Acordei às dez da manhã. Minha mãe não havia me acordado para ir ao colégio, e mesmo que acordasse eu não iria, não estava bem para enfrentar a rotina. Levantei, fui ao banheiro e tomei um banho, muito longo. Enxuguei-me e coloquei um moletom cinza do My Chemical Romance e uma calça jeans escura. Sai do quarto e me deparei com Aquiles deitado na frente da minha porta, só a pureza e o amor de um ser tão querido como ele poderia me animar agora. Abaixei-me e fiz carinho nele e ele me lambeu no rosto, me fazendo rir um pouco.

Desci as escadas, peguei minha xícara e a enchi de café. Minha mãe tinha ido trabalhar e como precisava falar com ela para saber notícias sobre o pai, peguei meu celular e disquei o número dela.

_Alô, filha, acordou bem?

_Oi mãe, pior do que eu esperava. Tem notícias do pai? – estava tão preocupada que nem percebi que não perguntei se estava tudo bem com ela, afinal, meu pai foi quase morto, mas ele é o marido dela.

_Ainda não fui ao hospital, mas vou no meu horário de almoço. Se quiser ir comigo...

_Acho que não vou, agora... Me deixe informada.

_Ok filha, tenho que desligar. Beijo, te amo.

_Tchau mãe, também te amo.

Eu realmente não estava preparada para visitar meu pai no hospital. Nem sabia se eu poderia vê-lo, mas só o fato de estar lá me deixava triste. Eu só queria que ele voltasse para casa bem.

Tomei um gole do meu café e ele já havia esfriado, esquentei ele no micro-ondas. Detesto café requentado, mas também não iria desperdiçar. Sentei no sofá e liguei a TV, estava passando jornal. E, como de costume, apenas desgraças eram noticiadas, e isso me deixou pior do que já estava. Já não bastava estar passando por isso, tinha que ver mais mortes e mais violência? Desliguei a TV e fiquei olhando para o nada.

Resolvi cozinhar para passar o tempo. Eu adoro cozinhar, me distrai de tudo. Comecei a folhar o livro de receitas da família e encontrei uma de macarrão quatro queijos. Sou apaixonada por macarrão. Coloquei a água para ferver, logo que ferveu coloquei o macarrão e já fui fazendo o molho. Comecei, também, a fazer um bolo de prestígio, já que minha mãe tinha comentado comigo que o coco ralado estava quase passando do prazo de validade.

Era meio dia quando tudo ficou pronto, comi o macarrão, e estava realmente muito bom. Lavei a louça e peguei meu livro para ler. Nisso, meu celular toca:

_Oi mãe, e aí?

_Luce, querida! Teu pai está melhor, mas vai ficar uma semana no hospital para se recuperar.

_Que bom! Nossa, estou muito aliviada.

_Tenho que ir filha, beijo - Ela desligou antes que eu dissesse tchau, devia estar com pressa para voltar ao trabalho.

Continuei a ler, passou uma hora, então ouço a campainha tocar. Eram Daniel, Callie, Ariane e Roland. Eles estavam cheios de sacolas com doces e pipocas de micro-ondas.

_Oi – disseram em coro

_Oi, o que estão fazendo aqui?

_Nossa, viemos aqui te alegrar e é assim que nos recebe? – Ariane diz num tom irônico.

_Desculpa, entrem.

Eles entraram. Dan me deu um beijo e um abraço longo, depois deixou as sacolas em cima da mesa.

_Trouxemos alguns filmes. Comédias, é claro. Não românticas, não queremos nenhuma garota aqui chorando – Roland empurrou a Ariane de um jeito provocativo, todos sabiam que ela não é desse tipo de menina que chora vendo filme.

_Ele diz isso, mas chorou vendo “Sempre ao Seu Lado” – todos nós rimos. Era tão bom tê-los aqui perto.

_Ok, ok, todos sabem que vocês se amam Ari e Roland, agora vamos ao que realmente interessa. Comida é claro. Trouxemos jujubas, balas de goma, chocolate, bolachas negresco, pipoca e refrigerante! Uhul! – Callie como sempre só se importava com a comida.

_E eu fiz bolo! Puxa, acho que não vamos conseguir comer tudo – eu disse, rindo

_Claro que vamos, afinal, somos nós – Dan deu um sorriso.

Assistimos a dois filmes, “As Bem Armadas” e “Os Croods”. Então a campainha tocou novamente. Fiquei curiosa, quem seria, a essa hora? Quando abri a porta vi Miles, ele sorriu, tímido.

_O-oi, vim para saber se está tudo bem... Com você e seu pai – seu rosto corou

_Comigo sim, e meu pai já está melhor, mas vai passar uma semana no hospital ainda...

_Ah, que bom – ele sorriu, parecendo mais tranquilo.

_Quem é? – Dan veio para a porta e ficou ao meu lado.

_Este é o Miles... E Miles, esse é o Daniel, meu namorado.

_Ah, o vizinho – Dan fez uma cara de quem não gostou, mas eu o cutuquei e ele percebeu que estava sendo ridículo – Estamos assistindo uns filmes, não quer ver junto?

_Não, eu só passei para ver se a Luce estava bem, tenho que ir, tchau, melhoras ao seu pai Luce.

E assim, Miles se foi, Dan disse que se eu estivesse sozinha ele iria querer entrar. Ri do ciúmes dele, mas disse para largar de ser bobo. Assistimos mais alguns filmes, muitas risadas. Tive que separar um pedaço do bolo para minha mãe senão não sobraria. Ela chegou e nem ligou para a galera lá, ficou até contente em vê-los. Assistiu o último filme com a gente e depois subiu para tomar banho.

Eram nove horas quando eles foram embora, dei um abraço em cada um, agradecendo por tudo, sem eles não estaria feliz como estou agora.

Subi as escadas, entrei no meu quarto e Aquiles me seguiu, disse para ele que não poderia me seguir até o banheiro, ele fez graça, mas ficou parado. Voltei do banheiro já com os dentes escovados e pijama no corpo e ele continuava ali. Tentei tira-lo de lá mas nada adiantava. Finalmente desisti e quando deitei na cama ele pulou e deitou ao meu lado. Tentei tira-lo novamente de lá, mas foi sem sucesso. Então, acabei meu dia deitada na cama com o Aquiles, e mandando sms's para o Dan e para a Callie.