3 dias! Lily mal podia acreditar! Pensando bem, ela poderia sim. Aqueles dias estavam sendo uma tortura. Não se lembrava de uma semana ter passado de forma tão lentamente desde a semana de exame dos NIEMs, em Hogwarts. Planejar seu casamento, naquele momento, pareceu-lhe subitamente mais complicado que os exames que prestara.

Sentada sobre a grama, aproveitando a sombra de uma árvore, Lily passava os olhos pela sua 'listinha' das tarefas que precisava fazer para o casamento. O pergaminho estava um pouco amassado, mas ela não se importava. Tudo estava certo. Desde seu vestido de noiva, até a cor das toalhas das mesas (acreditem ou não, mas ela havia adicionado aquilo a lista também). Vendo que tudo estava em perfeita ordem, dobrou novamente o pergaminho e colocou-o por entre as páginas do livro que estava lendo, aproveitando o dia ensolarado e o vento fresco bater, fazendo que alguns fios rubros voassem por seu rosto.

A barulheira do jogo de Quadribol que acontecia ali perto não a incomodava. Apenas deixava o cenário mais perfeito. Olhou para cima, franzindo um pouco os olhos devido o sol, e observou James marcar mais um ponto para o seu time. Ele olhou pra ela e lhe lançou um daqueles sorrisos dos quais Lily retribuía involuntariamente. Vê-lo ali, em cima de uma vassoura, marcando pontos e olhando para ela logo depois, parecia a coisa mais normal do mundo. Ela não se importaria se passasse o resto da vida daquela maneira.

James jogava como artilheiro e apanhador ao mesmo tempo -assim como Sirius, que tentava pegar o pomo primeiro que o amigo e rebater os balaços ao mesmo tempo- , já que estavam em número impar. Dorcas como batedora e Remus e Lene como artilheiros. Charlus Potter se fazia de goleiro, já que eram apenas três aros, e tentava agarrar as goles que os meninos lançavam. E mesmo estando um pouco velho, se esforçava ao máximo no pique. Lily sabia que ele adorava passar o tempo com os meninos.

-Mérlim, que dia lindo.. e quente! - Uma Sra. Potter apareceu por de trás da árvore, trazendo consigo uma bandeja com sucos frescos, sendo levitada por sua varinha, - Lily, querida, pensei que estivesse jogando.

-Ah, não Sarah.. Prefiro voar com os meus livros. - Respondeu a ruiva.

A Sra. Potter sorriu-lhe, e andou mais para perto do jogo, com a bandeja logo ao seu lado.

-Charlus, não se esforce tanto! -Lily ouviu a sogra gritar. - Trouxe um suco para vocês. Vamos, vamos. Parem um pouquinho.

-É por isso que a senhora sempre vai ser a minha número um! - Gritou Sirius, fazendo todos rirem. O maroto desceu para o gramado, junto com os outros e Marlene e Dorcas que, ao contrário de Lily, não abominavam tanto uma vassoura.

-Vem, Lily! - Chamou Dorcas, mas amiga negou. Estava bom demais ali, apenas observando as pessoas que amava.

James bebeu todo o seu suco e veio correndo em direção a ela. Seus cabelos estavam mais bagunçados devido ao vento causado pela velocidade da vassoura, e um sorriso sedutor brotava em seus lábios. Lily fechou seu livro e colocou de lado, apoiando as mãos nos joelhos dobrados, sorrindo para ele.

Com os pés descalços sobre a grama, de short jeans e uma blusa solta, Lily mais parecia uma menininha de 15 anos. Seus cabelos ruivos dançando com o vento, e seus olhos brilhando contra o sol... Céus, ela era linda! James ainda não acreditava que se casaria com ela.

-Cansou do Quadribol? - Brincou ela, ao mesmo tempo em que ele se largava do lado dela.

-Você sabe que não. Mas, devo admitir, futura Sra. Potter, que ficar com você aqui parece ser muito mais atraente. - James segurou na cintura dela, e a trouxe para mais perto, beijando-lhe os lábios logo em seguida.

