— Nossa, até que fim vocês chegaram. — Alice falou me abraçando — Como você está hoje, Belinha?

— Na medida do possível, bem. — falei tentando fazer a melhor cara possível.

— Espero que esteja falando a verdade — ela falou dando uma piscada e virando-se para Jasper, acrescentou — Oi amor. Senti tanto a sua falta.

Eu amo muito a Alice e o Jasper, mas era muito difícil ficar vendo a cena do "casal perfeito". Os dois sempre foram muito melosos, cheios de amor para lá, docinho para cá e sempre fiquei meio enjoada com isso. Nunca fui assim. Não sei por que as pessoas dizem que quando nos apaixonamos não conseguimos respirar direito, para mim isso é crise de asma.

Depois de alguns minutos assistindo a pornografia gratuita, achei que já estava na hora de interferir.

— Oi pessoal, eu estou aqui. Sou pequena, mas não chego a ser invisível — falei meio sem graça.

— Desculpa Bella — Jasper falou corado — Você sabe como a Alice é. Toda vez que essa mulher me vê ela me agarra desse jeito. — ele falou rindo.

— É apenas saudades. — Alice falou, enchendo ele mais de beijos.

— Ok gente, vocês já mataram a saudade. — falei tentando fazer cara de séria.

— Desculpa Belinha. — ela falou rindo e cochichou no ouvido de Jasper — Mais tarde tem mais. — E depois acrescentou: — Bom, espero que não estejam com fome por que fiquei arrumando o apartamento e não deu tempo para fazer nada.

— Até parece que a gente ia querer que ela cozinhasse, não é Bella? — Jasper falou rindo e indo se sentar no sofá.

— Nós podemos pedir uma pizza. — Sugeri tentando evitar que Alice, que era pior do que eu cozinhando, se aventurasse na cozinha.

— Ótima ideia Belinha. Ligue que eu vou arrumar a mesa.

[...]

O apartamento da Alice era pequeno, já que o apartamento da família dela foi vendido há um ano quando os pais viajaram para a Itália a trabalho e acabaram ficando por lá mesmo. Apesar de ser pequeno, era confortável e eu não me importava de ficar aqui, mas não por muito tempo por que Alice e Jasper vão se casar logo e não quero ficar atrapalhando a vida dos dois.

Estava passando pelo quarto de Alice quando me deparei com um porta retrato em cima do criado-mudo. Era a foto dos pais dela. Miranda e Harry são maravilhosos, tão divertidos quanto Alice e eu os considero bastante. Miranda sempre foi uma mãe para mim e Harry foi à única figura paterna que tive já que o meu pai Charlie morreu quando eu tinha cinco anos.

Eu invejava a Alice por isso. Por ter pais maravilhosos, uma família equilibrada e que a amava. Graças a Deus, por um acaso do destino, eu posso dizer que hoje faço parte desta família. Porque se não a tivesse comigo, não sei o que seria de mim. Fiquei passeando pelo quarto, vendo algumas coisas de Alice. Ela é sempre tão delicada, tudo acaba ficando com a sua cara. Este lugar é tão fofo, tão Alice. Sempre gostei de vir aqui, me traz energia positiva.

— Belinha, vem! A pizza vai esfriar. — Alice falou aparecendo do nada na porta do quarto.

— Estou indo. — falei e fui andando em direção à sala.

— Bom temos portuguesa e mussarela... Quer qual? — Alice falou me olhando.

— Para mim não importa. Faz tanto tempo que não como pizza que nem me lembro o gosto. — falei dando um sorriso tímido.

— Por quê a cobra da sua mãe não deixava dizendo que engordava — Alice falou rindo — Então só por ela ter falado isso, você vai se empanturrar de pizza só para mostrar quem manda.

— Sim senhorita Brandon — falei rindo e entrando na brincadeira.

E assim passamos a tarde toda rindo e comendo pizza. E depois rindo ainda mais, e comendo pizza, pizza, pizza...

— Acho que nunca comi tanto na minha vida — falei acariciando a barriga — Nossa... Estou me sentindo enorme.

— Pode ir se acostumando Belinha, por que se quiser morar aqui vai ser assim sempre. — Alice falou rindo e pegando mais um pedaço de pizza.

— Então a Bella vai virar uma baleia — Jasper falou rindo.

— Não seu chato — Alice falou — Eu quis dizer que aqui é assim, que comemos sem culpa e nos divertimos... É assim que tem que ser.

— Entendi. — falei e me lembrei de algo — Alice, adivinhe quem o Jasper conhece?

— Quem? Não me diga que você conhece uma estilista famosa e ainda não me apresentou?— ela falou olhando para ele.

— Claro que não Alice. Ele conhece o Dr. Cullen, o meu fisioterapeuta — falei e a expressão dela foi superengraçada.

— O que? O seu médico gostoso? — ela falou histérica — Como assim amor?

— É o Edward, Alie. Eu já falei dele.

— O Edward que estudou na mesma faculdade que você? — ela perguntou surpresa.

— Sim – Jasper respondeu.

