Enquanto fitava o teto, Nightmare cochilava no meu travesseiro. Voltei meu olhar para o relógio novamente.

Está na minha hora.

Desta vez eu chegarei dez minutos mais cedo na escola, como já era de costume.

Me levanto da cama a contra gosto e vou para o meu armário. Visto a mesma roupa do dia anterior, mas troco a blusa preta por uma bordô. Termino de me trocar e prendo meu cabelo num rabo de cavalo baixo, do lado direito da nuca.

Coloco minha mochila no ombro e saio do quarto, mas tropeço em alguma coisa que estava na minha frente.

Olho para o chão e vejo um saco de ração largado no chão.

Pelo jeito só por que o gato era meu e os pertences dele também e -provavelmente - devem ficar todos no meu quarto.

Ótimo!

Decido então buscar um pote qualquer na cozinha para deixar um pouco de ração para Nightmare quando acordar. Quando estou indo para o meu quarto, passo pelo corredor e a conversa de meus pais em seu quarto me chama a atenção:

— Eu não tive escolha! Você sabe disso... - minha mãe gritou.

Parei mais perto ao lado da porta para que conseguisse ouvir melhor.

— Mas você o fez! - meu pai retrucou. - Sabe que não concordo com isso! - ele  tinha bufado alto, provavelmente irritado - Além do mais. Aquela coisa nos dará mais trabalho do que já temos!

— Eles me disseram que se eu desse alguma coisa que ela pudesse cuidar, talvez ela parasse de ter esses sonhos absurdos e essas convulsões! - explodiu minha mãe - Não quero que isso continue John!

— Ela que não é normal e você sabe disso, Carrie! Perdi as contas de quantas vezes eu falei para leva-la ao manicômio! - meu pai reclamou com um tom de voz muito alto e rude.

Paralisei naquele momento.

Não queria escutar mais nada.

Mesmo se tivesse uma continuação, já era demais para escutar naquele momento.

E agora sei o que meus pais pensam realmente sobre mim.

Saio dali batendo o pé indo em direção ao meu quarto. Puxo a sacola em frente da minha porta junto comigo para dentro. Abro-a e despejo um pouco da ração no pote que peguei e deixo em cima da cama, perto de Nightmare e afago sua cabeça rapidamente.

Ainda um pouco irritada e confusa com aquilo, coloco a mochila novamente no meu ombro e saio silenciosamente do quarto e de casa.

Sem fazer um único ruído até atingir a rua.