Lá estava ela. Sentada em um banco e passando um pouco de gloss em seus lábios sadios.

– Por que será que ainda não me escolheram? - Perguntou Gabriela para seu reflexo no espelho de bolsa.

– Você seria Gabriela Callie? - Um rapaz alto de cabelos azuis e braços fortes perguntou se abaixando para ver o rosto da garota.

–

Sim

, esta sou. - Gabriela respondeu quase que assustada, mas ainda

sim

esnobe.

– Prazer, sou Grimmjow. - O rapaz disse e se levantou. - Venha até o meu quarto.

– Que rude! Não entro em quarto de garotos! - Gabriela respondeu e virou a cara.

– Sinto muito, mas vai ter que entrar. E eu não sou um garoto, sou um homem. - Grimmjow respondeu com um sorriso pervertido no rosto e puxou o pulso de Gabriela.

– Rude, rude, rude! - Gabriela se debatia para tentar soltar-se de Grimmjow. - Homem? Está mais para garoto sem educação!

– Não estou mais aguentando você! - Grimmjow respondeu e pegou Gabriela no colo.

Com uma velocidade inimaginável, chegaram em sua sala. Não dera tempo nem de Gabriela reclamar.

Ela apenas se sentou e alisou os cabelos. Seu pulso estava roxo de tanto que Grimmjow o apertou, mas ela o escondeu assim que percebeu chamar a atenção.

– Eu te machuquei? - Grimmjow perguntou com certo tom de preocupação.

– Não. Eu estou bem, apenas... Não toque em mim. - Gabriela respondeu com receio.

– Tudo bem... - Grimmjow respondeu irritado e se jogou em uma espécie de cama que havia ali.

O quarto era algo bem estilo rock antigo. As paredes era verdes e azuis e os móveis brancos.

– Precisa melhorar a decoração... - Gabriela respondeu olhando o quarto por inteiro.

– Tá, chega disso. Estamos aqui para falar de você e não do meu quarto. - Grimmjow respondeu e ficou á observando.

– Relação com a família. - Grimmjow nem ao menos perguntou. Aquilo parecia mais ser uma ordem.

– Não pretendo contar isso á você. - Gabriela disse e virou o rosto.

– Pelo menos olhe nos meus olhos. - Grimmjow disse com uma carinha de pidão.

Ele se aproximou rapidamente de Gabriela, que instintamente fechou os olhos.

– Não vou olhar para você! - Respondeu irritada.

– Abra os olhos, todos sempre tem curiosidade... - Grimmjow dizia com uma voz sedutora e agradável.

Aos poucos Gabriela começou a ceder e olhou de canto para Grimmjow e apenas isso precisou para ele á hipnotizá-la.

– Vou perguntar de novo. Relação com a família. - Grimmjow falou e se sentou devagar no sofá.

– Era tão boa, mas quando tinha 7 anos... Mataram minha mãe e meu irmão na minha frente. Isso é horrível. - Gabriela dizia sem mudança na voz ou expressões. Quando hipnotizada, nada acontecia com sua aparência.

Lágrimas começaram á escorrer pelo seus rosto, mas não tinha uma expressão de tristeza. Era apenas, seu rosto. Normal.

– Meus pêsames. Mas se quer ser uma boa guerreira, vai ter que superar. Por acaso pretende ser afetada em uma batalha só por isso? Você tem que ser forte. Compensar a morte dos seus parentes! - Grimmjow dizia comovido por ela ser a primeira pessoa á chorar mesmo estando hipnotizada. - Como foi a relação com seu pai depois do acontecido?

– Ele começou á viajar para esfriar a cabeça e tentar esquecer de tudo e foi em uma dessas viagens que se casou e voltou para a nossa casa com uma mulher. Ela era tão legal e inteligente, mas me forçava á ser algo que eu não era. Dizia que garotas não se rebaixam á garotos e que eles só gostam daquelas delicadas e que gostam de coisas delicadas. Mas eu não sou assim. Sinto falta de brincar de esconde-esconde com meu pai. Sinto falta de rolar na grama e sentir uma coceira estranha. Era divertido. Eu não quero conquistar garotos... Eu quero... Proteger... Quem ainda está vivo... Eu quero amigos... - Gabriela dizia saindo do transe, com certa dificuldade, mas ainda sim estava tomando a consciência.

– Não faça isso! Olhe nos meus olhos! Nos meus olhos! - Grimmjow chamava sua atenção, mas ela não ouvia.

Apenas lágrimas escorriam pela sua face sem expressão.

– Por que fez isso?! - Gabriela dizia secando as lágrimas, mas estava quase impossível.

– Não iria me responder tão facilmente. - Grimmjow respondeu sem graça.

– Você não é homem! Você nunca foi! - Gabriela respondeu e tentou fugir, mas Grimmjow a segurou no mesmo pulso, exatamente o que a machucava.

– Hum... - Gabriela gruniu, abafando este com seus lábios.

– Está machucada... - Grimmjow falou e em alguns segundos voltou com uma faixa. - Agora que já sei de tudo... Poderia me explicar calmamente. Tudo o que acontece no psicólogo, fica no psicólogo.

– Eu não sei... - Gabriela disse com receio.

– Sente-se por favor. Eu te garanto que vai ser a melhor decisão da sua vida. - Grimmjow disse e Gabriela se sentou.

– Então... Acho que chega de falar do passado... Que poderes e armas você tem? - Grimmjow perguntou descontraído.

– Eu sou uma fada. Libertei alguns dos meus poderes, mas ainda não liberei a transformação. Eu controlo a luz e gosto de lutar mano á mano, por isso prefiro adagas que se escondam facilmente. - Gabriela respondeu brincando com o pompom de sua bolsinha.

– Algum segredo? - Grimmjow perguntou, como se estivesse perguntando "mais algum segredo?".

– Acho que já contei tudo o que deveria... - Gabriela respondeu pouco que irritada.

– O que você gosta? - Grimmjow perguntou.

Grimmjow achava que antes, quando a viu pela primeira vez, saberia que ela responderia garotos e maquiagens, compras e roupas, cachorrinhos e fofocas. Mas agora... Não sabe mais nada sobre esses alunos.

– Eu gosto da sensação de liberdade, sentir o vento batendo no rosto e ver as estrelas brilhando. - Gabriela disse tentando se lembrar da última vez que voou.

– E o que não gosta? - Grimmjow perguntou até interessado.

– Ficar trancada... Me deixa estafada e com problemas respiratórios. - Gabriela respondeu.

– Acho que é isso então... Pode ir embora. - Grimmjow respondeu.

– Posso retocar... a minha maquiagem? - Gabriela perguntou meio envergonhada.

– Claro, o banheiro é naquela porta ali. - Grimmjow respondeu apontando para uma porta preta, com uma plaquinha escrito "W.C".

– Obrigada... - Gabriela agradeceu e foi até o banheiro.

Entrou e se trancou lá. Ficou alguns minutos se olhando no espelho e começou a se maquiar.

– O que foi que eu fiz? Não deveria ter contado nada... Mas agora já foi e ele prometeu que nada sairia desta sala... - Gabriela disse, respirou fundo a abriu a porta.

Aquele não era mais o quarto de Grimmjow e sim um grande salão com alguns alunos. Estava cheio, mas não parecia um lata de sardinha.

Gabriela rapidamente fez sua pose de sempre. Mesmo estando com um sorriso por fora, estava á soluçar por dentro, nada daquilo era como imaginava.