Minha pulsação já não estava muito normal, por culpa do nervosismo. Ver o colar que Simon me dera... se quisessem fazer com que eu meu coração saísse pela boca, havia maneiras mais sensíveis.

Peguei o pequeno objeto na mão, e ele parecia como uma joia roubada: tentador, mas perigoso.

- Quem está aí? - perguntei, então percebi o quão estúpida soou. Claro, porque seja lá quem fosse, daria todas as suas informações.

Ouvi um barulho, que vinha detrás de mim. Virei, e não tinha nem se quer uma sombra. Decidi voltar à posição que estava, e levei um susto, que me fizera pensar que eu desmaiaria, assim como os filmes.

"Alice" Blackack falou "Dock se machucou, certo?"

Minha respiração demorou um pouco para voltar ao normal. Senti minha visão ficando turva e minhas pernas perdendo as forças.

"Nunca mais faça isso comigo" respondi "Onde conseguiu esse colar?"

"Percy pediu para trazer até você"

Assenti, então passei a corrente pela cabeça. Naqueles dois dias, foi o único momento, em que me senti segura e confiante do que estava fazendo. O medo decidira desaparecer, mas enquanto se há a felicidade, sempre terá suas consequências, independente do caso. Sentia ainda mais a falta de Simon. Queria ainda mais que ele estivesse comigo, que me enchesse de palavras carinhosas e doces. Que me abraçasse, e dissesse que me amava.

"Está tudo bem?" Blackjack perguntou.

"Por que não estaria?" retruquei, com um sorriso falso.

"Talvez porque esteja chorando".

Então notei que meu rosto estava quente. Passei as mãos pela maça do rosto, e respirei fundo.

"Não é nada" assegurei "É que nem todas as lembranças boas te deixaram feliz. Algumas podem trazer profundos machucados no coração. Isso se chama saudade, que ao mesmo tempo é tolo, mas você sempre irá sentir, de qualquer coisa ou pessoa. É como se fosse incontrolável. Vamos parar com essa conversa, preciso continuar procurando Simon".

"Como quiser" o pégaso respondeu "Só preciso saber pra onde temos que ir".

"Eu não sei. Preciso ir me locomovendo até saber a resposta".

"O.k. A vigem será longa, então recomendo imaginar um filme qualquer".

Foi quase que impossível não rir, apenas pela situação. Subi em Blackjack, e como de costume, começamos a voar. Tentei imaginar vários filmes como ele recomendara. Mas nenhum me parecia interessante, então tentei começar a pensar em meus momentos com Simon.

E deu certo. Sabe aquele momento, em que você fecha seus olhos, e tudo parece voltar na hora em que tudo realmente aconteceu? Foi exatamente o que aconteceu. Me desconcentrei do mundo, e foquei em minha mente.

Antes de tudo acontecer, de eu descobrir que era semideusa, das fúrias invadirem a minha escola, eu não tinha coragem de dizer um oi a Simon. Então consegui lembrar do primeiro dia que eu o vi.

...

Flashback

Era meu primeiro dia de aula. Estava atrasada, porque minha mãe viera com aquele papo de: "Faça amigos" "Tome cuidado" "Não quer mesmo que eu a leve?", e coisas do tipo. O som dos meus passos ecoava no corredor vazio, mas eu não tirava os olhos do papel que estava em minhas mãos, com todos os horários de aula. A primeira era de biologia, na sala 14. De longe, vi a porta de um armário aberta, e alguém, certamente, estava lá. Fui em sua direção, o mais rápido possível.

- Com licença - comecei - Eu sou aluna nova e...

A porta se fechou, e eu me dei de cara com um garoto. Eu não sei o que deve ter acontecido, mas senti todas as palavras fugindo fora de minha boca, e as razões escorrendo de meu cérebro. Grandes olhos negros me observavam, e cabelos pretos, despenteados, caiam em seu rosto. Ele não sorria, sua expressão era indefinida, e eu não conseguia nem se quer tentar descobrir o que estava passando em sua cabeça.

- Bem, preciso saber onde é a sala 14 - continuei.

- Aula de biologia? - perguntou. Sua voz era rouca, mas continuava forte como um soco. Senti seu hálito de hortelã, mesmo estando em uma certa distância. Meu peito se enchia de ar, e eu não me lembrava do que se fazia a seguir depois disso.

- Sim - respondi - Estou no 2º ano.

- Pode me seguir, se quiser - antes que eu conseguisse falar, ele fechou a porta e começou a andar, mais rápido do que eu conseguia.

- Espera! - gritei, e ele se virou - Qual o seu nome? Quero pelo menos conhecer alguém.

- Simon.

Concordei, e tentei segui-lo. Simon virou à direita, e desapareceu. Procurei a número 14, e entrei. O professor estava de pé, e vi todos os olhares se virando para mim.

Entreguei os papéis que precisava, e sem dizer uma palavra, me sentei na única carteira que restava, cuja mesma, era a pelo menos, quatro da de Simon.

Me sentei, e comecei a ouvir a explicação, mas com a cabeça abaixada.

Sentia um olhar pousando sobre mim, e instantaneamente, me virei para trás.

Ele estava me encarando, e quando virei, consegui ver o que eu esperava. Seu sorriso. Era simpático, mas ao mesmo tempo traiçoeiro. Não sabia se podia confiar naquele garoto, se era certo ser assim tão misterioso. Ele era totalmente diferente dos outros. Seus músculos eram definidos, como os de um homem que malha todos os dias. Enquanto os outros me atraiam por sua gentileza, ou por ser legal, Simon me atraíra por outro motivo que nem eu mesma entendia.

Quanto mais eu o olhava, era difícil dizer que sua beleza não era completamente diferente dos outros. Tinha um jeito misterioso, como se guardasse milhões de segredos apenas para ele, e que ninguém jamais descobriria. Mas a partir daquele momento, o desejo de descobrir, se tornara presente.

Então, sim Nathan, eu acredito em amor à primeira vista.