Para Sempre Lidinho escrita por Érica, Mariana R


Capítulo 36
Me peça pra voltar


Notas iniciais do capítulo

"Não precisa me lembrar, não vou fugir de nada. Sinto muito se não fui como um sonho seu... Sei que amores imperfeitos são as flores da estação! Mentira se eu disser que não penso mais em você. E quantas páginas o amor já mereceu? Os filósofos não dizem nada que eu possa te dizer. Quantos versos sobre nós eu já guardei? Deixa a luz daquela sala acesa... E me peça pra voltar!"... (Skank)



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“Oi, seu Dinho!”

Cumprimentou-me Severino ao me ver passar pela recepção do prédio.

“Seu? Eu não sou tão velho assim, sou?”

“É à força do hábito!”

Ele sorriu.

“A Lia tá em casa?”

Mesmo se não estivesse, iria encontrá-la nem que fosse preciso ir ao inferno.

“Tá... O que é bem estranho! Desde ontem que ela não sai nem pra tocar no Misturama. Eu sou do nordeste e meu lance é forró, mas gosto de ouvir o que tocam lá, sabe?”

Fugindo Lia? De quem?... Depois de trocar mais algumas palavras com o Severino, segui direto para o elevador. Desde que atendi – mais cedo – o telefonema de Luana que não paro de pensar no que pode ter acontecido com a Lia.

Sei que ela não vai querer falar, que vai me mandar embora, mas já to acostumado com isso. O que não posso é ficar parado enquanto ela corre risco. Se aquele Sal fez alguma coisa com ela... Suspirei forte cerrando os punhos ao lado do corpo. A raiva emanava de mim de uma forma assustadora, muito maior do que na noite em que a salvei daquele psicopata. Foi assim como Luana o descreveu: Um psicopata muito perigoso! Ela disse outras coisas também: O envolvimento dele com drogas, a culpa que jogou sobre o irmão, a agressão contra ela.

Mas ele que não pense que deixarei isso barato! Não mesmo!

E eu que pensei que tinha a deixado para trás. Que aquela noite com a Luana tinha sido o fim... Mas quanto mais eu me afasto mais eu acabo perto dela. Não tem explicação para o que acontece, ela me puxa mesmo quando eu quero cortar os laços que nos une. Como se estivéssemos destinados a sempre nos pertencer... Embora, Lia não admita isso.

O elevador parou. Saí rapidamente, a passos largos cheguei ao seu apartamento. Toquei a campanhia com uma força exagerada, mas não estava em condições de raciocinar. Uma menina de cabelos cor de chocolate me atendeu.

“Dinho?”

Respirei fundo buscando controle.

“Oi, Tatá! A Lia tá aí?”

“Tatá, quem é?”

A avó, dona Paulina, surgiu por trás da neta.

“Dinho? O que tu tá fazendo aqui, guri?”

“Oi, Eu queria falar com a Lia...”.

“Eu não sei se é uma boa ideia...”.

“Ah... vó! Deixa eles se entenderem. Não era você que tava reclamando pela Lia tá trancada lá no quarto? Taí a solução para o problema!”

Tatá apontou em minha direção.

“Bem... Talvez seja bom ela conversar com um amigo. Eu e a Tatá íamos ao supermercado, você pode seguir ate o quarto. Só não sei se ela vai querer te ver. A Lia tá arisca desde ontem.”

“Tá bom vó! O Dinho já tá acostumado com o eterno mau humor da Lia. ‘Vamonessa’, que eles dois se resolvem!”

A minha ex-cunhada puxou Dona Paulina e saiu pela porta, mas não antes de dar uma piscadela para mim.

“Olha lá, hein? To na torcida!”

E assim elas partiram. Sozinho, naquele apartamento, relembrei todas às outras vezes que já estive ali. Quando a busquei pela primeira vez, mesmo numa cadeira de rodas. Quando me escondi embaixo da sua cama para fugir do pai ‘linha dura’. O meu aniversário, a nossa ‘torta’ despedida.

“Se eu fosse embora, você ia sentir minha falta?”

“Nenhuma!”

Caminhei ate o quarto e o encontrei com a porta fechada. De lá de dentro, podia-se ouvir os acordes da fiel companheira da Lia. Ela tocava uma melodia triste me fazendo questionar se era assim que se sentia. Anuncie-me com três batidas na madeira.

“Lia... É o Dinho. Pode abrir a porta, por favor?”

A musica foi interrompida, mas ela não respondeu. Talvez estivesse pensando em uma forma mais criativa de me mandar embora... De novo.