— Ah, então está explicado Belinha por que eu não o reconheci — ela falou olhando para mim — Eu só o conheço de tanto o Jasper falar dele, mas nunca nos vimos pessoalmente.

— Meio estranho isso, não acha? — perguntei.

Essa história estava muito mal contada. Alice conhecia todos os amigos do Jasper. E Jasper já se formou há um tempo e se ele e o Edward se conhecem desde a faculdade, Alice devia conhecer ele já que eles já namoram há três anos.

— Também sempre achei estranho. Me conta essa história direito amor. — Alice pediu a Jasper.

— Garotas... Quando conheci a Alice, já era amigo do Edward. Mas logo depois ele teve uns problemas e ficou assim meio antissocial.

— Assim do nada? — falei irritada.

— Não do nada Bella, mas ele deve ter os seus motivos. – Jasper falou sério e com cara de que não queria continuar falando do assunto.

—Ok. Vamos acabar com o papo Dr. Cullen gostosão. — Alice falou séria — Belinha, sabe que dia é hoje?

— Hum... Sábado? – falei meio distraída ainda pensando na história mal contada que o Jasper falou.

—Sim e dia do quê? – Alice falou dando um sorrisinho e fazendo a mesma cara de uma criança sapeca.

— Não faço a mínima ideia – e eu não fazia mesmo. Os dias que passei no hospital me fizeram perder totalmente a noção do tempo.

— Hoje é o dia da apresentação de balé da companhia. – ela falou dando um sorriso que me fez ver todos os seus dentes branquíssimos.

— Ah.

— Belinha, não faz essa cara. Nós vamos né?

— O que? Não Alie, não sei se estou preparada. – falei com uma expressão triste.

— Preparada para o quê? – Alice falou segurando minha mão.

— Preparada para ver o que perdi Alice... É isso! — falei angustiada.

Não queria admitir isso, mas era a mais pura verdade. Por mais que eu saiba toda a dor que a dança trouxe para minha vida, mais precisamente as pressões da minha mãe e o que eu me tornei, ainda amava dançar. E não sei se estava pronta para ver o que tinha perdido. Talvez eu volte a dançar, talvez Edward seja um bom fisioterapeuta e faça um trabalho excepcional. Mas não vai ser a mesma coisa. Mesmo voltando, não vou dançar como antes.

Tentei conter as lágrimas que estavam tentando aparecer. Hoje não iria chorar, pelo menos hoje não.

— Perdeu? Não sei de onde você tirou essa palavra. Você pode ter perdido muita coisa, mas a dança? – ela falou sorrindo— Ela está aqui, dentro de você – falou apontando para o meu coração – E nada nem ninguém vai tirar isso.

— Ok, Alice. Mas não posso voltar a dançar... E ver todo mundo dançando, vendo outras pessoas fazendo o que sempre fiz na minha vida, é angustiante. – falei secando uma lágrima teimosa que conseguiu descer.

— É melhor você não tirar conclusões precipitadas agora. Se você irá voltar a dançar ou não quem irá te dizer é o seu médico gostosão. – Alice falou transformando o momento tenso em algo engraçado, como ela sempre fazia. Dei um riso abafado e um sorriso tímido.

— Alice, será dá para você parar de chamar o Edward de gostoso? Isso já está me irritando – Jasper falou sério – Eu sei que o cara é bonitão, mas disfarce pelo menos.

— Está bom meu namorado gostosão ciumento – ela falou enchendo Jasper de beijos – Não vou chamar o Dr. Cullen de gostosão... Pelo menos não na sua frente – falou rindo e depois continuou com um assunto que preferia que ela esquecesse —Então Belinha, nós vamos sim. E nem adianta falar mais nada.

[...]

— Alice confesse: você está usando esse salto tão alto só por que não vou poder usar um.

Estava indignada. Apesar de nunca ter gostado muito de usar salto, tinha algumas ocasiões que pediam isso. E essa era uma delas. Alice como sempre me convenceu a ir e também escolheu minha roupa. Eu gostei, mas faltou o salto. Regras do meu fisioterapeuta.

Enquanto isso, Alice estava em frente ao espelho exibindo o seu salto.

— Até poderia tirar e colocar uma sandália baixa – ela falou reprimindo um sorriso – Mas já não sou alta e tenho essa carinha linda de bebê, vou acabar sendo confundida com uma adolescente de 14 anos.

— Nunca você seria confundida como uma adolescente. Nunca. – falei e nós rimos juntas.

— Alice? – falei mudando um pouco de assunto.

— Que foi Belinha? – ela falou olhando para mim.

— E se a minha mãe for? – falei transmitindo um pouco de medo na minha voz.

Essa era uma possível probabilidade, já que a minha mãe sempre acompanhou todos os passos da companhia e eu temia encontra-lá.

— Se ela aparecer, e acho que não vai, nós falamos com ela normalmente. E nos retiramos ok?

— Parece tão fácil quando você fala. E como foi quando você foi pegar as minhas coisas? – falei tentando fugir um pouco do assunto, mas ainda falando da minha mãe.

