Missão A Dois escrita por Sarah Colins


Capítulo 49
Capítulo 48 - Parede


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos, tudo bem?
Deixo vocês com um capítulo novinho e muito empolgante!
Espero que gostem ;)



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Cortar legumes pode se tornar uma coisa interessantíssima quando você precisa distrair sua mente. Tarefas mecânicas e repetitivas estavam se tornando meu hobby favorito. Eu só tinha que me concentrar em deixar os pedaços relativamente iguais. Tirar a casca o mais rente possível para não haver desperdício. Depois jogar tudo dentro de uma panela de água fervente junto com macarrão e talvez um pouco de carne. Eu nunca imaginei que iria desfrutar tanto em preparar uma sopa. Aliás, jamais imaginei que prepararia uma sopa na vida, já que cozinhar nunca fora meu forte. Mas como eu disse, tarefas manuais e monótonas estavam me fazendo muito bem. Cada minuto que eu passava sem me lembrar do que acontecera naquele desfiladeiro era uma vitória. Era contra isso que eu vinha lutando na última semana e estava realmente satisfeita de estar conseguindo alcançar o objetivo: não pensar nem refletir a respeito.

Me chamem de covarde ou o que for, mas esse foi o melhor método que eu encontrei de encarar a situação. Ou melhor, não encarar. Qualquer outra possibilidade seria dolorosa demais. Além disso eu não queria deixar que as coisas caminhassem para um certo caminho. Caminho esse que eu sabia que talvez não tivesse mais volta. Não dessa vez. Sendo assim eu basicamente fingia que nada tivesse acontecido. Esperando que assim não sentisse o que deveria estar sentindo. Bem, isso teoricamente é claro. Pois na verdade eu sentia sim. Tudo. Bem lá no fundo. Mas era melhor manter tudo bem lá no fundo do que deixar tudo vir à tona tocando no assunto. Em parte eu achava que estava dando certo, mas outra parte de mim me dizia que não era bem assim.

Inconscientemente eu estava punindo Percy pelo que ele me fizera. Apenas inconscientemente, com pequenos detalhes. Como por exemplo, ele detestava sopa de legumes e era exatamente aquilo que eu iria servir no jantar daquela noite. Na noite anterior eu fizera brócolis com molho branco e na anterior a essa fiz uma panela imensa de anchovas cozidas. Ambos pratos que Percy odiava, mas que curiosamente ele comeu sem reclamar uma só vez. E não era só no estômago que as minhas punições involuntárias estavam atacando. Eu estava fazendo várias coisas que eu sabia que irritavam Percy, ainda que não me desse conta disso. E ele estava tendo muito sangue frio para aturar aquilo sem se queixar. No dia seguinte ao episódio do desfiladeiro eu passei o dia todo mandando-o arrumar a casa, mesmo que não fosse dia de faxina. No dia depois desse eu o convenci de que estava morta de vontade de correr no parque e fiz ele ir comigo. Sem contar que eu parei de atender as ligações e responder as mensagens dele no celular, sem motivo aparente. Nada disso, porém parecia tirar Percy do sério.

Nem mesmo o fato de que eu agia como se aquilo fosse algo normal o irritava. E olha que isso era uma da coisas que mais o faziam perder a cabeça. Ao mesmo tempo ele estava evidentemente pra baixo com tudo que havia acontecido. Ele não gostava daquela parede que eu havia criado entre nós. Ele certamente queria falar sobre o assunto, discuti-lo e resolvê-lo. Enquanto isso não acontecesse era como se ele carregasse o peso do céu novamente nas costas. Eu sabia bem como era isso, havia vivido quase a mesma situação meses atrás. Sabia o quanto era ruim ficar com uma coisa dessas pendente. Mas tentar resolver ou sequer lembrar do assunto parecia ser muito pior que tudo isso. É claro que eu não iria admitir, mas sabia que estava em estado de negação/estupor/choque.