Lily não se importava que ele estivesse suado, ou que os pais dele e seus amigos estivessem logo ali perto. Beijar James era tão certo quanto se casar com ele. E, por Mérlim, ela tinha que aprender a se controlar, pois se não tinha certeza de que seria capaz de beijá-lo em todos os momentos.

-Lírio... você está completamente linda sentada aqui, sabia? - Disse James, fazendo-a sentar-se de lado em seu colo. Sentiu Lily deitar com a cabeça em seu ombro, enquanto ela brincava com a mão dele em cima de sua coxa. -Aposto que em cima de uma vassoura você ia ficar ainda mais...

-Ah, não! Não, não e não! Nem pense nisso, James! -Disse Lily, levantando a cabeça de seu ombro, olhando-o.

James encostou a cabeça no tronco da árvore.

-Vassouras não mordem, Lily... Sinceramente? Eu nunca vou entender o seu problema com elas.

-Não tenho problemas com elas. -Ponderou a ruiva, cruzando os braços.

-Não? - James levantou a sobrancelha.

-Não! Voar não é o problema...

-Então você tem medo de altura?

-Er... Mais ou menos. Quer saber? A culpa é do Quadribol!

James soltou uma risada, apertando Lily contra si e, logo depois, dando-lhe um beijo na ponta do nariz.

-Qual o preconceito com o pobre do Quadribol, afinal? Ele é inofensivo!

Lily revirou os olhos.

-Inofensivo? Haha! Quadribol é tudo, menos inofensivo. Aquilo é um perigo para qualquer um! -Exclamou Lily, indignada.

Ao invés de rebater o que ela falara, James simplesmente colocou a mão na nuca de Lily e a trouxe para mais perto, beijando-a mais uma vez naquela manhã. E ela? Ela retribuiu, é claro. Mas a coisa toda foi pelo ralo quando Remus e Sirius arrastaram James de volta para o jogo, enquanto Marlene e Dorcas já montavam em suas vassouras.

-Pegue pomo por mim. - Murmurou Lily, enquanto James¹ se levantava.

- Sempre!- Ele lhe deu mais um selinho antes de correr até a sua vassoura.

Lily voltou para a sua posição inicial, mas não deu atenção ao seu livro. Ficou observando James rodear o campo, enquanto Sirius tentava acertá-lo com um balaço. Marlene quase derrubara Sirius da vassoura em uma de suas manobras, fazendo-o olhar com uma cara emburrada. Pareciam com raiva um do outro, diferente de Remus e Dorcas, embora estivessem se evitando.

Sirius ficou inda mais emburrado quando o time de James e Marlene ganhou. Peter bateu palmas da cadeira onde assistia tudo, com um prato de doces bem ao seu lado.

Quando adentraram na enorme casa dos Potter, um belo e delicioso almoço os esperava...

-XXXXX-

Marlene, enrolada em uma toalha, abriu a porta do banheiro, feliz por finalmente ter se refrescado naquele dia quente. Seus cabelos molhados faziam com que alguns pingos caíssem no chão, e ela tinha a intenção de secá-los. Mas um moreno, deitado na cama do quarto da casa dos Potter que ocupava naquele dia, acabou com seus planos.

-O que você está fazendo aqui? - Perguntou ela, fazendo-o olhá-la. Sirius estava com os dois braços servindo de apoio para sua cabeça. Olhou Marlene dos pés a cabeça e sorriu maliciosamente.

-Eu pretendia conversar... mas você com essa toalha me fez mudar de ideia. - Respondeu ele, sentando-se na cama.

O maroto também já havia tomando banho, observou ela. Seus cabelos estavam úmidos e seu corpo sempre atraente dentro de uma calça jeans e blusa cinza. Mesmo simples, ela tinha certeza de que ele arrancaria suspiro de várias garotas que por ele passassem. Nos lábios, o famoso sorriso enviesado. Não.. Sirius Black não era apenas atraente por seu físico. Não eram apenas os músculos.. Ainda havia o seu jeito másculo de andar, sua voz meio rouca e sexy, seu perfume forte e o seu olhar... que, naquele momento, fazia a morena se sentir nua.

