Os Marotos - A Criação do Mapa escrita por Bianca Vivas


Capítulo 18
Por trás do Espelho


Notas iniciais do capítulo

Olá, potterheads, como estão? Dessa vez eu não irei pedir desculpas pelo atraso, porque eu avisei que ele ia acontecer, não foi?
Bem, queria agradecer as meninas que estão comentando, especialmente a Giih Blackheart e Lima ie (eu senti falta de vocês duas)!
Ah, antes que eu me esqueça, vamos aos aviso:
1- Nesse capítulo eu iria narrar o segundo duelo do Sirius, mas o capítulo estava ficando muito grande e por conta de que a) eu iria levar muito mais tempo para escrever e b) eu não queria ter um capt. de mais de 5 mil palavras, eu resolvi deixar essa cena pro capt. 19 ou 20.
2- Nos dias 28, 29 e 30 de agosto será o FIB (Festival de Inverno Bahia) e eu irei, por isso TALVEZ não tenha capítulo novo nessa semana.
3- Minhas provas começam 01/09 e só terminam 08/09, então COM CERTEZA não vai ter capítulo novo nesse período.
Bem, depois dessas notícias tristes, espero que se alegrem com esse capítulo que saiu do forno e foi feito pra vocês haha!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/330774/chapter/18

O ambiente ficou mais escuro. O ar, mais pesado. Uma leve tensão se instaurou entre os três garotos. Tiago piscou os olhos várias vezes; Pedro se encolheu em direção à parede e Sirius ensaiou o início de uma gargalhada. Nenhum dos três estava acreditando nas palavras do amigo lupino. Esperavam a hora que Remo anunciaria a brincadeira. Mas Lupin continuou com a mesma expressão séria. Ele estava falando a verdade.

Tiago tirou os óculos e os limpou na camisa. Passou as mãos pelos sempre bagunçados fios negros. Aos poucos, foi se juntando as sombras da parede. Não era possível que Lupin estivesse sendo verdadeiro. Não sabia o amigo que nenhum deles tinha anos a própria disposição? No máximo, tinham meses! Tinham que acelerar o processo. Só assim poderiam ajudar Remo a atravessar as noites difíceis. Talvez...talvez, com muito trabalho duro, conseguissem. Afinal, eram bruxos extraordinários e sabiam disso. Nada poderia impedi-los.

Sirius permaneceu parado, com o riso ensaiado ainda preso na garganta. Abriu a boca várias vezes. Queria dizer algo, mas não tinha argumentos. Em seu íntimo, ainda achava que tudo poderia ser uma grande brincadeira de Remo. Uma brincadeira sem graça é verdade, mas nada que devesse ser levado a sério. Caso contrário, com toda aquela história de que eles precisariam de anos para se transformarem, o amigo estaria duvidando da capacidade deles. Tudo bem que tinham doze anos e estavam no segundo ano. Mas estavam entre os alunos mais brilhantes de Hogwarts. A animagia seria fichinha quando, no primeiro ano, tinham enfrentado um lobisomem. Sirius tinha certeza de que a transformação não levaria anos.

Pedro, entretanto, não estava tão confiante quanto os amigos. Em sua cabeça havia um turbilhão de pensamentos. Assim como Sirius e Tiago, queria se transformar num animago e acreditar na inveracidade das palavras de Remo. Contudo, sua eficiência em magia era bem inferior que a de todos os seus amigos. Suas notas boas eram devidas ao talento de Remo como professor. Nada era mérito seu. E, para piorar, a matéria que tinha mais dificuldade, que tirava as notas mais baixas e que menos gostava era, justamente, transfiguração. Como dissera Lupin, levaria anos até que finalmente atingissem aquele objetivo — e ele levaria mais tempo ainda.

— O que a gente vai fazer agora? — perguntou Pedro, com um fiapo de voz.

— Bem — começou Tiago, num súbito ataque animação — eu não sei você, mas eu vou tentar até eu conseguir me transformar num animago.