Ter de ir para o trabalho e a faculdade nunca foi tão satisfatório quanto naquela semana. Eu conseguia me desligar quase que 100% da minha relação amorosa e tudo que estava relacionado a ela. Respirava arquitetura durante aquelas horas e não deixava que ninguém me tirasse daquele universo. Quando alguém mencionava Percy, eu até saia de perto para não ter que responder. Depois de um tempo ficou evidente que eu não queria falar dele. Muito menos responder porque eu não queria falar dele. Logo, ninguém me perguntou e eu felizmente não tive que contar a ninguém o que acontecera. A única pessoa que percebeu que eu não estava normal e que não foi inteligente o bastante para ficar na sua, foi Nathan. Era o jeito dele, afinal. Não conseguia ver alguém com um problema sem tentar ajudar. Eu, mesmo sabendo disso, me irritei com ele. Disse que estava delirando e que não havia nada de errado comigo.

Obviamente Nate não acreditou. E ele também era o tipo de pessoa que não se dá por vencido tão facilmente. Não adiantou eu negar um milhão de vezes que estivesse mal, ele não acreditava em mim e pior, continuava insistindo que eu deveria desabafar com ele e deixá-lo me ajudar. Aquele garoto conseguiu me irritar de verdade. A ponto de eu quase brigar sério com ele. Não conseguia ver sua boa intenção ao ficar no meu pé. Só enxergava alguém chato e inconveniente que queria me fazer falar de algo que eu estava convencida a não falar, com absolutamente ninguém. Foi durante uma reunião dos nossos chefes, onde estávamos esperando na sala de café, que eu explodi e Nathan pareceu ficar realmente com medo de ser agredido fisicamente pela minha pessoa.

– Escuta aqui, Nathan Scott - falei com expressão raivosa apontando o dedo em sua cara - Eu tenho tolerado sua intromissão até agora, mas não pense que só porque é o filho do dono da empresa, que eu vou aturar isso para sempre! Estou falando sério. Se continuar me chateando eu vou reclamar com o RH e tenho certeza que consigo fazer você ser demitido se eu quiser…

– Ok ok, eu não duvido disso - falou ele levantando as mãos para o alto num gesto de rendição - É claro que você conseguiria. Meu pai gosta mais de você do que de mim. Ele preferiria mil vezes me demitir a perder uma estagiária como você. Nós dois sabemos bem que não tenho privilégios aqui. No entanto, eu não posso deixar de observar que esse seu comportamento prova que estou certo!

– Não seja ridículo. Você é que está se empenhando em me tirar do sério nos últimos dias. Se meu comportamento está assim tão imprudente a culpa é toda sua!

– Em parte talvez. Mas não se sentiria tão incomodada com minhas tentativas, veja bem, de te AJUDAR, se de fato não estivesse acontecendo nada com você - ele falou com cautela e mesmo assim eu lhe lancei um olhar fulminante - Apenas admita, ok? Admita que há algo errado com você, que tem um problema bem grande te perturbando, e eu juro que paro de tentar te AJUDAR.

– Está certo, você venceu Nate - deixei os ombros caírem e respirei fundo. Ao menos me livraria dele - Eu estou com um baita de um problema, um problema gigantesco. Satisfeito?

– Sim - ele respondeu com um sorriso tranquilo - Mas ainda acho que te faria muito bem falar sobre isso comigo. Sabe estarei sempre aqui pra ouvir…

– Tchau Nate, até amanhã…

Me despedi sem dar continuidade ao assunto. Nathan riu satisfeito ao me ver saindo. Eu o deixara falando sozinho e foi a melhor coisa que eu fiz. Assim que cheguei na minha sala desatei a chorar descontroladamente. Que droga! Que droga! Que droga! Não podia acreditar naquilo. Eu mal havia deixado o assunto surgir. Apenas admitira que eu estava com um problema para meu amigo, e olha o estado que eu havia ficado. Não, aquilo não podia acontecer. Eu tinha que continuar fazendo as coisas do meu jeito. Tinha que continuar com minha estratégia, que até então estava dando certo. Não podia ter deixado o insuportável do Nathan me convencer. A solução possível era apenas aquela, fingir que estava tudo bem. E então eu acabaria acreditando mesmo que estava. Suspirei aliviada quando vi que deu a hora de ir embora. O alívio passou quando me lembrei que estava voltando para a casa para continuar o teatro que estava sendo minha convivência com Percy nos últimos dias.