Marlene revirou os olhos, e foi andando em direção a porta do quarto. Vendo o que ela pretendia, Sirius foi mais rápido: levantou-se da cama, e correu, ficando em frente a ela, impedindo-a de chegar na maçaneta.

-Ei, calminha aí, ok?

-Saia! Eu quero me vestir!

-Ora, se vista, então. Ninguém está te impedindo. -Sirius levantou as mãos, como se fosse inocente.

-Não na sua frente. - Disse a morena, emburrada.

-Ok! Pode falar.. O que foi que eu fiz dessa vez? -Perguntou ele, cruzando os braços.

-Nasceu!

Sirius revirou os olhos.

-Qual é... Você saiu naquele dia da minha casa sem nenhuma explicação. E agora quer que eu saia do quarto como se eu não já tivesse visto você... sem toalha. -Ele aproximou seu rosto do dela, cerrando os olhos. - Você está agindo diferente comigo. O que há, Lene?

-Você está delirando, Sirius. Não estou agindo diferente com você. - Replicou ela, também cruzando os braços.

-Ah, não? Então tudo isso é o que? Charme? -Sirius a olhou com um sorrisinho sínico nos lábios. -Vamos, Lene..

Marlene revirou os olhos e, surpreendendo-o, se jogou contra ele e tascou-lhe um beijo. Sirius se assustou, mas não reclamou. Apenas passou os braços em volta dela e a apertou contra si, aprofundado o beijo. Subiu com uma das mãos pelas costas dela e fez com que seus dedos se emaranhassem nos cabelos dela, ainda molhados devido ao banho. Ela tentou acabar com aquilo, mas ele não deixou. Virou-se, e a prensou contra a porta.

Ela não queria que as coisa saíssem do seu controle... Bem, se você beijar Sirius Black e não perder os sentidos, você merecerá um prêmio!

Dos lábios, Sirius desceu para o pescoço de Marlene, fazendo-a soltar um suspiro. Sentiu uma das mãos dele descer por seu quadril e apertar-lhe o traseiro. De um simples beijo para um amasso, e de um amasso para ... Não! Ela não podia deixar com que aquilo acontecesse. Não podia se render as armas dele...Seus pensamentos embaçaram quando ele voltou para seus lábios e começou outro beijo feroz. Mas, quando Sirius tentou arrancar-lhe a toalha, ela o empurrou.

Parado em sua frente, com os cabelos bagunçados e com a respiração ofegante, Sirius a olhava.

-Viu? Eu não estou diferente com você. Agora saia.. desse quarto -Disse Lene, ofegante, apertando a toalha contra si.

-Não, até você me contar o que houve -Falou Sirius, passando uma das mãos por seus cabelos negros.

-Mas que droga, Sirius! Você é insuportável. Eu me troco no banheiro então. -Ela começou a se virar em direção da porta em suas costas, mas sentiu a mão de Sirius segurar seu braço, impedindo-a de ir. -O que você...

-Eu não sei o que aconteceu ou se eu fiz alguma coisa, mas eu peço desculpas, ok? Eu só.. droga, Lene! Eu sei que as vezes que pareço... insensível, mas só queria dizer que... que eu gosto de ficar com você.

BUM! Foi como se um gigante tivesse caído em cima da cabeça de Marlene. Não sabia o por que, mas não estava satisfeita com aquelas palavras. Ela, certamente, não esperava por aquilo... porque esperava por mais! De fato, Sirius parecia insensível. Parecia! Por de trás daquele sorriso sedutor e daquele olhar capaz de perfurar um dos cofres de Gringotes, havia um maroto. E um maroto era amigo de todos os outros. Parecia ser egocêntrico, que só pensava em si, mas ele estava longe de ser isso. Quantas vezes ele apareceu cansado e com profundas olheiras no dia após a lua cheia em Hogwarts? Sirius nunca se negara a ajudar Remus com suas transformações. Sempre dizia que "não poderia perder a festa", embora Marlene soubesse que ele tinha consciência do quanto ele, James e Peter corriam perigo.

