Segunda-feira, supermercado da Vanessa – 03:28 PM

Esse era apenas mais um dia comum. Apenas mais uma segunda-feira da de uma semana, um dia do mês e um ciclo de vinte e quatro horas dia dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Não para Claire Finnigan! Hoje era “O” dia!

Ainda não conseguia acreditar que Tomas Klauss havia a convidado para ir comer algo. Não era “o” jantar e muito menos “a” proposta, mas seu estômago revirava só de lembrar que ela havia conseguido um espaço no meio de uma agenda de ouro.

Chegara há alguns minutos atrás, cumprimentara Vanessa com um breve oi. Sentou-se em uma das mesas mais afastadas da porta. Não queria transparecer nervosismo e muito menos ansiedade, afinal, não era nada de mais era? Apenas um encontro de amigos... Nem amigos ela sabia definir se eram.

– Então... – Vanessa apareceu, convidando-se para sentar – O que te traz aqui em plena segunda-feira? – uma fofoqueira, sempre fofoqueira.

A Finnigan sorriu de canto, lembrava-se muito bem de como a amiga ficara surtada quando ela perguntou quem era o homem da porta de vidro.

– Se eu te contar você não vai acreditar. – piscou marota, fazendo a outra, encarar estranho.

– Não vai me contar é? – Vanessa arqueou as sobrancelhas, obteve um sinal de não – Certo... Mas lembre-se que eu sempre fico sabendo de tudo! – levantou-se, indo em direção do balcão.

[...]

Uma década havia se passado e nada. Década. Apenas um modo de dizer, uma hipérbole. Perdera a noção do tempo, mas sabia que seu traseiro já estava grudado há um bom tempo no assento do banquinho. Como sabia? Sua bunda reclamava de dormência.

Um aperto no peito surgiu, acompanhado da decepção. Não o culpava. Imprevistos surgiam a todo o momento certo? E eles nem eram tão ligados assim. Então pra que drama, né? Queria se convencer interiormente. Mas quem disse que querer é poder?

Colocou seus cotovelos sobre a mesa, de modo que suas mãos servissem como um suporte para seu rosto. A feição de frustração era evidente. Estava levando um bolo legal, diferente daqueles da vitrine da Vanessa, esse era amargo.

Suspirou pesadamente e ajeitou-se de uma maneira rude na cadeira, recompondo-se. Olhar para o nada com uma cara de idiota estava a cansando. Claire até se surpreendia por ter aguentado tanto tempo. Geralmente não era paciente, não era.

Sentiu alguém lhe cutucar o ombro de leve, virou-se e não encontrou nada. Quando se virou para frente novamente, assustou-se. Quase dera um pulo da cadeira! Seu espanto proporcionava uma vontade de dar risada no homem a frente. Tomas lhe estendeu um copo de milk-shake, o seu favorito por sinal, enquanto tomava o dele, sorridente.

– Demorei muito? – perguntou à Finnigan para iniciar a conversa.

Essa apenas pegou a bebida de sua mão de maneira grossa, fechando a cara.

– Que horas são? – seu tom, assim como seu rosto, era inexpressivo.

– Hm... – arregaçou um pouco das mangas da camiseta social azul e pôs-se a fitar o ilustríssimo relógio de ouro branco – Segundo o meu banco de dados, - disse em um tom brincalhão - é quatro e quatro da tarde. – sorriu mostrando os dentes brancos para a universitária.

Só então percebeu que ela aparentava estar chateada com algo, aparentava não, ela estava. Seu sorriso sumira. Havia feito algo errado?

– Sabe, você podia falar comigo ao invés de ficar de cara amarrada. – o Klauss cruzou os braços.

– Eu estou a mais de meia hora te esperando! – em sua fala, transbordava transtorno.

– Err... Desculpe. – pediu sem graça ao mesmo tempo em que passa as mãos nervosamente pelos fios bagunçados – É que... – fez uma careta bizarra – Não havíamos combinado um horário exato. Eu poderia ter conseguido o seu telefone com os meus contatos, mas isso poderia te assustar. – piscou.

“Respira fundo! E se controla mulher” Claire ditava em sua mente. Não podiam a julgar, um homem desses na frente de qualquer uma e ainda por cima, sorrindo e fazendo brincadeiras era muito para qualquer coraçãozinho.

– Está certo, me desculpe por ser tão grossa assim. – riu tímida.

– Está perdoada, garota esquentadinha! – brincou.

A menina apenas arqueou as sobrancelhas e colocou uma das mãos sobre o peito, como se tivesse sido ofendida!

– Quem é você pra me chamar assim, Relógio Boy!

– Relógio Boy? Nossa! – riu – Achei que você podia mais, garota esquentadinha! – debochou.

[...]

– Oh meu Deus! – a universitária levantou-se apressada.

– O que foi? – Tomas acompanhou.

– Está tarde já, preciso ir!

– Nossa, é verdade! O tempo passou muito rápido e eu nem percebi! Vamos, eu te levo.

– Não é necessário! A minha casa é aqui pertinho! – apressou-se a dizer, estava pronta para sair em disparada, quando seu braço foi segurado.

– Eu insisto! – encarou diretamente nos orbes dela. Ela quase se perdeu.

– C-certo. V-vamos! – gaguejou.

– Vamos!

Segunda-feira - Casa dos Finnigans, 11:41 PM

Quase era outro dia e seus olhos não pregavam. Perdia-se em desvaneios enquanto fitava o teto branco de seu quarto. Quando dava por si, estava sorrindo novamente feito uma adolescente boba e apaixonada.

Era inevitável. Sua tarde havia sido maravilhosa. Mais exatamente depois das quatro e quatro. Riram como se fossem crianças. É antiquado, inadequado para eles, pessoas de vinte e poucos, agirem como se tivessem voltado no tempo, para a infância.

O sono parecia não querer aparecer hoje. Revirava-se de baixo do edredom, vibrando ao recordar de cada detalhe daquele homem. Na universidade não tem homens desse tipo.

Tomas em sua opinião, era perfeito! Porte atlético, olhar sedutor e uma personalidade equilibrada. Sabia ser sério quando necessário, mas de vez enquanto, uma piadinha escapava. Sortuda seria a garota que um dia teria ele ao seu lado, para sempre.

Novamente se pegou rindo. Como era idiota! Uma idiota patética! Estranhava estar pensando tanto no herdeiro Klauss. Não negaria que adoraria ser cobiçada por um deus grego assim, mas não se iludiria. Eles quase são da mesma idade, mas ele não era pra ela. Era só enxergar! Um Tomas desse, tem mulheres muito mais “qualificadas” aos seus pés.

Frustração lhe vinha quando pensava em nisso. Dificilmente alguém reparava em Claire Finnigan. Afinal, as coisas são como sua mãe diz: ela é uma universitária com um rostinho bonito, mas infantil. Enxergava-se assim. Admitia que era dona de um rosto bonito, mas não era nada daquela coisa que se destacava entre os outros. Autoestima? Desconhecia esse termo.

As pessoas esquecem-se de si mesmas e deixam as outras crescerem. Autoestima não é “coisa” de gente convencida. É um fator que dá a chance de nos aceitarmos. Claire era assim. E quando nos esquecemos desse ponto, damos lugar à insegurança. A insegurança pode ser devastadora, sem determinação, pouco a pouco ela nos domina e nos transforma em míseros seres vazios.

Claire: http://data.whicdn.com/images/25975524/429391_339115226110351_335765869778620_1152550_1105510735_n_large.jpg

Tomas: http://data.whicdn.com/images/53138166/tumblr_milrphqZiQ1rtj617o1_1280_large.jpg