Peguei o metro para ir pra casa. Nem deixar Percy me buscar no trabalho de carro eu estava fazendo mais. Estava dando todos os “gelos” e “cortadas” possíveis nele. Sem estar consciente disso, é claro. Quando cheguei no prédio percebi que havia algo de errado acontecendo. Não era nada aparente, era mais como um pressentimento ou algo do tipo. Cumprimentei o porteiro ao entrar e percebi que ele me olhou de uma forma diferente. Podia ser pura paranoia minha, mas eu estava suspeitando que algo ruim iria acontecer. Atravessei o pátio até chegar no lobby e dar de cara com Percy vestindo um terno e segurando um buquê de rosas vermelhas. Deuses ele estava maravilhoso. Até mesmo estando no estado em que estava tinha que admitir que meu namorado era de dar inveja a muita gente. Perdi o fôlego e senti as batidas do meu coração acelerando. Aquilo foi melhor do que qualquer uma das minhas estratégias de deixar minha mente longe do problema que me atormentava até então. Percy daquela forma era com certeza muito mais atormentador. Fazia a temperatura do meu corpo subir absurdamente.

– Boa Noite, senhorita Chase - me cumprimentou ele dando alguns passos à frente. Logo eu podia sentir o cheiro das rosas e do perfume dele. Não sabia qual eu gostava mais. Espere, sabia sim! - Você está maravilhosamente linda essa noite. Me daria a honra de te levar para jantar? - Ele me estendeu o buquê e eu o peguei enquanto continuava hipnotizada pelo seu sorriso.

– Percy, isso é… - não consegui terminar a frase. E pela cara dele eu nem precisava.

Não pude deixar de me lembrar do dia em que Percy havia feito uma surpresa muito parecida com aquela pra mim. Foi no começo do ano para comemorar meu primeiro dia na faculdade. Naquela época tudo era motivo para celebração. Querendo ou não havíamos perdido um pouco disso. Depois de tudo o que acontecera, tudo pelo que passamos. Era difícil manter a mesmo espirito de aventura e empolgação quando você sabe que a vida de um casal pode reservar muitas surpresas desagradáveis. Foi ao pensar nisso que eu senti minha parede ceder um pouco. Meu peito doeu e então eu tentei parar. Mas toda a romanticidade do momento estava tornando isso extremamente difícil. Por mais que eu quisesse bloquear aquelas lembranças e outras lembranças não tão boas, elas insistiam em continuar vindo a minha mente. Tentei então concentrar toda minha atenção no cara irresistível que estava a minha frente.

– Eu sei… - falou ele depois que meu silêncio começou a ficar constrangedor - Agora por que não sobe para se arrumar e provar pra mim que consegue ficar ainda mais bonita? Eu acho que é impossível, mas tudo bem - ele riu e eu senti todo o receio se dissolver dentro de mim.

Continuei atrelada aquele sentimento de felicidade e a extrema atração física que sentia por Percy enquanto subia de elevador até nosso apartamento. Somente isso me deu forças para eu conseguir colocar uma roupa sexy e arrumar o cabelo para o jantar. Por pouco eu não desisti de tudo e me afundei na cama debaixo dos cobertores. Voltar para o lobby do hotel e rever meu lindo acompanhante ajudou a retomar meu ponto de apoio ao mundo real. Percy e seu imenso charme eram a âncora me prendiam a minha sanidade, que mantinha meus pensamentos longe das lembranças e das dores que eu queria manter enterradas bem fundo. Ele deu um assovio longo quando me viu, me fazendo corar. Então andou até o meu lado e me ofereceu seu braço para eu segurar.

– É, acho que eu estava enganado. Você podia sim ficar mais bonita, aliás, acho que fica mais bonita a cada segundo que passa.