O menino Potter saiu das sombras projetadas pela parede e foi andando, num ritmo rápido, rumo à Sala Precisa. Estava decidido. Não iria ficar parado, esperando os anos passarem. Iria tentar. E, se falhasse, bem, saberia o que não deveria fazer.

— Você está louco? — gritou Remo, correndo atrás dele e puxando-o pelo braço. — Essa é uma magia perigosa e avançada. Você pode morrer tentando!

— Acontece que eu não ligo. — Tiago puxou seu braço e continuou andando.

— Tiago! — Remo tentou gritar, mas o menino Potter fingiu não ouvir e apenas seguiu seu caminho.

Sirius, que apenas após aquela cena se deu conta de que Remo realmente falava a verdade, foi de encontro ao menino.

— Talvez ele esteja certo, Lupin — Black disse, dando um tapinha no ombro de Remo. — Tentar e falhar, tentar e falhar. Uma hora a gente consegue. E, se a gente morrer no processo, pelo menos vai ter sido divertido.

Remo revirou os olhos. Não acreditava que Sirius, além de estar do lado de Tiago, fazia piada com o assunto. Se bem que era bem a cara do Black esse tipo de coisa. Lupin suspirou e viu Sirius andando devagar para a Sala Comunal da Grifinória. Chamou Pedro e os dois seguiram o menino de cabelos negros.

Talvez Tiago estivesse certo e talvez ele só precisasse de um descanso para pensar melhor a respeito do assunto.

***

Potter estava decidido. E um pouco enfurecido também. Dava passos firmes e rápidos. Mal percebia o trajeto que fazia. Passava pelas pessoas sem realmente vê-las. A sua frente, enxergava apenas a porta da Sala Precisa, que em breve apareceria para ele. Ele poderia morrer, mas tentaria com todas as suas forças, todos os dias, se transformar num animago. Ah, o mais importante: não levaria anos até conseguir.

Ele não se importava com o fato de animagia ser magia avançada. Muito menos com o fato de ter de se registrar algum dia. Ele não ligava a mínima para isso. Queria ajudar Remo. Estar presente nos momentos bons e nos ruins também: isso é ser amigo. Tiago Potter levava a amizade muito a sério.

Estava com esses pensamentos na mente quando virou o corredor e trombou com alguém. Era uma menina branca e magra. Sentiu o corpo quente dela bater rapidamente no seu. Foi impulsionado para trás e caiu sentado. Fechou os olhos, como se assim fosse possível evitar o impacto com o chão. Quando os reabriu, não enxergava nada. Percebeu que seus óculos haviam caído do rosto. Tateou o piso em busca do objeto, mas não o encontrava.

Ao virar o rosto para frente, se deparou com a mão branca estendida para ele. Segurava seus óculos. Tiago os colocou no rosto e quando foi agradecer, percebeu quem era sua benfeitora: Lilian Evans.

A menina ruiva estava em pé, com os braços cruzados. No rosto, um sorriso que para Tiago era zombeteiro. Atrás dela, como seguidoras fieis, estavam duas de suas amigas. Eram garotas morenas com longos cabelos, e vestidas com casacos da Grifinória, também com um sorrisinho no rosto. Uma delas tinha uma franjinha ridícula e a outra usava uma tiara vermelha. Tiago as reconheceu, depois de alguns segundos, como sendo Dorcas Meadowes e Mary McDonnald — elas eram suas colegas de classe, mas ele nunca havia trocado sequer uma palavra com qualquer uma das duas.

— O que está fazendo, Evans? — Pelo que se lembrava, era a primeira vez que chamava Lilian pelo sobrenome e pareceu estranhamente apropriado, devido a raiva que estava sentido dela desde o início do dia.

— Ajudando você — ela respondeu, fechando a cara. — Mas pelo visto você não precisa da minha ajuda. — Ela passou por ele e lhe deu um empurrão que quase o fez cair de novo.