"Eu gosto de ficar com você". As palavras ecoavam na cabeça de Marlene... Será que era tão difícil dizer aquelas palavras? Sabe.. aquelas palavrinhas? Céus, ela estava tão ferrada...Lily estava errada, afinal. Ela não estava mais apaixonada por Sirius Black. Marlene Mckinnon amava Sirius Black!

-Lene?

-Depois conversamos, tudo bem? Agora, por Mérlin, saia desse quarto.

Sirius revirou os olhos e, antes de ir em direção a porta do quarto, aproximou-se dela e lhe deu um beijo. Um beijo rápido, nem parecido com o anterior, mas que lhe transmitia as mesmas sensações.

-Não esqueça: Você é minha, Mckinnon. Não importa o quanto você fuja.

Oh, sim. Marlene era de Sirius. Suas pernas, seus braços, seus cabelos.. todo o seu corpo, incluindo seu coração, pertenciam a ele.

Quando ele bateu a porta atrás de si, deixando-a novamente sozinha, a morena não se importou em se largar na cama. Ele podia dizer aquelas coisas de vez em quando, mas quando ela poderia saber se eram reais? Ou, para quantas garotas ele já havia dito aquilo? Marlene sabia muito bem que Sirius não era de relacionamentos sérios. Sempre ficava com alguma garota para, depois de alguns dias, ficar com outra. No entanto, seja lá o que estivessem tendo, tinha mais de meses. E, mesmo com esses fatos, Lene não deixou de se perguntar quanto tempo e quando ele a deixaria...

-XXXXX-

-Sabe, ruiva... eu fico me perguntando se todas as garotas ficam com raiva dos caras quando querem ou se são só vocês, mesmo. -Disse Sirius, despertando Lily de seu livro.

A ruiva virou o rosto, vendo o maroto descendo as escadas e vindo em sua direção, para logo depois sentar-se ao seu lado, levantando uma das pernas para servir de apoio a um de seus braços.

-Do mesmo modo que eu fico me perguntando se todos os homens usam a cabeça certa ou se são só vocês que amam pensar com a errada.. -Falou Lily, fechando seu livro e colocando-o na mesinha ao lado do sofá em que estava.

Sirius a olhou, com um sorrisinho de lado nada inocente.

-Ruiva, ruiva... E Pontas ainda pensa que você é inocente... mas a mim você não engana!

Em outros tempos, Lily teria ficado vermelha como um pimentão e estaria gritando ao ventos com Sirius, mas, naquele dia ensolarado e sentada perto do maroto, a ruiva gargalhou. De algum modo, Lily havia se acostumado com o jeito relaxado e despreocupado de Sirius. Mais do que o melhor amigo de James, Sirius havia se tornado seu amigo. Não que ela o odiasse antes disso, mas Lily vivia ignorando James e, consequentemente, ela e Sirius nunca haviam sido tão próximos quanto eram agora. Fora estranho no início, logo quando Lily e James assumiram o namoro. Além de atrapalhá-los em momentos em que queriam ficar a sós, Sirius tirava gracinhas com os dois envolvendo assuntos íntimos, mas a ruiva não ficava com raiva. Certo, ela brigava com ele, mas Sirius era um tipo de cara que, por mais que você tente, você nunca consegue ficar realmente irritada com ele.

Lily lembrava-se bem quando James azarara o amigo, quando este os pegara no maior amasso no dormitório masculino. Eles tiveram que aguentar o maroto tirar proveito daquilo pelo resto do ano.

-Por que você veio me dizendo isso, hein? -indagou Lily.

Sirius suspirou e mexeu em seus cabelos.

-Sua amiga, Lily, está estranha comigo e não quer me dizer o motivo. Fica difícil assim, não acha? E eu já até pedi desculpas, pra você ver o quanto você mulheres são complicadas.

A ruiva deu um sorrisinho de lado.

-Como alguém pode se desculpar se nem ao menos sabe o motivo de estar fazendo aquilo?

-Que? Eu só queria que ficasse tudo bem, ok?

-Talvez você nem tenha feito nada, Sirius. Ou, mesmo que você tivesse feito, você se daria conta disso?