“Dinho!? O que você quer?”

Gentil, como sempre!

“Vim tomar sorvete de abacaxi! Quer, por favor, abrir essa porta?”

“Por que eu deveria? Que eu me lembre não temos nada o que conversar né? Cai fora daqui!”

Encostei minha cabeça na superfície dura, mas não tão dura quanto à cabeça da pequena loira do outro lado.

Desiste Dinho!

“E se eu não for?”

“Vai perder seu tempo. Eu não vou abrir nada, então: Poupe-se de maiores transtornos!”

“Essa é sua ultima palavra?”

“Tchau, Dinho!”

Me virei para ir embora.

Aquela Marrenta que se dane! Chega de ser mandado embora. Chega de correr atrás. Ela quer que eu vá? Então, eu vou! Enquanto me afastava, ouvi novos acordes saindo da guitarra. Ela estava me ignorando! Dei meia volta e bati de novo na porta.

“Lia, eu não vou embora! Tá me escutando? Vou ficar aqui ate você me deixar entrar nesse maldito quarto!”

“Faça como quiser!”

Disse exasperada do outro lado.

Apoiei as costas na parede e deslizei lentamente ate sentar-me no chão. Nada mais foi dito. De tempos em tempos, ela iniciava uma nova música – inclusive cantarolei algumas – mais nada, além disso. Passou-se uma hora nessa situação e ainda tentava entender o que me prendia ali, impedindo-me de ir embora.

“Pode tocar uma do Legião Urbana?”

“Dinho?! Cê ainda tá aí?”

Por essa ela não esperava!

“Eu disse que ficaria aqui. Não acredita no que eu digo?”

“Quer a verdade?”

O sarcasmo escorria de cada palavra.

“Não pensei que tinha uma estima tão baixa por mim.”

“Sabe que te considero mais do que deveria? Pra alguém que me traiu e foi embora... Você devia é tá feliz por eu ainda falar com você.”

O silêncio se seguiu depois disso. Velhas feridas nunca cicatrizam, e as dela eram profundas. As minhas também.

“Eu não queria ter ido.”

“Mas você foi! E com quem? Com o motivo da sua traição!”

Mais silêncio. A guitarra havia sido esquecida, mas as lembranças não.

“Eu não fui com a Valentina. Eu fui. Ela apenas me acompanhou.”

“Claro, e você nem teve como impedir né? Caramba, e eu que, um dia, achei que você fosse sincero.”

“E você é? Nunca mentiu? Ah... conta outra tá?!”

“Pelo menos eu não traí ninguém. Não deixei ninguém ser humilhado...”.

“Não sei se a Ju pensa o mesmo!”

Me arrependi do que disse antes mesmo de fazê-lo. Lia ficou calada.

“Desculpe, eu não... Eu não quis dizer isso.”

“Vai embora Dinho... Vai embora!”

Mais uma vez eu estraguei tudo. Ela não abriu a porta, mas também não tocou nenhuma outra canção.

“Se lembra de quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre? Sem saber que o pra sempre... Sempre acaba!... ♫ Essa devia ser a nossa canção. Desculpe por sempre fazer tudo errado, mas é que eu não sei ser diferente. Eu sou imperfeito e não posso mudar isso... Sinto muito.”

Ouvi passos. Lia saiu da cama – era onde sempre tocava – e aproximou-se da porta. Ela também se sentou no chão, não sabia como, mas eu sabia que sim.

“Não mentiu quando disse que era desafinado... Eu sempre te mando embora, né?”

“E eu sempre volto.”

“Por quê?”

Sua pergunta me perseguia todas as noites. Por quê?

“Não sei. Já me perguntei o mesmo várias vezes e ainda não achei a resposta... Acho que é porque sou idiota. E idiotas fazem idiotices, certo? Esse é o Dinho.”

“Dói?... Digo, ser ‘chutado’ tantas vezes não deve ser algo agradável.”

Sorri meio a contragosto. Até quando ela abria o coração, sem dar-se conta disso, encontrava uma maneira de me atacar.

“Sim... Mas já doeu mais.”

“Como assim?”

“Quando estava longe... A distância acentua mais a dor. Aqui, eu ainda posso te ver... Ou não já que estamos separados por uma porta.”

“Por acaso é algum sado masoquista?”

Ela sorriu. Eu senti isso na sua voz.

“De certa forma... Mas prefiro sentir dor a não sentir nada.”

Depois disso, ela nada mais disse. As nossas respirações eram os únicos sons ouvidos naquele espaço perto da entrada do quarto. Fiquei quieto a espera de um sinal.

