Chess - Fic Interativa escrita por Vince, Richard Wingstone


Capítulo 5
V - Os Conselhos


Notas iniciais do capítulo

- Olá. Repostando esse capítulo porque ninguém deu review na semana passada o/

— Espero que não tenha ficado confuso com essa troca de reinos :/

— Parte de Whitehawk escrita pelo Richard e desenvolvida por mim.

Boa leitura!



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Uma semana se passara em Whitehawk desde a chegada de Meredith, e Raduh terminava de se arrumar para falar diante do Conselho.

O Conselho era muito importante em Whitehawk. Era formado por grandes homens, poderosos guerreiros, um de cada antigo feudo tomado de Lokonto, escolhidos a dedo pelo próprio Vlad I. Não era permitida a presença de mulheres, exceto pela rainha. Isso era algo que Raduh gostaria de mudar. Essas “tradições” se tornaram desnecessárias.

Ele suspirou quando um dos guardiões puxou as cordas de sua armadura de gala, fechando-a. Raduh olhou melhor para a figura no espelho. Sentia-se entre “elegante” e “ridículo”. Usava uma camisa branca, com mangas com babados, um colete de gola alta, a casaca justacorps, além da leve e decorada couraça de prata e uma capa branca, com gola de pelos de lobo. A calça era — na sua opinião— uma espécie de segunda pele, de tão justa que ficava em seu corpo. As botas com grevas eram altas e iam até seus joelhos. Fora forçado a ter seus cabelos claros alongados com magia — seria isso ou uma peruca; e Raduh não gostava de perucas — e, completando, a coroa de desfile, prateada, com diamantes e uma pena ridícula.

Já completamente vestido de acordo com as regras do conselho, Raduh se dirigiu à sala de Marfim. As portas pesadas de pseudo-marfim foram abertas pelos guardas e os arautos anunciaram perante a “plateia de velhinhos” — como Meredith os chamava — que o Rei de Whitehawk chegara.

–‡--‡-


Lucian sentou-se no lugar que era seu por direito, à cabeceira da longa mesa de ébano. Os nobres, os guerreiros e os sacerdotes ao seu redor começavam a se calar.

Usava um traje razoavelmente simples, com a armadura de desfile por cima de uma túnica longa, sem mangas. Sua espada montante Tryfing estava pendurada em sua cintura, com a lâmina tocando o chão e um escudo quadrado repousava encostado num dos braços do trono cheio de entalhes. Sua coroa simples pendia para a esquerda, deixando-a um pouco torta. Seu elmo estava sobre o braço direito e, por alguma razão, seu falcão Petrus decidiu repousar em seu ombro. Lucian, sem dúvida, parecia um rei guerreiro e vingador.

Ele sabia que começar uma guerra era precipitado. Talvez uma saída mais diplomática fosse possível, como dissera Henrietta assim que soube da troca de golpes entre os soberanos, além de muito melhor. Mas... o que Raduh dissera sobre Lilith... e mesmo o que o próprio Lucian dissera sobre o pai e o irmão de Raduh... nada daquilo fora nem um pouco... “diplomático”.

Não era como se Lucian fosse um tolo a ponto de começar uma guerra por uma simples provocação. Se fosse, Augusta já faria parte do Império há anos. Mas... Lilith morrera. Não era tão simples. Ela era a herdeira do trono das Valquírias. Era Lilith quem o auxiliava no comando do império, controlando a região mais ao norte de Ébane, longe da capital. Era Lilith quem ele prometera aos pais proteger.

E ela havia sido morta. E morta em Whitehawk.

–‡--‡-

— Você é um tolo! — o mais velho dos nobres do conselho repreendeu Raduh. — Você deveria saber que ainda estamos fracos, tanto militar quanto financeiramente devido à revolta de seu pai!

— Sim, Lord Redgrave. Eu sei — Raduh assentiu. — Porém nenhum dos senhores sabe o que me foi dito na Ilha da Pax! — continuou, tomando uma posição mais altiva, levantando-se do trono.

— O que, então, lhe foi dito, ó grande majestade? — Raduh notou o sarcasmo cuspido por um dos velhos.

— Lucian planeja tomar nossa preciosa Pseudo-marfim! E, para tal, com seu instinto expansionista e arrogante, ele tomará Whitehawk, a terra conquistada por meu pai e defendida com a vossa ajuda!