Sirius parou para pensar durante alguns segundos... Em todas as brigas que teve com Marlene, ele nunca se dera conta do que realmente havia feito de errado ou, se não, ficava sabendo com a ajuda de Remus. Mas, em geral, ele apenas se desculpava até que tudo voltasse a ser como antes.

-Provavelmente não. -Respondeu ele, dando de ombros.

-Foi o que eu achei.

Sirius se remexeu desconfortável.

Ficaram por alguns minutos em silêncio. Sirius repassando suas atitudes com Marlene na cabeça e Lily pensando sobre a conversa que tivera com a amiga.

De fato, a vida amorosa de Sirius era bastante explícita.. se é que dava para chamar de 'vida amorosa' beijar todas as garotas que se mostravam interessadas. Por aquele motivo, Lily entendia completamente a amiga, pois, de certo modo, passara por aquilo também.

Insegurança. Parece uma simples palavra, mas é capaz de acabar com relacionamentos ou, no caso da ruiva e de James, causar discussões. Sim, ela e o líder dos marotos haviam brigado por aquilo... Mas ela, assim como Marlene, não podia esquecer da fama de Sirius e James. E, em meio a tudo aquilo, uma pergunta surgiu na mente de Lily.

-Sirius.. você já.. alguma vez, se apaixonou? -Soltou a ruiva, olhando para o amigo que batucava os dedos em seus próprios joelhos.

Sirius olhou para ela e logo depois para frente, soltando uma risada pelo nariz, sarcástica.

- Ruiva.. que tipo de pergunta é essa?

-Ah, bem... Eu apenas estava pensando se... Ah, esquece. -Lily jogou as mãos para cima. A risada do amigo respondera a sua pergunta, o que mais ela poderia querer?

Pegando seu livro novamente, Lily o abriu e começou a lê-lo de onde tinha parado. Esperou até que Sirius se levantasse e a deixasse sozinha novamente, mas ele não o fez. Apenas continuou lá, parado e olhando para o nada, como se estivesse perdido em pensamentos.

Lily o olhou de lado, notando que sua pergunta, de certo modo, o afetara.

-Faz uns anos². -Respondeu ele, minutos depois, o que fez Lily se assustar e quase fechar o livro sem marcar a página em que estava.

Ela o olhou confusa, e ele virou-se para ela também.

-Eu tinha catorze anos. -Completou Sirius, e Lily não disse nada, apenas ficou o encarando, entendendo que aquela era a resposta de sua pergunta. - Ela era nascida trouxa e morava não muito longe da nossa casa.

Em todo o tempo em que Lily conhecia o amigo, eram raros as vezes em que ele parecia sério, como naquele momento. Parecia até mesmo anos mais velho, como se não houvesse aprontado todas em Hogwarts.

Era como se o ar, de repente, houvesse ficado pesado, e nem Lily e nem Sirius saberiam dizer quantos minutos se passaram até que voltassem a se falar.

-O que aconteceu? - quis saber ela. - O-onde ela está?

Sirius suspirou e um sorriso irônico, mas nem um pouco alegre, brotou em seu lábios.

-Bellatrix a matou, Lily.

Aquilo fora demais para Lily. Arregalou os olhos e abraçou a barriga com seus braços, se arrependendo por ter feito aquela pergunta, pois, através das órbitas cinzas-azuladas de Sirius, Lily pôde facilmente notar a dor, como se ele estivesse sentindo tudo o que sentira quando perdera a garota novamente e estivesse transmitido para ela.

Como seria perder alguém que ama? Imaginar tal pergunta lhe arrepiava as entranhas, causando-lhe cala-frios e faziam com que seus olhos ardessem. E, o pior de tudo - ela não poderia esquecer- foi que Bellatrix havia assassinado a garota. Uma prima de Sirius e comensal da morte. Só de pensar em perder James fazia com que seu coração falhasse... e aquele fora o mais importante dos motivos dos quais a levaram a pedir para que ele se afastasse da Ordem. Egoísta? Talvez sim, mas Lily não poderia desafiar seu emocional, sabendo que sua preocupação seria maior ao saber de James em missões enquanto ela estaria em casa.