Tiago ficou observando ela se afastar. Mary e Dorcas duas vezes viraram para trás e riram, mas Potter não ligou. Sua atenção estava voltada para o movimento dos longos fios ruivos de Lilian, que batiam nas costas da garota em um ritmo furioso, como se refletissem o humor dela.

Vendo Lilian caminhar para longe, Tiago se lembrou da briga que tiveram naquela manhã. Quer dizer, do pequeno mal-entendido. Afinal, ele não tinha culpa se a garota não tinha nenhum senso de humor. E tinha menos culpa ainda do fato dela não aceitar que aquele seu amiguinho da Sonserina, o tal do Severo, era chato e seboso. Relembrar o fato fez o menino voltar a sentir raiva de Lilian. E não importava o que Sirius havia dito, ele não iria resolver nada. Quem começara fora ela e era ela quem teria de pedir desculpas.

Com passos firmes, sem nem mais se lembrar da Sala Precisa ou da conversa com Remo, ele marchou até a sala comunal — precisava esfriar a cabeça e jogar conversa fora. Porém, tomou cuidado para não esbarrar em Lilian. Não queria ter o desprazer de ser obrigado a ouvir a voz da garota mais uma vez naquele dia. Depois de alguns corredores, decidiu que tomaria outro caminho. Mesmo que mais longo, seria melhor que ter de observar o movimento daquela cabeleira ruiva a sua frente.

Chegou a sala da Grifinória depois de muito andar. Passou pelo retrato da Mulher Gorda — que por um incrível milagre, não cantou ou reclamou de nada, apenas abriu a passagem — e deu de cara com Lilian conversando toda animada com seu melhor amigo. Ao lado dela, com um livro aberto no colo e recitando feitiços baixinho, estava Dorcas Meadowes. Remo e Pedro jogavam xadrez bruxo num canto distante, e Remo estava ganhando de lavada. Não havia sinal de Mary McDonnald.

— Cadê a Marlene? — Tiago se aproximou e perguntou, interrompendo a conversa de Sirius e Lilian.

Sirius disse não saber e Dorcas confirmou. Lilian apenas olhou Tiago com raiva e começou a se levantar.

— Com licença — ela disse —, mas o ar acabou de ficar poluído. — E saiu pelo quadro da Mulher Gorda.

— Exagerada... — Dorcas comentou baixinho e voltou aos livros.

Tiago revirou os olhos e sentou no lugar de Lilian. Agora que ela não estava mais ali, ele podia permanecer. Começou a conversar com Sirius sobre o jogo de quadribol. Queria saber cada detalhe. Já que perdera tudo tendo que limpar aqueles arquivos do Filch, pelo menos tinha que ouvir uma narração digna.

Em algum momento da conversa, Dorcas parou de repetir os feitiços que tinha de aprender. Passou a prestar atenção nos dois Marotos. Quando viu uma brecha, interrompeu os dois:

— Ei, sem querer ser intrometida, mas como foi aquele duelo na lua cheia? — ela perguntou cheia de empolgação. — A Marlene não quis dar detalhes nem pra Lilian e, bem, eu estou muito curiosa.

Os meninos se entreolharam. Não sabiam se podiam contar os detalhes para Dorcas. Sirius tomou uma decisão rápida.

— Eu duelei e ganhei.

— Eu tô falando sério, Sirius. — Dorcass revirou os olhos sem conseguir se impedir de rir um pouco.

— Ele lutou contra Régulo Black, se é o que quer saber — Pedro falou, chegando por trás, de mansinho.

— E ganhou por sorte, porque ele não sabe nem segurar uma varinha direito — Remo acrescentou.

Tiago e Dorcas começaram a gargalhar. Sirius fechou a cara para os outros Marotos. Ele estava lutando contra o irmão, poxa! Não tinha como ser completamente eficiente. Aliás, do jeito que ele estava, não tinha nem como ser minimamente eficiente. Não era justo que ficassem rindo dele.

