A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 39
De volta para o seu Mundo




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Saya caiu durante muito tempo na escuridão. Não era uma escuridão terrível como que Naraku arrastava consigo, apenas uma escuridão inexplicável e cada vez mais densa. Tão densa que ela não conseguia ver as próprias mãos. E continuava a cair...

A cair... Cada vez mais rapiamente.

A cair... Para o nada envolto em escuridão.

A cair...

Não havia nada para ver, ouvir ou sentir, por isso fechou os olhos e não se preocupou mais.

Alguém lhe mexia nos cabelos. Abriu os olhos para ver quem era, mas a luz ofuscou-a. Estivera tanto tempo mergulhada na escuridão que a luz lhe feria os olhos.

Entreabriu-os ligeiramente para se habituar novamente à luz. E finalmente abriu-os. As festas no cabelo pararam e o silêncio foi total. Durante algum tempo ela fixou o tecto branco cheio de rachas, onde jazia esquecido um velho candeeiro de metal, sujo e enferrujado.

Tinha regressado ao seu Mundo, ou melhor, ao Mundo da mãe.

- Saya... - chamou a medo uma vozinha ao lado.

Virou-se. Ao seu lado, sentado numa cadeira e debruçado sobre a cama onde estava deitada, encontrava-se Kohaku. E naquelo momento ela odiou-o mais de que tudo. Não era ele quem ela queria ali, não era a sua cara que ela queria ver, nem os seus cabelos lisos castanho escuros, nem os seus olhos de avelã. Ela queria o Kai. Queria ter acordado e ter visto a longa e radiosa cabeleira dourada, os olhos de um verde líquido, as orelhas pontiagudas, o belo e harmonioso rosto de youkai. Porque não estava ele ali a fazer-lhe festas e tomar conta dela?! Um pensamento horrível cruzou-lhe a mente. E se ele tivesse morrido na batalha? Então queria morrer, cumprir o prometido, deixar a alma voar para junto da dele. Mas não sabia como fazê-lo...

A porta do quarto abriu-se e a mãe entrou seguida por um homem de bata(jaleco) branca. Tentou levantar-se e só então se apercebeu que o braço direito, o braço que partira durante a batalha, estava engessado e a perna também ainda lhe doía.

Kohaku forçou-a a deitar-se novamente. O homem de bata branca avançou para ela. Tinha um ar simpático. Era uma pessoa alta e corpulenta, com uma cara rosada onde sobressaía o bigode preto. Usava uns óculos e metal pretos rectangulares que escondiam os olhos brilhantes negros. Não devia ser muito velho.

- Este é o doutor White - disse a mãe.

Não deixava de ser um nome engraçado, principalmente para quem tinha cabelos e olhos extramente pretos.

- Bom dia - comprimentou Saya.

- Bom dia - respondeu o médico - Como se sente? Esteve a dormir durante muito tempo.

Saya riu com gosto. A coisa que nunca fizera naqueles atribulados dias fora dormir. E quando dormira os sonhos tinham sido inquietantes e muito pouco relaxantes.

- Sinto-me bem, mas podia estar melhor.

- Isso, todos nós podíamos - replicou o médico.

- Claro - concordou Saya - Mas eu podia não ter o braço partido, nem a perna magoada...

O médico e o Kohaku olharam espantados para ela. A sua mãe não, pois ela sabia como a sua filha se tinha magoado de verdade ou fazia uma ideia. Saya percebeu-se, já tarde de mais, que não era possível, pelo menos no entender deles, que ela soubesse que tinha a perna ferida.

- A perna dói-me imenso - disse rapidamente para disfarçar - Como é que me magoei?

- Foi ontém à noite... - começou o médico.

- Mas não sabemos como te magoaste - interrompeu Kohaku.

- Pois... - o Doutor White parecia ligeiramente incomodado - Encontámo-la no chão. Deve ter caído da cama.

- Mas é estranho que se parta um braço e se faça um golpe tão profundo na perna só por se cair da cama - continuou Kohaku.

Pois é. Mas é perfeitamente normal quando se luta numa batalha, se enfrentam as tropas de Morniran e se é atingido pela moca de um troll - pensou Saya.

O médico examinou-a demorada e cuidadosamente, depois aconselhou Kohaku e a mãe saírem. Kohaku inclinou-se para a beijar. Mas Saya desviou a cara. Não queria beijar mais ninguém para além de Kai. Por isso ele saiu. Mas a mãe deixou-se ficar. Durante uns minutos olharam uma para a outra, até que a mãe sorriu. Sentou-se na borda da cama e pegou na mão esquerda de Saya. Logo ficou com uma expressão um pouco mais séria.

- Enfrentas-te o Naraku, não foi? - perguntou a mãe

- Hai - disse Saya lembrando da batalha

- Então aquele vil e reles ser está de volta. Se eu pudesse, seria eu mesma matá-lo. Ele que tirou de nós o teu pai tão prematuramente. Quando tiveres alta, teremos uma grande conversa. Mas por agora peço-te apenas que compreendas. Não to podia dizer quando o teu pai desapareceu e depois, quando já eras suficiente crescida, eu sabia que nunca acreditarias. Tenho sem dúvida culpa nisso, mas enfim... Fiz o melhor que pude e achei. Tenta compreender - levantou-se e foi até à porta - Agora descansa. Deves estar a precisar. A Luta deve ter sido árdua e difícil.

E saiu, deixando Saya sozinha.


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