Então ele me beijou. O mundo parou de girar por aqueles poucos segundos que nossos lábios ficaram unidos. Assim que ele se afastou eu voltei a me sentir mal. Não me lembrava qual fora a última vez que havíamos nos beijado. Nem se havíamos nos beijado alguma vez desde… Desde… Não, eu não me atrevia a mencionar aquilo nem em pensamento. Não podia me permitir lembrar do que aconteceu. Queria esquecer aquele dia. Tudo o que eu havia ouvido. Percy me despertou do meu devaneio ao me puxar para o portão do prédio e me fazer entrar no taxi. Acho que ele havia percebido que o beijo me pegara de surpresa. Eu não fazia ideia do que ele estava achando daquilo tudo. Mas também não estava exatamente com cabeça para reparar nisso. Já era trabalhoso demais refrear tudo que eu sentia.

Chegamos ao restaurante e vi que era o mesmo lugar que tínhamos ido há quase um ano atrás. Perfeito! Assim seria ainda mais fácil não pensar no passado e não sentir aquelas emoções nostálgicas que tentavam me dominar. Suspirei e segurei a mão de Percy para sair do carro depois de ele dar a volta e abrir a porta para mim. Ele entregou as chaves ao manobrista e entramos no sofisticado estabelecimento. Mesmo tendo passado tanto tempo, e mesmo eu tendo sido modelo e tendo namorado um milionário, ainda não conseguia me sentir confortável ali, em meio a tanta fineza. Eu não pertencia àquele lugar e nem Percy. Ainda assim, ele havia me trazido ali porque acreditava ser romântico e provavelmente porque acreditava que me lembraria uma época boa. Mal sabia ele que isso era a última coisa que eu queria ou precisava. Se estivéssemos num dos nossos melhores momentos, um cachorro-quente no Central Park estaria de bom tamanho e eu ainda acharia a coisa mais romântica do mundo.

Suspirei novamente e Percy olhou em minha direção. Droga, ele havia reparado e parecia preocupado. Ok, eu tinha que parar de suspirar. Endireitei a postura e fiz a minha melhor cara de: estou aproveitando a noite. Fomos encaminhados até uma mesa para dois. Ela ficava num canto afastado e escuro e quando chegamos mais perto eu vi que havia sido reservada. Havia até velas em um castiçal dourado. Um ambiente perfeito para um jantar a dois. Mas porque é que eu não estava sentindo meu coração palpitar novamente? Talvez porque Percy me afetasse mais do que todo aquele cenário. Como bom cavalheiro que era, ele puxou a cadeira para eu me sentar, depois pegou o cardápio e me entregou para que eu escolhesse o prato que iríamos comer. Eu estava sem um pingo de fome, mas fiz um esforço e escolhi algo não muito caro, mas também não muito barato. Sabia que tentar economizar naquele momento não faria Percy ficar exatamente feliz.

O garçom nos deixou sozinhos e eu olhei para Percy sem saber o que dizer. Ele também ficou calado, o que não ajudou muito. Quase suspirei novamente, mas consegui me segurar. Comecei a reparar que Percy parecia nervoso. Nervoso não, ansioso, apreensivo talvez. Como se algo estivesse prestes a acontecer. Será que ele tinha algo a me dizer. Será que ia tentar colocar tudo sobre a mesa e resolver de vez as nossas “diferenças”. Eu não estava preparada para lavar roupa suja, muito menos ali na frente de tantas pessoas. Estava evitando isso por muito tempo, e pretendia continuar evitando. Desisti dessa hipótese logo em seguida, pois não fazia sentido. Percy não iria querer fazer aquilo ali, ele teria procurado um lugar mais privado e um momento mais adequado. Mas então, o que era? O que ele estaria tramando. Pensar nisso me intrigava e ao mesmo tempo me distraia. O que era ótimo.

– A que se deve esse jantar? - perguntei diretamente, para pegá-lo desprevenido. Percy ficou evidentemente surpreso. Provavelmente não esperava que eu fosse perguntar aquilo, nem que eu fosse dizer nada até ele falar primeiro.