“O que você veio fazer aqui?”

“Conversar.”

“Mas acabou brigando comigo. Maneira estranha de se conversar, não?”

“Você me conhece. Não seríamos Dinho e Lia...”.

“Lia e Dinho, damas primeiro!”

Ri da sua interrupção. Ela riu também, e não pode esconder.

“Não seríamos Lia e Dinho se não brigássemos.”

Outro longo silêncio se fez. Pensei que ela tivesse recobrado o juízo. Que não falaria mais nada ate eu desistir e ir embora. Levantei do chão disposto a ir... Não podia força-la a nada. Qual não foi a minha surpresa ao vê-la abrir a porta? Um sorriso desenhou-se no meu rosto. Lia fechou a cara.

“Não pense que isso quer dizer alguma coisa, pois vai estar enganado. Eu só não quero ter que conversar com a madeira. Entra!”

“Eu não tava pensando nada...”.

Fiz expressão de inocência. Ela caminhou ate a cama e sentou-se. Olhei-a analiticamente, guardando cada traço daquela pequena garota. Usava um casaco de mangas compridas e calças jeans. Estava descalça, sem nenhuma maquiagem e era a imagem mais linda que eu já tive o prazer de ver.

“Hum... Esqueci de dizer, gostei das mexas.”

Lia segurou o cabelo e fez cara de entediada.

“É, também gostei... Então, o que você quer?”

Pensei bem nas palavras que deveria usar.

“Vim falar sobre aquele cara... O Sal.”.

Vi-a perder a cor no instante que proferi o nome. Algo havia acontecido, e sua reação era a maior prova disso.

“Ele fez alguma coisa?”

Aquela não era uma pergunta, mas quis dar a chance de ela própria dizer. Lia ficou calada.

“A Luana me ligou e me disse algumas coisas sobre ele e você. A forma como chegou ao Misturama, o medo na sua face... E que ele te seguia.”

“E o que aquela garota tem a ver com a minha vida? Olha, eu não sei o que tá rolando, mas não precisa se preocupar. Eu to muito bem, obrigada!”

Ela assumiu posição de defesa. Abraçando o corpo, tentava, a todo custo, evitar meu olhar.

“Lia... Isso é sério. Aquele cara é perigoso e nós dois sabemos disso. Aquela noite perto do Hostel foi só uma amostra do que ele é capaz. Eu não quero te ver ferida.”

Sentei-me ao seu lado. Ela se afastou do contato do meu corpo.

“É por isso que tá aqui? Não quer ter a consciência pesada?”

Revirei os olhos. Passando a mão pelos cabelos, procurei me controlar.

“Por que você sempre tá colocando palavras na minha boca? Tudo bem! Se não quiser falar, não fale! Mas eu sei onde posso encontrar respostas.”

Levantei de onde estava, mas ao dar o primeiro passo, Lia segurou minha mão. Seus olhos refletiam medo.

Aquela não era ela. Não a minha Marrenta sempre pronta para a batalha. Senti um aperto no peito.

“Dinho, o que você vai fazer? Você não vai atrás do Sal, vai?”

“Por que não iria? Você não quer dizer o que tá acontecendo, então... Lia?”

Senti braços pequenos rodearem a minha cintura. Num momento, lá estava ela, sentada. No outro, me abraçava como se não conseguisse me ver partir. Trouxe-a para perto, enquanto ela me abraçava forte.

“Não faz isso! Por favor, não se mete com o Sal, ele... Por favor!”

“Shhh... Hey, não fica assim. Eu não vou a lugar algum.”

Abracei-a mais forte, mas soltei-a imediatamente quando emitiu um grave gemido de dor. Busquei-lhe os olhos. Ela parecia derrotada.

Levantei o casaco e vi espalhado pela pele alva hematomas e arranhões... Esse era o motivo de num calor de 38° graus ela usar uma roupa como aquela. Lia queria esconder os ferimentos.

“DROGA Lia!”

Incredulidade e raiva – a ultima mais intensa – marcavam meu rosto. Ela abaixou o casaco, e passou os braços em volta do corpo.

“Foi ele quem fez isso?”

Questionei sério. Sentia um misto de emoções, e elas não eram nada boas!

“Foi – Uma lágrima desceu por seu rosto – Eu tava andando na rua quando o Sal me abordou. Ele insistiu para que a gente fosse pra um lugar, mas eu não quis. Ele começou a ficar nervoso, disse um monte de coisas e quando eu tentei ir embora ele me empurrou. Vinha um carro e quase, quase... Eu consegui desviar. Corri pro Misturama, mas quando cheguei lá vi você, a Luana e o resto do pessoal... Não queria que ninguém me visse desse jeito... Que você me visse desse jeito. Então eu vim embora pra casa.”

