A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 28
Um romance no ar ou só amizade?




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Saya despertou. Há já algum tempo que deixara de ter daqueles estranhos sonhos.

Levantou-se, vestiu um roupão largo e comprido e foi até à varanda. A noite começava a morrer e estava agradavelmente fresco. Lá em baixo, a passear de um lada para o outro, encontrava-se o Kai.

Ela percorreu o palácio practicamente deserto e desceu para ir ao encontro dele. O youkai estava sentado num banco a olhar para a floresta. E quando se aproximava, Saya viu que lhe escorriam lágrimas silenciosas pela a cara.

- Kai... - chamou a medo

Ele fez um gesto rápido para limpar as lágrimas e virou-se.

- O que fazes aqui?!

- O mesmo que tu - respondeu ela, enquanto se sentava - Não consigo dormir.

Durante algum tempo ficaram assim, a olhar para as profundezas de Caladmiron sem dizendo fosse o que fosse. O próprio som das suas respirações parecia exageradamente alto. Até que por fim Saya formulou a pergunta que bailava na sua cabeça.

- Porque estavas a chorar? - e a pergunta, feita assim de repente e com o tom de quem espera uma resposta, fê-lo olhá-la surpreendido.

- Tive um sonho horrível - respondeu

- Queres contá-lo? A minha mãe dizia-me sempre que se contarmos os nossos pesadelos, isso ajuda a esquecê-los. Ou pelo menos tiramo-los de dentro de nós.

- Suponho que sim, mas.... É terrível demais para ser contado à luz do dia.

- Acredito que sim. Se te fez chorar... Mas então apressa-te. Conta-me antes que a noite finde e o dia se erga.

Kai ficou calado durante alguns momentos. Parecia não saber bem se devia contar. Quase como se receasse que ele fosse terrível de mais, mesmo para ser contado à noite.

- Não havia nem dia nem noite no Mundo. Apenas escuridão e fogo negro - a sua voz era profunda e triste, a expressão grave - Todas as árvores tinham morrido e só os troncos, tristes, sombrios e queimados eram ainda visíveis. O chão não era de relva, folhas ou mesmo terra, mas sim de pútridas cinzas. Os Gnomos tinham partido e os últimos Duendes morrido de tristeza. Apenas os Elfos, os Youkais e as Fadas tinham permanecido nas Terras da Luz a defendê-las com as últimas armas que possuíam, as últimas forças, os últimos gritos de vida. Mas também eles foram derrotados e subjugados a uma força cada vez maior, à qual há muito tinham deixado de conseguir resistir. Uma força que se alimentava das suas últimas forças. E assim os povos que em tempos tinham sido os mais poderosos de entre os poderosos desapereciam para sempre, deixando apenas um Mundo de morte e dor para a força demoníaca governar. Um Mundo onde viviam apenas os Magdul e o seu negro senhor. Um Mundo sem beleza nem beleza nem alegria. Um Mundo morto.

Quando ele acabou, Saya olhava-o, aterrorizada. De certo modo preferia ter ficado calada e não o ter encorajado a contar o seu tenebroso sonho.

- Há muito tempo que tenho este sonho. Há muito tempo mesmo - continuou ele - Ainda não aconteceu. E talvez nunca venha a acontecer. Mas eu sei que é o que acontecerá se Naraku conseguir o Ceptro, pois ele contém toda a magia que as próprias Terras da Luz possuem. Imagina o terror que ele poderia criar se vergasse um poder tão antigo quanto os aliceres da Terra à sua tenebrosa vontade de controlar todos os povos e todas as terras livres!

» Este Mundo existe há oitenta e nove mil milhões de anos. É muito mais antigo que o Mundo dos Homens e em parte por isso os nossos povos são muito sábios. Por outro lado, não negamos ou esquecemos desesperadamente os ensinamentos de há muitos milhares de anos. Os mais velhos de entre nós ainda se lembram da chegada dos Homens. No inicio eles confiaram em nós e deixaram-nos ensiná-los. Nesse tempo passava-se de um Mundo para o outro com a mesma facilidade com quem cheira uma flor. Mas com o passar do tempo eles tornaram-se desconfiados e deixaram de confiar em nós. Estranhamente, passaram a preferir uma ajuda que não podiam ver e que nem mesmo eles sabiam bem se existia. E a passagem entre os Mundos fechou-se para sempre. Embora a minha mãe afirme que ainda existe um espelho pelo o qual é possível passas de um Mundo para o outroe, é claro, os Elfos, as Fadas e os Youkais ainda consigam trazer alguém que está no outro Mundo para este, se o desejarem. Foi assim que os teus se conheceram, através desse espelho mas isso é um assunto que a própria tua mãe, a Rainha Mãe, tem que contar-te. De resto, foi assim que te trouxemos.

»Mas durante todo esse tempo, durante todos os milhares de anos em que vivemos em paz, a nossa luz e a nossa felecidade foram sempre ameaçadas por uma sombra. Uma sombra que ultimamente tem vindo a crescer e a tornar-se mais escura. E eu temo que essa sombra, encantada por Naraku, venha a destruir-nos e a tudo o que durante longos e belos snos criamos. Parece-me agora que s nossa paz se equilibra no gume de uma faca e que, por mais esforços que façamos, ao mais pequeno abalo cairá. No entanto, para o bem ou para o mal, sinto que rapidamente a resposta chegará.

Mais uma vez ficaram calados a olhar para o interior da floresta, sem saberem o que mais dizer. Saya procurou amão dele e quando a encontrou pousada sobre o banco pousou nela a sua, simultaneamente para o reconfortar e se reconfortar a si mesma.

- E tu? Porque não consegues dormir? - perguntou Kai, quebrando assim o silêncio.

saya contou-lhe o sonho e ainda o da noite em que se tinham beijado. Mas omitiu o da mãe. Ele olhou-a com um misto de espanto e compreensão.

- Então não foi só uma vez? - perguntou suavemente, quase como se estivesse a afirmar.

- Lie. Tenhe-os desde que dormimos em Aquilad - respondeu ela.

Mas arrependeu-se de imediato. Só lhe tinha contado o sonho de duas noites. Assim ele ia compreender que eram pelo menos três. E se ele perguntasse sobre que era o terceiro? No entanto, ele não perguntou nada. Limitou-se a sorrir.

- Tu deves ter o dom da Visão - o Kai disse por fim - Mas atráves dos sonhos. É um dom muito raro e precioso.

- Achas que devo fazer alguma coisa? - Saya perguntou, sem ter a certeza de gostar de possuir aquele dom.

- Lie. Apenas deves confiar neles. Mas, se quiseres, fala com a minha mãe, Tsuki. Ela poderá ajudar-te melhor do que eu.

O sol começava a estender os brilhantes e flamejantes raios pelas terras e em breve seria dia. Saya levantou-se para subir ao quarto e preparar-se para mais um dia repleto de lições.

- Ah! É verdade. A Finny desapareceu há uns dias. Se a vires, diz-me - pediu Saya antes de entrar no palácio.

- Hai - respondeu ele ainda sentado.


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