Claro que a sua vontade era de fazer o mesmo com o resto dos amigos, mas ela saberia que ninguém a ouviria. Lily agradecia todos os dias por ter poderes sob James.

-E-eu sinto muito, Sirius... Eu não.. - lágrimas escorreram dos olhos verdes da ruiva, e Sirius lhe lançou um olhar meigo.

-O preconceito da minha família me enoja, Lily. Ter Black no meu nome é pior do que ter veneno no sangue. Não sabe quantas vezes pensei em ir atrás de Bella e a matar, mas..

-James o impediu. - completou a ruiva, e logo depois viu Sirius assentir.

-Sim. -Sirius se levantou do sofá, ajeitando as calças. Lily sabia que ele queria sair daquele 'ar pesado' tanto quanto ela.

-Sirius. - Chamou a ruiva, antes que o maroto saísse da sala, levantando-se também do sofá- Sobre a Marlene...

-Você quer saber se eu estou apaixonado por ela. - Não foi uma pergunta, mas mesmo assim, Lily assentiu, embora não fosse perguntar diretamente daquela maneira. - Queria poder saber a resposta também, ruiva.

-Eu só... -Lily abraçou-se - Só não quero ver minha amiga magoada, Sirius. E nem você.

Sirius assentiu, sorrindo um pouco.

-Recado recebido com sucesso, ruiva. - E, com uma piscadela, Lily viu o amigo sair do aposento.

-XXXXX-

-Você pode ficar, Dorcas. Tem milhares de quartos, você sabe.. - Repetiu James, mais uma vez. O maroto estava sentado em um sofá, com Lily entre suas pernas, deitada em seu peito.

-Obrigada James, mas tenho que ir. -Respondeu a loira, segurando na alça de sua bolsa. Aproximou-se de Lily e lhe deu um beijo na testa, bagunçou os cabelos de James e fez o mesmo com Marlene, que bebia seu chá sentada no chão, encostada no sofá em que James e Lily estavam.

-Amanhã falo com você sobre a noitada da ruiva. - Disse Marlene, piscando para a amiga, escutando uma risada de James.

-Claro. Vou esperar por você.

-Doe, você não precisa ficar no caldeirão furado. Pode ficar aqui, como James disse, ou mamãe não se importará em colocar mais um prato na mesa. - Já era de se esperar que Lily falasse aquilo, pensou a loira.

-Eu voltei para a casa dos meus pais...

-Oh.. certo. Mas de qualquer forma...?

-Está tudo bem, de verdade. - Dorcas suspirou. - Ah, Lily, nada de fugir, ok?

-E eu tenho escolha? -Indagou a ruiva, encarando a amiga com um sorrisinho nos lábios.

-Bem, você tem a escolha de passar o dia inteiro comigo e...

-Nem termine essa frase, James Potter. - Cortou-o Marlene. - Depois do casamento, a ruiva é todinha sua.

James riu e revirou os olhos, deixando um beijo na bochecha da noiva logo depois.

-Ok, tudo certo então. Vou aparatar lá fora. Até mais. - Despediu-se Dorcas, sorrindo para os amigos e indo em direção a porta da casa.

-Eu te levo até a porta. - Falou Remus, surgindo no alto da escada e descendo pela mesma um pouco envergonhado. Dorcas até chegou a duvidar se era realmente o maroto que havia dito aquilo, até virar-se e olhá-lo nos olhos.

No outro lado do compartimento, James e Lily fingiam que nada havia acontecido, respeitando o espaço dos dois amigos, enquanto Marlene olhava para o chão querendo controlar um sorriso.

-Oh, claro.. -Dorcas lhe lançou um sorriso meigo e seguiu Remus, que passou em sua frente para abrir a porta para ela.

O vento nem muito frio, nem muito quente, bateu nos cabelos loiros de Dorcas, arrepiando sua pele. O cheiro de grama junto com o som de grilos tomava conta do jardim dos Potter. Ela esperou o maroto fechar a porta atrás de si para voltar a andar, sendo acompanhada por ele bem ao seu lado.