– Tenho que ter um motivo especial para querer te levar para jantar? - devolveu ele, muito sabiamente. Dei um sorrisinho de lado e continuei.

– Acho que não. Mas é que normalmente só vamos a lugares chiques assim para ocasiões especiais…

– Estar ao seu lado sempre é uma ocasião especial, baby.

Quase havia me esquecido como era quando ele me chamava assim. Eu me derretia totalmente e ficava boba de amor. Naquela noite, entretanto eu havia sentido também um desejo incrível e incontrolável. Percy estava se empenhando para ser absurdamente sexy, não era possível. Não podia ser só a minha cabeça tentando buscar artifícios para não pensar em certas coisas. Ele estava me provocando, eu sabia que estava. Ele queria me seduzir e estava conseguindo. Eu estava ali louca de desejo, sedenta por sexo só com algumas palavras. Deuses, precisava dar um jeito naquilo imediatamente. E só consegui pensar em um coisa que resolveria minha necessidade. Me levantei e disse que ia ao banheiro. Quando passei por Percy deixei minha mão deslizar pelo peito dele enquanto meu quadril roçava seu ombro. Ele me deu uma olhada de lado e eu pisquei para ele, torcendo para que entendesse meu sinal.

Quando cheguei no banheiro feminino parei perto da porta e não entrei. Havia um pia e um espelho no espaço que o separava do banheiro masculino. Fiquei fingindo que ajeitava o cabelo enquanto esperava. Por sorte havia uma parece cobrindo tanto a pia como as portas do banheiro, então ninguém viu quando Percy chegou me agarrou por trás. Foi muito satisfatório perceber que ele havia entendido minha intenção e que estava tão excitado quanto eu. O puxei pela gola do paletó que ele usava e entrei no banheiro feminino. Por sorte não havia ninguém lá dentro. Era um daqueles banheiros grandes e individuais, com outra pia e até uma decoração especial. E o mais importante uma chave na porta. Continuei puxando Percy até que eu pudesse apoiar na pedra de granito da pia. Começamos a nos beijar enfurecidamente. Os beijos eram quentes e urgentes, logo eu não consegui mais segurar minha vontade e comecei a abrir a calça dele.

Nesse momento Percy parou e tentou me refrear. Ele estava com muito receio de sermos pegos ali. Eu lhe disse que dificilmente as pessoas iam ao banheiro em lugares como aquele. Ele continuou inseguro então eu não tive alternativa senão provocá-lo ainda mais. Me sentei sobre a pia enquanto terminava de abrir o botão e o zíper de sua calça. Depois tirei minha calcinha por baixo da saia que estava usando e joguei no lixo que havia ao lado. Percy ficou pasmo. Claro, afinal eu jamais havia feito algo tão atrevido como aquilo. Ele então, como qualquer homem, não resistiu e veio para cima de mim. Senti seus beijos em meu pescoço e ombro enquanto sua mão abaixava a cueca apenas o suficiente para ele conseguir se encaixar em mim. O envolvi com as pernas puxando em minha direção, sentindo-o entrar bem fundo. Suspirei, dessa vez não para demonstrar desconforto, muito pelo contrário. Eu estava era delirando por poder satisfizer aquele desejo tão súbito e primitivo que havia tomado conta de mim.

Foi rápido porém muito prazeroso. Logo Percy e eu estávamos ajeitando nossas roupas e secando o suor do nosso rosto. Joguei um bocado de papel no lixo para cobrir a peça íntima que eu havia descartado. Ao reparar naquilo Percy se comportou de forma extremamente ciumenta e possessiva. Ele começou a dizer que minha saia estava curta demais para eu ficar andando por ai sem roupa de baixo. Eu disse que ele estava sendo ridículo e que não teria problema algum, muitas mulheres faziam aquilo para não marcar o vestido, era normal. Ele ficou contrariado, mas não teve outra opção senão aceitar. Senti que deveria ter ficado brava com a reação dele, mas não fiquei. De certa forma seu excesso de proteção e principalmente seu ciúmes me deixaram com o ego lá em cima. Voltamos sorrateiramente para a mesa juntos, e nosso jantar já estava lá esperando por nós.