Tinha me esquecido de perguntar isso a ela. Acho não deve ter acontecido nada demais, se não Alice já tinha entrado no assunto. Mas se eu bem conheço minha mãe, ela não deixaria Alice entrar na casa dela, levar as minhas coisas e não falar nada.

— Na verdade, quando cheguei ela não estava em casa. Então peguei a chave do beiral, que eu sabia que vocês guardavam ali. Arrumei todas as coisas e quando já estava saindo ela chegou. Expliquei a ela que estava levando as suas coisas e ela me disse alguns desaforo e me chamou de intrometida, fez algumas ameaças, chantagens emocionais. O de sempre, então... Foi normal.

— Que bom que foi normal para você. – falei dando um suspiro e um sorriso para a Alice. Ela conseguia transformar tudo que a minha mãe fazia na coisa mais natural possível.

– Então, como estou? – Alice falou fazendo uma pose e colocando as mãos na cintura.

— Hum... Me deixa dar uma olhada. – a fiz dar uma voltinha – Muito rosa, muito brilho, está vestida digna de Alice. – falei rindo e dando uma piscadela.

— Bobinha. – falou e sentou ao meu lado – Que horas são? Será que o Jasper já está vindo nos buscar?

Levantou e foi pegar o celular para ver o horário e ao mesmo tempo ouvimos a campainha tocar.

— Sempre pontual. – falamos e rimos ao mesmo tempo.

Fui abrir a porta e o Jasper estava superelegante. Com um smoking chique. digno de uma pessoa para assistir uma apresentação de balé.

— Nossa! Você está muito elegante – falei olhando ele de cima a baixo – Alice, venha ver seu namorado. Parece outra pessoa. – falei e Jasper deu um sorriso envergonhado.

— Bom amor – Alice falou aparecendo na porta – Dessa vez você arrasou e nem precisou da minha ajuda.

— Tinha que estar digno de sair com essas duas gatas – ele falou fazendo charme – E a propósito, vocês duas estão maravilhosas.

— Hoje você está muito galanteador, senhor Jasper – falei rindo e olhando para a Alice – Só podia ser seu namorado mesmo.

— Também acho Belinha.

[..]

— Eu te falei, Belinha, que a sua mãe não ia estar aqui, não foi? – falou a Alice enquanto estávamos saindo do teatro e indo em direção ao carro.

— Verdade – assenti – Nossa, foi tudo tão lindo. Todas as meninas dançaram muito bem. – falei dando um suspiro profundo e lembrando a apresentação que tinha acabado de assistir.

Estava tão perfeito, tão magnifico que eu queria estar lá no lugar delas. Queria poder sentir aquele frio na barriga, antes de me apresentar. Sentir todo aquele nervosismo, os votos de que tudo daria certo da professora. E por fim, ouvir os aplausos. Sentia tanto medo de não poder sentir estas sensações novamente.

— Belinha meu amor, não faz essa cara – Alice falou me abraçando – O nosso dia foi tão perfeito, não me diga que você não gostou.

Estava sendo egoísta novamente. O dia de hoje foi muito bom mesmo. Foi até melhor do que eu tinha imaginado. Meu primeiro dia fora do hospital, depois de tudo que aconteceu . Sem Mike e sem a dança. Coisas que nunca imaginei perder desta forma e mesmo assim o dia tinha sido bom. Apesar de tudo eu estava aqui e tinha cumprir a palavra de que iria mudar.

— Sim Alie, foi maravilhoso. – falei – Obrigada, vocês dois, por serem tão maravilhosos comigo. Eu amo muito vocês – falei e abracei o casal que mais amo nesse mundo.

E então entramos no carro. O Jasper iria nos deixar na casa da Alice e depois iria para casa. Já fazia um tempinho que estávamos no carro e estava o maior silêncio. Felizmente o silêncio foi quebrado por Alice, como sempre ela não conseguia ficar muito tempo calada.

— Nossa que silêncio está nesse carro. Vou colocar algo para a gente ouvir. – Alice falou mexendo no som do carro.

— Amor, Belinha... Vamos cantar? – ela falou fazendo uma carinha e virando o rosto para mim e para Jasper ao mesmo tempo.

— Já estou cantando. – Jasper falou e logo depois começou a cantar o refrão da música.

— Vamos Belinha, acompanha a gente... – Alice implorou.

— Alice não inventa, por favor. – falei, mas ela não me ouviu e cantou ainda mais alto.

‘’Yo I'll tell you what I want, what I really really want,
So tell me what you want, what you really really want,
I'll tell you what I want, what I really really want,
So tell me what you want, what you really really want,
I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really
really really wanna zigazig ha…‘’

A música era um pouco irritante, a letra era um pouco idiota, mas era divertida. E ver Alice e Jasper cantando e se divertindo assim, me deu vontade de fazer igual. Me diverti um pouco, coisa que não fazia há muito tempo. Enfim me rendi à música e digo que foi uma das melhores coisas que já fiz na minha vida.

‘’…If you wanna be my lover, you gotta get with my friends,
Make it last forever friendship never ends,
If you wanna be my lover, you have got to give,
Taking is too easy, but that's the way it is…‘’