Não souberem bem ao certo de quem fora a iniciativa, mas Dorcas percebeu somente mais tarde que ambos havia dado as mãos.

-Está tudo bem com os seus pais? - Perguntou Remus, enquanto passavam por entre o jardim, de vez em quando notando alguns poucos gnomos se esconderem.

-Sim, está. Na verdade, não foi nada muito grave.

-Hm, certo... Eu não sabia que você estava no caldeirão furado. Se eu soubesse, eu...

-Iria me ver? -Ela terminou a pergunta dele quando o mesmo fez menção de que não iria terminá-la. Olhou-o e o viu sorrir.

-Provavelmente. - Que diabos..? - Sim, iria ver você.

Dorcas sentiu seu coração bater mais forte em seu peito, como se estivesse comemorando alguma data especial.

-Algum motivo especial?

Remus³ colocou a mão livre dentro de um dos bolsos de sua calça, sentindo-se leve. Em geral, ficava mais tímido ainda perto de garotas, em especial na frente de Dorcas. Ainda duvidava de que havia tomado coragem para se declarar para a loira ainda em Hogwarts. Claro, James e Sirius fizeram questão de ajudar o amigo. E, depois que começaram a namorar, sua timidez havia diminuido significantemente, embora ela continuasse lá. As conversas com Dorcas fluíam com facilidade, e isso porque ela facilitava as coisas, sempre sendo bem objetiva no que dizia ou no que queria saber, exatamente como naquele momento..

-Queria, hm, conversar... - Respondeu Remus.

-Sobre o que exatamente?

Eles chegaram no portão da propriedade onde, passando por ele, Dorcas poderia aparatar. A loira, no entanto, olhou ansiosa, esperando por sua resposta.

-Sobre nós. -Suspirou ele.

Encararam-se por um tempo, com nada e ao mesmo tempo tudo para dizer. Remus levou uma das mãos para o rosto de Dorcas, e o acariciou, sorrindo vendo-a fechar os olhos e apreciar a sensação que seu carinho causava nela.

-Você mudou de ideia? - Perguntou ela, ainda de olhos fechados.

- Sobre o que?

-Sobre tudo o que você disse naquele dia.. Sobre você achar que não é bom o suficiente pra mim.

Remus suspirou e parou com o carinho. Dorcas abriu os olhos logo em seguida, segurando a mão dele em seu rosto.

-Não, não é?

-Dorcas...

-Não vejo o que temos para conversar então, Remus.

O olhar que Dorcas lançou a ele doeu mais que qualquer transformação que ele já passara nas noites de lua cheia. Remus viu a loira passar pelo portão da propriedade dos Potter e, com um último olhar em sua direção, a viu aparatar em meio a escuridão da noite, se achando mais covarde do que nunca por não tê-la, em nenhum momento, tentando impedir.

-XXXX-

1- Apesar de nos livros - mais especificamente no quinto - ele parecer brincando com um pomo de ouro, James Potter, ao contrário do que muitos pensam, não era um apanhador, e sim um artilheiro. Mas não é nada confirmado. Há boatos de que JK Rowling tivesse dito isso em uma entrevista, mas como eu nunca vi ou a li, não posso afirmar com certeza como eu gostaria.

2- Outra história não confirmada. Se Sirus se apaixonou aos 14 anos por uma trouxa, eu não tenho certeza, pois também não achei nada que a JK tivesse dito sobre isso, embora muitos falam que é um fato real. Bem, isso eu não posso afirmar, mas que o fato é bonitinho, isso é hehehe.

3- Eu já havia dito em capítulos anteriores que Dorem não é um 'certeza', apesar de eu ter lido algumas informações em um site mais ou menos seguro na internet. No entanto, algumas novas informações seguras sobre Remus foram liberadas no Pottermore, escritas pela própria J.K Rowling. E, em um momento, JK fala que a única mulher por quem Remus se apaixonou atende pelo nome da nossa querida Remadora Tonks. Então, a dúvida voltou a martelar em minha cabeça: Dorcas e Remus realmente aconteceu?