— Calem a boca! — Sirius jogou uma almofada em Tiago e outra em Pedro.

— Ok, ok, parem com isso — Remo pediu, parando de rir. — Tiago, Sirius, a gente precisa conversar com vocês.

Eles pediram licença à Dorcas e foram até o dormitório. Pedro tinha um sorriso no rosto e parecia bastante ansioso para partilhar o que quer que fosse com Sirius e Tiago. Remo, como sempre, escondia as emoções e o que iria dizer. Black e Potter estavam ligeiramente curiosos.

— Desembucha logo, Remo — disse Tiago, assim que entrou no quarto.

Os meninos se sentaram no chão, em círculo, e Remo começou a falar. Sua expressão era de entusiasmo. Sabia que seus amigos haviam levado um baldo de água fria ao descobrirem sobre os animagos, mas aquilo reavivaria os ânimos deles. Precisavam de algum objetivo e ali estava.

— Olha, eu sei que vocês devem estar chateados por não poderem se transformar logo, mas tem algo que precisamos fazer tanto quanto treinar vocês em animagia. — Pedro, que já sabia sobre o que era aquilo, sorria mais que tudo. — E eu não sei se vocês lembram, só que a gente ainda tem que mapear a escola, né?

— Tá, tá, tá, tá —Sirius interrompeu — continua logo.

— Então, a gente tem que começar logo! Precisamos mapear a escola para fazer o Mapa do Maroto!

A reação esperada por Lupin não veio. O único que tinha os olhos brilhando era Pedro. Os outros dois apenas olhavam com cara de “tanto faz”. Não se importavam com aquilo. Queriam virar animagos. Apenas aquilo. Remo começou a ficar com raiva por conta daquela obsessão. Será que não ia parar nunca? Tinham muitos planos a traçar, muitos objetivos a cumprir. A vida não era resumida a fazer magia avançada de maneira ilegal!

Teve vontade de gritar isso para Tiago e Sirius. Eles agiam feito duas crianças imaturas. E ele estava pouco se lixando para o fato de Tiago e Sirius realmente serem duas crianças imaturas. Só queria que os dois se concentrassem em alguma coisa. Alguma coisa que fosse possível realizar naquele momento.

— Tudo bem, já que não fazem questão, acho que seria útil se começassem a treinar para o próximo duelo. Ele deve ser marcado logo — Remo falou de uma maneira fria.

Lupin levantou e saiu do quarto. O entusiasmo de antes havia desaparecido. Black e Potter ficaram surpresos com a atitude dele, mas deram de ombros. Remo dava chiliques de vez em quando, não era nada demais. Saíram do quarto também, mas não para se juntar a Lupin. Iriam ao Salão Principal jantar, já deveria estar na hora. Chamaram Pedro. Ele não quis ir justificando que iria conversar com Remo. Os meninos não se importaram.

Desceu as escadas do dormitório junto com Sirius e Tiago, parando de segui-los ao encontrar Remo sentado num dos pufes vermelhos da Grifinória. Estava com o nariz enfiado em um livro grosso. Hogwarts: Uma História estava estampado na capa. Segurava a varinha e parecia fazer alterações no livro com ela. Dorcas Meadowes, entre uma anotação e outra num pergaminho, observava o que ele estava fazendo.

Pedro o chamou algumas vezes e em nenhuma delas ele escutou. Aproximou-se do amigo e puxou o livro da mão dele.

— Terra para Remo — disse — O que está fazendo?

— Tentando achar um mapa de Hogwarts, mas não tem em lugar nenhum desse livro. Então estou procurando todos os lugares que existem aqui e marcando, para poder me lembrar depois — respondeu Lupin, arrancando livro das mãos de Pedro e voltando a fazer suas alterações.

— Já pensou que não precisa fazer isso sozinho?

— Se Sirius e Tiago não acham isso importante, eu acho! — Remo retrucou sem nem ouvir o que Pedro dissera.