“E não saiu mais.”

Ela acenou afirmativamente com a cabeça.

Ódio irradiava de cada célula do meu corpo. Era um sentimento denso e obscuro, que me fazia querer sair daquele quarto e quebrar a cara daquele desgraçado. A minha respiração começou a ficar pesada e entrecortada. Só de pensar no que poderia ter acontecido se... Se ela não tivesse conseguido desviar. Nem Deus nem ninguém me impediriam de caçar aquele maldito e fazê-lo pagar com as minhas próprias mãos.

Lia pareceu ler minha mente.

“Nem pense nisso, tá me ouvindo? Não vou deixar que você faça nada! Esse é um problema MEU e não te diz respeito. Pode deixar que eu vou dar um jeito!”

“Posso saber qual? Parar dentro de um caixão vai ser o seu jeito?”

Lia deu dois passos para trás por causa das minhas palavras.

“Desculpe, é que... DROGA! Isso não pode ficar assim! Você tem que dar queixa na policia. Não podemos permitir que esse cara saia impune dessa!”

“E eu vou dizer o quê? Não tenho provas de que ele me empurrou. O Sal é esperto demais. Ele nunca faria nada na frente de outras pessoas. Ia ser a minha palavra contra a dele. Eu não vejo como avisar a policia vai ajudar... E se ele quiser se vingar? E se ele fizer algo contra a minha família?”

Lia começou a chorar. O pequeno corpo tremia pela possibilidade de ver as pessoas que ela amava em perigo. Fui ate ela e a abracei com cuidado, por causa dos machucados. Queria mantê-la ali para sempre, longe de todo o mal. Longe do Sal... A salvo. Coloquei meu queixo sobre a cabeça loira.

“Lia...”

“Promete que não vai fazer nada nem dizer nada a ninguém... Promete!”

Não podia ver a minha Lia daquela forma. Concordei para poder acalmá-la.

“Prometo... Mas com condições. Nada de andar sozinha por aí, tá entendendo? Eu vou te levar e te buscar na Faculdade ou qualquer outro lugar que queira ir. Só assim aceito guardar segredo. Por enquanto, pelo menos.”

“Vai ser minha babá?”

Perguntou irritada trazendo a tona a Marrenta de antes.

“Chame do que quiser, mas a partir de hoje você não sai de perto de mim. Nunca mais!”

Afrouxei o abraço para olhar o seu rosto. Beijei o rastro deixado pelas lágrimas na pele branca e macia, aproximando-me cada vez mais da boca. Não quis me aproveitar da sua fragilidade, mas não pude evitar. Tê-la tão perto, sentir seu aroma... Lia! Era demais para alguém que sonhava com isso todas as noites, dias, tardes... Às vezes, ate acordado! Foi um momento único quando os meus lábios encontraram os seus num beijo doce e salgado.

“Hum... Salgado!”

Sorri por esse detalhe e ela sorriu contra a minha boca.

Antes que pudesse aprofundar o gesto, uma voz infantil invadiu o quarto.

“UAU! Que beijão, hein?”

“Some daqui PIRRALHA!”

Desvencilhando-se de mim, Lia arremessou-lhe um travesseiro na irmã caçula enquanto esta corria para fora.

“Dinho... Esse beijo...”.

De novo não!... Ela me evitava mirando um canto qualquer do quarto. E eu permanecia parado a espera que ela fizesse o que sempre faz quando me aproximo demais.

“Já sei, já sei... Ele não significa nada. Eu sou um idiota e devo ir embora, certo?”

“Tem razão... Você é um idiota. E o beijo não significa nada ou talvez...”.

A roqueira sorriu travessa.

“Por que você brinca desse jeito comigo, hein?”

Eu a beijei de novo enquanto o tempo parava. Esqueci-me do mundo lá fora. Só existia aquele instante. Só Lia e Dinho.

Ela poderia me afastar depois... Mas, só depois!



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Notas finais do capítulo

Capítulo By: Érica!

Awn... Mais que FOFINHO! Só o Dinho para conseguir desarmar aquela Marrenta! #Tenso esse papo do Sal, hein? Mas vai ser ÓTEMO ver o Idiota dando uma de "Guarda-costas" da Lia: Ah, isso vai!... :D Gostou? Adorou? Tá gritando ate agora? Comente! Beijos!



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