–‡--‡-

Desde que Raduh assumira o trono, Lucian notou que a relação entre as nações não ia às mil maravilhas, mesmo que os soberanos fossem amigos. Talvez fosse por causa do conselho de nobres velhacos de Whitehawk, com sua neura constante de que suas preciosas árvores brancas fossem tomadas. Lucian deu um pequeno sorriso. Como se ele quisesse uma madeira branca idiota. Eles tinham obsidiana de ferro, um metal especial encontrado aos montes em Ébane. Era um metal tão belo quanto a obsidiana e tão resistente quanto o aço — agora, porque era chamada de obsidiana de ferro, Lucian não sabia. Segundo os sacerdotes, essa mistura que seria impossível acontecera devido à magia, há muito tempo atrás. Não que isso lhe interessasse, contanto que ninguém perfurasse sua armadura, estava tudo bem.

Lucian foi desviado de seus devaneios com a mão de Henrietta sobre seu ombro. Ela lhe olhou com algo entre compreensiva e chateada, e ele sabia por quê. Uma guerra tem consequências. Mortes. Perdas. Riscos. Derramamento de sangue. Mas ela sabia que era pela irmã dele. Sabia que era por causa de Freya. Sabia que não podia deixar o corpo dela em Whitehawk.

— Que o conselho de Guerra comece!

–‡--‡-

— Não tem relação com a irmã dele? — um dos lordes de Whitehawk perguntou surpreso.

— Isso é apenas um pretexto vazio! — Raduh continuou — É verdade que achamos traços de veneno em seu sangue, mas quem garante que ela não foi envenenada em Ébane? Assim ela morreria aqui e Lucian teria uma razão para tomar nosso pequeno reino, assim como nossas árvores-símbolo! A guerra começou quer os senhores queiram, quer não. Os senhores deixarão que um Imperador fanfarrão, um tirano, tome de nós o nosso reino? O reino construído com as suas mãos, com as mãos de meu pai! Os senhores deixarão que isso aconteça?

— Não! — Responderam em uníssono.

–‡--‡-

— Nós os atacaremos antes mesmo que eles percebam! Nossas tropas invadirão Whitehawk pelo mar. Fecharemos o rio Blanch e seguiremos até Fort Sean! — Birgit recitava inflamada sobre a estratégia que planejara.

— Mas não deveríamos atacar pelo rio? Chegaremos em Fort Sean muito mais rápido do que por terra.

Lucian levantou-se do trono e se aproximou de onde Birgit estava, em frente a um grande mapa de Dórean.

— Raduh é muito esperto — Lucian disse. — Creio que ele já esperava por uma guerra. Afinal, se vocês não sabiam, senhores e senhoras, Ébane fez um empréstimo a Whitehawk alguns meses atrás, para fortalecer a marinha do país, comprar barcos novos e também para criar uma grande comporta no rio Blanch.

— Então ele saberia que pensaríamos em atacar pelo mar? — Alamorus interveio — Ele já esperava por uma guerra?

Lucian riu.

— Claro que sim! Por que você acha que ele convidou que Lilith, junto com uma pequena caravana de nobres, fossem à Whitehawk enquanto ele fazia o mesmo aqui? Mandando espiões! Enquanto isso ele mataria Lilith para ter acesso à Freya!

— Então que não ajamos como tolos! — um nobre interveio — Vamos prender esses espiões de Whitehawk em Wolf Sthal! Eles lamentarão o dia em que tramaram contra Ébane!

–‡--‡-

Já era noite e Raduh estava em seus aposentos. Meredith parecia já ter dormido, mas o rei simplesmente não conseguia fechar os olhos. Estava cheio de culpa e remorso por ter mentido. E ainda pior. Por culpar o amigo de algo que ele não fizera.

— Está tudo bem? — A voz de Meredith o surpreendeu.

— Sim. Só estou orando para os deuses, pedindo-lhes para que não deixem o último dragão morrer.

–‡--‡-

— Os deuses estarão ao nosso lado!

— Viva o imperador!

— Salve à Princesa Lilith! Ewig Leben!

Lucian ouvia esses gritos no festival. O povo de Ébane era mesmo um povo guerreiro. O anúncio da guerra iniciou as comemorações. Ele viu um garoto, não mais que um jovem adulto, erguer um copo de cerveja entre os amigos e brindaram dizendo “Se morrermos, que seja pela glória!”.

Ele sorriu levemente. Henrietta dançava entre alguns menestréis e odaliscas, deixando seu sangue cigano falar alto. Birgit estava sentada em uma mesa com as suas Valquírias. Nenhum deles parecia temer a morte. Pelo contrário, para aquele povo guerreiro, morrer em combate era uma honra.

Lucian apagou os pensamentos de sua mente e ergueu uma taça de hidromel, derramando todo o conteúdo em sua garganta. Era a verdade. Aconteceria uma guerra. Ponto final.


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Notas finais do capítulo

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