Pettigrew revirou os olhos. Algumas vezes, Lupin era mais teimoso que o Sirius e o Tiago juntos. E, para piorar, nem ouvia o que os outros tinham a dizer. Suspirou, pensando em tirar o livro novamente da frente do amigo lupino, mas sabia que não adiantaria muito. Ficou sem saber o que fazer, porque realmente ficara animado com a ideia de mapear Hogwarts inteirinha. Não queria ser deixado de fora daquilo por puro capricho de Sirius e Tiago, e pela teimosia de Remo.

— O que vocês precisam tanto fazer que está causando tanta briga? — Dorcas perguntou, balançando a franjinha a cada palavra dita.

Remo olhou a menina com raiva. Ele já não estava no melhor dos humores e ela ainda vinha se intrometer na conversa dele. Já era demais! Ignorou completamente a garota. Pedro, entretanto, não conseguiu se conter. Sem pensar duas vezes, soltou:

— Estamos construindo um mapa de Hogwarts.

Os olhos azuis da menina se arregalaram por detrás dos óculos pesados. Em seguida, seu rosto se iluminou num sorriso que foi sendo revelado aos poucos. Assistindo à reação de Dorcas, Remo sentiu vontade de voar no pescoço de Pedro. Aquele era um segredo dos Marotos e ele o contara para a primeira estranha que vira — mesmo que ela não fosse tão estranha assim.

— Pois eu tenho a solução perfeita — ela disse, bem lentamente, após algum tempo.

— Ah, e eu posso saber qual é? — Remo perguntou ironicamente, de nariz torcido.

— Malcolm, o irmão da Marlene, sabe onde vende um bocado de coisas legais. Aposto que ele consegue comprar algo pra vocês. — Dorcas se levantou, pronta para ir até o Grande Salão falar com Marlene. — Bem, mais prático que desenhar Hogwarts inteirinha, não acham?

Remo estava prestes a dizer que aquela era uma ideia genial, mas se conteve. Quem a teve havia sido uma menina praticamente desconhecida, que ele não sabia se poderia confiar ou não. Ele não podia ficar feliz por isso. Apenas ficou mais emburrado. Agora, com raiva de si mesmo por não ter pensado naquilo antes.

— Olha que ideia maravilhosa, não é Remo? — Pedro perguntou, todo animado, mas Remo apenas virou a cara para os dois. — Obrigada de verdade, Dorcas.

Dorcas balançou a cabeça, e puxou Pedro pela mão. Nunca fazia um trabalho pela metade. Iria levá-los até Marlene. Tinha certeza que a amiga pediria esse favor ao seu irmão, que prontamente o cumpriria, já que eram muito unidos. Ela saiu puxando Pedro retrato da Mulher Gorda afora, saltitando de felicidade. Sempre quisera ser amiga dos meninos, como a Marlene e a Lilian — mesmo que ela nunca admitisse isso — eram. Achava o máximo a ideia que tinha dos Marotos. Queria fazer parte daquele seleto grupo também.

Eles desceram as escadas que levaria ao Salão no ritmo de Dorcas: correndo. Estavam indo tão rápido que Pedro sequer notou a ausência de Remo até chegarem ao cômodo onde o teto imitava o céu. Mas ele não se importou muito. Lupin estava emburrado porque Sirius e Tiago não deram a devida importância ao projeto dele e ia acabar mais atrapalhando que ajudando ali.

Foram, milagrosamente, andando até a grande mesa da Grifinória. Não foi difícil achar o lugar de Marlene. Ela estava, como sempre, com Tiago e Sirius. Dessa vez, Marlene não estava tão animada quanto antes. Tentava conciliar uma conversa civilizada entre Tiago e Lilian, mas cada vez que algum dos dois abria a boca, era para ofender o outro. A briga dos dois estava passando dos limites.

