Céu Nublado escrita por rice


Capítulo 1
Capítulo 1




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Pelo caminho vazio de uma certa rua de uma certa cidade de Calharia, atravessava um jovem fardado carregando uma mala cheia de itens pessoais e saudades.
Em outros tempos, essa seria uma cena típica, corriqueira, sem muita importância. Pois aquela cidade era praticamente um polo militar do país. Porém não dessa vez.
Rostos curiosos surgem pelas janelas das casas. Alguns saudavam-no, felizes com a volta daquele militar.

O país de Calharia estava em guerra com a nação vizinha Domestis há mais de três anos, porém aquele dia era tão importante quanto o dia em que a guerra havia acabado, era o dia em que a primeira leva de soldados recrutas, que pra guerra haviam ido, voltava a seus lares, definitivamente.
Os militares daquela cidade em especial, eram mais esperados. Vitoriosos, participaram da operação fatal para o fim da guerra.

Há três anos atrás, vendo que Calharia sofria fortes crises políticas internas, a nação de Domestis tem a iniciativa ousada de tentar tomar Calharia, aproveitando o fraco momento do país e tentando anexá-lo ao seu território.
A guerra foi obviamente mal vista por todas as outras nações daquele mundo, porém, como Domestis era o maior importador de petróleo e alimentos do mundo, as demais nações resolveram ficar neutras em relação à guerra.

Calharis, que tinha um contingente militar duplamente inferior ao de Domestis, sofria economicamente e socialmente cada vez mais com a guerra. Sua população estava ficando reduzida e pobre, pessoas morriam de fome todos os dias.
Então, em 2034, dois anos após o início da guerra, a força militar de Calharis resolveu treinar uma companhia de recrutas de 17 anos em um batalhão de infantaria paraquedista tradicional no país, com o intuito de realizar a operação Fênix, onde seus soldados tomaram a capital de Domestis, renderam seu presidente e o forçaram a assinar uma carta de rendição.

Esses soldados, entre eles nosso jovem, Katori, foram treinados intensivamente por 6 meses em regime de internato, e enviados à capital de Domestis, onde a operação durou mais 6 infindáveis meses, perdendo cerca de 65% de seus combatentes.

Katori foi um dos 35% remanescentes, e agora estava voltando pra casa. Havia escolhido por sair na 1ª leva de soldados, ele poderia enfim rever sua família.

Essa por sinal o esperava com uma festa armada - todos com exceção de sua irmã mais nova, que estava estudando em outra cidade e não pode vir - sua mãe chorava de felicidade, ao saber que seu amado filho estava voltando vivo, algo que infelizmente algumas de suas vizinhas e amigas, que haviam perdido seus filhos para aquela maldita guerra, nunca mais poderiam desfrutar.

Porém bem longe dali, no espaço, algo acontecera. Um meteoro que estranhamente tinha uma coloração vermelha - chamado por cientistas de Red-01 - se choca com outro, e tem sua trajetória mudada em direção ao planeta terra, em uma velocidade inexplicável de oito vezes a da luz.

Não houve tempo para notificar a população, o meteoro atravessa a estratosfera do planeta e se desintegra em diversos pedaços do tamanho de uma bola de tênis, caindo sobre o país de Calharis, mais especificamente na mesma cidade de Katori, a cidade de Lemonan.

Misteriosamente aqueles pedaços - ao invés de seguir uma trajetória lógica e atingir pontos aleatórios no chão - guiaram-se a corpos de pessoas, como se fossem atraídos pelos mesmos.

Katori já estava dobrando a esquina da quadra de sua casa, quando um dos pedaços o atinge.
A sensação era semelhante a de um tiro de fuzil, o qual Kotari infortunadamente já havia experimentado. O impacto o joga contra o chão, a dor era colossal.

O ex-soldado não entendia o que estava acontecendo - talvez um ataque terroristas de radicais de Domestis? Quando de repente a dor atinge um nível infernalmente alto e seu corpo é tomado por chamas vermelhas. Katori gritava desesperadamente de dor, e em um certo momento, lembranças ruins começaram a pipocar em sua mente, desde brigas comuns de pais e filhos até as terríveis recordações da morte de seus companheiros e amigos durante a guerra.
As memórias ficavam cada vez mais fortes, e uma dor de cabeça monstruosa o fazia arregalar os olhos de desespero.

E então tudo ficou escuro.

Sua consciência foi voltando aos poucos. Então ele abre os olhos e vê mais uma cena horrível à sua frente.

A casa de seus pais, onde vivera desde que nasceu, estava em escombros. À frente dos escombros, os corpos de seus pais e irmãos, horrivelmente despedaçados.
Ele fica em estado de choque, o que havia acontecido ali? Então ele olha para suas mãos...

O que haviam ali não eram mais mãos, eram patas de monstro que emanavam a mesma chama vermelha de antes, chama que ainda cobria seu corpo. Patas com 3 dedos apenas, na ponta de cada um, unhas grandes e pontudas, como se fossem garras. Patas cobertas de sangue, sangue de seus pais. Seu corpo havia se transformado em alguma espécie de aberração assassina.

Katori cai de joelhos no chão, enquanto que de seus olhos assustados corriam modestas lágrimas, as poucas que restaram de chorar a morte de seus companheiros na guerra.
Ele inclina o tronco para frente e bate com os punhos cerrados no chão, soltando um berro monstruoso de sofrimento e ódio, ódio por si mesmo, um berro alto, sem fim.

Enquanto definhava, pedia em pensamento pela própria morte, pois se houvesse algum deus naquele mundo, o mínimo que poderia fazer por ele seria poupar-lhe de ter que viver um minuto a mais de sua miserável vida.

Eis que, dentre as muitas gotas de lágrima, escorre uma lágrima azul de seu olho direito, uma lágrima brilhante, que concentrava todos os sentimentos bons que haviam em sua alma. Essa lágrima cai em sua pata direita, e começa a 'afastar' a chama vermelha daquele ponto.

Aquela lágrima penetra em sua pele, e a mesma começa a brilhar. Esse brilho foi expandindo-se por seu corpo, enquanto expulsava para fora aquelas chamas vermelhas amaldiçoadas, até extinguí-las, transformando de volta seu corpo ao normal teoricamente.

Pela alma de seus pais, de seus companheiros, de todas as pessoas daquela nação que uma vez ele ajudara a defender, ele não podia morrer ainda.


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