O ar seco do verão toca minha pele enquanto corro rapidamente para longe da escola, sem ser interrompida por nenhum segurança na saída (já que estes não existem). Lágrimas escorrem por minhas bochechas e por dentro me reprimo por ser tão fraca.

  Meu estômago reclama novamente, e desta vez eu sinto. E muito. Tusso e sinto meu corpo cair para frente, fraco. Talvez Robb não estivesse mentido e eu esteja mesmo passando mal.

  -Alex, seu desgraçado. – Praguejo com o rosto colado a terra laranja. Mesmo que quisesse, não conseguiria levantar, portanto relaxo meu corpo jogado na rua vazia. A fome ataca novamente e eu solto uma exclamação de dor, seguida por um rugido. Fico brava comigo mesma. – Levanta Sarah, levanta!

  Reúno forças para erguer a cabeça e encontro uma sombra e sandálias surradas em minha frente. Rastejo para trás e me ponho sobre os joelhos, trocando olhares com um idoso de cabelos brancos, rugas e pele acobreada.

  -Desculpe. – Sussurro, sem causa aparente. Ele sorri, porém sem apresentar a pena que todos no colégio parecem nutrir por mim... Ele parece melancólico por apenas alguns segundos, antes de se recompor e esconder qualquer sentimento que possa ter originado aquele olhar.

  -Boa tarde, mocinha. – Ele cantarola, estendendo sua mão cheia de cicatrizes para mim. Eu a ignoro e me levanto sozinha, cambaleante. – Quer caminhar?

  Cerro os dentes e o olho de baixo. Suas roupas são humildes, mas não tão velhas e desgastadas quanto as minhas; sua barriga é um pouco gorda, e seu rosto quase saudável me indica que não é por subnutrição; seus cabelos brancos são despenteados e apontam para todas as direções. Diria que ele é louco, já que o velho começa a rir e põe-se a andar.

  Curiosa, eu o alcanço.

  -Qual é o seu nome, jovem? – Ele pergunta, sem parar de caminhar. Não respondo e novamente ele ri. – Silenciosa você... Vamos fazer o seguinte. – Subitamente ele para de andar e pressiona minhas bochechas entre suas mãos, fazendo minha boca formar um bico. – Responda as perguntas, e eu não te mando de volta para o inferno que vocês chamam de escola.

  Surpresa e assustada, eu assinto e sou solta. Ele retoma a passada.

  -Não quero te assustar, saiba... – Ele diz. – Mas não se consegue novos amigos se não se tentar. Meu nome é Wereo.

  -Sarah. – Um relampejo de tristeza atravessa novamente os olhos do homem e ele repete meu nome em voz baixa.

  -Sarah... Onde estão seus pais?

  -Minha mãe está em casa. – Omito a informação do pai desconhecido por mim.

  -E o seu pai? – Ele questiona, tocando no meu ponto fraco.

  -Eu não... Não o conheço.

  -Nada além do comum. – Ele comenta, formando um sorriso cruel de aceitação. – Agora me diga: por que sua mãe não estava ao seu lado quando você caiu na rua?

  -Ela está trabalhando. – Minto.

  -O que ela faz?

  -É costureira. – Invento.

  -Ótimo. Leve-me até ela que necessito de alguns concertos nesta calça.

  Busco alguma nova mentira em minha mente, mas Wereo logo aponta um dedo para meu rosto.

  -Ahá! Nunca minta para Wereo!

  Eu tento não parecer tão desconfortável, enquanto pergunto a mim mesma por que diabos eu estou andando com um velho louco.

  -Não se preocupe, criança. – Ele diz, então colocando seu braço pesado sobre meus ombros e me virando bruscamente para entrarmos em um beco escuro. Abre um alçapão de madeira mal esculpida e pula para dentro, gritando. – Pessoinhas famintas e sem ajuda alguma são minha especialidade. Eu já fui uma delas, sabia? Mas não dá pra ver, agora que eu tenho essa barriguinha.

  Pisco algumas vezes, tentando definir a frase como elogio ou xingamento. Impaciente, Wereo, o velho, volta a esticar sua cabeça para fora do buraco, desta vez segurando uma tocha acesa.

  -Você vem ou não?

  Mordo os lábios e pulo para junto dele. Afinal, eu sou mesmo uma pessoinha faminta e sem ajuda.