— Marley! Marley! Marley! — Dorcas chegou gritando, toda afobada, chamando a atenção do pequeno grupo e de alguns outros alunos. — Precisamos da sua ajuda. Quer dizer da ajuda de seu irmão!

— Ei, calma garota — disse Marlene, sem nem estranhar o escândalo. Era típico de Dorcas. — O que é que manda?

— Bem, a gente precisa que seu irmão arranje um mapa de Hogwarts. Urgente! — foi Pedro quem falou, também bastante animado.

— Pra quê? — Lilian perguntou, interessada.

— O Remo que deve ter pedido, pro Mapa do Maroto — Sirius respondeu e Pedro confirmou com a cabeça.

— Ah... — Lilian deixou a interjeição pairando no ar. — Coisa dos Marotos. Não me envolvo.

A menina já foi levantando da mesa, mas Marlene a puxou de volta com tanta força que ela caiu sentada no banco de madeira.

— Se envolve sim! — disse para Lilian e voltou sua atenção para Dorca e Pedro. — O problema é que tanto Malcolm como Maxwell saíram para encontrar garotas da Corvinal. A gente vai ter que procurar por eles.

Dorcas deixou os ombros caírem, desanimada. Pedro também sentiu seu sorriso murchar. Achava que tudo seria mais rápido e mais fácil. Lilian revirou os olhos e cruzou os braços, esperando pelo que viria, e tendo a certeza de que não gostaria. Sirius parou de prestar atenção e começou a brincar com sua varinha. Apenas Tiago estreitou os olhos, estranhando o que Marlene dissera.

— Então acho que a gente deveria se dividir em grupos para procurar — Marlene anunciou toda animada. — Eu e Sirius, Dorca e Pedro e Lilian e Tiago.

Se Tiago estava desconfiado, agora tinha certeza. Marlene estava tramando alguma coisa e essa história de seus irmãos terem saído com garotas era pura historinha. Ele já ia protestar, mas Lilian foi mais rápida. A menina ruiva levantou da mesa, batendo as duas mãos na superfície de madeira. O impacto foi tamanho que o cálice com suco de abóbora virou de lado, derramando o conteúdo por toda a mesa.

— Eu definitivamente não vou com ele a lugar algum! — ela gritou, com sua voz afinando demais.

— Vai sim — retrucou Marlene —, não adianta nem reclamar.

Sirius que já entendera o que estava acontecendo, entrou na brincadeira de Marlene.

— Eu e a Marley ficamos com o térreo e o primeiro andar. Dorcas e Pedro podem procurar no segundo e primeiro andares, enquanto vocês dois olham o quarto e o quinto. Depois a gente procura os outros lugares juntos — ele informou, puxando Marlene, sem dar chance de Lilian e Tiago falarem algo mais.

Dorcas, toda animada — afinal nunca participará de alguma missão dos Marotos —, puxou Pedro pelo braço e saiu correndo pelo Salão Principal. Pedro também sentia a adrenalina entupindo as suas veias, passando por cada poro de seu corpo. Desde que libertaram Sirius do castigo imposto pela Sr.ª Black, ele não se sentia tão vivo, não sentia que fazia parte de algo.

Do grupo, restou apenas Tiago e Lilian. Eles continuaram parados no mesmo lugar. Ela com os braços cruzados na frente do corpo, os olhos muito verdes ardendo em ira e o cabelo ruivo emoldurando aquela face raivosa. Parecia uma mini fadinha enfurecida, só lhe faltou as asas. Já Tiago, estava sentado. Seu olhar estava longe e ele era a expressão do tédio. Por dentro, queria esganar Marlene por tê-lo obrigado a ficar perto de Lilian Evans.

Os dois haviam sido amigos por pouco tempo no ano anterior, mas Tiago duvidava que fariam grandes progressos no relacionamento se Lilian continuasse a ser amiga do Seboso. Severo Snape e Tiago Potter eram inimigos desde o dia em que se encontraram pela primeira vez. Esse fato tornava impossível a aproximação de Potter e Lilian.

