Parei na margem do Ninor. Thunderbolt estava relutante em atravessar, como sempre. Desmontei, olhando o céu. O sol já estava quase pondo, então eu tinha que me apressar.

Gil’ead estava a sudeste de onde eu estava, e eu gastaria mais uns dias para chegar até lá. A ideia ainda era ir até Dras Leona, mas eu teria que parar em Gil’ead, para pegar mais provisões.

Depois que parti de Yazuac e decidir que iria com certeza para Dras Leona, eu calculei que o que eu tinha comigo não seria suficiente. Peguei as rédeas de Thunderbolt e comecei a puxá-lo, acalmando-o com minha mente.

A correnteza estava forte, mas consegui atravessar o rio. Demorei um pouco mais, entretanto. Já estava escuro quando parei na outra margem.

Tirei a sela de Thunderbolt e deixei-o pastar. Ele ficou rolando na grama, aproveitando o conforto de estar sem a sela. Peguei alguma coisa pra comer e me sentei a uma certa distância de Thunderbolt, dando-o espaço.

Minha viagem estava sendo bem calma, apesar de me sentir sozinha. E a parte dos Urgals, claro. Mas aquilo me surpreendia. Eu imaginava um caminho com um perigo a cada minuto.

Fiquei observando Thunderbolt, até dormir sem perceber.

Acordei com Thunderbolt passando a cabeça no meu braço. Não me sobressaltei, mas me levantei na hora.

– Bom dia, garoto. – Minha voz estava rouca, áspera, pela falta de uso. Me assustei com aquilo, mas ignorei e selei Thunderbolt de novo.

Já estava tarde, eu tinha dormido mais do que o planejado. Montei-o e sai a galope. Me guiei pelo sol, virando na direção de Gil’ead. Tinha que recuperar o tempo que perdi.

O sol já estava no ápice quando fiquei faminta e tive que parar. Não fiquei mais do que vinte minutos parada antes de voltar a montar Thunderbolt e sair galopando de novo.

– Eu sei que está cansado, mas só mais um pouco e chegaremos lá. – Ele continuou galopando, mesmo com o cansaço. Antes de escurecer eu já via o que me parecia um lago. Sorri, revigorada.

Parei quando Thunderbolt não aguentava mais. A clareira ainda me separava de Gil’ead, mas eu já me animara. Me sentei perto de uma arbusto e fiquei contando as horas até dormir.

Acordei sobressaltada, não sei porquê. Talvez um pesadelo, mas eu não poderia ter certeza. O sol ainda não tinha nascido, mas não demoraria muito.

Comi alguma coisa antes de montar em Thunderbolt e fazê-lo cavalgar o mais rápido que conseguia. Cheguei a margem do lago antes do meio dia, mas ainda tinha que contorná-lo para chegar a Gil’ead.

Deixei Thunderbolt seguir num ritmo mais lento, para não se cansar tanto. O lago era imenso, realmente grande, mas também muito bonito. Ao menos eu achei.

Um arrepio me dominou quando me aproximei da cidade. Não me parecia mais uma boa ideia parar ali. Tudo parecia muito sombrio e escuro. Errado. Parecia mais uma fortaleza do que uma cidade.

Eu queria, não, eu tinha que sair dali. Me virei para sair quando alguma coisa aconteceu. Muito rápido, quase não vi nada.

Cai de Thunderbolt, que saiu correndo sem destino. Fiquei sem ar, tentando me levantar. Alguém me segurou, com dedos finos e firmes. Eu queria pegar uma das espadas, mas de nada adiantaria, ou ao menos acho que não.

Ficou tudo escuro, mas me lembro de uma última visão. Um ser, que eu tinha certeza não ser humano, com cabelos e olhos da cor de sangue, de tão vermelhos que eram.