de olhar para o chão e fitei a mão de Zack puxando a minha. Ele parecia gostar de fazer isso. Era bom, eu confesso. Em casa eu não recebia muitos carinhos, Norman nunca o faria. Lucy tentava me trazer esse conforto, mas estava sempre muito ocupada, ou com o trabalho ou com suas quase diárias brigas com o marido.

   

   Zack estava um pouco à minha frente, vi quando ele olhou por cima do ombro e percebeu que eu encarava nossas mãos juntas, ele deve ter ficado apreensivo, pois soltou minha mão e enfiou as dele nos bolsos do moletom. Senti o ar frio tocando minha pele, e o ouvi murmurar um baixo "me desculpe". Não respondi, apenas assenti com a cabeça.

   

   Andamos mais um pouco e chegamos ao tal parque, eu até gostava desse lugar, me lembrava jogos de terror e essas coisas. Havia uma pequena cerca em volta de todo o local, e uma especie de portal de entrada onde estávamos parados.

   

   Zack andou lentamente pela entrada, tocou a primeira árvore que viu e arranhou levemente a madeira, então olhou na minha direção sorrindo.

   

   - Você não vem? - Andei até a árvore onde ele estava. Seus olhos me seguindo. - Você tá quieto hoje...mais do que o normal.

   

   - Não é nada...eu só não estou acostumado com isso. - Respondi caminhando lentamente por uma das trilhas.

   

   - Acostumado com o que? - Ele me seguia pelo caminho.

   

   - Com outra pessoa...eu só...nunca tive amigos, sempre fui sozinho. Aprendi a não me apegar as pessoas, pois elas se vão.

   

   - Eu...nunca vou deixar de ser seu amigo. - Olhei para trás e vi que Zack parou de andar. Ele tinha uma expressão meio triste no rosto.

   

   - Olha, eu não quero te julgar, talvez você até esteja certo, mas com certeza não é o único que já me disse isso. - Tentei escolher bem as palavras.

   

   - Mas eu não vou ser como os outros, é uma promessa. - Ele me fitou por alguns segundos, depois olhou para o chão coberto de folhas. - É que você se tornou alguém especial pra mim, mesmo em um espaço de tempo tão curto...

   

   Suas palavras foram sumindo. Ele realmente parecia dizer a verdade. Eu estava tão cansado dos problemas, só queria ter uma vida normal, pelo menos por um dia. 

   

   Me aproximei lentamente de Zack, seus olhos sempre fitando os meus.

   

   - Eu quero tentar uma coisa. - Eu disse baixo, como se fosse um segredo. Ele apenas assentiu.

   

   Me aproximei mais e o abracei. De súbito, eu sei, mas céus, aquilo era bom. Senti seus braços me envolvendo, retribuindo. Seu corpo era quente, assim como sua respiração, que pairava em meu pescoço. Ficamos assim por alguns minutos, quando nos separamos vi que Zack estava bastante corado.

   

   - Puxa...v-você me pegou de surpresa.

   

   Então eu fiz algo que não fazia a muito tempo. Eu sorri, não forçado como das outras vezes. Eu estava realmente me sentindo bem, sem medos, sem preocupações. Um breve sorriso de lado, um grande avanço. Para mim era, todos os meus sorrisos eram irônicos.

   

   Zack sorriu também, a pele do rosto ainda levemente avermelhada. Mas não disse nada, apenas continuou caminhando. Dessa vez eu o seguia. 

   

   Andamos durante um tempo, em silêncio, apenas sentindo, observando as árvores, e vez ou outra comentando algo. Até que decidimos que era hora de ir. Andamos pela trilha, mas não fomos muito longe, em um certo ponto do trajeto Zack parou, uma expressão de dor em seu rosto.

   

    - Espera, eu não estou me sentindo muito bem. - Ele disse colocando a mão na cabeça.

   

   Não tive tempo de perguntar o que havia de errado. Ele se desequilibrou e caiu em um barranco que tinha ao lado da trilha. Não era tão íngreme, mas eu sabia que haviam muitas pedras lá.

   

   Corri até o barranco e tentei escorregar sobre ele com os pés apoiando minha mão direita sobre as várias pedras. Consegui alcançar o solo plano e corri até onde Zack estava. Seu corpo estava meio de lado, mas eu podia ver seu rosto com um arranhão.

   

   Tentei não me desesperar. Virei seu corpo cuidadosamente e o segurei em meus braços. Andei até encontrar uma parte do barranco baixa o suficiente para que eu pudesse subir. Eu pensei em levar Zack até sua casa, mas ele estava desacordado, então a primeira coisa que fiz foi levá-lo até o hospital.

   

   Para minha sorte todas essas coisas como hospitais, escolas e mercados eram encontradas no meu bairro.