— Eu quero fazer isso tanto quanto você — Tiago quebrou o silêncio instaurado entre os dois —, mas a Marlene não vai desistir e quanto mais cedo a gente começar, mais cedo a gente termina e se vê livre um do outro.

Tiago simplesmente não acreditava nas palavras que acabara de proferir. Eram incoerentes com quem ele era, mas em seu íntimo, sabia que era a coisa certa a fazer. Pela primeira vez, sentia um desejo incontrolável de evitar confusão. Talvez fossem todos os acontecimentos do dia tendo efeito sobre ele ou, simplesmente, algum encantamento desconhecido.

Lilian arregalou os olhos verdes, sem acreditar no que seus ouvidos haviam captado, tampouco. Tiago sabia que ela sempre esperava o pior vindo dele. Aquilo deveria ter sido uma surpresa e tanto. Por dentro, ele estava feliz com aquela reação dela.

— Tudo bem então. Vamos logo — ela concordou, ainda estranhando aquilo tudo.

A dupla deixou o Grande Salão em silêncio. Durante as várias vezes em que as escadas mudaram no caminho para o quarto andar, a falta de conversa prevaleceu. Eles escutavam apenas os murmúrios animados dos alunos de Hogwarts ou as instruções dos quadros que tentavam conversar com eles.

Não estavam daquele jeito porque não tinham assunto, muito pelo contrário. Eles apenas estavam cansados de brigas. Queriam permanecer em paz. Mas Tiago bem sabia que não conseguiria segurar sua língua por muito tempo. Quando já estavam num dos corredores do quarto andar, ele soltou uma piada:

— O que o Seboso acha de você estar apaixonadinha pelo Remo? — ele perguntou, já rindo.

— Eu não estou apaixonadinha por ninguém! — Lilian ficou vermelha como seus fios. — E o nome dele é Severo!

Tiago revirou os olhos, mas continuou rindo. Lilian brava era uma imagem muito engraçada de se observar. Ainda mais quando aquele humor era totalmente sem razão. Como daquela vez.

— Uuh, então por que vocês estavam abraçadinhos daquele jeito? — ele zombou e continuou a rir.

Lilian, porém, estacou. A expressão dela atingiu tons cinzentos e a menina continuou andando. Tentando esconder o rosto dentro dos cabelos longos.

— Não interessa — ela disse, de cara fechada. — E para de falar no diminutivo! — Lilian gritou e começou a andar mais rápido, ultrapassando Tiago.

Só com essa reação estranha e séria de Lilian que Tiago percebeu que algo importante havia ocorrido naquela manhã. Lilian não estava brincando de dar abraços e, pelo visto, estava chateada com razão — uma razão que só ela sabia, mas que não era diminuída em importância. Ao se dar conta dessa verdade, Tiago correu atrás dela.

— Ei, Lilian, espere! — ele pediu, constrangido por ter zombado dela quando o assunto parecia ter uma importância realmente grande.

Lilian não parou nem diminuiu o passo. Essa atitude dela obrigou Tiago a correr mais rápido. Quando finalmente a alcançou estavam numa parte do quarto andar que Tiago não lembrava de já ter explorado. Estavam em frente a uma parede creme, cheia de quadros que foram colocados ao redor de um grande espelho de moldura dourada.

Lilian parou em frente ao objeto. Observa sua imagem. Ele refletia uma garotinha ruiva, de olhos verdes brilhando com as lágrimas que teimavam em cair por seu rosto.

— Lilian! O que aconteceu? — Tiago perguntou, tocando de leve seu ombro. Há muito tempo não se sentia verdadeiramente preocupado com a menina Evans.

Lilian enxugou os olhos com as costas de uma das mãos. Permaneceu calada. Ao que parecia, não queria falar sobre o assunto. Vendo a reação dela, Tiago percebeu que era algo que a machucava muito. Num impulso, Potter a abraçou e Lilian finalmente desabou. Ela chorava copiosamente, enquanto Tiago, sem ação, apenas acariciava os fios ruivos dela.

