A areia era fina, e não me machucava. Apoiei minha cabeça em meus joelhos, e os soluços começaram a ficar mais forte. Não queria acreditar que de um jeito ou de outro, acabei perdendo Simon.

Senti a areia afundando ao meu lado. Ergui meus olhos, e vi Percy. ,

- A conversa foi tão ruim assim? - ele perguntou.

Sequei as lágrimas, e respondi:

- Ruim? Foi péssima. Nunca tive tanta vontade de conseguir me afogar. O que está acontecendo, Percy?

Ele me olhou, de um jeito, como se quisesse dizer: "Quer mesmo saber?"

Minha mãe sempre dissera que eu era muito teimosa. Enquanto eu não tinha em mãos o que queria, não sossegava.

- Sei que Quíron falou com você antes - Não sei de onde essa conclusão surgiu, mas parecia certa.

Percy suspirou, então começou:

- Quando cheguei, Quíron me procurou para poder me contar o que havia acontecido. No primeiro momento, não acreditei que Simon fora em uma missão. Não contei para Annabeth, porque conheço ela muito bem, para saber a atitude que iria tomar. Pensei várias vezes em falar com você, mas já estava chegando o dia em que viria. Ontem, Quíron me chamou novamente, então tivemos que busca-la o mais rápido possível.

- Por quê? - perguntei.

- Não sei como te explicar, tentando mostrar que está tudo bem, porque não está – As palavras foram duras, e me acertaram como uma facada - Quíron pode ter falado sobre os monstros, mas não te contou tudo, e sinceramente, não sei se devo contar.

Uma coisa que eu não suportava, era as pessoas fazerem vontade para mim. Principalmente, quando começam a falar e depois param, querendo criar um suspense.

- Já aguentei muita coisa hoje - falei, com a voz rouca - Se for para acabar comigo, que seja de uma só vez.

Ele suspirou, então continuou:

- Há um problema por trás disso tudo. Digamos assim que, Medusa voltou e está atrás de você e de Simon. Uma coisa é certa: a forma que ela foi destruída, não foi normal. O "correto", seria uma longa luta, mas o problema, é que vocês acabaram com ela, em questão de poucos minutos. Foi algo inacreditável. Ela vai querer colocar as mãos em vocês dois, mas agora, com um reforço.

Minha cabeça doía, a ponto de ter que segura-la, para ter certeza de que não explodiria.

- O que vai acontecer agora? - disse - Preciso encontrar Simon.

- Faça o seguinte: converse com Quíron. Você pode conseguir uma missão.

Assenti, mas antes, precisava fazer outra coisa.

- Obrigada Percy - agradeci com toda a sinceridade, e lhe dei um abraço rápido. Me levantei e saí correndo em direção aos chalés.

Parei diante de um chalé rosa com cristais na janela. Não havia duvida que era de Afrodite.

Não sabia direito o que fazer, então, simplesmente toquei na porta.

Uma garota que eu nunca havia visto no acampamento atendeu. Ela tinha cabelo cor de mel e olhos azuis. Era linda, só para manter a tradição.

- Precisa de alguma coisa? - ela falou secamente.

- Sim, preciso - respondi, com um sorriso irônico no rosto - Quero falar com a Luiza.

- Luiza? Posso saber sobre o que se trata?

- Se você precisasse saber, querida, não estaria pedindo para falar com a Luiza. Você pode ter a delicadeza de chama-la, antes que eu tenha que convence-la de outro modo? - Minha paciência estava esgotada. Não valia a pena tentar ser civilizada com uma garota daquele tipo.

Ela me olhou apavorada, então se distanciou.

Pouco tempo depois, uma garota de cabelos castanhos, menores que os meus, mas ainda se podia considerar grandes e olhos castanhos escuros, apareceu na porta. A pele era branca, com um tom um pouco bronzeada. Só pela aparência, a vontade de bater na cara dela, até desfigurar, para que toda a beleza fosse retirada, e meu ciúmes abaixasse, estava tentando controlar o meu corpo.

- Olá? - ela disse delicadamente, com um sorriso brilhante nos lábios.

Respirei fundo e prossegui, sem me importar com a educação:

- Você foi em uma missão com Simon? - perguntei, com frieza tanto no meu tom de voz, quanto no olhar.

Uma expressão de espanto apareceu em seu rosto.

- Ah - ela suspirou - Então você é a Alice, que ele falou a viagem inteira?

Meu coração deu um salto, e o peso na consciência parecia ter toneladas. Voltei a focar no assunto, e continuei:

- Você era vizinha dele, se não me falha a memória.

Luiza concordou com a cabeça.

- Por que você quis ir para uma missão com ele? - perguntei, esperando uma resposta coerente.

- Tenho assuntos mal resolvidos com ele - fiquei furiosa, pelo fato de que ela levou um tempo para responder

- Precisava ficar a sós com Simon.

- Por que queria ficar sozinha com ele? - estava praticamente gritando, mas era exatamente o que queria.

- Alice - ela olhou em meus olhos - Eu ainda o amo.

Depois disso, Luiza fechou a porta na minha cara, me deixando sozinha, com o coração apertado, e com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.