   

   Depois de chegar, informar seu nome e essas coisas que se tem que fazer em hospitais Zack foi levado para o interior do prédio. Ele seria internado.

   

   Eu estava sentindo uma enorme culpa, por algum motivo. O pior de tudo é que eu não tinha como avisar seus pais, eu teria de esperar até que ele acordasse.

   

   Depois de algumas cansativas horas na sala de espera ouvi uma enfermeira me chamando. Ela me guiou até o quarto onde Zack estava. Eu odiava corredores de hospitais, silenciosos e escuros, o único som era de alguns aparelho ligados nos quartos, e os irritantes saltos da enfermeira. Suspirei assim que entrei no quarto.

   

   Zack estava deitado na cama, uma agulha enfiada no seu braço esquerdo e soro pendurado em um pedestal. Tinha um lençol até a sua cintura, ainda sim cobrindo apenas uma de suas pernas. Haviam várias ataduras na outra. No rosto um grande arranhão, e seu braço direito estava engessado.

   

   - Como você já tinha dito, só vai poder avisar os pais do garoto quando ele acordar. Você vai ficar com ele até lá? - A enfermeira disse de uma maneira seca.

   

   - S-sim, eu vou. 

   

   Ela não respondeu, apenas moveu a cabeça e saiu do quarto apressada. "Ugh" murmurei fechando a porta, odiava hospitais, e agora odiava enfermeiras também.

   

   Me sentei na poltrona que havia ao lado da cama. Eu precisava ligar para minha mãe. Coloquei o celular perto da orelha, mas não tirei a atenção de Zack, que descansava.

   

   - Damon? O que houve? Por que não está em casa. - Sua voz fina respondeu. Certamente ela sabia que eu não tinha ido pra escola.

   

   - Eu estou no hospital, um amigo sofreu um acidente. Olha, eu pretendo ficar aqui até que ele melhore.

   

   - Tudo bem. - Ela suspirou. 

   

   Nos despedimos e desligamos. Quanto mais tempo eu ficasse longe do Norman melhor. É claro que eu não estava aqui só por isso. Estava preocupado com Zack, ainda mais sabendo que eu era importante pra ele. Isso era estranho, até onde eu sabia a única pessoa que se importava comigo era Lucy. 

   

    O tempo custa a passar em hospitais, havia uma grande janela na parede ao lado da cama, um pouco a frente desta. Acabei movendo a poltrona pra lá, o pôr do Sol parecendo uma pintura, feita pedacinho por pedacinho. Eu particularmente não acreditava em deus, então pra mim toda a beleza daquela paisagem era obra da natureza. Meus pensamentos foram interrompidos por um som atrás de mim.

   

   Direcionei meu olhar para a cama e vi que Zack estava com uma mão sobre o rosto. Me levantei e esperei até que seus olhos se acostumassem com a luz. Ele pareceu surpreso ao me ver.

   

   - Damon? O que você está fazendo aqui? O que eu estou fazendo aqui. - Ele parecia assustado.

   

   - Calma, você sofreu um acidente, caiu em um barranco na trilha essa tarde. Eu te trouxe pra cá.

   

   Ele tentou se sentar da melhor maneira que o corpo dolorido permitia. Parecia mais tranquilo.

   

   - Você me trouxe pra cá? E ficou aqui o tempo todo?

   

   - Sim, eu não te largaria aqui sozinho. Só não liguei para os seus pais porque não sabia o número.

   

   - Nossa...obrigado. Eu não sei como te agradecer. - Ele disse sorrindo. 

   

   Depois disso eu chamei o médico usando um daqueles botões que ficam pendurados ao lado da cama. Na verdade Zack chamou, ele insistiu em apertar o tal botão.

   

   O médico devia ter uns cinquenta anos, usava óculos e uma roupa toda branca. Disse várias coisas sobre o que houve, disse que não foi grave, e pediu o número dos pais dele.

   

   Assim que ele foi embora Zack fez um movimento com a mão livre para que eu me aproximasse. Assim que eu o fiz ele alcançou minha mão e a segurou.

   

   - Eu...queria te agradecer novamente. Você salvou minha vida. 

   

   - Não foi nada, eu só fiz o que era certo.

   

   Ele sorriu de lado e olhou sua mão sobre a minha, então mexeu o polegar acariciando minha pele.

   

   - Você é o melhor amigo que eu já tive. - Seus olhos amendoados encontraram os meus.

   

   Eu sabia que ele dizia a verdade, eu via em seus olhos. Não como das outras vezes. Não como as outras mentiras. Algo me dizia, era impossível discordar. Eu finalmente tinha alguém. Alguém pra não me sentir sozinho. Alguém pra me ajudar. Alguém mais. Não só eu e meus pensamentos. Não só o medo.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Ahh se eu estiver indo muito rápido vocês me avisam (tipo na "relação" dos dois) Vou ver o que posso fazer. :3



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