A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 8
A viagem I




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Saya acordou com alguém a bater à porta. O sol devia estar a nascer, porque ainda não havia muita luz. Olhou à volta e viu que ainda estava no quarto em que adormecera na noite anterior. Então continuava em casa de Elianor! De certo modo estava contente por não ter regressado ao seu Mundo. Voltaram a bater. Tinha de se levantar, por mais que isso lhe custasse.

Vestiu-se e começou a pentear o cabelo. Se ia viajar, tinha de conseguir prendê-lo, desse lá por onde desse. O problema era que, para além de não ter laca, nem sequer tinha um elástico ou uma fita para o prender.

- Minha querida, posso entrar?

Ao ouvir a voz de Elianor, Saya foi rapidamente abrir a porta. A fada entrou e cumprimentou-a amavelmente. Tinha nas mãos várias fitas douradas e verde seco claro.

- Se não te importas de sentar no banquinho, eu começava a fazer-te o penteado.

Saya sentou-se, um pouco admirada. Teriam as fadas a capacidade de ler os pensamentos das outras pessoas? Elianor entraçou-lhe o cabelo em várias tranças, finas e grossas, que prendia com uma das fitas. Por fim, apanhou o restante cabelo, juntamente com as tranças, num rabo de cavalo que prendeu com as duas últimas fitas. Saya olhou-se ao espelho. Estava muito bonita. Elianor estava a cortar as fitas das tranças para que não fossem demasiado grandes, o que parecia ridículo.

- Então, Saya, gostas?

- Muito. Mas receio que não vá aguentar-se muito tempo!

- Oh! Vai sim. Porque o entracei com palavras mágicas e o prendi com fitas mágicas. Só se desfará quando tu própria o soltares.

Sorriram uma para a outra.A fada saiu do quarto e Saya segui-a até à cozinha. Kai já estava lá. A mesa estava uma vez mais posta, com pão a fumegar, bolos e um grande jarro de leite. Havia ainda vários tipos de compota, mel e alguma marmelada. Comeram em silêncio, cada um perdido nos seus pensamentos. Quando acabaram, Elianor pegou em duas mochilas e entregou uma a cada um deles.

- Aí está tudo o que vão precisar para a viagem. Uma manta para as noites mais frias, corda, água, um pouco de vinho e mantimentos.Usem-nos com cuidado e gastem apenas o minímo indispensável. Pode acontecer aluma coisa pelo o caminho que vos atrase e não devem ficar sem mantimentos - pegou numa capa verde-escura e entregou-a a Saya - Isso é para ti.

Conduziu-os até à sala. Suspirou profundamente. Estendeu a mão para um embrulho que estava em cima de uma mesa oval, hesitou por alguns instantes e por fim agarrou-o.

- Kai, o teu pai deixou isto para ti - entregou-lhe o embrulho - Usa-o apenas se necessário. Se não precisares dele nem sequer o desembrulhes.

O youkai assentiu com a cabeça; a sua expressão era grave. Depois guardou rapidamente o embrulho dentro da mochila.

- Agora têm de ir. Mas antes preciso de dizer uma coisa a Saya. Espera um pouco lá fora, Kai.

Ele saiu fechando a porta atrás de si.

- Saya, eu sei que estás habituada a dar ordens e a ser obedecida. Também percebo que o teu orgulho seja grande, talvez demasiado grande. Mas nesta viagem terás que pôr isso de lado. Tens de confiar no Kai. Ele sabe o que faz. Minha querida, promete que o farás.

- Prometo que eu vou tentar - e subitamente deu-se conta de que não conseguia dizer-lhe não, fosse ao que fosse.

- Há ainda outra coisa que tenho de te dizer. Estou certa de quererás fazer perguntas, mas peço-te que não as faças - fez uma pausa - Durante essa jornada tens de te redescobrir. Aprende a acalmar o teu espiríto, a amar a simplecidade, para mais tarde te poderes deslumbrar com o magnificiente. Respeita tudo e todos os que te rodeiam. Segue os teus instintos, mas não esqueças a razão por completo. Acredita no coração, mesmo que a cabeça te diga que não é possível. Ama. E acima de tudo sê verdadeira contigo própria.

Durante alguns momentos olharam-se nos olhos, cada uma tentando ver na outra o que não era visível. Saya queria abraçar a fada. Há tanto tempo que ninguém lhe dava verdadeiro carinho e amor! Era como se Elianor fosse uma sombra do pai que tinha perdido há tantos anos. E então algo no seu espiríto se iluminou.

O pai...! Como o tinha esquecido! A ele e às suas histórias, às brincadeiras de ambos. E pela primeira vez percebeu que tentara esquecê-lo. Porquê? Era simples. Para esquecer o sofrimento de o ter perdido, sem tempo de se despedir, sem saber a razão pela qual ele partira, a razão pela qual a abandonara. Nem sequer sabia o que lhe tinha realmente acontecido!

- O meu pai costumava dizer-me coisas desse género, quando eu era muito pequena - acabou por dizer - Mas isso foi há muito tempo...

- O teu pai era um homem muito sábio - observou Elianor, suspirando novamente - Está a fazer-se tarde. Tens de ir.

Levantou-se, beijou-a na testa e saiu pela a porta que dava para o corredor. Saya ficou sozinha. Olhou uma última vez para a salinha e saiu da casa da fada. Quando viu Kai deu-se conta de que tinha a cara molhada de lágrimas. Sem que o conseguisse evitar, caiu nos seus braços a chorar incontrolavemente.

O dia estava fresco, o que se tornava extramamente agradável para viajar, sobretudo para alguém que seguia a pé, como eles. Os ramos das árvores ondulavam com o vento. Ocasionalmente uma folha seca caía, embelezando o chão dourado e vermelho.

Saya ainda tinha de limpar uma lágrima ou outra que teimava em cair. Não percebia porque ficara triste. Seria por se ter despedido daquela fada que lhe inspirava tanta calma? Ou não tinha suportado a recordação do pai? Por outro lado, estava zangada consigo própria por ter chorado à frente do Kai, e principalmente por ter chorado nos seus braços. Só esperava que ele não tivesse ficado com ideias erradas!

Tentou expulsar estes pensamentos para poder cumprir a promessa que tinha feito a Elianor. Mas surgiu-lhe outro problema. Caminhava já há muito tempo, com um peso considerável às costas, e não estava habituada a andar. O cansaço e as dores começavam a apoderar-se dela. Tinha de parar.

- Kai - chamou-o - podemos parar um pouco? Estou cansada. Lamento mas sou uma humana e não uma youkai, não tenho tanta resistência como tu.

- Está bem. Paramos para comer qualquer coisa e para descansar um pouco. Mas depois só paramos quando anoitecer.

A ideia de só parar quando anoitecesse não lhe agradava muito. No entanto agora tinha de parar, por isso concordou. Mais tarde logo se veria, talvez conseguisse convencê-lo a parar novamente.

Sentaram-se nas folhas secas e abriram as mochilas. Havia carne seca, presunto fumado, peixe salgado, biscoitos, bolos de mel e muita fruta. Comeram um pouco de peixe, bolos de mel e uma peça de fruta. Redistribuíram o peso pelas mochilas ( desta vez a de Saya estava muito mais leve que a do Kai) e deitaram-se à sombra a descansar.


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