A comida parecia estar ainda melhor do que da última vez que estivemos ali. Acho que poderia ter a ver com o fato de eu ter acabado de fazer sexo. Mas seja lá o que for, eu não parei de comer enquanto não havia terminado tudo no prato. Percy comeu mais do que eu e ainda pediu uma sobremesa, da qual eu apenas peguei uma colherada, já que não aguentava mais nada. Passei o restante da noite sem nem ao menos lembrar por que é que eu estava tão perturbada no começo. Nenhuma das lembranças boas e ruins veio à minha mente e eu não tive que refrear mais nenhuma vontade de chorar e voltar correndo para casa. Percy ficava passando sua perna na minha por baixo da mesa e, como estávamos um do lado do outro, ele também se aproveitou para passar a mão na minha perna e de vez em quando ir um pouco mais além me levando à loucura. Estava quase ofegante quando o garçom trouxe a conta.

Depois do jantar Percy me levou para dar uma volta pelo Central Park. A noite de Nova York era incrivelmente linda. Me senti leve e livre como não me sentia há muito tempo. Segurando a mão do meu namorado e caminhando pela borda do parque eu podia ver os prédios e também as árvores. Estava tudo perfeito, mesmo que Percy ficasse me falando de cinco e cinco minutos para eu tomar cuidado com o vento na minha saia. Eu consegui rir disso e senti vontade de abraçá-lo, mas preferi não interromper nossa caminhada que estava tão tranquila e serena. Quem parou de andar primeiro foi ele, quando chegamos a um local específico que eu me lembrava bem, mesmo estando de noite. Era o lugar onde costumávamos fazer nossos piqueniques. Muitas boas lembranças me vieram a mente e para meu alivio, nenhuma delas me fez voltar a sentir a dor que eu havia sentido há algumas horas atrás.

– Sabe, você tinha razão, tem um motivo especial para eu ter te levado para jantar hoje - começou a dizer ele quando paramos próximo a um chafariz, onde a luz de uma luminária incidia sobre nós.

– Eu sabia! Você não iria gastar tanto assim à toa - eu dei risada, afinal era apenas uma brincadeira. Percy também riu e levou minha mão até sua boca para beijá-la.

– Que bom que me conhece tão bem - rimos ainda mais juntos. Quando o assunto era ser engraçado, não tinha como eu competir com Percy, de jeito nenhum - Mas voltando ao que eu estava falando. Essa é uma noite muito especial. E eu queria te faze um pedido…

Percy levou a mão ao bolso do paletó tirando alguma coisa pequena de lá que não consegui identificar. Depois, ainda segurando minha mão, ele se ajoelhou diante de mim. Meu coração falhou uma batida. Ele não podia estar fazendo o que eu achava que estava fazendo. Simplesmente não podia! Achei que ia começar a tremer, ou desmaiar ou até mesmo vomitar todo o meu almoço. Mas apenas fiquei paralisada. Sem mover um musculo sequer e com o rosto sem expressão. Vi os lábios de Percy se movendo enquanto ele abria uma caixinha de veludo e me mostrava um anel de brilhante. Não ouvi suas palavras, mas eu já sabia o que era. Ele aguardava minha resposta com grande expectativa. Ver a forma como ele me olhava, com amor e ternura, me deixou arrasada. Não queria aceitar, não podia. Não era o momento. Mas também não queria ferir seus sentimentos, quebrar seu coração com um não. Então eu fiz a única coisa decente que conseguir pensar. Me virei e sai correndo.