— O que aconteceu? — ele voltou a perguntar, com um misto de preocupação e curiosidade.

— A P-P-Petúnia... — Lilian levou um tempo para responder e, quando o fez, tinha a voz quebrada, devido aos soluços — ... ela me d-d-disse co-coisas horríveis! — Ao terminar a frase, ela enterrou o rosto no magro tronco de Tiago.

— Só isso?

Ele queria incentivá-la a continuar, mas Lilian interpretou as palavras do menino de uma maneira completamente errada. Saiu do abraço dele, empurrando-o em direção ao espelho de moldura dourada. Seus olhos verdes, antes banhados em lágrimas, agora atingiam um tom escuro com a raiva que voltava. Ela secava o nariz que escorria na manga do casaco, enquanto esperava recuperar o fôlego para falar.

— Só isso? Você acha pouco...? — foi tudo o que ela conseguiu dizer, antes que as lágrimas voltassem a cair.

— Não, Lily, não foi isso que eu quis...

Tiago se aproximou da garota, para lhe pedir desculpa, mas antes que pudesse ter qualquer atitude, Lilian sacou a varinha. Ela apontou o objeto mágico para Tiago e proferiu o feitiço que o arremessou com força contra aquele espelho de moldura dourada. O impacto produziu um barulho oco e uma dor muito forte nas costas de Potter. Ele precisou de um grande esforço para começar a se levantar.

— Uma ajudinha aqui seria ótima — ele disse, de uma maneira irônica, para Lilian, quando a viu se aproximar do espelho.

— Ah, cala a boca Tiago — A menina não deu muita importância para o colega caído, estava prestando atenção em alguma outra coisa.

Forçando os braços, pernas e a coluna, Tiago se pôs completamente de pé e se aproximou de Lilian. Ela estava observando o espelho. Passava os dedos pálidos pela moldura dourada, como se quisesse encontrar algo ali. Tiago a observava atentamente e, algumas vezes, tentou descobrir o que ela tanto procurava, mas a menina sempre lhe repreendia.

Num dado momento, Lilian olhou para Tiago com um grande sorriso. As lágrimas haviam secado e havia certo prazer em suas feições. Ela segurou com força um pedaço da moldura dourada e a puxou. O espelho saiu da parede, deixando parte de sua moldura ainda presa a ela. Onde ele estivera antes havia um túnel, nem muito estreito, nem muito largo e com altura igual à do espelho. Era uma...

— Passagem secreta! — Lilian completou o pensamento de Tiago.

A voz da menina estava animada, excitada. Não pensara realmente que poderia encontrar algo assim em Hogwarts. Tiago compartilhava da mesma emoção dela. O coração dele estava disparado e um único pensamento começou a invadir sua mente.

— Precisamos contar para Remo!

Ele fechou a passagem com força e puxou Lilian pelo braço. Viraram correndo os corredores e subiram as escadas saltando degraus. Tiago nem se importava com a mudança das escadas. Apenas seguia seu caminho. Precisava contar logo a Remo e também aos outros Marotos. Tinha certeza de que, assim com ele e Lilian, nenhum dos outros sequer imaginava que haviam passagens secretas em Hogwarts. E no plural, porque com certeza havia mais de uma. Afinal, um castelo grande como aquele não teria apenas uma saída secreta para beneficiar seus alunos mais travessos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Quero saber a opinião de vocês e.e
E vocês, fantasminhas, acho bom comentarem, ok? Eu gosto muito de todos vocês, por isso quero saber o que estão achando!
Ah, tenho uma pergunta pra vocês: o que acharam dessa última cena da Lilian e do Tiago? Eu gostei, mas fiquei bastante insegura, então me digam o que acharam, ok?
Beijos e, talvez, até a quinta



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Marotos - A Criação do Mapa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.