A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 18
O túmulo




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Mal entraram, as portas atrás de si fecharam-se. Era um aposento amplo, sem qualquer outra porta para além das duas que acabavam de se fechar. Todas as paredes estavam totalmente revestidas pelas as plantas de folhas verde claras e as flores rosa forte que se encontravam por todo o palácio, o chão estava coberto de folhas verdes e douradas e a luz era muito suave. Saya achou aquele quarto extremamente agradável; parecia um jardim interior, sereno e acolhedor.

Mesmo no centro do compartimento havia um túmulo feito do mais transparente dos cristais. Estava soberbamente decorado com desenhos de pequenas flores e folhas que caíam de altas árvores. A cobertura tinha apenas inscritos os seguintes versos:

Muito jovem foste rei,

Muito cedo nos deixas-te.

Mas sempre alegre,

Por Caladmiron caminhas-te.

Oh, rei tão amado,

Tão tristemente falado,

Nunca mais o teu riso

Em Omnirion será escutado.

Rei que espera a sua amada,

O fogo sagrado só por ela aguarda.

Por este Mundo juntos voarão,

E para sempre nos nossos corações habitarão.

Dentro do túmulo estava o corpo do rei, perfeitamente conservado. Tinha uma expressão serena, parecia até estar a sorrir. Saya, ao olhar para o rosto, ficou como que petrificada. Um arrepio gelado percorreu-a da cabeça aos pés. Era impossível, mas por outro lado estava mesmo ali à sua frente. Não podia ser uma ilusão, a menos que tudo aquilo por que passara desde do acidente também o fosse. Não, definitivamente não era uma ilusão. Aquele rei era sem dúvida o seu pai.

- Há alguns anos, dezassete, para ser mais preciso, Naraku regressou - Kai retomara a história - Raiden, o meu pai, que era o regente, mandou alguém ao Mundo onde viveste até agora chamar o rei, o teu pai. Ele evidentemente, veio rapidamente em nosso socorro. Confrontou-se com Naraku, conseguiu mesmo afastá-lo por um tempo... até agora. Mas infelizmente morreu. Era muito novo e tu eras ainda uma criança, pequena de mais para reinares. Raiden continuou como regente, à espera que tu estivesses pronta para conhecer a verdade. Compreendes agora porque estás aqui? Por que razão deves ser tu a guardar o Ceptro? Tu és a nossa princesa, Saya. A futura rainha de Caladmiron.

Saya não respondeu. Continuou parada a olhar para o rosto do pai. Uma coroa de flores secas repousavam na sua cabeça e duas orelhas arrebitadas espreitavam por entre os cabelos. E subitamente compreendeu. O pai era um youkai, assim como o era Kai. Mas se o pai era um youkai... então o que era ela?

- Tu és uma fada, Saya - disse Kai em resposta aos seus pensamentos - Quando um youkai e um Humano se juntam, nasce uma fada ou um elfo.

Saya olhou para ele. Tinha os olhos cheios de lágrimas. Nem sabia bem porque estava a chorar. Só sabia que se sentia melhor assim. Quando as lágrimas se soltaram e começaram a escorrer pela cara, sentiu-se aliviada. Era como se de repente um enorme peso tivesse desaparecido. Então, para grande espanto de Kai, ele riu alto, muito alto, desvairadamente.

- É um sonho. É isso - Saya parecia completamente louca - Um sonho estupido, como a maior parte dos sonhos. Não tarda vou acordar.

- Saya, lamento desiludir-te, mas isto não é um sonho e tu não vais acordar.

- Vou sim - berrou descontroladamente - E tu vais desaparecer, tu e tudo este Mundo

- Saya, para! - ele estava muito sério - Estás a agir como uma louca.

- Não faz mal! Estou a sonhar. Até podia espetar uma faca no peito que não acontecia nada.

Ele avançou para ela. Saya tinha começado a dançar e a entoar uma músia. Kai agarrou-lhe os braços e ela parou.

- Saya, olha para mim. Olha para os meus olhos - e ela olhou - Isto não é um sonho. Não se dorme em sonhos, nem se sonha em sonhos. Por isso, como é que isto pode ser um sonho? - perguntou ele suavemente.

Contudo, ela continuou a berrar:« É um sonho, é um sonho!» Ele olhou exasperado para ela, como alguém que tem de fazer uma criança compreender o que ela não quer compreender.

- Saya, peço gomaensai pelo que vou fazer - e sem mais uma palavra deu-lhe um estalo. Imediatamente ela parou de berrar e ficou a olhar para ele muito séria - Gomenasai, mas foi a única forma de te acalmar. Eu sei que é complicado. Pensares que eras uma coisa e de repente descobrires que és outra.

Ela desprendeu-se das mãos dele e encaminhou-se para um canto do compartimento. Estava muito séria, com os braços cruzados e uma expressão de completa fúria nos olhos.

- Estás desculpado. Mas não te atrevas a dizer que sabes que é complicado. Não sabes nem nunca vais saber. Durante toda a tua vida sempre soubeste que eras um youkai, soubeste que os teus pais eram youkais. Mas eu não! Eu nunca soube que era uma fada, ou que o meu pai era um youkai. Eu nunca soube... Tudo aquilo em que sempre acreditei é mentira. As pessoas em que eu mais acreditava mentiram-me. E tu dizes-me que sabes que é complicado.

Kai ficou calado. Dirigiu-se a um canto e sentou-se. Ela podia ver que ele não ia dizer mais nada. Queria que ele disse-se qualquer coisa, só para poder continuar a discutir. Enquanto discutia sentia-se melhor.

- Ouviste bem? - ele não respondeu - Kai... - chamou, mas ele continuou sem responder.

Saya sentou-se com a cabeça nos joelhos, as lágrimas a escorrerem silenciosas pala cara. Sentia uma fúria e um ódio terriveis dentro de si. Em parte chorava por causa da situação gerada, mas também chorava pelos sentimentos que tão furiosamente a assaltavam. Não gostava daqueles sentimentos, faziam-na sentir maldisposta e a sua cabeça começava a doer. Por um lado, apetecia-lhe partir tudo, por outro, tinha medo de o fazer. Compreendia a razão por que não lhe tinham contado, mas gostava que lho tivessem dito. Estava num caos, sentia-se cair aos bocados. Fechou os olhos, talvez se dormisse um bocadinho ficasse mais calma.


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