Eu não estava exatamente consciente do que estava fazendo. Apenas queria sair dali e não ter que encará-lo mais. O que era exatamente o mesmo que eu vinha fazendo durante aquela semana toda. Fugia cada vez que sentia que minha parede iria desabar. Havia me acostumado tanto com ela que não conseguia nem imaginar a possibilidade de transpô-la. Passei pelo carro que Percy havia estacionado no meio fio. Vi que ele havia esquecido as portas abertas e a chave no contato. Não era uma imprudência tão grande, já que não haviam tantos roubos de carro naquela região. Mas quando se tem uma namorada louca fugitiva, havia sido um erro fatal para Percy. Entrei no carro, liguei o motor e sai dirigindo. Eu não era a melhor motorista do mundo, mas consegui não bater nem atropelar ninguém. Fui guiando o carro sem destino certo enquanto me forçava a engolir todas as lágrimas que tentavam vir à tona.

Parei o carro quando percebi que estava chegando a um lugar conhecido. Não sabia porque eu tinha ido naquela direção. Meu inconsciente devia ter me levado até lá sem eu perceber. Parei o carro na rua e desci. Me lembrei de levar a chave e trancar as portas, o bairro onde eu estava não era tão seguro quanto o Central Park. Eu ainda me lembrava do número do apartamento. Pedi para o porteiro interfonar e dizer que eu estava ali. Como eu esperava, me deixaram subir sem perguntar nada. Entrei no prédio e peguei o elevador. Quando cheguei a porta do apartamento, hesitei em apertar a campainha. Foi então que a porta se abriu. Possivelmente ela vira que eu já estava ali pelo olho mágico. Não sei o que estaria pensando daquela minha visita repentina, mas abriu a porta e me convidou para entrar. Eu não podia esperar menos de Sally Jackson afinal. Ela era o mais próximo a uma mãe que eu conhecia.

Ela me abraçou depois de fechar a porta, percebendo meu estado, e eu já não consegui segurar as emoções dentro de mim. Chorei profundamente mas de forma silenciosa. Não queria fazer um escândalo então tentava controlar minha respiração dando vários soluços e fungadas. Nada daquilo pareceu assustar ou incomodar Sally. Ela só parecia bastante preocupada comigo. Me dizia constantemente para que eu me acalmasse enquanto me abraçava. Depois que eu melhorei consideravelmente e já não chorava tanto ela me levou até a sala e me mandou sentar no sofá. Foi até a cozinha e me trouxe um chá. Estava carregado de açúcar, mas segundo minha sogra era proposital, eu precisava mesmo me acalmar. Por algum motivo aquele líquido quente parecia néctar dos deuses pois tinha exatamente o gosto que eu queria sentir naquele momento. Minha respiração voltou ao normal e por fim eu olhei para Sally que estava sentada ao meu lado.

– Seu filho me pediu em casamento - consegui dizer, mas não sei se era a melhor forma de começar a contar o meu drama a ela.

– Oh meu deus, e como foi que ele fez isso? - não entendi a pergunta dela a princípio - Esse meu filho é muito sem jeito mesmo, deve ter escolhido o pior momento… Querida, sei que as vezes Percy é meio atrapalhado e faz as coisas sem pensar, mas pode acreditar que ele te ama e que se ele te pediu em casamento é porque realmente quer se casar com você.

– Esse não é o problema, na verdade - completei tentando me explicar, já que aparentemente ela havia entendido tudo errado - Eu também amo Percy e acredite, eu teria aceitado o pedido em qualquer outro momento. Ele foi bem romântico, me levou para jantar, escolheu um lugar especial e fez toda uma cena. Mas não consegui dizer sim, não consegui nem dizer não… Simplesmente o deixei lá sem resposta. Ah eu me sinto péssima por isso, deve me achar um monstro por eu ter feito isso com ele…

– Annie, eu já vi alguns monstros de verdade, não tantos quanto vocês é claro, mas o suficiente para saber que você não é um deles - ela sorriu passando a mão em meu cabelo - Sei que se fez isso é porque teve um bom motivo.

– Tudo bem se eu não quiser falar sobre isso?

– Claro que sim, querida.

– Obrigada - Consegui devolver seu sorriso em forma de gratidão pelo que ela estava fazendo por mim - Me sinto totalmente perdida. Não sei o que fazer…

– Bom, só o que posso fazer é te dar o único conselho que alguém daria a uma mulher nessa situação...


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Notas finais do capítulo

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